Confrontando o “papão fiscal”, por Barry Eichengreen

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Autoridades não conseguem lidar com cenário de desaceleração global

Jornal GGN – A economia global encontra-se em um processo cada vez mais visível de desaceleração, e as autoridades que deveriam ser os condutores no processo de recuperação estão cada vez mais comprometidos. Pelo menos é o que sugerem os resultados da última reunião do G-20, realizada na China ao fim do mês passado.

O FMI (Fundo Monetário Internacional), que acabou de reduzir sua previsão para o crescimento global, avisou os participantes do G-20 que uma nova revisão para baixo estava pendente. Apesar disso, um dos resultados da reunião foi uma declaração sobre continuar com as reformas estruturais e evitar políticas protecionistas.  

“Uma vez mais, a política monetária foi considerada (para usar uma frase já familiar) como a única saída possível”, diz o economista Barry Eichengreen, professor de economia da Universidade de Berkeley, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Os bancos centrais mantiveram as taxas de juros reduzidas durante quase oito anos. Fizeram experiências com a flexibilização quantitativa. Na sua mais recente medida, moveram as taxas de juros reais para terreno negativo”.

Segundo Eichengreen, a motivação é sólida: “alguém precisa de fazer algo para manter a economia mundial a flutuar, e os bancos centrais são os únicos agentes capazes de agir. O problema é que a política monetária está a aproximar-se da exaustão. Não parece que se possa reduzir muito mais as taxas de juro”.

Além disso, as taxas de juros negativas começaram a enfraquecer a saúde do sistema bancário. De acordo com o articulista, cobrar os bancos pelo “privilégio” de deterem reservas aumenta os custos do negócio. “Como as famílias podem sempre recorrer à cofres, torna-se difícil aos bancos cobrarem aos depositantes por lhes guardarem as suas poupanças”. E, em uma economia fraca, os bancos possuem pouca capacidade de repassar seus custos em taxas mais altas no crédito – na Europa, onde as experiências com juros negativos avançaram, as dificuldades dos bancos são bastante visíveis.

Na visão do articulista, a solução consiste em resolver o problema da procura deficiente, não pela tentativa de afrouxar ainda mais as condições monetárias, mas aumentando a despesa pública. “Os governos deveriam contrair empréstimos para investir na investigação, na educação, e em infraestruturas. Atualmente, esses investimentos são baratos, dadas as baixas taxas de juro. O investimento público produtivo também melhoraria os rendimentos do investimento privado, encorajando as empresas a assumir projetos adicionais”.

Portanto, para Eichengreen, é “perturbador” ver a recusa de autoridades, especialmente nos Estados Unidos e na Alemanha, em sequer considerar tal ação, apesar do espaço fiscal disponível (como mostram as taxas das obrigações do tesouro em valores mínimos históricos, e praticamente todos os outros indicadores econômicos).

“Os preconceitos ideológicos e políticos profundamente enraizados na história terão de ser ultrapassados para que a atual estagnação termine. Se um período prolongado de crescimento deprimido, depois de uma crise, não for o momento certo para desafiá-los, então quando será?”, diz o economista.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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