Cuba: morte, fake news e corte à internet após protestos

A ilha vive um momento de crise dentro da crise, inflada pela pandemia da Covid-19

Foto: Tomas Bravo/Reuters

do Giro Latino

Cuba é o assunto da vez: a jornada de manifestações iniciada no último dia 11 se alastrou por 20 cidades da ilha e já é tida como a maior convulsão de cunho político contra o governo desde 1994, época do movimento conhecido como Maleconazo – ainda que a oposição já dimensione os protestos como os maiores desde o início da Revolução, em 1959, graças ao impulso dado pela internet, cujo acesso foi prontamente interrompido pelo governo nos dias seguintes. Para aprofundar a situação, o GIRO gravou um podcast especial trazendo o contexto da nova revolta: antes de acompanhar os desdobramentos das passeatas que tomaram manchetes pelo mundo, escute aqui o Giro Latino Cast desta semana. 

A ilha vive um momento de crise dentro da crise: acossada por sanções econômicas que degradam o dia a dia de cidadãos que nada têm a ver com as motivações políticas alegadas pelos EUA, Cuba também enfrenta seu pior momento da pandemia: somente na última semana, foram 340 mortes oficiais por covid-19, em um país que havia registrado 146 óbitos ao longo de todo o ano de 2020 – números que vieram na carona de uma reabertura que inclusive buscou atrair turistas estrangeiros. O país já deu o pontapé inicial no programa de vacinação mas, até aqui, apenas 16% da população já está imunizada, repetindo um cenário visto anteriormente em outros pontos da América Latina: apesar de promissor, o índice ainda é insuficiente para conter o avanço do vírus em um momento em que várias restrições vinham sendo relaxadas e novas cepas entraram no país. Esse cenário, somado a um desabastecimento geral, que torna escassos desde itens básicos até o fornecimento de energia, acirrou ânimos: quem já tinha forte discurso contra o embargo, subiu o tom; quem se viu afetado pela crise geral por conta das pressões de fora e também questiona o modelo político cubano, resolveu se mobilizar e sair às ruas. 

Até o momento, autoridades cubanas já confirmaram a morte de um manifestante, ferido durante uma abordagem policial na capital. A notícia da morte de Diubis Laurencio Tejeda, 36, veio somada a denúncias por parte do governo de que os grupos que protestavam haviam vandalizado casas e danificado redes de energia; governistas insistem na tese de que os protestos são motivados (além da crise econômica impulsionada pelas sanções) por tentativas imperialistas de “desestabilizar” a política local. O total de prisões de manifestantes, por outro lado, não tem confirmação oficial: o número passaria de 20, mas não há qualquer informação vinda do governo, e a oposição fala em até 130 pessoas presas ou desaparecidas. A imprensa estrangeira chegou, ainda, a noticiar um suposto pedido de demissão do vice-ministro de Interior, o general Jesús Manuel Burón Tabit, que teria renunciado por desacordo com a repressão aos protestos e um suposto conflito interno entre militares jovens e da velha guarda – a chancelaria cubana, porém, negou que Burón tenha deixado o cargo e qualificou a notícia como “fake news”. Não foi a única informação desencontrada em uma semana que viu as redes repercutirem mentiras como a fuga de Raúl Castro para Caracas ou, no sentido oposto, o envio de tropas venezuelanas a Havana.

Mesmo sem saber os números reais, a ONU, por meio de sua alta comissária para os direitos humanos Michelle Bachelet, pediu a libertação imediata dos detidos e o respeito a seus direitos universais. Após a primeira onda de protestos, um tom diferente: em fala autocrítica, o presidente Miguel Díaz-Canel reconheceu parte de culpa governista pela situação incerta na ilha, também dizendo que muitos cidadãos saíram para protestar diante do contexto “confuso”, que gera incerteza sobre possíveis caminhos para fora da crise. Díaz-Canel disse, ainda, que tudo é parte de uma “política de sufocamento” promovida pelos EUA para justamente levar cubanos ao esgotamento. Na quarta (14), em um primeiro aceno às reivindicações das ruas, o governo anunciou a suspensão de tarifas alfandegárias para alimentos, remédios e itens de primeira necessidade até o final do ano.

Redação

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