Em discurso contra o Estado Islâmico, Obama critica outras religiões

Jornal GGN – Em discurso recente, o presidente norte-americano Barack Obama falou contra o Estado Islâmico. Causou algum desconforto entre os compatriotas, no entanto, ao incluir o cristianismo na lista de religiões capazes de estimular o ódio, a agressão e a maldade.

“Não acreditemos na superioridade moral e pensemos que isso (a violência em nome de uma religião) seja um fenômeno único de algum lugar diferente. É importante lembrar que durante as Cruzadas e a Inquisição, as pessoas cometeram atos terríveis em nome de Cristo. No nosso país, a escravidão e as leis segregacionistas muitas vezes eram justificadas em nome de Cristo… Michelle e eu voltamos da Índia, um país incrível e maravilhoso, cheio de uma diversidade magnífica, mas um lugar onde, nos anos mais recentes, fés religiosas de todos os tipos se viram atacadas por outras pessoas de fé… atos de intolerância que teriam chocado Gandhi”, disse.

Obama e a cristandade: em nome de Deus, chega de superioridade moral

Do Economist.com

Traduzido pelo Estadão

Declaração de Barack Obama sobre religião causou descontentamento em evento tradicional nos EUA

De acordo com uma estimativa grosseira, quase 100 milhões de americanos foram a uma igreja cristã no domingo passado. E, a julgar pela blogosfera, muitos deles estavam se sentindo perturbados por algo que o presidente deles disse durante a semana. Ao denunciar as crueldades do Estado Islâmico, ele indicou que todas as religiões, incluindo o cristianismo, estavam sujeitas a serem exploradas por aqueles interessados em estimular o ódio, a agressão e a maldade. 

Mais precisamente, Barack Obama disse ao público de um National Prayer Breakfast (tradicional evento que ocorre em fevereiro nos Estados Unidos) que “não acreditemos na superioridade moral e pensemos que isso (a violência em nome de uma religião) seja um fenômeno único de algum lugar diferente. É importante lembrar que durante as Cruzadas e a Inquisição, as pessoas cometeram atos terríveis em nome de Cristo. No nosso país, a escravidão e as leis segregacionistas muitas vezes eram justificadas em nome de Cristo… Michelle e eu voltamos da Índia, um país incrível e maravilhoso, cheio de uma diversidade magnífica, mas um lugar onde, nos anos mais recentes, fés religiosas de todos os tipos se viram atacadas por outras pessoas de fé… atos de intolerância que teriam chocado Gandhi.”

Entre as muitas reações, foi argumentado em geral que as Cruzadas não foram tão más assim; que elas foram guerras defensivas e ocorreram porque os muçulmanos haviam tomado os locais sagrados para a cristandade;  e que as Cruzadas e Inquisição (e até a escravidão nos EUA) ocorreram há muito tempo, enquanto as infâmias do Estado Islâmico são cometidas aqui e agora. Entre os pontos mais inteligentes, temos a observação de que o cristianismo também serviu como incentivo para a abolição da escravidão e da segregação.

Pessoas fizeram coisas horríveis em nome de Cristo’, disse Barack Obama

Independentemente de serem válidos ou não, todos esses argumentos seriam relevantes num debate acadêmico para determinar qual fé, cristianismo ou islã, seria a mais benigna, seja em termos dos seus ensinamentos ou sua história. Mas Obama não estava mergulhando num debate desse tipo. Seria estranho se, durante o exercício de suas funções, um chefe de Estado americano, presidindo um país que separa rigorosamente religião e governo, mergulhasse num debate do tipo. Estritamente falando, nada disso é da conta dele.

A argumentação do presidente era muito mais estreita: nenhuma religião pode se considerar imune à exploração por fins nefastos, e acreditar no contrário é perigoso. Em outras palavras, pessoas identificadas com uma organização religiosa, mesmo uma que pregue a caridade e o autossacrifício, não deveriam cair na armadilha de pensar que essa lealdade torna a elas e suas correligionárias melhores do que outras pessoas, ou menos inclinadas a cometer erros terríveis.

E elas podem cair com facilidade nessa armadilha. Eis um par de exemplos. Em 1969, um oficial americano chamado William Calley foi levado a julgamento por ter massacrado civis no Vietnã do Sul. Houve uma torrente de fúria por parte das igrejas do sul dos EUA, dizendo que as alegações não poderiam ser verdadeiras, ou parte de uma campanha antiamericana de difamação; ou, se Calley tinha matado, deve ter havido bom motivo. Um pastor sulista comparou Calley a Jesus Cristo. A lógica seguida era mais ou menos a seguinte: os Estados Unidos são um país virtuoso e cristão, lutando uma guerra justa, e seus soldados só podem agir com virtude.

Mais recentemente, houve reação semelhante na Sérvia quando a maior parte do mundo se convenceu que soldados e paramilitares sérvios tinham cometido atrocidades terríveis na Croácia, Bósnia e Kosovo, incluindo o maior massacre de não-combatentes visto na Europa desde 1945. As acusações simplesmente não poderiam ser verdadeiras, porque os sérvios eram um povo santo com uma devoção única à sua herança cristã. Quem quer que faça uma acusação desse tipo deve agir por desprezo aos cristãos ou alguma outra razão primária: por estranho que tudo isso soe para os forasteiros, essa era uma reação comum.

De maneira mais simples, se você acha que seu lado é virtuoso demais para pecar, isso significa que eles vão pecar, terrivelmente. É por isso que, como apontou Obama, “acreditar na superioridade moral” é algo a ser evitado. Independentemente de nossa opinião a respeito dos méritos relativos das grandes religiões mundiais, essa argumentação se sustenta.

© 2015 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

Redação

14 Comentários

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  1. Os exageros em nome de uma religião

    Nassif,

    A sociedade americana vive mesmo no mundo da lua.

    Agora, algo semelhante às Cruzadas e Inquisição passou a engordar e fazer crescer, o caso daqui com a nossa Guantanamo brazuca comandada pelo notável poodle Sergio Moro.

     

  2. Esse desonesto está falando

    Esse desonesto está falando de fatos praticados há SÉCULOS atrás, querendo comparar e igualar a atrocidades cometidas pelo Islã HOJE!

  3. A sociedade Americana é

    A sociedade Americana é controlada por grandes corporações, do sistema financeiro à indústria bélica, passando pela mídia fundamentalista judaico-cristã. Se tornando cada ves mais um estado totalitário, desrespeitando os direitos individuais mundo afora, Obama é um suspiro de liberdade que não virá.

    A desigualdade está corroendo a sociedade americana. E não parece ter mais volta.

  4. Alguém já viu algo mais “conveniente” que esse Estado Islâmico?

    Usa uma religião marcada em seu nome, comete os mais atrozes e enojantes crimes publicamente, se coloca fora da “ordem” mundial, pratica terrorismo confesso, etc. etc. etc. Vai ser bão de RP e propaganda assim lá no IS!

    Se fosse uma criação hollywodiana, não poderia ser melhor…

  5. Regra geral, nada tenho

    Regra geral, nada tenho contra religiões ou práticas assemelhadas. Só não tolero são sua instrumentalização para fins políticos, econômicos ou para diferenciações de qualquer espécie, máxime morais. Religião não, e nem pode dar, status moral e ético diferenciado a ninguém. 

    Sobre o Cristianismo, é inegável que respeitadas as proporções(seja para menos ou para mais) ele foi a partir da sua, digamos, “formalização”, com Constantino Magno, quando passou a ser a religião oficial do Império, ou seja, uma Confissão de abrangência “mundial”(mundo romano).

    E nunca, jamais, em tempo algum, uma Entidade, seja política, econômica, religiosa, o que for,  exerceu um poder e influência como o Cristianismo. Uma poder que se transforma em hegemonia total, em especial após o século VII. A consequência maléficas disso estão registradas pela História. 

    Se hoje se pode criticar, se opor ao Cristianismo, não foi por concessão ou graças a ele, e sim, por certas contigências na processo civilizatório do mundo ocidental, dentre estes o Renascimento; a Política(criação do Estado e o Contrato Social); o surgimento da burguesia; o Iluminismo e sua variante política como a Revolução Francesa e Americana; surgimento da Democracia como modelo de regime; o surgimento e a evolução da Ciência e por aí vai. 
     

  6. Será ……………

    Nos ultimos meses para entrega do cetro ao novo imperador do norte, Obama vem com esta cantilena de bom moço !!!!

    Nos seis anos passados de seu governo, o que fêz ?

    Não cumpriu quase nada do que prometeu !!!

    E olha que enganou muitos, e foi brindado até com o prêmio Nobel da Paz !!!!

    Como disseram – ‘PATO MANCO ” !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 

  7. No Brasil tivemos muitas

    No Brasil tivemos muitas ações de ódio praticadas por religiosos. Exemplo? As perseguições praticadas por católicos contra os “protestantes”, com direito a procissões, gritarias, ofensas e muitos assassinatos. Com o crescimento das igrejas “protestantes”, estes passaram a perseguir os cultos de origem africana. Logo chegou a vez do ódio aos gays.

    Principalmente a partir das eleições de 2010, alguns padres católicos e pastores evangélicos se tornaram porta-vozes do ódio. Isso perdura, em total desacordo com os ensinamentos de Cristo.

    Não sou ateu. Sou cristão, com formação evangélica, mas não me sinto representado por nenum desses pregadores do ódio. E penso comoo Obama, pelo menos nesse item, e sei que ele também tem formação evangélica.

    Religião é algo de foro íntimo e deveria “religar” as pessoas com Deus e com os semelhantes. Não é o que acontece, quando levada ao extremismo, à autojustificação.

  8. Extremismos

    A religião, que em tese, no discurso da maioria, seria uma relação com a Deus, com a paz, ou com deuses, divindades, harmonia, formas divina de concepção do mundo, muitas vezes se torna uma expressão agressiva, intolerante, obscurantista, violenta, discriminatória, arrogante. É preciso estar sempre alerta contra os desvios da chamada fé guerreira. Falou em guerra, Cruzada, Jihad, é preciso tomar cuidado. Se for uma luta interior, para superar nossos próprios monstros, nossa tendência ao ódio, à não aceitação do “outro”, aí tudo bem. Mas vamos ter muito cuidado. Opinião de alguém que crê. Obama acerta, de vez em quando.

  9. Lucas 18.9-14

    9 – Disse Jesus também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos , e desprezavam os outros ;

    10- Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar : um fariseu , e o outro publicano .

    11- O fariseu, posto em pé , orava de si para si mesmo , desta forma : Ó Deus , graças te dou porque não sou como os demais homens , roubadores , injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano ;

    12 – jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho

    13 – O publicano , estando em pé , longe , não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu , mas batia no peito , dizendo : Ó Deus , sê propício a mim , pecador! 

    14 – Digo-vos  que este desceu justificado para sua casa , e não aquele ; porque tudo o se exalta será humilhado ; mas o que se humilha será exaltado .

     

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