O mundo se assusta com o massacre em Jacarezinho

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Os principais jornais internacionais deram a manchete da morte de 25 pessoas pela operação policial no Rio de Janeiro. "Banho de sangue", "cadáveres ensanguetados", "extermínio", "belicosa", "excessos", relataram.

Jornal GGN – O massacre da Operação em Jacarezinho repercutiu pelo mundo. Os principais jornais internacionais deram a manchete da morte de 25 pessoas pela operação policial no Rio de Janeiro. “Banho de sangue”, “cadáveres ensanguetados”, “extermínio”, “belicosa”, “excessos”, relataram.

“Pelo menos 25 mortos na operação policial mais letal da cidade na favela”, noticiou o The Guardian, que informou: “Fotos e vídeos feitos pelos moradores e compartilhados com o Guardian mostram cadáveres ensanguentados espalhados nas estreitas vielas da favela e ao lado do rio poluído que dá nome ao Jacarezinho. O corpo sem vida de um jovem estava apoiado em uma cadeira de jardim de plástico roxo, com um dedo colocado dentro da boca.”

O titular britânico trouxe a contradição de, um lado, o programa governista Balanço Geral, da Record, comemorar a operação – “Seria ótimo se a polícia pudesse lançar duas operações como esta todos os dias para libertar o Rio de Janeiro dos traficantes, ou pelo menos reduzir seu poder” – e, de outro, o caráter “sanguinário” e “extermínio” criticado por instituições de direitos humanos.

Os jornais norte-americanos também enfatizaram a violência desmedida. O tradicional The New York Times trouxe na linha-fina que “policiais e ativistas de direitos humanos consideraram a operação de quinta-feira em um distrito controlado por traficantes de drogas a mais letal da história da cidade”. E destacou a impunidade para a violenta polícia brasileira: “As operações policiais no Rio de Janeiro estão entre as mais letais do mundo: em 2019, pelo menos 1.810 pessoas foram mortas pela polícia no estado do Rio de Janeiro, um recorde. Os policiais raramente estão sujeitos a investigação criminal ou processo.”

O The Washing Post chamou de “belicosa” a operação policial que “chocou o Brasil” nesta quinta-feira (06), no qual “polícia e pesquisadores estão chamando de um dos tiroteios policiais mais mortíferos da história desta metrópole à beira-mar notoriamente violenta”.

“Mesmo em uma cidade há muito acostumada à violência policial extraordinária, onde as autoridades freqüentemente realizam operações bélicas dentro de bairros sob o controle de organizações criminosas, o número de mortos foi chocante, mostrando o controle duradouro da violência no maior país da América Latina”, apontou o jornal americano.

E, em seguida, uma clara crítica da responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro: As operações violentas foram incentivadas por um grupo de líderes políticos que venceram as eleições recentes com a mensagem de que as táticas de guerra são necessárias para conter o crime e recuperar o controle dos territórios perdidos para as gangues. ‘Um policial que não mata não é um policial’, disse, certa vez, o presidente Jair Bolsonaro.”

Na França, o Le Monde Diplomatique ressaltou que a Operação ocorreu em desobediência à decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que restringiu ações policiais em favelas durante a pandemia de Covid-19. “A operação ocorreu apesar de uma decisão da Suprema Corte proibindo a polícia de realizar operações em favelas empobrecidas do Brasil durante a pandemia de Covid-19, exceto em ‘circunstâncias absolutamente excepcionais’.”

Para a Espanha e América Latina, o El País também destacou as tentativas dos policiais de interferir nas investigações sobre os abusos da violência das forças de Segurança do Rio: “Em uma das imagens recebidas pelo EL PAÍS, três agentes carregam um corpo envolto em um lençol branco, o que dificulta qualquer trabalho forense. Este jornal contatou a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio, encarregados de investigar possíveis abusos cometidos por policiais, mas até o momento não obteve resposta.”

E nomeia o governador Cláudio Castro como o autor de uma “política de segurança” com “excessos”. “A ação policial desta quinta-feira mostra que, mesmo durante a pandemia do coronavírus, a política de segurança pública do governador Cláudio Castro (PSC) no no Estado do Rio continua a ser pautada pelo enfrentamento direto aos traficantes de drogas nas favelas e bairros periféricos, ignorando um decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Em junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal proibiu esse tipo de operação policial durante a crise de saúde, exceto em ‘hipóteses absolutamente excepcionais’ e desde que devidamente justificadas perante o Ministério Público do Rio.”

Agências internacionais, que dissipam as informações para jornais de todo o mundo, também destacaram a truculência. “Uma mulher disse à Associated Press que viu a polícia matar um homem gravemente ferido que ela descreveu como indefeso e desarmado, que encontraram depois que ele fugiu para sua casa”, informou AP.

A agência Associated Press também relatou a repercussão logo após a violenta Operação: “um grupo de cerca de 50 moradores de Jacarezinho ocupou uma rua estreita na tarde de quinta-feira para acompanhar membros da comissão de direitos humanos da legislatura estadual durante uma inspeção. Eles gritaram ‘justiça’ enquanto batiam palmas e alguns ergueram os punhos direitos no ar.”

A Reuters, por sua vez, falou em “banho de sangue”: “O banho de sangue gerou críticas de grupos de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, que criticou a polícia pela perda “repreensível e injustificável” de vidas em um bairro povoado principalmente por negros e pobres.”

“Foi a operação policial mais mortal em 16 anos para o estado do Rio, que há décadas sofre com a violência relacionada às drogas em suas inúmeras favelas”, indicou.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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