O projeto militar dos Estados Unidos para o mundo, por Thierry Meyssan

no Réseau Voltaire

O pensamento estratégico norte-americano

por Thierry Meyssan

Tradução de Ricardo Cavalcanti-Schiel

Há 70 anos que a obsessão dos estrategistas norte-americanos não tem nada a ver com a defesa do seu povo, mas sim com a manutenção da superioridade militar dos Estados Unidos sobre o resto do mundo. Durante a década que vai da dissolução da União Soviética aos atentados de 11 de setembro de 2001, eles buscaram as mais diferentes maneiras de intimidar a tudo o que resistisse à dominação norte-americana.

Harlan K. Ullman desenvolveu a ideia de aterrorizar as populações, desfechando-lhes um golpe descomunal sobre suas cabeças (shock and awe: choque e pavor) [Ullman, Harlan K. & Wade, James P. 1996. Shock and Awe. Achieving Rapid Dominance. Washington D. C.: National Defense University Press.]. Seu paradigma era o uso da bomba atômica contra os japoneses, e, na prática, isso significou despejar uma chuva de mísseis de cruzeiro sobre Bagdá.

Os discípulos do filósofo Leo Strauss sonhavam com combater e ganhar várias guerras ao mesmo tempo (full-spectrum dominance: domínio em largo espectro). Vieram então as guerras do Afeganistão e do Iraque, comissionadas a um comando comum [Mahajan, Rahul. 2003. Full Spectrum Dominance. U.S. Power in Iraq and Beyond. Nova Iorque: Seven Stories Press.].

O almirante Arthur K. Cebrowski preconizava a reorganização das forças armadas de modo a tratar e compartilhar uma enormidade de dados de maneira simultânea. Assim, os sistemas automáticos poderiam um dia indicar instantaneamente as melhores táticas [Alberts, David S.; Garstka, John J. & Stein, Frederick P. Network Centric Warfare: Developing and Leveraging Information Superiority. Washington D. C.: Command and Control Research Program – Departamento de Defesa.]. Como veremos em seguida, as profundas reformas que ele iniciou não tardaram a produzir frutos venenosos.

O pensamento neoimperialista norte-americano

Essas ideias e obsessões começaram levando o presidente Bush e a Marinha à elaboração do mais vasto programa internacional de sequestro e tortura, que pode ter alcançado 80.000 vítimas, para mais adiante fazer com que o presidente Obama pusesse em marcha um programa de assassinatos, em especial por meio do uso de drones, mas também por meio do uso de comandos especiais, que passaram a operar em 80 países, com o suporte de um orçamento anual de 14 bilhões de dólares [Shaw, Ian G. R. 2016. Predator empire: drone warfare and full spectrum dominance. Minneapolis: University of Minnesota Press.].

A partir do 11 de setembro, o assistente do almirante Cebrowski, Thomas P. M. Barnet, proferiu numerosas conferências no Pentágono e nas escolas de comando e estado maior, para anunciar aquele que seria o novo mapa mundi, segundo o alto comando da Defesa [Barnett, Thomas P. M. 2004. The Pentagon’s New Map. War and Peace in the Twenty-First Century. Nova Iorque: Putnam Publishing Group.]. Essa projeção começou a tomar corpo por meio das reformas estruturais das forças armadas norte-americanas, nas quais se reconhece uma nova visão de mundo. Só que esse projeto parecia inicialmente tão delirante que os observadores estrangeiros apressadamente o consideraram apenas como mais um golpe de retórica, visando insuflar medo nos povos que os Estados Unidos pretendiam dominar.

Barnett afirmava que, para manter sua hegemonia mundial, os Estados Unidos teriam que jogar ao mar uma parte da carga, ou seja, dividir o mundo em dois, para ficar com o que interessa. De um lado ficariam os Estados “estáveis” (os membros do G-8 e seus aliados), e do outro, o resto do mundo, considerado tão apenas como um reservatório de recursos naturais. À diferença dos seus predecessores, Barnett já não considerava mais o acesso a esses recursos como vital para Washington, mas pretendia que eles só fossem acessíveis aos Estados “estáveis” pela mediação dos recursos e serviços militares dos Estados Unidos. Portanto, convém destruir sistematicamente todas as estruturas estatais no âmbito desse “reservatório de recursos”, de maneira que ninguém aí possa jamais se opor aos desígnios de Washington, nem tratar diretamente com os Estados “estáveis”.

Quando de seu Discurso sobre o Estado da União, proferido em janeiro de 1980, o presidente Carter enunciou sua doutrina: Washington considerava o abastecimento da sua economia pelo petróleo do Golfo como uma questão de segurança nacional. O Pentágono será então dotado do CentCom (United States Central Command) para controlar essa região. Hoje, no entanto, Washington obtém menos petróleo do Iraque e da Líbia do que o que se produzia antes das guerras contra esses países… e não está muito se importando com isso.

A ideia de destruir as estruturas estatais remete-se ao caos, um conceito emprestado de Leo Strauss, ao qual Barnett dá um novo sentido. Para aquele filósofo judeu, depois do fracasso da República de Weimar e, por consequência, o advento da Shoah (o Holocausto), o povo judeu não poderia mais confiar nas democracias. O único modo de se proteger de algum novo nazismo seria instaurar sua própria ditadura mundial ― em nome do Bem, “evidentemente”. Seria preciso então destruir alguns Estados recalcitrantes, mergulhá-los no caos, para poder reconstruí-los de acordo com novas normas [Drury, Shadia B. 1988. Political Ideas of Leo Strauss. Londres: Palgrave Macmillan. ― Norton, Anne. 2005. Leo Strauss and the Politics of American Empire. New Haven: Yale University Press. ― Gottfried, Paul Edward. 2011. Leo Strauss and the conservative movement in America: a critical appraisal. Cambridge: Cambridge University Press. ― Minowitz, Peter. 2009. Straussophobia: Defending Leo Strauss and Straussians Against Shadia Drury and Other Accusers. Lanham: Lexington Books.].

Isso é exatamente o que dizia Condoleezza Rice, durante os primeiros dias da guerra de 2006 contra o Líbano, quando ainda parecia que Israel podia sair vitorioso:

“Não reconheço o interesse da diplomacia, se é para retornar ao statu quo ante entre Israel e o Líbano. Creio que isso seria um erro. O que vemos aqui, de certa maneira, é um começo, são as contrações do nascimento de um novo Oriente Médio e, seja lá o que façamos, temos de estar certos de que avançamos em direção a esse novo Oriente Médio, e de que não retornaremos ao anterior”.

Para Barnett, no entanto, não bastaria mergulhar no caos apenas os povos recalcitrantes, mas todos aqueles que não alcançaram um certo nível de vida. E uma vez que sejam reduzidos ao caos, aí devem ser mantidos.

Em certa medida, a influência dos seguidores de Leo Strauss andou declinando no Pentágono após a morte de Andrew Marshall, idealizador do “giro para a Ásia” [Krepinevich, Andrew F. & Watts, Barry D. 2015. The Last Warrior: Andrew Marshall and the Shaping of Modern American Defense Strategy. Nova Iorque: Basic Books.].

Uma das grandes rupturas entre o pensamento de Barnett e o dos seus predecessores reside na ideia de que a guerra não deve ser conduzida contra Estados em particular, por razões políticas, mas contra regiões inteiras do mundo pelo fato de que elas não estão bem integradas no sistema econômico global. Evidentemente que se começará por esse ou aquele país, mas o mais importante é propiciar o efeito de contágio, até que tudo seja destruído, como se está vendo no Oriente Médio ampliado. Hoje, o estado de guerra se mantém, inclusive com blindados, tanto na Tunísia e na Líbia, quanto no Egito (Sinai), na Palestina, no Líbano (em Ain el-Helue e Ras Baalbeck), na Síria, no Iraque, na Arábia Saudita (na cidade de Qatif), no Bahrein, no Iêmen, na Turquia (em Diyarbakir) e no Afeganistão.

Por conta disso, a estratégia neoimperialista de Barnett precisa se apoiar necessariamente sobre elementos da retórica de Bernard Lewis e de Samuel Huntington sobre a “guerra de civilizações”. Como é impossível justificar a sumária indiferença pelo destino dos povos daquele “reservatório de recursos naturais”, pode-se ainda persuadir as pessoas de que nossas civilizações são incompatíveis.

Mapa inicialmente apresentado por Thomas P. M. Barnett em uma conferência realizada no Pentágono em 2003. Os países dentro da área rosa são considerados como “não-integrados” ao “centro operativo” do mundo globalizado. Esta cópia foi extraída de um Powerpoint do Estado Maior Conjunto dos Estados Unidos.

A aplicação do neoimperialismo norte-americano

É exatamente essa política da qual vínhamos tratando que foi posta em prática a partir do 11 de setembro. Nenhuma das guerras que se iniciaram desde então terminaram. Após 16 anos, as condições de vida dos afegãos são, a cada dia, mais terríveis e perigosas. A reconstrução do seu Estado, anunciado sob os termos de um planejamento similar àquele do modelo da Alemanha e do Japão após a Segunda Guerra, jamais chegou a acontecer. A presença de tropas da OTAN em nada melhorou a vida dos afegãos. Pelo contrário, ela se deteriorou ainda mais. É forçoso constatar que essa presença é, hoje, antes de mais nada, a causa do problema. A despeito dos discursos tranquilizadores sobre a ajuda internacional, a presença das tropas estrangeiras lá apenas aprofunda e mantém o caos.

Em momento algum, desde que as tropas da OTAN desembarcam, os motivos oficiais para a guerra se revelam verdadeiros, nem no caso do Afeganistão (a responsabilidade do Talibã nos atentados de 11 de setembro), nem no caso do Iraque (o apoio de Sadam Hussein aos terroristas do 11 de setembro e a fabricação de armas de destruição massiva para atacar os Estados Unidos), nem no caso da Líbia (o bombardeio do exército sobre o próprio povo), nem no caso da Síria (a ditadura do presidente Assad e da seita alauita). E em nenhum dos casos, jamais a derrubada de algum governo pôs fim às guerras que aí se iniciaram.

As “primaveras árabes”, ainda que sejam fruto de uma ideia do MI6, o serviço de inteligência britânico (Military Intelligence, Section 6), que se vincula diretamente ao modelo da “revolta árabe de 1916” e das façanhas de Lawrence da Arábia, acabaram se inscrevendo no plano geral da estratégia norte-americana. A Tunísia tornou-se ingovernável. No Egito, o exército retomou o controle da situação e o país tenta hoje, com bastante esforço, respirar. A Líbia tornou-se um campo de batalha; não após o Conselho de Segurança da ONU adotar uma resolução clamando a proteção da população, mas a partir do assassinato de Muamar Kadhafi e a vitória da OTAN.

A Síria, tão apenas, tornou-se um caso excepcional, uma vez que o Estado não chegou a passar às mãos da Irmandade Muçulmana, para que eles pudessem instalar o caos no país. No entanto, numerosos grupos jihadistas egressos da Irmandade controlaram ― e ainda controlam ― partes do território onde, aí sim, instalou-se o caos. Nem o califado do Estado Islâmico (Daesh), nem Idlib sob o controle da Al-Qaida chegam a conformar Estados onde o Islã possa florescer, mas apenas zonas de terror, sem escolas ou hospitais.

É provável que, graças a seu povo, a seu exército e a seus aliados russos, libaneses e iranianos, a Síria consiga escapar do destino traçado para ela em Washington. No entanto, o Oriente Médio ampliado continuará a arder até que seus povos compreendam os planos dos seus inimigos.

O mesmo processo de destruição lança seus primeiros passos no noroeste da América do Sul. A mídia ocidental trata com desdém as conturbações na Venezuela, mas uma vez que a guerra comece, ela não se limitará a esse país. Ela tenderá a se espalhar pela região, ainda que as condições econômicas e políticas de cada Estado que a compõe sejam bastante diferentes.

Os limites do neoimperialismo norte-americano

Os estrategistas norte-americanos adoram comparar o poder dos Estados Unidos com o do Império Romano. No entanto, os romanos aportavam segurança e opulência aos povos que conquistavam e integravam; construíam monumentos e racionalizavam suas instituições. Ao contrário, o neoimperialismo norte-americano não tem nada a aportar, nem aos Estados “estáveis” nem ao que ele considera mero “reservatório de recursos naturais”. Ele planeja tão apenas extorquir os primeiros e destruir os laços sociais que sedimentam os últimos. Ele sequer deseja exterminar esses últimos, mas apenas fazê-los sofrer de tal modo que o caos em que vivam convença os Estados “estáveis” a não ir buscar neles recursos naturais senão sob a proteção das forças militares dos Estados Unidos.

Até aqui o projeto imperialista considerava que “não se pode fazer omeletes sem quebrar os ovos”. Ele admitia que teria que cometer massacres “colaterais” para estender sua dominação. Daqui por diante, ele parece ter começado a planejar massacres generalizados para impor definitivamente sua autoridade.

O neoimperialismo norte-americano supõe que os demais Estados do G-8 e seus aliados aceitem que os Estados Unidos “protejam” os interesses daqueles mundo afora, por meio das suas forças militares. Se isso parece não ser um problema para o caso da União Europeia, já submissa depois de tantos anos, pode, no entanto, que venha a ser objeto de discussão dura com o Reino Unido, e, seguramente, será impossível com a Rússia e a China.

Lembrando sua “relação especial” com Washington, Londres já exigiu ser tratada como sócia no projeto norte-americano de governar o mundo. Esse foi o sentido da viagem de Theresa May aos Estados Unidos em janeiro de 2017, no que acabou ficando sem resposta.

De outra parte, é impensável que as forças militares norte-americanas assegurem a segurança das “rotas da seda” tal como as rotas comerciais estão estabelecidas hoje, em parceria com seus homólogos britânicos, por meio de vias marítimas e aéreas. Do mesmo modo, é também inimaginável fazer a Rússia se curvar e cair de joelhos, ainda mais depois de manobrar para retirá-la do G-8 por conta de seu envolvimento na Síria e na Crimeia.

 

Sugestões do tradutor:

Para saber mais sobre a “estratégia do caos” e sua aplicação:

A estratégia do caos;

Caos: Prática e Aplicações;

A última potência hegemônica: aqueles a quem os deuses destruirão

Para quem lê em francês, o melhor “briefing” sobre os fundamentos dessa estratégia:

Leo Strauss: l’idéologie fasciste des faucons.

Sobre os termos gerais de uma “nova guerra fria”:

Nova guerra fria: faz sentido?

Redação

21 Comentários

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  1. O objetivo da superioridade militar é pilhar as demais Nações

    O superioridade militar dos EUA não é um fim em si mesmo mas um meio de manter sua superioridade econômica, garantindo a pilhagem das riquezas dos países militarmente débeis.

    Na obra Anti-Dühring, Engels escreveu:

    “Vamos analisar, entretanto um pouco mais de perto, essa onipotente “violência” do Sr. Dühring. Robinson escraviza “Sexta-feira”, “com a espada na mão”. Sim, mas onde arranjou essa espada? Que se saiba, até hoje, as espadas não brotam, como árvores, de nenhum lugar da terra, nem mesmo nas ilhas imaginárias onde vivem os Robinson. O Sr. Dühring não acha oportuno responder a esta pergunta – ora, se Robinson pode armar-se de uma espada sem nos dizer de onde a tirou, nada nos impede de supor que, uma bela manhã, o nosso “Sexta-feira” aparecerá empunhando um revólver carregado e então toda a relação da “violência” estará virada pelo avesso. “Sexta-feira” se imporá e Robinson terá de trabalhar para ele. Pedimos ao leitor que nos perdoe por insistirmos tanto na história de Robinson e “Sexta-feira”, mais apropriada para a recreação de crianças do que para elucubrações cientificas, mas, que havemos de fazer? Não temos outro remédio senão aplicar conscienciosamente os métodos axiomáticos do Sr. Dühring, e não temos culpa de que se limite este pesquisador a um terreno de mera puerilidade. O revólver triunfará sobre a espada e até a criatura mais cheia de axiomas terá de reconhecer que, neste caso, a violência não é um mero ato de vontade, pressupondo, pelo contrário, condições prévias bastante reais para o seu exercício, a saber: instrumentos, entre os quais, o mais perfeito esmaga o mais imperfeito. Estes instrumentos, que não brotam do solo por si sós, tiveram de ser produzidos, o que eqüivale a dizer que o produtor dos mais perfeitos instrumentos de violência, que são as armas, triunfa sobre o produtor dos mais imperfeitos. Daí temos de reconhecer, em resumo, que a vitória da violência se reduz à produção de armas e que esta, por sua vez, se reduz à produção em geral, e, portanto, ao “poderio econômico”, à “situação econômica”, aos meios materiais colocados à disposição da vontade de violência.
         Que vem a ser, atualmente, a violência? São os exércitos e os navios de guerra, e ambos custam, como já tivemos ocasião de aprender, por dolorosa experiência, “um montão de dinheiro”. Mas, que saibamos, a violência não é capaz de criar dinheiro. A única coisa que ela sabe é arrebatar o que já foi criado, o que também de pouco nos servirá, como já o sabemos pela pungente experiência dos famosos cinco mil milhões da França. Em última análise, é sempre a produção econômica que subministra a quantidade necessária de dinheiro. Voltamos a nos encontrar, aqui, com a idéia de que a violência está condicionada pela situação econômica, da qual ela deve receber os meios necessários para se equipar com instrumentos, bem como para conservá-los. E não termina aqui a nossa história. Nada pode depender tanto dos fatores econômicos como o exército e a marinha. O armamento, a composição, a tática e a estratégia, dependem, antes de tudo, do grau de produção imperante e do sistema de comunicações. Não foram as “criações livres da inteligência” de chefes geniais que revolucionaram a estratégia militar, mas a invenção de armas mais perfeitas e as mudanças sofridas pelo material humano. O máximo que um estrategista genial pode fazer é adaptar os métodos de luta às novas armas e aos novos lutadores.

    (…)”

    1. Esta é uma visão do passado, o objetivo é destruir.

      Marx nunca previu o esgotamento dos recursos naturais, logo pode revirar a sua obra que não achará respostas às novas ofensivas do Império.

      Para entender o que ocorre tem-se que se pensar que se o consumo desordenado de recursos naturais se expandirem fora dos países centrais há uma pressão nos preços da commodities que desarranja todo o sistema de trocas capitalista e inclusive as visões que Marx tinha deste.

      1. É uma boa explicação mas…

        A pressão no preço das commodities, que desaranjaria todo o sistema de trocas capitalistas, ocorre tanto se o consumo desordenado de recursos naturais se expandirem fora dos países centrais do capitalismo quanto se os imperialistas derrubarem governos periféricos, como fizeram na Líbia, no Iraque e no Afeganistão. A derrubada dos governos do Afeganistão, do Iraque e da Líbia reduziram a produção desses países e está pressionando o preço das commodities da mesma forma que essa pressão teria teria ocorrido se tivesse havido a expansão desordenada de recursos naturais nos países da periferia capitalista.

        Marx pode até nunca ter previsto o esgotamento dos recursos naturais mas ele constatou que:

        “The development of civilization and industry in general has always shown itself so active in the destruction of forests that everything that has been done for their conservation and production is completely insignificant in comparison”.

  2. Essa gente,com sua

    Essa gente,com sua interminável corrida armamentista,que no fundo é uma corrida pela acumulaçao do capital e consequente acúmulo de poder,conseguirá,muito em breve,substituir a vida,e ,assim,teremos uma vida robótica para os robôs.

    Que paradoxal: A perpetuação da vida passando pela detruição dela.

    1. Veja a interessante série,

      Veja a interessante série, que era originalmente inglesa : The Black Mirror, principalmente o episódio, Engenharia Reversa. A série está no Netflix.

  3. Como Ficam Os Do Quintal?

    Nassif: há tempos não me debruçava, no seu blog, sobre artigo longo e interessantes. Nos faz esquecer a rotina de só ler notícias sobre a banda podre do Judiciário (a cada dia mais rica e poderosa), os astronômicos roubos dos políticos congressistas (por todo território nacional) e nosso Executivo, cheinho de ladrões  e salafrários. Inclusive, entender onde os interesses estrangeiros estão presentes em nossa crise, e até entender a ação de seus agentes, seja de um simples informante (como o Presidente) a agentes infiltrados nas camadas do Poder, que vão do Judiciário às Forças Armadas. É possível deduzir como ficamos, República de Banana, no quintal dos poderosos.

  4. Parabéns!

    Até que enfim GGN descobriu Réseau Voltaire um site francês extraordinário sobre política internacional criado e alimentado por jornalistas verdadeiros e não capachos financiados pela grande nação. Eles vão fundo em suas análises e há anos fazem isso denunciando o que ocorre no Oriente Médio e mundo em geral apontando fontes que podem ser clicadas pelos leitores que desejem ampliar o conhecimento do assunto que tratam.

    1. Nem tanto “até que enfim”

      Não é a primeira vez que eu mesmo traduzo artigos do Réseau Voltaire para o GGN.

      Infelizmente, as traduções deles para o português são bastante sofríveis (as para o espanhol, não; são bastante boas).

      Ontem, quando eu estava traduzindo o texto acima, o portal ainda não tinha feito a tradução para o português deste artigo que aqui está. Quem quiser pode comparar minha tradução com a tradução que hoje também saiu lá: http://www.voltairenet.org/article197562.html.

      Alguns erros são um tanto constragedores, como, neste artigo mesmo, por exemplo: traduzir a expressão francesa “faire la part du feu” (que eu traduzi como “ter que jogar ao mar uma parte da carga”) por “participar no fogo” é transliterar sem se dar conta do sentido. Os franceses se referem a “la part du feu” (“a parte do fogo”) como aquela parte da mata que, num grande incêndio, se queima em um pequeno incêndio controlado, para que o resto da mata se salve. Da mesma maneira, os produtores de vinho dizem que “la part des anges” é o vinho que evapora dos tonéis para que o que vinho que fica se torne muito melhor: foram os anjos que beberam!

  5. Talvez o único erro do artigo seja a ausência da ……

    Talvez o único erro do artigo seja a ausência da identificação do objetivo.

    Fico impressionado com o desenvolvimento do artigo de Thierry Meyssan que chega praticamente as mesmas conclusões que já escrevi em 3 artigos que tem por nome “Eles escolheram a Barbárie” em 26/12/2014, 09/02/2015 e 12/03/2016, que é a intensão do Império em simplesmente reduzir alguns países do terceiro mundo que se sobressaíam em termos de progresso econômico como Iraque e Líbano a um estado quase que tribal.

    Porém o artigo de Thierry Meyssan peca num imenso erro, atribuir todo este movimento a uma quase teoria da conspiração de um complô sionista hegemonista muito corrente na Internet nos últimos dez anos. Para tanto ele se baseia nas palestras de Thomas P. M. Barnet que lança o conceito de países “estáveis” que conservariam “reservatórios de recursos” para um uso posterior e oportunista de Washington.

    O artigo de Thierry Meyssan falha num ponto básico, movimentos militares da intensidade dos atuais não se baseiam em conceitos abstratos como o de “reservatório de recursos”, pois se assim fosse seria mais simples a derrubada tradicional dos governantes de plantão, como Saddam Hussein, Muamar Kadafi e outros com a substituição por elementos mais flexíveis aos desejos do Império. Para se entender o atual movimento das forças imperialistas tem-se que ir um pouco mais longe, o porquê da necessidade de destruir toda a economia dos países invadidos transformando-os em Estados Tribais quase que medievais.

    A base dos artigos que comecei a escrever em 2014 não são palestras nem livros escritos e divulgados amplamente para quem quiser ler, a base simplesmente foi às condições econômicas e materiais que estes e outros países tinham no momento destas invasões bárbaras. Ou seja, todos esquecem que um pouco antes de todas estas invasões o mundo estava num processo de valorização de commodities devido o consumo maciço que ocorria até 2008. Países como Iraque, Líbia e outros como o Brasil (aí está à importância no diagnóstico correto dos motivos das invasões) sofreram em torno desta data a demolição da toda a sua infraestrutura com a divisão territorial (2006 Iraque, 2011 Líbia), simplesmente porque eles começaram A CONSUMIR OS SEUS PRÓPRIOS RECURSOS NATURAIS, isto fica claro nos dados que coloquei no primeiro artigo em 2014.

    Se for olhado por este prisma se vê claramente que para evitar as pressões no consumo de commodities é necessário essencialmente à redução do nível de vida das populações do terceiro mundo e principalmente os países com alguma chance de prosperidade. Passando para a América do Sul se vê claramente que apesar da Venezuela nunca ter deixado de suprir os USA de petróleo, do Brasil continuar exportando a preços módicos minério de ferro e produtos do agronegócio, é importante simplesmente desorganizar a economia destes países para que o produto destas exportações não caiam por capilaridade nas mãos das imensas massas propensas ao consumo.

    O objetivo não é conquistar a estabilização de um país através da destruição de toda a sua infraestrutura, o objetivo está na própria destruição da infraestrutura. Inclusive a presença do DAESH em países como a Síria e Iraque está causando um problema complementar ao Império, o objetivo deste pseudo Estado era a divisão definitiva do Iraque, da Síria e posteriormente o Líbano e Irã em países fragmentados e anárquicos, onde o consumo cairia a níveis pré-industriais, por este motivo países como os dois últimos se envolveram diretamente no combate ao DAESH. Outro Estado que estava na mira dos estrategistas imperialistas era a Turquia, entretanto foram extremamente inábeis na sua tentativa de golpe que foi abortado pelo governante de plantão.

    Com esta visão mais geopolítica e menos conspiratória se entende perfeitamente os movimentos do Império, entretanto não devemos esquecer que no momento em que os olhos vorazes dos imperialistas se focaram no terceiro mundo deixaram de lado duas grandes potências secundárias, China e Rússia, que começaram a reivindicar seu espaço a partir de um real rearmamento que coloca em cheque os planos geopolíticos. 

    1. “Para Barnett, no entanto, não bastaria mergulhar no caos apenas os povos recalcitrantes, mas todos aqueles que não alcançaram um certo nível de vida. E uma vez que sejam reduzidos ao caos, aí devem ser mantidos.”

      Essa é a essência da teoria do caos.

      Quanto à sua lógica geopolítica, ela responde ao curso de uma certa tradição intelectual (ou discursiva, se alguém quiser falar em termos foucaultianos), em que o campo de possibilidades dos enunciados está simbolicamente demarcado pelo seu reconhecimento de inteligibilidade, a partir da tradição (é a mesma coisa com os ideólogos liberais, ultraliberais, progressistas, marxistas etc etc etc).

      Ou seja: tudo é “idealismo” mesmo!!! E o que é o materialismo senão o idealismo que crê que só há realidade na matéria?…

      Não existe, no pensamento geopolítico, nenhuma macrodeterminação econômica, movida por alguma racionalidade superior e universal. Ela é, quando muito, acessória e funcional (nos termos de uma racionalidade de meios). A lógica simbólica do poder vai muito além do primado da subsistência e da acumulação do capital: ela o subordina!

      Quem não entender isso, jamais entenderá geopolítica.

      Se alguma racionalidade fizesse água nas canelas dos neocons norte-americanos, talvez não estivessem todos eles mergulhados no pântano de delírio em que hoje se encontram em termos de política internacional.

      1. “Tell the Vietnamese they’ve

        “Tell the Vietnamese they’ve got to draw in their horns or we’re going to bomb them back into the Stone Age”.

        Gen. Curtis LeMay, May 1964

  6. Tradução de artigos

    Prezados,

     

    Excelente iniciativa a de traduzir e divulgar artigos  especializados de sites e blogs estrangeiros. Infelizmente, ainda não temos nada parecido por aqui. Sugiro traduzir, entre outros, o Moon of Alabama (http://www.moonofalabama.org/), o Eljah J Mtps://elijahjm.wordpress.com/), o The Saker (https://thesaker.is/) e artigos de articulistas do quilate do M. K. Bhadrakumar, Pepe Escobar, Vijay Prashad, Andrew J. Bacevich, Richard Falk, Mahdi Darius Nazemroaya, Peter Dale Scott,  Alfred W McCoy, Maximilian C. Forte e muitos outros.

    1. Fique à vontade

      Fique à vontade para traduzir, Paulo!

      Eu mesmo já traduzi textos dessa outra linhagem que você sugere, para publicá-los aqui, e as traduções deles feitas pelo Coletivo Vila Vudu e pelo Roberto Pires Silveira são republicadas aqui com relativa frequência.

      1. Prezado Ricardo,
         
        Acompanho

        Prezado Ricardo,

         

        Acompanho o teu trabalho e te parabenizo pela iniciativa. Identifico-me com o que você traduz e escreve. Infelizmente, o meu talento para a tradução ainda não se iguala ao teu.

        Abraços,

        Paulo

  7. O objetivo da destruição da infra-estrutura é a reconstrução

    Não podemos esquecer que a principal finalidade da destruição da infra-estrutura dos países periféricos pelos países imperialistas é a reconstrução dessa infra-estrutura pelas corporações dos países imperialistas, abrindo oportunidades para investimentos de capitais ociosos.

    Se liga aí no que o Luís Fernando Veríssimo escreveu:

    “O que sentimos ao descrever nossas mazelas gigantescas só pode ser descrito como orgulho desvairado, quase uma forma de ufanismo.

    As revelações da Lava-Jato nos permitem dizer que nenhum outro país é tão corrupto quanto o nosso. E estamos sempre superando nossas próprias marcas. O escândalo do mensalão era o maior de todos os tempos. Agora o escândalo do propinato é maior do que o escândalo do mensalão. Eta nóis!

    Não quero desiludir ninguém, ainda mais depois do golpe na autoestima nacional que foram os 7 a 1 na Copa, mas os americanos nos ganham em matéria de corrupção. Ou pelo menos empatam.

    Notícias do superfaturamento, dos custos fictícios e outras falcatruas de empresas americanas contratadas para reconstruir o Iraque – apenas um exemplo – depois da destruição que eles mesmos provocaram, fizeram murchar minha megalomania.

    Não era só o volume de dinheiro desviado, maior do que qualquer concebível escândalo brasileiro. A Bechtel, a Halliburton, ligada ao então vice-presidente Dick Cheney, e outras empresas americanas ganharam, com exclusividade (“Nossa sujeira limpamos nós” é o lema implícito) e sem licitação, os contratos para reparar os estragos feitos, subsidiadas pelo Pentágono.

    E mesmo com os bilhões de dólares gastos e roubados depois da queda do Saddam, o Iraque continua em ruínas.

    E o pior para o nosso ego é que, com tudo isso, você não ouve os americanos dizerem que são os mais corruptos do mundo. Ainda por cima nos arrasam com sua modéstia”.

    http://noblat.oglobo.globo.com/cronicas/noticia/2017/04/empate.html

     

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