Paul Krugman: a armadilha do aumento da taxa de juros na Suécia

Sugerido por Sérgio T.

Da Carta Capital

A Suécia cai na armadilha 

As advertências de que era um erro terrível o Banco Central sueco aumentar os juros apesar da inflação baixa e da grande folga econômica estavam certas 

por Paul Krugman

Um correspondente indicou-me recentemente o noticiário da Suécia, que parou de flertar com a deflação e avançou diretamente para ela. É surpreendente: o país, que no início suportou a crise recente razoavelmente bem e não enfrentou as restrições institucionais que a participação na Zona do Euro teria imposto, conseguiu, de maneira completamente gratuita, cair em uma armadilha deflacionária.

As autoridades do Riksbank dizem, na verdade, que ninguém poderia ter previsto esse desenvolvimento. Mas é claro que o próprio ex-vice-presidente do banco, e meu ex-colega, Lars Svensson mais ou menos freneticamente advertiu em 2013 que o Banco Central da Suécia estava cometendo um erro terrível ao aumentar as taxas de juro apesar da inflação baixa e da grande folga econômica. Sua recompensa foi um crescente isolamento e, afinal, ele saiu. Você vê, todos os SMS – Suecos Muito Sérios – sabiam que era importante aumentar as taxas de juro porque, bem, porque. E sair da armadilha vai ser muito difícil.

Eu gostaria de imaginar que as pessoas vão admitir que Lars estava certo o tempo todo, e que em geral a vontade de purgar foi altamente destrutiva. Mas meu palpite é de que ele ainda será considerado inconfiável – ele foi prematuramente antideflacionista – e que os defensores do dinheiro justo continuarão sendo considerados prudentes e confiáveis, mesmo enquanto levam todos para a estagnação duradoura.

A queda da Suécia na deflação oferece na verdade várias lições relevantes para todos nós. Primeiro, é uma lição sobre o poder do sadomonetarismo, o desejo de muitas autoridades monetárias de aumentar as taxas de juro porque, bem, porque. Em 2010 a Suécia tinha alto desemprego e baixa inflação; a macroeconomia básica teria indicado que não era o momento de aumentar as taxas. Mas o Riksbank foi em frente e aumentou de qualquer modo. Por quê?

As autoridades hoje dizem que teve a ver com estabilidade financeira, com temores de preços excessivos da habitação e empréstimos. Mas não era isso o que diziam na época! Stefan Ingves, presidente do Riksbank, realizou um bate-papo online em dezembro de 2010 no site do banco, no qual declarou que aumentar as taxas teve a ver com a inflação: “Se a taxa de juro não for aumentada agora”, escreveu, “corremos o risco de excesso de inflação à frente. Isso não seria bom para a economia. Nossa tarefa mais importante é garantir o cumprimento de nossa meta de inflação de 2%”.

Estranho dizer, quando a inflação começou a chegar bem abaixo da meta, o Riksbank continuou aumentando as taxas de juro e adotou justificativas de estabilidade financeira.

Segundo, a experiência da Suécia ajuda a esclarecer uma polêmica histórica sobre a política econômica dos EUA. Existe um contingente substancial de críticos do Federal Reserve que insiste que todo o ciclo da bolha da última década foi culpa do Fed, que ele manteve as taxas de juro baixas demais por muito tempo. Se você pensar nisso, porém, o Fed por volta de 2003 e 2004 enfrentava uma situação muito semelhante à do Riksbank em 2010: o desemprego continuava alto, mas caindo, a inflação estava baixa e os preços da habitação, subindo.

Então o que os críticos do Fed estão dizendo é que o banco, que estava preocupado com a inflação na época, deveria ter feito o que o Riksbank fez. (Vocês ainda têm certeza disso?)

Finalmente, a saga sueca é uma clara ilustração dos limites da influência intelectual. Na época em que a política estava saindo dos trilhos, Svensson, um dos principais macroeconomistas do mundo e, especificamente, um especialista em riscos de deflação e armadilhas de liquidez, era vice-presidente do Riksbank. Ele protestou vigorosamente contra o rumo que a política estava tomando e foi completamente congelado por seus colegas que tinham certeza de que eram mais espertos.

E note que esse não foi o caso de seus colegas manterem a ortodoxia econômica, enquanto Svensson propunha ideias radicalmente novas; ele foi o que adotou argumentos de economia básica, enquanto eles inventavam novas razões para endurecer imediatamente.

Redação

17 Comentários

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  1. “As autoridades do Riksbank

    “As autoridades do Riksbank dizem, na verdade, que ninguém poderia ter previsto esse desenvolvimento. Mas é claro que o próprio ex-vice-presidente do banco, e meu ex-colega, Lars Svensson mais ou menos freneticamente advertiu em 2013 que o Banco Central da Suécia estava cometendo um erro terrível ao aumentar as taxas de juro apesar da inflação baixa e da grande folga econômica.”

    Os tolos metidos a sabichões realmente acreditam que o que eles sabem só eles sabem e o que eles não sabem ninguém sabe. Pior ainda são os tolos que seguem os tolos metidos a sabichões repetindo e repetindo que “não se deve ir contra a corrente” internacional. Ora, a corrente internacional está nas mãos de tolos movidos por ganância imediatista e ideologia rasteira e fracassada.

    Estão causando uma quantidade enorme de sofrimento humano com essas ideologias antissociais e jamais vão se responsabilizar por nada, essas crianças mimadas. Vão botar a culpa nos governos como sempre ou em algum líder desesperado surgido da bagunça criada por eles.

    Republicidas!

    1. Lucinei, o que…

      … esses sabichões tem de menos é ser tolos… são é muito tolo$$$$$$$$$$$$… vai descubrir de onde eles vem e para onde eles vão…. seguro vias encontrar muitos tolo$$$$$$$$$.

      1. Flics,
        eles sabem comprar

        Flics,

        eles sabem comprar barato e vender caro. Ponto. Não é porque eles embolsam muita grana que vão dar lição pra deus e o mundo. Isso lembra o argumento ad crumenam, ou, falácia da bolsa.

    2. Monarquia Absolutista e Capitanias Hereditaria

      Pois é… A coisa continua a mesma.

      Rui Barbosa dizia quase a mesma coisa: – De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

      Quem realmente esta no poder no mundo e mesmo aqui no Brasil, façam uma estatistica.

      Só uma amostrinha

      Putin – Russia 

      Argentina – Cristina Fernández de Kirchner

      Coréia do Norte – Líder Supremo Kim Jong-un

      Cuba – Presidente do Conselho de Estado e Presidente do Conselho de Ministros Raúl Castro

      Argélia – Abdelaziz Bouteflika

      Venezuela – Presidente Nicolás Maduro

      Estes e muito outros são os notáveis. Em volta do Rei encontramos a corte toda com o puxasaquismo e as irresponsabilidades, tanto é que temos as revoluções exemplares na história, como a da FRança e a da Russia que a monarquia foi linchada.

      Irresponsaveis com o poder na mão é coisa corriqueira no mundo.

       

       

      1. Se entendi, você não gosta do

        Se entendi, você não gosta do do Putin,  da Cristina Fernández de Kirchner,  do Líder Supremo Kim Jong-un, do Presidente do Conselho de Estado e Presidente do Conselho de Ministros Raúl Castro, do Abdelaziz Bouteflika e do Presidente Nicolás Maduro.

        Você poderia dizer isso lá pra eles. Talvez lhe faça bem e pra mim não faria mal nenhum.

        Eu digo que não gosto de tolos metidos a sabichões. E sempre lamento ver outros tolos seguindo os tolos metidos a sabichões.

  2. Ora, o problema que a Suécia

    Ora, o problema que a Suécia se meteu tem uma solução fácil, simples, e bem indicada pelos ‘especialistas’:

     

    AUMENTE OS JUROS!

    1. Banco Central não deveria nem

      Banco Central não deveria nem existir, e o avalista final do sistema de reservas fracionárias, ou seja alavancagem por criação (e destruição) de moeda “falsa”.

       

       

       

  3. Entendam as alterações operadas na Suécia.

    Uma vez estabelecido o modo radical do regime capitalista, o antigo governo tem um banco central para dar lugar à gestão parasítica do movimento da sociedade; transformando-se o  Estado em simples fiador administrativo. 

    Num grosseiro esboço de organização nacional, o mandato econômico é substituido por uma milícia do mercado financeiro com o tempo de serviço formativo dos juros; sendo que cada povo exonera as suas razões constituidas no poder, como tem sido intensionalmente deturpadas pelos agentes econômicos em todo mundo.

    O que existe, por sua vez, em função da destituição governamental do Estado, é uma assembleia mundial de supervisão pública para os delegados do capital decidir o tamanho do superávit primário.

  4. Especuladores e

    Especuladores e capitalistas,são os mesmos  em todo o lugar. A nacionalidade  é o que menos importa.

    Assim como  escroque,sonegadores e fraudadores. Somente os portadores  de  complexo  de vira latas,crônico,imaginam que essas mazelas e exotismos  são exclusividades nossas.

  5.  
    O mundo fervilha em todos

     

    O mundo fervilha em todos os setores.Há paises expressivos que são norte ,ícone e até causa dependância em mais da metade do globo terrestre.

     E o tal de PAUL vem com Suecia?

      Quem é a suécia pro resto do mundo?

      Da Suécia conheço sexo livre,inclusive ofecendo a esposa pro visitate, e exo a granel 

        E uma INFINITA overdose de tédio (que mata MAIS que qualquer droga)

     Os suecos são completamente pIrados, A mauior taxa per capta de suicídio no planeta.

             Se já se suicidavam com dinheiro sobrando……

                 Acorda ,Paul Kugman.

         ps: Quem deveria falar sobre a Suecia  seria Fernando Gabeira.

    1. análise bem

      análise bem embasada……. 

      Talvez seja por isso que a Suécia é lider dos países nórdicos….e o Brasil escolheu seus caças. 

      Os movimentos mundiais, principalmente por EUA e alguns países da Europa, são bem mais complexos que apenas sexo!! 

  6. “Deixe-me emitir e controlar

    “Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis.” Mayer Amschel (Bauer) Rothschild.

    Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão.” James Garfield presidente americano, 1881. Poucas semanas após proferir estas palavras (da segunda citação), dirigidas aos moneychangers, o presidente Garfield foi assassinado. 

  7. “Deixe-me emitir e controlar

    “Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis.” Mayer Amschel (Bauer) Rothschild.

    Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão.” James Garfield presidente americano, 1881. Poucas semanas após proferir estas palavras (da segunda citação), dirigidas aos moneychangers, o presidente Garfield foi assassinado. 

  8. Artigo bom, mas de mais de vinte dias e para os Estados Unidos

     

    Sérgio T.,

    Não sou economista, mas o único blog em língua estrangeira que eu acompanho é o de Paul Krugman. Há mais de vinte anos, eu li um livro dele e por bom tempo sempre fiquei a procura de artigos ou livros dele para ler. Não li os dois ou três últimos livros dele, mas o acompanho nos blogs ou artigos nos jornais nos últimos 6 anos com muito mais frequência.

    Uma questão fundamental para entender Paul Krugman é percebê-lo como interessado em resolver os problemas dos Estados Unidos. Durante muito tempo, eu lia Paul Krugman um tanto contrariado com o que ele dizia, porque ele criticava medidas que eram ruins para os Estados Unidos, mas que eu considerava que eram boas para o Brasil.

    Há um post recente aqui no blog de Luis Nassif intitulado “A guerra cambial, segundo Krugman e Delfim” de quarta-feira, 19/03/2014 às 09:43, e de autoria de Luis Nassif, em que ele comenta um debate entre Paul Krugman e Antonio Delfim Netto em um seminário promovido pela Carta Capital. O endereço do post “A guerra cambial, segundo Krugman e Delfim” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-guerra-cambial-segundo-krugman-e-delfim

    Enviei um comentário quinta-feira, 20/03/2014 às 21:30, para junto de comentário enviado quinta-feira, 20/03/2014 às 15:14 pelo comentarista denominado Assustado. Um dos pontos que eu abordo é que Luis Nassif não descreveu com precisão a discordância de Paul Krugman com Antonio Delfim Netto ocorrida no debate. Ainda assim, na fala a seguir transcrita de Paul Krugman, segundo descrição de Luis Nassif, é possível observar como o discurso dele é todo voltado para os Estados Unidos. Transcrevo então o trecho a seguir:

    “Mas a presidente [do FED] não está gastando um minuto com o que o governo brasileiro possa ter a dizer. Sua preocupação é com o presidente da Comissão de Finanças do Congresso. Quem pode prejudicar o FED são os norte-americanos. Com tantos problemas na nossa economia, o FED não tem tempo para prestar atenção no que acontece lá fora”.

    Então este artigo de Paul Krugman, originalmente publicado no Brasil na Carta Capital, deve ser entendido como um texto para a realidade americana e não para a realidade brasileira. E embora seja um artigo que não perderá tão cedo a atualidade, deve-se observar que o texto original em inglês saiu no blog de Paul Krugman sexta-feira, 18/04/2014 às 02:41 pm, portanto, há mais de vinte dias. O título em inglês deste post é “How Do You Say “Nobody Could Have Predicted” In Swedish?” e ele pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2014/04/18/how-do-you-say-nobody-could-have-predicted-in-swedish/?_php=true&_type=blog&_r=0

    O artigo original da Carta Capital com o título “A Suécia cai na armadilha” veio sem um quadro em que se faz uma comparação da inflação na Suécia e na Zona do Euro. Além disso, no original em inglês há a indicação de dois links. Assim, para o trecho: “noticiário da Suécia”, há o seguinte link:

    http://www.telegraph.co.uk/finance/economics/10774013/Eight-EU-states-in-deflation-as-calls-grow-for-QE-in-Sweden.html

    E para o trecho: “freneticamente advertiu”, há o seguinte link:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2013/11/23/bubblephobia-and-monetary-policy/

    E lembro que Paul Krugman continuou a falar sobre a Suécia em mais dois posts. Primeiro no post “European Debt Deflation” de sábado, 19/04/2014 às 10:02 am e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2014/04/19/european-debt-deflation/

    E o segundo post em que ele voltou a falar sobre a Suécia intitula-se “Further Notes on Sweden” de domingo, 20/04/2014 às 3:10 pm, e pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2014/04/20/further-notes-on-sweden/

    Bem, o que vale mencionar aqui é a pertinência da argumentação de Paul Krugman para a realidade americana. Aliás, o próprio Paul Krugman procura sempre informar que tudo que ele diz é dentro de uma realidade em que não se pode ter taxas de juros negativas uma vez que a taxa de inflação é bastante baixa.

    Nos comentários junto ao artigo publicado na CartaCapital não há entre os comentaristas a percepção de que o argumento de Paul Krugman é para os Estados Unidos. Parece que de 11 comentários lá, só o de Paulo, enviado junto ao comentário de Tamosai, revela compreensão deste detalhe do artigo de Paul Krugman. Há dois pontos importantes quando se lê um artigo. Saber quem escreveu o artigo (Qual a ideologia de quem escreveu) e em que contexto o artigo foi escrito.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 09/05/2014

  9. Senhores não exagerem sobre a

    Senhores não exagerem sobre a simpática Suécia. Falar sobre a Suécia sempre causa um fervor por todos os pontos positivos que todos conhecem. Uma democracia com fortes valores sociais e igualitarismo que podemos e deveriamos sim ter como modelo e explorar muito mais. Não só a Suécia mas como todos países nordicos.

    Vale lembrar que a população interna é menor que a cidade de Sao Paulo um pouco menos que 10 milhões de habitantes bem espalhados.  Grandes empresas Suécas estão espalhada pelo mundo – inclusive no Brasil – e sabem bem se adaptam bem a diferentes políticas econômicas. Diferente dos Brasileiros um pouco acomodados os Suecos vão para a batalha quando o negôcio é competição global. Inteligentes, silenciosos, sem gritaria, trabalho em grupo e com planejamento eles buscam seus espaços.

     

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