Perto de receber vice dos EUA, governo Temer não quer “politizar” situação das crianças presas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Crédito: LUDOVIC MARIN
 
Jornal GGN – O ministro das Relações Exteriores do governo Temer, Aloysio Nunes, afirmou na noite de quinta (21) que não quer “politizar excessivamente” a separação de crianças imigrantes que foram separadas de seus pais e presas em centros montados especialmente para dar cabo da política de tolerância zero de Donald Trump nas fronteiras do País.
 
Aloysio disse que o governo brasileiro tem informações sobre onde estão as 49 crianças brasileiras nessa situação, sinalizou que vai tentar enviar recados aos pais sobre as condições dos pequenos e que as embaixadas deverão ajudar a regularizar a situação das famílias. Mas além de dizer que a política de Trump é “cruel”, o chanceler brasileiro evitou fazer mais comentários. 
 
O tom ameno do governo brasileiro com o ataque frontal aos direitos humanos antecede a visita ao Brasil do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que desembarcará em Brasília no dia 26 de junho “para reuniões bilaterais” com “Temer e outras autoridades do governo brasileiro.”
 
Em todo o mundo, a separação e a prisão das crianças foi motivo de repúdio.
 
A BBC Brasil entrevistou Antar Davidson, um ex-funcionário de um dos centros para crianças imigrantes na fronteira entre México e Estados Unidos. A desumanidade foi o fator que o levou a pedir demissão: ele foi orientado a impedir que irmãos se abraçassem quando receberam a notícia de que os três seriam separados em função das diferenças de idade e gênero. Seria uma segunda separação, pois no dia anterior, os pequenos foram apartados da mãe e estavam ali no centro sem saber até quando a situação iria perdurar.
 
Segundo Davidson, a política nestes centro é de contato zero entre as crianças. Ele relatou que funcionários ficam gritando ordens para que elas se separem, em espanhol, uma lingua que a maioria ainda não entende.
 
Em entrevista à CNN, a empresa responsável pela gestão do centro negou que as crianças sejam impedidas de ter contato humano entre si.
 
“Mais de 2,3 mil crianças que ingressaram nos Estados Unidos de forma irregular foram separadas dos pais entre 5 de maio e 9 de junho”, informou a BBC.
 
Leia mais sobre o que disse o ministro na reportagem abaixo:
 
Por Pedro Rafael Vilela
 
Na Agência Brasil
 
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, disse hoje (21) que o governo federal tem informações sobre a identidade e a localização dos abrigos onde estão as 49 crianças brasileiras que foram separadas dos seus pais quando tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos. 
 
“Temos os contatos de todos os abrigos, sabemos exatamente quem está em cada abrigo. Faremos a comunicação entre essas crianças e suas respectivas famílias para suprir, através do contato, a distância física forçada a que elas foram submetidas”, disse o ministro, após participar de evento no Itamaraty para tratar sobre segurança nas fronteiras. Os consulados também deverão prestar assistência jurídica às famílias detidas para que possam tentar legalizar a situação no país ou retornar ao Brasil.
 
Nas últimas seis semanas, mais de 2 mil crianças de diversas nacionalidades foram separadas dos pais e levadas para abrigos nos EUA. Desse total, 49 são crianças e adolescentes brasileiros, segundo informou o cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa, em entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 
 
A separação de famílias que ocorre na fronteira norte-americana com o México é resultado da política de “tolerância zero” adotada pelo governo Donald Trump. Os imigrantes ilegais, mesmo os que procuram asilo, são presos e respondem por crime federal nos EUA. 
 
Críticas
A forte pressão internacional sobre o caso fez com que Trump recuasse da medida de separação de pais e filhos, em decreto assinado nesta quinta-feira. O governo dos EUA continuará detendo imigrantes ilegais na fronteira, mas não vai mais separá-los dos filhos, em caso de crianças e adolescentes, segundo a nova ordem. Aloysio Nunes disse que o governo brasileiro acompanhará a implementação dessa nova medida e criticou a separação familiar.
 
“Nós vamos continuar acompanhando cada um desses casos e a implementação dessa medida do presidente Trump para reverter isso que nós consideramos uma medida cruel”. Nunes Ferreira disse que o governo brasileiro não quer “politizar excessivamente” este assunto e que tratará do tema em diálogo com o governo norte-americano.  
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Não se trata de politizar e

    Não se trata de politizar e sim de a chancelaria exercer uma de suas principais funções, a de proteger cidadãos brasileiros no exterior especialmente em situações de alto risco. Alias não vi nenhuma politização ou sequer manifestação por meio de nota

    do Itamaraty sobre esse caso dramtatico, historicamente proteger cidadãos brasileiros no exterior NUNCA foi um dos pontos

    fortes  no Itamaraty, não é tarefa que agrada nossos diplomatas a não ser por exceções individuais.

    1. algo que precisa ser revisto com a máxima urgência…

      já há casos de grupos, para não dizer gangues, de brasileiros ilegais que ficam importunando, para não dizer ameaçando, os brasileiros residentes, como se eles pudessem fazer alguma coisa por eles, algo assim como recomendação para obtenção de emprego e , às vezes, até de moradia temporária.

      aí a pessoa vai reclamar e é informada de que este tipo de proteção cabe ao Estado receptor

      aí a pessoa procura as autoridades locais, do Estado receptor, e elas recomendam que ela procure a embaixada ou consulados brasileiros

      e assim vai ficando, ano após ano, com todos dando a mínima para a situação…………………………

      a bem da verdade, nos oferecem a mesma proteção que temos no Brasil, ou seja, nenhuma

      1. só pode ser cabide de emprego…

        porque de trabalho mesmo, nadica de nada, só recomendações burocráticas

        quanto às participações sociais, ihhhhhh, nunca bombou tanto como nos anos pós golpe

  2. 49 CRIANÇAS,49 FAMÍLIAS EM

    49 CRIANÇAS,49 FAMÍLIAS EM DESESPERO,NENHUMA DELAS ABASTADAS,ABANDONADAS A PRÓPRIA SORTE POR UM CONGRESSO DE MAIORIA TRAIDORES DA PÁTRIA POR UMA FARDA ONEROSA,IMPRODUTIVA E SERVIL AO INIMIGO E UMA TOGA CUJA COR REPRESENTA A NÓDOA DEMONÍACA DAS ALMAS QUE A USAM.VERGONHA DESSA GENTE RICA E PODRE QUE COMANDA O BRASIL A NOSSA REVELIA.

  3. Quando o 1% e os 99% são contrapostos, essas são as imagens

    1 – Sobre politizar, faz todo o sentido. Este chanceler apenas politiza, o que não é tarefa do Itamaraty, questões que interessam aos EUA, e que os agradem. Na verdade, ele apenas cumpre suas ordens, seus verdadeiros chefes – não podemos nos esquecer de que ele, pessoalmente, no dia seguinte ao início oficial do Golpe, foi prestar contas a oficial do governo dos EUA. Estranho se fizesse alguma coisa que se assemelhasse a um ato de Estado Nacional soberano. Só falou que a situação é “cruel” porque outros do governo USamericano já o disseram. Sabujo de segunda. 

    2 – Andei pensando durante o dia: o caso destas 49 crianças brasileiras nessas condições vexatórias em contraposição a outras notícias internacionais envolvendo brasileiros, os vexames voluntários consecutivos de homens brasileiros na Copa da Rússia: nada mais representativo do que é o Brasil do Golpe; de um lado aqueles que foram expulsos do país que se tornou mais hostil aos muito pobres, sendo tratados como expurgo; de outro, provavelmente, as mesmas pessoas que foram às ruas defender o Golpe, homens uniformizados by seleção da CBF, celebrando uma vez mais sua estupidez macho-elitista. Estas são as faces dos extremos do Brasil de Estado de exceção, a sua razão de existir – povo sendo tratado como gado, a elite na esbórnia.

    Por fim, um exemplo para a discussão no Brasil sobre o efeito social, em especial sobre as crianças e adolescentes, um inegável sinal de falência de uma sociedade, das políticas de encarceramento – e pretendem reduzir a maioridade penal – como base do sistema de segurança pública. 

     

    “O pobre é um estrangeiro em seu próprio país.” (Provérbio de autor/a desconhecid@). 

     

    Do excelente programa Democracy Now! (democracynow.org). 

    “Lawsuit Claims Detained Migrant Children Have Been Forcibly Injected With Powerful Psychiatric Drugs”

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Nh9PKITs4DA%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=Nh9PKITs4DA

     

    “Trump Admin to Indefinitely Detain Migrant Families Together; No Plan to Reunite Separated Children”

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Zxg7gC-V_2g%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=Zxg7gC-V_2g

     

    “GEO Group & Private Prisons Stand to Profit as Trump Pushes Indefinite Family Detention”

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=oD0HE7MFOlM%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=oD0HE7MFOlM

     

    “Immigrant Parents Search for Children Snatched by Gov’t at the Border, But Reunification Is Rare”

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=0NW35hImKCM%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=0NW35hImKCM

     

    Sampa/SP, 22/06/2018 –  20:55 (alterado às 21:01). 

    1. Guetos de desumanização(campos de concentração industrializados)

      Mais reportagens do Democracy Now! 

      (A situação é de fato horrorosa: o encarceramento de famílias e a separação de pais e filhos ou responsáveis e crianças não são pontos fora da curva, são o paroxismo da forma desumana com que imigrantes são tratados nos EUA, “a terra da liberdade e da oportunidade” – para quem, cara pálida?)

       

      “Investigation: Substandard Medical Care in ICE Detention is Killing Immigrants, Endangering Lives”

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=42eifTeP_kw%5D

      https://www.youtube.com/watch?v=42eifTeP_kw

       

      “ICE Detention is “Soul-Destroying”: Eritrean Immigrant Dies by Suicide During Deportation”

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=cD1BVTaEa3o%5D

      https://www.youtube.com/watch?v=cD1BVTaEa3o

       

      Sampa/SP, 22/06/2018 – 21:38

    2. Promessas de campanha

      Se no Brasil, foi necessário um golpe de estado promover um massacre aos direitos humanos, nos Estadis Unidos, assim como na Argentina,  foi o povo que conscientemente escolheu o seu governante através do voto.

      Trump foi eleito e nada mais tem feito que cumprir o que prometeu aos seus eleitores.

      Se o mundo não está gostando, “danm it”, ele governa para o seu povo.

      https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2016/11/09/veja-as-promessas-do-presidente-eleito-dos-eua-donald-trump.htm

      Veja as promessas de campanha do presidente eleito dos EUA, Donald Trump 2 Do UOL, em São Paulo 09/11/201616p2 Ouvir texto 0:00 Imprimir Comunicar erro Evan Vucci/AP O republicano Donald Trump superou as pesquisas que indi… – Veja mais em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2016/11/09/veja-as-promessas-do-presidente-eleito-dos-eua-donald-trump.htm?cmpid=copiaecolaVeja as promessas de campanha do presidente eleito dos EUA, Donald Trump … – Veja mais em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2016/11/09/veja-as-promessas-do-presidente-eleito-dos-eua-donald-trump.htm?cmpid=copiaecol

      1. “Campanha do povo pobre”, os 99% estão se levantando!

        Concordo em parte. 

        Primeiro, os EUA funcionam como país com mentalidade corporativo-empresarial e a retórica de democracia e liberdade sempre foi uma promessa pouco refletida na política do país. Lá, o processo eleitoral é monopolizado por quem tem grana e influência, cada estado tem suas próprias regras e é característico do país o cerceamento legal e oficial do direito ao voto aos mais pobres, negros e outros grupos étnicos marginalizados, como os latinos. O voto não é obrigatório e o processo de escolha do presidente é indireto, pelo colégio eleitoral. Ainda assim, você tem razão, com as regras que o país adota e pouco se discute sua mudança – parecem satisfeitos com o modelo, então – ele foi eleito e tem legitimidade para cumprir o mandato. 

        Mas legitimidade do mandato não significa legitimidade de todos os seus atos e aceitação automática. 

        A maioria dos que foram às urnas não votaram nele. 

        O problema dos EUA  é, a meu ver, que lá o principal partido identificado com a classe trabalhadora e com pautas progressistas, o Democrata, está totalmente cooptado pela lógica neoliberal e pelo mercado. Essa constatação de algum modo pode ajudar o país a sair da bipolaridade partidária que asfixia uma sociedade tão diversa, injusta e pouco representada na política, até mais que no Brasil. Existe um movimento para fundar partidos dissidentes dos democratas, o que pode se tornar realidade em breve enquanto o partido reforça essa tendência de distanciamento do povo e aproximação dos interesses corporativos dos ricos, para o que as próximas eleições “intermediárias” podem ser uma situação decisiva. Um líder religioso cristão, o Reverendo William Barber e outros movimentos sociais lideram uma campanha que está correndo o país, o “New Poor People’s Campaign”.  Há esperança. Lá como aqui. E não outra alternativa. Os pobres precisam se juntar e agir, pacificamente. 

         

         

        “#MLKLives: The Call for a New Poor People’s Campaign”

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=YDTs5DpotZ8%5D

        https://www.youtube.com/watch?v=YDTs5DpotZ8

         

        Programa Democracy Now!

        “50 Years after MLK’s Poor People’s Campaign, 2,500+ Arrested over 6 Weeks Calling for Moral Revival”

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=zsg9oqqQm6k%5D

        https://www.youtube.com/watch?v=zsg9oqqQm6k

         

        Sampa/SP, 26/06/2018 – 14:51 (alterado às 14:57 e 15:01). 

        1. Povo pobre
           

          A pobreza é uma instituição divina, como a história tem demonstrado e sua existência é um direito do rico.

          As variações eventuais caminham sempre no sentido de reforçá-la.

          Ela é indispensável à manutenção de qualquer poder.

           

           

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