Plano de reformas chinesas é um mistério para o mundo

Jornal GGN – Um plano misterioso. Assim se pode classificar o pacote de reformas econômicas chinês anunciado nesta semana. Pouco se sabe em detalhes sobre as mudanças para a população e para os países credores. O tal papel decisivo dos mercados ainda não convenceu o mundo dos negócios – principalmente os investidores, que, um dia depois do anúncio, venderam ações chinesas, decepcionados com a falta de informações sobre o plano de reforma e a aparente relutância do país em reorganizar o setor estatal.  

Aparentemente, já que nem isso se pode afirmar com precisão após plenária realizada entre autoridades chinesas durante quatro dias, a portas fechadas. Até mesmo o secretário do tesouro dos EUA (Estados Unidos), Jack Lew, comentou a falta de informações certeiras sobre os rumos do país parceiro, e preferiu esperar para falar sobre as possíveis políticas específicas que serão adotadas junto à China. Para ele, que esteve em Cingapura nesta semana, “muitas questões ainda precisam ser respondidas”.

Os principais índices acionários chineses tiveram queda já no dia seguinte ao esperado “anúncio”. O índice CSI300, que reúne as maiores empresas listadas em Xangai e Shenzhen, perdeu 2,22% enquanto o índice de Xangai recuou 1,83%. Já o índice de empresas chinesas listadas em Hong Kong caiu 2,7%.

Cara, cadê o meu setor?

O Partido Comunista bem que prometeu promover o setor privado por meio de suas reformas. No entanto, parece hesitar em adotar mudanças abrangentes nas enormes e poderosas empresas estatais, comprometendo-se a manter o predomínio do setor público, declarando que “o sistema econômico básico da economia estatal é pilar fundamental do socialismo com características locais”.

Segundo economistas, o modelo econômico chinês está perdendo fôlego e depende excessivamente dos investimentos do governo e do boom do crédito. A atual economia também se apoia num setor estatal cada vez mais ineficiente. A liderança chinesa espera que sejam aprovadas medidas que deem maior autonomia aos empreendedores privados a fim de encorajar a inovação, impulsionar o consumo interno e frear os gastos excessivos dos governos locais, mas muitos temem que as reformas econômicas esbarrem em poderosos interesses.

Claudio Frischtak, presidente da InterB. Consultoria, explica que a economia chinesa está igualmente presa em uma armadilha, cuja natureza diz respeito à essência do modelo: a necessidade de manter elevadas taxas de investimento. “Contudo, ao longo dos anos, a razão investimento-PIB tem crescido, denotando uma queda na eficiência marginal do investimento, e sugerindo a necessidade de investimentos crescentes para manter uma mesma taxa de crescimento da economia, o que é claramente insustentável”, conta. 

Em um de seus estudos comparativos entre Brasil e China, Frischtak falou sobre as expectativas em médio e longo prazos para os chineses. “A necessidade de um novo padrão de crescimento parece ser um dado. Se o governo chinês será bem sucedido, é uma questão em aberto. Medidas fundamentais para que isso ocorra incluem mudar a estrutura de incentivos para alterar a composição da demanda agregada, as fontes de crescimento da economia e a distribuição da atividade econômica”, ressalta.

Também será necessário ampliar a oferta de bens coletivos voltados à melhora da qualidade de vida da população. “Do ponto de vista setorial, vai ser importante que haja uma ênfase crescente em indústrias e segmentos direcionados a satisfazer as demandas da classe média emergente. Finalmente, no âmbito produtivo, o uso de tecnologias limpas e assentadas em inovações próximas ou na fronteira do conhecimento”, conclui. 

Entenda o plano chinês de reformas econômicas (se puder)

No final de um conclave de quatro dias de seu Comitê Central na última terça-feira (12), o Partido Comunista afirmou que busca alcançar “resultados decisivos” até 2020, e deu aos mercados um papel mais proeminente. Ao determinar um prazo explícito imposto a si mesmo e ao estabelecer um grupo de trabalho especial, a nova administração do presidente Xi Jinping e do primeiro-ministro Li Keqiang sugere uma busca mais decisiva de reforma do que sob a liderança anterior. 

Embora o comunicado tenha mencionado várias áreas de reforma, sua linguagem foi ainda mais geral do que alguns esperavam e apenas destacou explicitamente a importância do setor estatal para a economia. Além disso, os meios de comunicação chineses foram bastante cautelosos no momento da divulgação das resoluções, inibindo a compreensão de analistas e principais interessados nas mudanças do país. 

O comunicado também anunciou que a China adotará a reforma fundiária e concederá mais direitos de propriedade aos camponeses, que frequentemente são obrigados a abandonar as terras públicas com uma indenização mínima a fim de dar lugar a incorporações – o que constitui um dos principais motivos de agitação social.

 

Redação

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