Propinas da Shell teriam beneficiado ex-presidente da Nigéria

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – Após entrar para a mira de investigadores com acusações de pagamentos de propinas na Nigéria, a Shell volta a ser investigada por esquema envolvendo bilhões para a obtenção de um campo de petróleo no país, em troca de repasses que teriam favorecido políticos e, inclusive, o ex-presidente nigeriano Goodluck Jonathan. Os documentos foram obtidos pela BBC 
 
Ainda em 2010, a Shell já havia sido multada em 30 milhões de dólares por pagamentos a uma companhia que depois se transformaram em subornos a funcionários nigerianos, em esquema de lavagem de dinheiro. Aquela época, a empresa mantinha o discurso de se declarar inocente. 
 
A partir de então, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ficou sob a mira da empresa, em cooperação com a polícia anti-corrupção da Nigéria, que chegou a interrogar o então diretor-geral da Shell no país, Mutiu Sunmonu.
 
A investigação tratava-se de uma suspeita de suborno, envolvendo 180 milhões de dólares junto a Companhia Nigeriana de Gás Natural Liquefeito e a empresa Halliburton, que antes era associada à KBR. Esta última chegou a admitir o pagamento do montante, em 2009, a funcionários nigerianos.
 
Agora, um novo caso é levado à tona. Uma investigação dá conta que altos executivos da Shell tinham conhecimento de um pagamento feito por meio de lavagem de dinheiro ao governo nigeriano por interesses em um grande campo de petróleo, o OPL 245.
 
A nova negociação teria ocorrido em meio ao processo em tramitação ocorrido há mais de sete anos. A empresa, ativa no país por cerca de 60 anos, estava interessada na obtenção de contratos do campo petrolífero, cujas estimativas de nove bilhões de barris de petróleo gerariam cerca de meio trilhão de dólares à empresa.
 
Entretanto, o campo estava sob a propriedade do empresário Dan Etete, ex-ministro do petróleo da Nigéria, que posteriormente foi condenado por lavagem de dinheiro em outro caso. Em 2011, a Shell conseguiu adquirir a OPL 245, juntamente com a companhia italiana de petróleo ENI, em uma transação de 1,3 bilhão de dólares ao governo.
 
Segundo reportagem da BBC, a quantia é mais do que todo o orçamento de saúde no país, mas que o montante obtido com a negociação não foi usado em serviços públicos. Deste total, 1 bilhão de dólares foi repassado a uma empresa de Dan Etete, chamada Malabu.
 
O jornal teve acesso a emails de representantes da Shell negociando com o empresário, ainda um ano antes do acordo ser fechado. Uma das mensagens, de março de 2010, um ex-funcionário da Shell afirmava que Etete seria beneficiado no acordo. O então chefe executivo da Shell, Peter Voser, foi copiado no e-mail, tendo conhecimento das negociações.
 
Também há a suspeita de que parte dos recursos foi repassada ao ex-presidente Goodluck Jonathan. Um outro e-mail mostra que o mesmo funcionário dizia que a negociação era “claramente uma tentativa de repassar quantias significativas para GLJ (Goodluck Jonathan) como requisito da transação”.
 
Investigadores italianos acreditam, ainda, que pelo menos 466 milhões de dólares foram lavados através de uma rede de casas de câmbio nigerianas, para facilitar os pagamentos ao então presidente Jonathan e outros políticos, que negam as acusações.
 
Assine
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Segundo o “Caxias” da BR..

    A Shell é  limpinha  e  cheirosa….

    E, no caso das recentes doações de áreas do pré-sal….não vem ao caso !!

  2. A suja indústria do petróleo nigeriano

    Um dos motivos do golpe: para que seja implantado no Brasil o modelo nigeriano de exploração do petróleo e gás, onde nada pertence aos nigerianos e sim a multinacionais “limpinhas” como a Shelll. De inicio, os golpistas sacaram bilhões de reais do fundo soberano do pre-sal, que era uma poupança criada por Lula para o povo brasileiro.

    Nigéria: a suja indústria do petroleo

    http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,nigeria-e-a-suja-politica-do-petroleo-imp-,1659940

    O plano de Moro é desnacionalizar/entregar o nosso petroleo as multinacionais “limpinhas”

    Nassif: a Lava Jato penada por Moro como operação de guerra [contra o PT]

    https://jornalggn.com.br/noticia/como-a-lava-jato-foi-pensada-como-uma-operacao-de-guerra

     

  3. propinas da shell….

    O que não consigo entender (mas entendo perfeitamente, é só retórica) é o porque das nossa investigações, nossas Zelotes ou Lava Jato’s da vida, não chegarem até as multinacionais estrangeiras. Coisas que Mensalões e Transalões Tucanos já chegaram.  E pararam. E sumiram. Até as pedras sabem da festa que foi a entrada da Shell no petróleo nigeriano e Pré-Sal brasileiro. Não é mesmo José MeninodaUNEanticapitalistasocialistaelitequenãoéelite Serra? Por que Eike ou Marcelo estão presos, enquanto diretores da Shell, Alstom, Bombadier, CAF, SBMOffshore, Siemens e outras centenas pagaram uma multa vergonhosa e foram liberados. É este o novo Brasil que ressurge? É este o Brasil prometido pelas esquerdas, que agora não são esquerdas, na redemocratização de uma nova constituição nos anos de 1980? Nada como um dia após o outro.  

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador