As semelhanças entre o espanhol Vox e o bolsonarismo, segundo Esther Solano

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Reuters

Jornal GGN – Socióloga espanhola, professora da Unifesp e pesquisadora, Esther Solano, ao comentar a vitória expressiva do partido Vox, na Andaluzia, resumiu a situação da seguinte forma: é como se Jair Bolsonaro tivesse sido eleito presidente do Brasil com apoio maciço do Nordeste. O feito do Vox foi eleger 12 deputados em uma comunidade considerada reduto histórico do socialismo espanhol, tirando da esquerda a chave para o governo, dando outro peso à ascensão da extrema-direita na Europa.
 
“Se o Vox ganhou 12 deputados na terra do PSOE [o Partido Socialista Operário Espanhol, que esteve no poder por 36 anos] imaginem quantos poderá ganhar em regiões da Espanha governadas pela direita.”
 
Em artigo publicado no El País nesta segunda (3), Solano afirma que “as semelhanças na retórica” dos políticos do Vox e de Bolsonaro “são impressionantes”. 
 
Criado em 2013, para “dar voz aos espanhóis desencantados, Vox, assim como o bolsonarismo, transforma “a indignação num capital político”.
 
Seu líder, Francisco Serrano, é juiz, mas “um juiz preocupado com a corrupção, obviamente. O homólogo de Sergio Moro na Espanha também diz que ele não é político, ele só quer servir a Espanha. Deve estar na moda os juízes não políticos na política”, observou Solano.
 
Tanto o Vox quanto Bolsonaro fazem parte da estratégia de internacionalização da extrema-direita apoiada por Steve Bannon, “que pretende conquistar as urnas do mundo”.
 
“Ambos se apresentam como antissistemas e outsiders, colocando uma suposta nova política como única forma de enfrentar a velha política, corrupta e fisiológica. Ambos nascem e se fortalecem na política da inimizade.”
 
“O Vox também é antiglobalista. É a retórica do cidadão de bem frente a um inimigo explorado até a exaustão. O cidadão de bem na Espanha é o ‘espanhol que acorda cedo’, o que acredita numa Espanha forte e unida, o homem religioso. Quando as propostas não existem, ó ódio se transforma em política.”
 
As semelhanças continuam com o Vox acreditando, “pasmem”, na “hegemonia e domínio cultural da esquerda”. A versão espanhola do bolsonarismo utiliza a mesma retórica anticomunista, “só que desta vez a vítima do delírio coletivo em vez de ser o PT é o partido de Pablo Iglesias, Podemos.” Na versão do Vox, a Espanha enfrenta o perigo de que o Podemos transforme o país numa Venezuela. 
 
Serrano, a liderança de extrema-direita, assim como Bolsonaro também é “fervorosamente antifeminista”, a favor da família tradicional, contra a descriminalização do aborto e contra os “abusos” da legislação espanhola que protege às mulheres da violência de gênero. 
 
Entre os deputados eleitos pelo Vox estão revisionistas da ditadura franca, defensores da criminalização de imigrantes e homens que se dizem perseguidos apenas porque são homens.
 
“Fazem da controvérsia um instrumento político muito eficaz. Contra a tirania do politicamente correto, dizem.”
 
Solano afirma que a despeito da vitória significativa em território historicamente socialista, vale na Espanha a mesma lógica empregada no Brasil: nem todo eleitor de Bolsonaro é fascista, embora muitos pensem como ele em vários aspectos.
 
Entre estes eleitores que hoje rejeitam a esquerda estão aqueles que “não se sentem mais representados pelas forças da democracia. A extrema direita é uma esperança para eles. Aprendamos rápido porque eles estão ganhando tudo”, anotou Solano.
 
O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) saiu de 47 deputados regionais (num total de 109) para 33, menos 14 deputados do que o que conseguiu em 2015, alcançando o pior resultado da sua história. Os partidos de centro-direita e direita conseguiram eleger, juntos, 59 deputados, gerando uma maioria, ainda que apertada.
 
Leia o artigo completo de Solano aqui.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Tenho alguns conhecidos que

    Tenho alguns conhecidos que são bolsomitos e moram, ilegalmente, na Andaluzia. Estou esperando ansiosamente que sejam deportados.

     

  2. E a juizada

    E a juizada tá saido do armário, de fato. Mas, embora saindo um pouco do foco que o texto apresenta, pergunto: porque uma delação contra o Lula é valida, mesmo sendo supérflua e sem prova material alguma e, uma mesma denúncia, feita contra o Moro, com  substancial peso, e provas (Tacla Duran), não tem valor algum ? Esse tal de Steve Banon  parece ium pilantra e, pior, é mesmo um pilanta. No entanto, tá dando “uma canseira” naquilo que se chama “esquerda” internacional e adjacências, incluindo a direita e o tal d centro, seja lá o que for issso!!.  Mas está formando um mundo contraditório: não se pode colocar as pessoas no inferno e querer que elas acreditem que estao no céu!!! Não obstante, ” a longo prazo todos estaremos mortos” e, portanto, é necessário um meio, um modo, de dar um basta nisso, e rápido, porque não está longe o dia em que vão subir uma estatua do Hitler!!, e fazer com que todos prestem obediência ao “senhor”

  3. Existem algumas coisas a considerar

    Os países da europa na zona do euro e/ou união européia estão sob o tacão do BCE (= Alemanha) e/ou da burocracia de Bruxelas. Os europeus têm pouco poder, quanto às deciões de Bruxelas. Os Alemães (só eles) têm muita influência sobre o BCE. Os alemães vêem os demais europeus (não germânicos, lógico) como pecadores e/ou vagabundos que têm que purgar os seus pecados. Na Espanha, na França e na Itália, a identificação regional compete e mesmo supera a nacional. Então, um andaluz ou um corso acreditam que as decisões deveriam ser tomadas na Andaluzia ou na Córsega. Com má vontade, se submetem à Espanha e à França. E, agora, percebem que a sede do poder não está nem mesmo ali. 

  4. Que frase esquisita: “nem

    Que frase esquisita: “nem todo eleitor de Bolsonaro é fascista, embora muitos pensem como ele em vários aspectos.”

    Se acreditam haver algum eleitor ptista, socialista, democrata ou mesmo iluminista ou humanista entre a turma do Bolsonaro, então mostrem. 

    Entender o fascismo é uma coisa, e nas ciências sociais há inúmeros autores que se dedicaram a essa temática: E. Fromm, W. Reich, H. Arendt, G. Germani, etc. Mas ficar passando a mão na cabeça de fascista não dá!

     

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