Três escândalos confirmam denúncias de Snowden sobre vigilância secreta, por Glenn Greenwald

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O jornalista Glenn Greenwald, mentor do portal The Intercept, publicou reportagem sobre três escândalos recentes, dois no Canadá e um no Reino Unido, que mostram que Edward Snowden estava certo sobre os abusos praticados por governos com seus sistemas de vigilância em massa. A Justiça reconheceu, nesses casos, que as autorizações para a coleta de dados internos eram dadas sem que as autoridades soubessem a extensão do uso pelos governos do Ocidente. O jornalista aponta para os riscos às liberdades individuais e de imprensa.

 Por Glenn Greenwald

Três novos escândalos confirmam denúncias iniciais de Snowden sobre vigilância em massa no Ocidente

No The Intercept

ENQUANTO TODAS AS ATENÇÕES estão concentradas na corrida presidencial do EUA entre Hillary Clinton e Donald Trump, três importantes acontecimentos comprovam como a vigilância em massa foi perigosamente difundida no Ocidente. Individualmente, cada um dos eventos ilustra perfeitamente as graves ameaças que levaram Edward Snowden a vazar os documentos da NSA; em conjunto, constituem uma justificativa completa para tudo o que ele fez.

No começo deste mês, um tribunal especial britânico que julga atividades de espionagem emitiu uma decisão enfática sobre os programas internos de vigilância em massa do Reino Unido. O tribunal concluiu que “as agências de segurança britânicas coletaram volumes enormes de dados pessoais e confidenciais, incluindo informações financeiras de cidadãos por mais de uma década, de forma secreta e ilegal”. Estas agências, disse o tribunal, “operaram um regime ilegal para coletar quantidades enormes de dados de comunicação, rastreando o uso individual de telefone e internet, além de outras informações pessoais e confidenciais, sem as garantias e a supervisão adequadas, por 17 anos”.

Tradução: “Agências de segurança do Reino unido coletaram dados de forma ilegal por 17 anos, de acordo com tribunal”

Na quinta-feira (3), uma condenação ainda mais veemente da vigilância em massa foi publicada pelo Tribunal Federal do Canadá. A decisão “culpou a agência de espionagem interna do Canadá por reter dados de forma ilegal e por não serem sinceros com os juízes que autorizam os programas de inteligência”. O mais impressionante foi que essas atividades de vigilância interna em massa não são apenas ilegais; são completamente desconhecidas por praticamente toda a população da democracia canadense, embora a dimensão dessas atividades tenha consequências indescritíveis para as liberdades fundamentais: “o ponto central em questão parece ser o equivalente à bola de cristal do Serviço de Inteligência e Segurança do Canadá — onde analistas de inteligência tentam deduzir as ameaças futuras através da análise e reanálise de grandes volumes de dados”.

Tradução: “Em decisão devastadora, Tribunal Federal [do Canadá] diz que coleta de dados em massa através do CSIS [Serviço de Inteligência e Segurança do Canadá]”

O terceiro escândalo também vem do Canadá — um parceiro importante da aliança de espionagem “Cinco Olhos”, que também inclui EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia —, onde agentes de segurança de Montreal agora defendem “uma decisão extremamente polêmica de espionar um colunista [Patrick Lagacé] do La Presse, rastreando suas chamadas de telefone celular e mensagens de texto e monitorando sua localização por conta de uma investigação policial interna”. O jornalista em questão, Lagacé, enfureceu policiais ao investigar abusos de autoridade, e, por isso, foi alvo de técnicas de vigilância que rastrearam suas chamadas e localização para descobrir a identidade de suas fontes. Logo que o escândalo foi revelado, de acordo com as palavras do Jornal Montreal Gazette, ele foi “de mal a pior”, já que as subsequentes apurações mostraram que a polícia, na verdade, havia “rastreado as chamadas e localizações de seus jornalistas naquele ano, depois que as reportagens baseadas nos vazamentos revelaram que Michel Arsenault, então presidente da maior federação trabalhista do Quebec, teve seu telefone grampeado”.

Em palestra na McGill University de Montreal, Snowden pediu a renúncia do chefe de polícia de Montreal e classificou a espionagem como um “ataque radical às operações da imprensa livre”. O primeiro ministro canadense, Justin Trudeau disse: “obviamente, eu acho estas questões preocupantes — preocupantes para todos os canadenses”, e acrescentou: “precisamos e podemos continuar a garantir a proteção da imprensa e de seus direitos”. Tom Henheffer, da organização Jornalistas Canadenses pela Liberdade de Expressão, frisou um aspecto crucial sobre este abuso especificamente, mas também sobre os os sistemas de vigilância em massa de uma forma geral:

Não é possível sequer defender que são apenas algumas maçãs podres, já que foi autorizado por um juiz de paz. Isso é o sistema funcionando da forma que deveria funcionar. O que mostra que todo o sistema está corrompido.

Somente neste mês, tribunais e investigações formais declararam que dois membros importantes da aliança “Cinco Olhos” estavam envolvidos em vigilância em massa ilegal e generalizada, além de, no caso do Canadá, abusarem dos poderes de investigação para rastrear jornalistas e descobrir suas fontes. Quando Snowden falou publicamente pela primeira vez, esses eram exatamente os abusos e crimes que ele insistia estarem sendo cometidos pelos regimes de vigilância em massa que essas nações desenvolveram e implementaram de forma secreta. Essas alegações foram negadas veementemente pelos dirigentes responsáveis por esses sistemas.

Entretanto, a cada nova investigação e inquérito judicial, e à medida que novas provas são descobertas, as principais denúncias de Snowden são comprovadas. A verdade é que dirigentes ocidentais são viciados em sistemas de vigilância em massa abusivos, secretos e impunes que são usados contra seus próprios cidadãos e estrangeiros, e, à medida que esses sistemas criam raízes, mais as liberdades fundamentais são desgastadas.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Snowden
    É agente de desinformação!

    Já foi desmascarado!

    A grande revelação deste AGENTE é oque já estava revelado!
    Uma tentativa falha de rivalizar com Wikileaks!
    E a partir daí, desinformar!

    1. Você está afirmando que Glen

      Você está afirmando que Glen foi usado, ou se deixou usar por Snowden.

      É uma causação grvíssima.

      Onde estão as provas do desmascaramento, como afirma?

      pode apresentar os links?

      A Russia de Putin deu abrigo a ele, tambem está sendo usada?

      Como é possível a um ser humano fazer tão graves acusações sem apresentar uma única prova?

      A menos…você é agente da Lava Jato, para os quais bastam a convicção e a fé?  

    2. Erro seu, sua pressa não lhe

      Erro seu, sua pressa não lhe permitiu ver que ele  na verdade trabalha na desconstrução da desinformação onde o aparente desinformar é na verdade informar o oposto, tal qual fazia a URSS. É este um processo bem complexo  em que ao se tirar uma máscara outra imediatamente, não só aparece, como na verdade se forma. Atualaize-se por favor para não fazer feio.

  2. 7 anos atraz eu ja dizia isso tudo…

    E eu entrando em meu SETIMO ano de espionagem ao vivo, real time.  O dia inteiro, a noite inteira.  Filhos da puta me trataram tao mal que voces nao tem a menor ideia.

    Eles me consideram somente mao de obra escrava.  Nada mais.  E eh exatamente isso que eles querem do mundo inteiro.  Mao de obra escrava.

  3. No Brasil

    Aqui no Brasil a NSA não precisa nem ter o trabalho de rastrear jornalistas.

    Eles se oferecem de graça.

    Willim Waack e Marcelo Tass que o digam.

    Vagabundos.

  4. È um alerta que nos foi dado antes do golpe.

    Weakleaks é uma coisa Snowden é outra mas ambos estão no mesmo ramo. A informação é sobretudo poder,  e organizações e grupos se esmeram em vendê-las e se especializaram  em guardá-las. ( Devem ter também algumas mentes trabahando avidamente para criar algoritmos de análise e busca neste material todo, just in case) .Se o weakleaks as capta, e as divulga, fazem parte com o NSA de um mesmo processo, de  guerra pela informação.  Informações são tesouros fomentando golpes, destruindo competidores, controlando pessoas e gerando poder.  Quem em sã consciência pode crer que nosso sistema de comunicações privatizado, não seja o LEAK, o vazadouro de muitas de nossas riquezas e ou privacidade. Quem esqueceu da espionagem, na: petrobrás, eletronuclear,  embraer, Oderbrecht , Dilma …..e outras que apareceram nas denûncias de Snowden.  Será que isto não tem nada a ver com o golpe? Segundo Eremildo Magnolli  Merval Waak , o  Idiota , isto é uma paranoica teoria da conspiração.

  5. o que dizer da BR

    O delegado baseou TODAS suas ações contra a “BR” em grampos ilicitos (vigilancia) feitos pela ANS americana e passados com muito carinho para o PGR e etc.

  6. Critick Geek

    E vem ai o filme de Oliver Stone sobre a espionagem planetaria em rede, Critick Geek. Segundo os criticos, o filme trata Snowden como heroi por tudo o que ele teve coragem de fazer, sendo que nos Estados Unidos Snowden é tratado como um traidor e pode pegar trinta anos de prisão.

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