Turquia a beira de um banho de sangue

Na sala de visitas recebe correspondente Kamil Ergin que denuncia escalada de violência promovida pelo governo turco, após tentativa fracassada de golpe
 
Jornal GGN – Nesta quarta-feira, a partir das 18h, você acompanha entrevista completa com Kamil Ergin,  Coordenador da Plataforma de Mídia do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) e correspondente da agência de notícias Cihan, desde 2007, para o programa “Na sala de visitas com Luis Nassif”.
 
Após a tentativa frustrada de golpe na Turquia, o primeiro-ministro Recep Erdoğan iniciou uma onda de ataques aos opositores incluindo o fechamento de veículos de comunicação críticos ao seu governo. Erdogan está no terceiro mandato contabilizando 13 anos como chefe de estado na Turquia.
 
Ergin conta que desde o início do seu mandato, o primeiro ministro procurou controlar a mídia. “No início ele teve pouco apoio, mas aos poucos, um por um, ele conseguiu combater a mídia. Fez negócios com grupos econômicos que atuam na área de mídia e conseguiu atuar nessas áreas e revender [redes de comunicação] para outros grupos econômicos e assim conseguiu se fortalecer ao longo desses 13 anos, com o apoio da mídia”.
 
A Cihan, por exemplo, que em Turco quer dizer globo, é um dos principais veículos de comunicação no país. Ergin destaca o veículo esteve à frente da divulgação da investigação policial sobre um esquema de corrupção que envolveu quatro ministros e o próprio filho de Erdogan. Isso foi em 2013. A partir daquele ano o primeiro ministro começou a perseguir o conglomerado de mídia afirmando publicamente que as notícias se tratavam de uma tentativa de golpe contra ele.

 
“Ele começou a cortar anúncios, a deportar jornalistas estrangeiros que trabalhavam dentro do grupo, ameaçar os empresários que faziam anúncios, abriu alguns processos contra jornalistas e diretores do jornal. Alguns inclusive estão presos”.
 
Erdogan subiu ao poder em 2002, em meio a um “clima pesado na economia” e na política, herança do golpe militar de 1997. Após sucessivas coalisões políticas, o país não conseguia acertar o ponto certo para a implantação de um governo capaz de trazer desenvolvimento econômico e equilíbrio social. 
 
Erdogan se filiou a um partido político islamista fechando durante o golpe de 97. Em 2002, junto com uma equipe desse partido criou o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), negando a ligação com o islamismo e com promessas de tendências políticas modernizadoras liberal-democrata e de levar a Turquia para a União Europeia. 
 
“Ele chegou ao cenário político defendendo que seria a voz das minorias no parlamento. Assim ele ganhou o apoio de vários grupos diferentes”. Ergin, destaca que nos primeiro e segundo mandatos de Erdogan a Turquia de fato avançou no âmbito econômico e social, assinando acordos com outros países, e aumentando o protagonismo na política externa. 
 
“A Turquia é o único país no Oriente Médio com laços com Israel, Palestina, Irã, Rússia e Estados Unidos, então era um intermediador. [Nesses últimos anos] foi um momento em que realmente a Turquia brilhou e desenvolveu muito sua econômica”, disse.
 
A radicalização política começou quando Erdogan iniciou mudanças dentro do exército. O setor militar na Turquia é uma área bastante delicada, foi de lá que nasceram os dissidentes responsáveis pelos quatro golpes de estado que o país acumula na história recente, nos anos 60, 71, 80 e 97. 
 
“Em 2010, início do terceiro mandato, ele abriu um referendo para retirar a anistia de generais que fizeram parte dos golpes, e 250 chefes militares foram presos após esse referendo. Esse foi o momento em que Erdogan se sentiu livre para colocar sua própria agenda”, explicou o correspondente.
 
Ou seja, apesar de trazer dentro dos seus quadros tendências extremistas, o exército funcionava, até então, como um contra peso ao poder executivo de Erdogan. A partir de 2010 o primeiro ministro aproveitou que seu partido tinha a maioria das cadeiras no parlamento para fazer mudanças na constituição em seu favor. “Assim que começou a mostrar uma tendência mais autoritária, sem consultar a ninguém e também sem ter apoio dos partidos de oposição”.
 
Em 2013 uma onda de manifestações contra seu governo começaram na Praça Taksim fortemente reprimida pela polícia. “Interessante que naquela mesma época teve manifestações no Brasil e a reação da Dilma foi que tinha que ouvir a voz das ruas e temos que abrir mais espaço para a democracia. Na Turquia o Erdogan ameaçou as pessoas na praça dizendo que eles representavam 50% dos votos, ou seja, ‘50% estão em casa esperando o meu sinal para sair às ruas”, relembrou Ergin. 
 
E Erdogan tem popularidade de cerca de metade da população, reconhece o correspondente. Na mais recente tentativa de golpe, o primeiro ministro aproveitou para medir sua força. Mesmo após conseguir sufocar o levante em poucas horas com o auxílio da mídia e da população, decretou estado de emergência e suspendeu temporariamente a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e iniciou uma perseguição aos críticos do seu governo.
 
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Redação

14 Comentários

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  1. Nassif, esse post toda eh

    Nassif, esse post toda eh completamente contrario aa politica externa DE LULA E DILMA de “nao interferencia”.  E quem tem “50 por cento” de suporte nao sai “ameacando” o resto da populacao.  Isso eh ridiculo!

    Ainda esperando os sinais de “abertura” a ambos Israel e Russia (!!!) do outro post:  simplesmente nao faz uma gota de sentido.

  2. “Interessante que naquela

    “Interessante que naquela mesma época teve manifestações no Brasil e a reação da Dilma foi que tinha que ouvir a voz das ruas e temos que abrir mais espaço para a democracia. Na Turquia o Erdogan ameaçou as pessoas na praça dizendo que eles representavam 50% dos votos, ou seja, ‘50% estão em casa esperando o meu sinal para sair às ruas”, relembra Ergin. 

    Então né?

    Vejam agora onde está Dilma e os golpistas daqui onde está Erdogan e os golpistas de lá.

    Não entenda isso como um elogiou ao golpe, de quaquer natureza, mas ser firme não pode ser confundido com autoritarismo. 

    1. As diversas realidades possuem semelhanças e diferenças

       

      Edivaldo Dias Oliveira (quarta-feira, 27/07/2016 às 17:42),

      A esquerda perdeu uma batalha e ficou totalmente embaralhada. Há um grupo mítico ou místico ou talvez melhor fosse dizer fabuloso que imagina que o PT, Lula e a presidenta Dilma Rousseff são quinta coluna que trabalham para a direita. E tão destrambelhado se encontra esse grupo de imaginário fabuloso que querem por que querem que a direita devolva a rapadura para o PT, para Lula e para a presidenta Dilma Rousseff.

      Há também um grupo que recusa fazer qualquer cálculo. Para esse grupo, Lula, o PT e a presidenta Dilma Rousseff podiam fazer o que quisessem, pois eles tinham a força. Quer dizer esse grupo da esquerda foge não do cálculo, mas da física. É preciso entender de correlações de força para avaliar a perspectiva de uma ideia ou ação.

      O que ficou claro é que no parlamento o PT, Lula e a presidenta Dilma Rousseff não conta com um terço dos votos. E não contam com um terço do voto para uma ação justa, correta e lógica e que é impedir um golpe parlamentar. Um golpe feito com traição e com tudo mais de equivocado que se possa imaginar. É esta a realidade: o PT, Lula e a presidenta Dilma Rousseff são o que se pode chamar de minoria desqualificada, pois eles têm contra eles a maioria qualificada de dois terços.

      Em relação à comparação com a Turquia seria bom que se lembrasse que Recep Erdoğan é da direita. Como eu já disse aqui no blog de Luis Nassif várias vezes, se a presidenta Dilma Rousseff fosse de direita não haveria o golpe no Brasil.

      E outra, Recep Erdoğan representa os interesses dos poderosos. Como eu já disse aqui também no blog de Luis Nassif várias vezes, se São Paulo tivesse se separado do Brasil há mais tempo, também não teria havido o golpe, pois para que o golpe triunfasse era preciso que ele recebesse o apoio financeiro dos grandes grupos financeiros e empresarias paulistas onde se concentra quase metade do poder econômico brasileiro.

      Aliás, se São Paulo tivesse se separado do Brasil não teria havido a emenda da reeleição que contou com o apoio do grupo empresarial paulista.

      A verdade é que no atual estágio de evolução da humanidade a direita é maioria. A esquerda só alcança o poder por circunstâncias excepcionais. A eleição em dois turnos, por exemplo, é um instrumento que a direita utiliza para evitar que a esquerda alcance o poder. A vitória da esquerda no Brasil foi uma grande obra de engenharia que contou com o fator sorte, mas que foi durante todo o tempo fustigada.

      Outro exemplo que serve para esclarecer porque no Brasil, a presidenta Dilma Rousseff perde o poder é o de Vladimir Putin na Rússia. Vladimir Putin está associado aos poderosos e tem o apoio da direita russa, pois faz questão de se apresentar como alguém que defende ideias da direita. Ele é eleito normalmente com mais de 60% dos votos. A crise na Rússia foi tão séria quanto a do Brasil tendo a moeda russa, o rublo, sofrido desvalorização muito semelhante a brasileira. Só que lá Vladimir Putin recebe o apoio da direita e por isso é forte.

      A direita é autoritária, mas a presidenta Dilma Rousseff não precisava ser autoritária para impedir o impeachment. Bastava ela ser da direita.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 27/07/2016

  3. Fez o que tinha que fazer.

    Pode haver exageros, mas Erdogan está fazendo o que se deve fazer. Em sociedades conservadoras e atrasadas não há um grande apreço pela democracia. A sanha de poder das classes mais favorecidas impedem que o processo democrático atinja o seu ciclo completo. É só fazer um histórico da redemocratização brasileira. Como podemos ter democracia em um país que mantém instituições dominadas pelo militarismo(como a PM) e pelo conservadorismo elitista(Judiciário)? Resumindo, a sociedade brasileira não se mostrou capaz de mostrar apreço pela democracia e aceita tácitamente ser manipulada. Então, que se jogue a regra do jogo. O PT tentou ser democrático e republicano, foi apeado do poder. No Brasil, a manutenção do poder envolve entrar em uma guerra. É preciso combater os inimigos com as armas que se tem a mão. Erdogan está fazendo isso, provavelmente escaldado pelo que observou acontecer no Brasil, Ucrânia, países arábes e em outras repúblicas de bananas. O Brasil, através do PT, mostrou como não se deve fazer para se manter no poder. Agora pagaremos o preço de mergulharmos em uma plutocracia que nos fará recuar 20 anos, além da perda de experimentos de inclusão social jamais vistos em nossa História, o que realmente é lamentável.

  4. Sem autoritarismo.
    Será que sou só eu, fiquei com inveja da Turquia. Se no Brasil a justiça funcionasse e se Dilma e Lula tivessem posto os golpistas, juízes, jornalistas e mídia na cadeia, algo assim. Seriam autoritários?

  5. Coincidência, não é mesmo?

    Cihan (Globo) – Turquia.

    GloboVision – Venezuela.

    Globo – Brasil.

     

    Coincidentemente, todas “alinhadas” (tenho que escrever assim, senão, não publicam) do tio Sam e golpistas descaradas.

    Em comum: A “falta de caráter”  midiático e o nome Globo.

  6. Por favor precisamos de um contra-ponto!

    Esse emissário é da C i a? Vamos ouvir o outro lado? Parece que reverter um GOLPE é coisa boba, simples. É um G O L P E! Hellow!!! Tentaram dar um GOLPE militar. Tanques nas ruas atirando contra a população. Aviões de guerra contra o povo. Como assim a beira de um derramamento de sangue? Mas e o golpe não conta? Com o golpe não estava a beira de um derramamento de sangue? Se nada for feito o GOLPE voltará! Alguém duvida? Prece que todo mundo resolveu dormir. 

    É muito importante ter mais informações e outros pontos de vista. Essa história de manipilação da mídia não é exclusividade brasileira. Alguém sabe onde fica a Praça Taksim? Não será no Morumbi, ou no Leblon? Esse importantíssimo blog não pode cair no conto do PIG. Trazer informações tendenciosas não irão ampliar nem aguçar a consciência de ninguém. O que está em curso é algo global. Análises mais profundas são vitais agora. É uma questão de vida ou morte qualificar esse debate e sair dessa onda de “impor” democracia para os outros. Em que país atual existe a tal democracia?  

    Vocês acham realmente que todos esses golpes mundo afora estão acontecendo por acaso? Não existe nenhuma força por traz com algum interesse próprio?

    Que inveja da Turquia. Já pensou se o S T F, o Juduciário defenssor da casa grande, o M P F a serviço do dep. de estado do norte. os políticos que irão entregar toda a riqueza nacional fossem enquadrados da mesma forma?

    Será que é pouco o povo reverter um golpe na rua, reafirmando o presidente legitimamente eleito? Se o presidente é ruim ou bom quem decide é o voto.

  7. Ah, vem contar historinha com a mídia para nós, brasileiros ?
    Tadinha da imprensa, tão pura, tão honesta, tão comprometida com a verdade. Lamento mas não dá para acreditar em UMA palavra. Pode ser verdade mas pode ser todo mentira. Se o PT tivesse tratado a nossa mídia GOLPISTA como ela merecia ser tratada, desde 2005, estariam contando uma historinha igualzinha a essa, de nós, lá fora. Erdogan não é nada santo, jamais, mas daí vir querer nos convencer de que a “Globo turca” é inocente e pura, só como piada.

  8. O dilma deveria fazer o que o

    O dilma deveria fazer o que o edergon está fazendo na turquia agora: aniquilando os opositores e a imprensa golpista. Como não fez nada disso. está no olho da rua. Merece…

  9. Ontem li que este centro
    Ontem li que este centro cultural e controlado pelos gulenistas. Entrei agora no site e da para ver que deve ser mesmo.

  10. Turquia
    Mostrou a Dilma e Lula, os otarios, como se faz.

    200 mortos, 2000 juízes presos, centenas de generais presos….Já são 60 mil.

    De tempos em tempos a sociedade Tem que se limpar. Todos fizeram E fazem de tempos em tempos.
    Isso é democracia! Aprenda como funciona!

  11. Impressionante a quantidade

    Impressionante a quantidade de pessoas que se julga “progressista” louvando um arqui-reacionário, semi-fascista e fundamentalista. Tá baixando o terror na Turquia, e não é contra “golpistas”, é contra a população comum. Erdogan não é a Dilma, gente. É o Temer da Turquia, ou coisa pior.

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