A briga de facções entre Lava Jato e os Bolsonaro, por Luis Nassif

A ameaça dos homens da Lava Jato não visa livrar o país da mancha de ser governado por um presidente suspeito de envolvimento com milícias, é disputa de território.

Tales Faria é um dos mais experientes repórteres políticos brasilienses, jornalista de total confiabilidade. No seu Blog na UOL, Tales descreve a reação de procuradores da Lava Jato à humilhação imposta ao ex-juiz Sérgio Moro por Jair Bolsonaro, desautorizando uma indicação dele para um cargo irrelevante.

Mencionaram as investigações sobre o Ministro do Turismo, sobre Flávio Bolsonaro e suas relações suspeitas com milicianos. No artigo de Tales, fica mais do que caracterizada a guerra entre facções políticas, com um dos lados dotado de poder de Estado, de investigar, denunciar e prender.

E caracterizo como facção política porque, com a decisão de se apropriar de R$ 2,5 bilhões das reparações pagas pela Petrobras, a Lava Jato

A ameaça dos homens da Lava Jato não visa livrar o país da mancha de ser governado por um presidente suspeito de envolvimento com milícias, posto que foram e são sócios do projeto de poder dos Bolsonaro. É disputa de território.

Desde o início havia uma atuação política explícita de Sérgio Moro e seus procuradores, no Power Point, no vazamento de conversas privadas entre Dilma e Lula, na divulgação de depoimentos antigos de Antonio Palocci nas vésperas das últimas eleições. O que pretendia Moro ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça de um governo envolvido com milicianos – ou os procuradores cariocas não sabiam disso antes mesmo das eleições, ou Sérgio Moro, o juiz com maior experiência em tratar com organizações criminosas não havia sido informado?

Para quem ainda duvidava, ali ficava explícito que a Lava Jato saira definitivamente dos trilhos e caminhava para se institucionalizar como poder autônomo, sem ser incomodada pelos sistemas de controle do Judiciário e do Ministério Público. Hoje em dia tem mais poder que a própria Procuradoria Geral da República e, agora, mais orçamento.

Aliás, parte da extrema condescendência com que são tratados pela mídia talvez seja explicado pelas operações que desapareceram do noticiário. Por onde andará a lista dos correntistas internacionais do HSBC? E a contabilidade apreendida no escritório Mossak Fonseca, que o MPF e a Polícia Federal invadiram julgando encontrar offshores em nome de Lula, e acabaram se deparando com contas de grupos de mídia? Por onde andam as investigações sobre o escândalo da CBF, os documentos enviados pelo Ministério Público espanhol e pelo suíço? As investigações foram interrompidas? Estão sendo tocadas? O que procuradores que se especializaram há anos no uso político de informações sigilosas, estão fazendo com esses arquivos?

Agora, com o controle de uma fundação dotada de patrimônio de R$ 2,5 bilhões da Petrobras, ganham a possibilidade da institucionalização final, sem as limitações da carreira, sem uma transferência imprevista, uma promoção que os afaste do pote de ouro da Lava Jato: lançando as bases para um partido próprio, o representante maior da ultra-direita com método, que enxerga a disputa política como uma luta de extermínio total dos adversários.

Os abusos da apropriação dos R$ 2,5 bilhões

O dever do MP de reparar interesses coletivos lesados por ações criminosas ou meros desvios administrativos já é regulado por várias leis do país, sendo a mais relevante a Lei 7347, de 1985, que instituiu o Fundo dos Direitos Difusos Lesados. Para garantir uma atuação técnica, imparcial, não individual desses recursos, não poder ser algo ligado do gabinete de um grupos de procuradores. Agindo assim, estão frustrando todo o sistema legislativo, assumindo papel do Executivo, o que representa nítida ofensa à separação de poderes. Com essa fundação, a Lava Jato está ferindo o princípio da separação de poderes e todas as cláusulas pétreas:

§4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda à constituição tendente a abolir:

I – a forma federativa do Estado;

II – ao voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos poderes;

IV – os direitos e garantias individuais.

Os abusos na criação dessa fundação merecem uma representação correcional. A Procuradoria Geral da República não pode se furtar a essa responsabilidade.

Não se tenha dúvida. A maior ameaça à democracia não é uma família desequilibrada e sem noção, como os Bolsonaro. Nem sequer o poder militar. Pelas informações disponíveis, as Forças Armadas dispõem de um Alto Comando profissional e respeitador da Constituição.

São os jovens turcos da Lava Jato a caminho do poder.

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Jovens turcos e representantes de interesses alienigenas e inconfessaveis….,..

    Num ambiente de normalidade todos estariam afastados de suas funções e respondendo por essa patranha……dois bilhões e quinhentois milhões de uma empresa publica, é brincadeira isso????

  2. Nesses tempos de autoproclamados presidentes, os turquinhos da lava jato se autoproclamaram detentores do direito de abocanhar bilhões do dinheiro público.
    Isso a Globo não mostra… mesmo!

  3. Na penúltima frase do artigo, o autor parece querer garantir a continuidade pacífica de sua atividade jornalística. No entanto diversos fatos nos últimos 4 anos desmentem cruelmente essa caracterização das FFAA.

  4. no popular maquiavélico…
    Fundação da Eterna Busca da Glória Pessoal

    querem que o combate à corrupção tenha apenas uma história, a deles

  5. “E caracterizo como facção política porque, com a decisão de se apropriar de R$ 2,5 bilhões das reparações pagas pela Petrobras, a Lava Jato…”.

    Acho que ficou faltando algo nessa frase, no terceiro parágrafo.

  6. No Brasil “os jovens turcos” têm a caracteristica de ser conservadores tendendo ao fascismo. Tim Maia tinha razão sobre as nossas idiossincrasias tão folcloricas. Quanto à PGR, depois do perverso Gurgel e da ginastica de Rodrigo Janot para prender todo o PT, agora temos uma procuradora que não dirige, mas é dirigida pelos jovens turcos à brasileira…

  7. Nassif,
    VC lembra desde quando comento aqui que o MPF, PGR e outros deveriam ser extintos por não cumprirem o papel a eles destinado?
    Tem mais de três anos.
    Até quando o Brasil vai tolerar os abusos da máquina judiciária?
    Aquela mesmo que NUNCA teve um voto sequer.
    Continuo defendendo a extinção do MPF e PGR e o fuzilamento de TODOS que participaram da lava jato, a maior desgraça que já aconteceu em nosso país.
    Obs.: Estou pensando em acrescenta a polícia federal na lista de órgãos extintos.

  8. Não nos enganemos.São todos do mesmo time. Essa gente usa a teoria chacriniana ou seja:”Eu não vim aqui para explicar,eu vim aqui para confundir”
    Vamos deixar esses palhaços de lado e começar a organizar nosso povo para a retomada do poder e da democrcia.

  9. “Agora, com o controle de uma fundação dotada de patrimônio de R$ 2,5 bilhões da Petrobras, ganham a possibilidade da institucionalização final, sem as limitações da carreira, sem uma transferência imprevista, uma promoção que os afaste do pote de ouro da Lava Jato: lançando as bases para um partido próprio, o representante maior da ultra-direita com método, que enxerga a disputa política como uma luta de extermínio total dos adversários.”
    .
    Ninguém sabe disso mais do que Sérgio Moro… Por isso suporta calado toda e qualquer afronta que venha de Bolsonaro, seus filhos ou seguidores… Uma gerente executiva da Petrobras JAMAIS assinaria algo tão importante sem a ordem direta do presidente da empresa, e este, sem a ordem de Bolsonaro… É esse, afinal, e não o Ministério, o grande prêmio. É a segurança jurídica, política e até financeira, de Moro, que ficam garantidas por décadas com essa Fundação. Se não for impedida pelo STF, Moro terá – com a Fundação, talvez mais do que no Ministério… – um poder incomensurável para influenciar a política no Brasil. Se conseguir ambos – Ministério + Fundação… – aí será o melhor dos mundos para nosso psicopata-mor…..

    A Fundação da Lava Jato explica todos os movimentos de Moro nos últimos meses, talvez anos. É a cereja do bolo, e maior do que este.

  10. É a Fundação da Colônia do Antigo Egito do Paraná (ex-república do Paraná). Será mais que um partido. Qual partido dispõe de bilhões para investir em campanha falso moralista, hipócrita, fascista, a fim de eleger futuros faraós, reis-deuses que pairam acima do braZil e de todos?

  11. O judiciário brasileiro é o mais incompetente e corrupto do hemisfério ocidental. O judiciário existe para proteger e respeitar as leis da constituição. No Brasil, o Judiciário opera exatamente oposto, envolvendo-se na política e ignorando seus deveres sagrados, como a deferência à constituição e proteção dos direitos dos cidadãos.

  12. Bom post.
    Não acredito que essa decisão tenha vindo desse pessoal do Parana.
    Tem um dedo do departamentodejustçadosEUA.
    Se isso for em frente, estamemos ferados

  13. ALoW! Concordo que poderia estar existindo uma disputa de facções pelo poder dentre os geogolpistas. Porém essa disputa, se existir de fato, a meu ver, se daria entre a FARSA JATO (judiciário/Moro/NSA) e as FFAA (Mourão) com o capitão bozo (presidente apenas de direito) como bucha de canhão. Essa coisa do jornalista em seu artigo tentar livrar claramente as FFAA como um ator ativo geogolpista (facção), não só comprometeria a confiabilidade de seu trabalho jornalistico, como o colocaria em suspeição em relação a um ativismo “camuflado” em favor de “auto golpes” militares várias vezes admitidos pelo vice general Mourão (presidente da República de FAKE “de fato”). Simples assim!

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