A diversidade, o direito adquirido e o genial Laerte

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Laerte: “Só quero defender um direito conquistado pela população travesti e transexual”

Em restaurante, cartunista foi barrado em sanitário feminino depois de pedido de uma cliente

Por Mario Henrique de Oliveira

Após ser impedido de entrar em um banheiro feminino quando frequentava a Pizzaria Real,em São Paulo, o cartunista Laerte, que há três anos se veste como mulher, diz que luta pelos direitos conquistados pelas travestis e transexuais, mas que não pretende entrar com ação contra o restaurante, pois é cliente antigo e sempre foi muito bem tratado, inclusive durante esse episódio.

Laerte é autor de diversos personagens, entre eles Overman e Piratas do Tiête (Foto: Luiza Sigulem/Revista Brasileiros)

“Estou me informando, e contando com o apoio da Secretaria de Justiça. Fiz uso da lei 10.948 e das ferramentas que existem para proteção dos direitos civis, mas não tenho intenção de abrir processo nem nada. Só quero defender um direito conquistado pela população travesti e transexual”, conta ele.

O cartunista foi impedido de usar o sanitário feminino após pedido de uma cliente, que teria ficado incomodada com sua presença, pois estava com uma filha pequena. “O que se passou é que uma pessoa apresentou uma reivindicação e a casa a acolheu, em detrimento do meu direito como cidadã”, revela.

….A lei à qual Laerte se refere considera ato discriminatório proibir o ingresso ou permanência de homossexuais, bissexuais e transgêneros em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado.

Mesmo já tendo admitido que é bissexual, Laerte fala que a questão de se travestir não tem relação com sexo, e, sim, com gênero. Sua atual namorada inclusive o ajuda a se travestir. Por esses motivos, o cartunista já foi considerado como crossdresser, ou seja, uma pessoa que apenas gosta de se vestir como mulher, mas ele revela que tem procurado se caracterizar de outra maneira. “Tento me caracterizar como uma pessoa que se traveste, não como um crossdresser”, diz ele.

Ele chegou a tentar conversar com a moça que fez o pedido à direção da casa, mas não foi muito bem recebido. Sobre como as pessoas têm o tratado estando travestido, Laerte conta que há as mais diversas reações.

“Os olhares que as pessoas me dirigem vêm temperados com muitos ingredientes, esteja eu na companhia de quem estiver. Existe o fato de estar travestida, claro, mas existe o fato também notável de que eu ‘apareci na tevê’, que sou ‘artista’ etc. Acho que as avaliações por que passo misturam todos esses elementos, de condenação, estranhamento, respeito pela ‘aura midiática’, divertimento puro, desatenção em relação ao conteúdo ideológico das ações humanas, apoio a esse mesmo conteúdo etc. Tem também, lógico, a saudável indiferença, a aceitação natural”.

Ele diz que espera que a situação se resolva o mais rápido possível para que volte a se sentir a vontade para frequentar o local, mas que não busca um culpado no caso. “Não se trata de culpar ninguém, acho, mas de esclarecer um ponto que as pessoas teimam em colocar atrás do muro dos seus preconceitos”, finaliza.

Luis Nassif

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