A elite que adere ao arbítrio pelo ódio, por Fernando Brito

Sugerido por André Paulo Reis

Do Tijolaço

O problema maior não é Joaquim Barbosa: é uma elite que adere ao arbítrio pelo ódio

Fernando Brito

Eu me formei no culto ao Estado de Direito, que nos anos 70 era como podíamos chamar a Democracia.

E, como não podíamos falar em ditadura, o nome dado era “arbítrio”.

Ou seja, a lei “não valia” para todos, era mais dura ou mais branda de acordo com o freguês, sendo que o “mais duro” podia ir até à tortura e ao assassinato.

Tudo com base, claro, nos valores cristãos e na família.

O que mais me assusta no comportamento de Joaquim Barbosa não é o seu ódio e seu desprezo pelas convenções jurídicas que, apenas para citar uma, fez todo o país crer que os condenados do chamado “mensalão” iriam cumprir pena em regime semi-aberto, revista, como foi, a duração de seus apenamentos após o julgamento dos embargos infringentes.

Crença que veio, como todos sabem, de um entendimento pacífico de que era assim que se poderia cumprir penas em tal regime, como fazem 100 mil outros apenados, salvo quando, por seu comportamento agressivo, podem causar prejuízos à integridade física da coletividade: homicidas, loucos furiosos, etc…

Acabamos de descobrir que Joaquim Barbosa tornou “de brincadeirinha” tudo aquilo que todos – inclusive seus pares do STF – achava que era a sério.

Ele decidiu, sozinho e por uma penada, que não vale para José Dirceu  o que valia para todos. Quem discordar tem um recurso: recorrer para que ele mesmo decida, também solitariamente, o que já decidiu.

Joaquim Barbosa pode ser um homem mau, como disse dele o jurista Celso Bandeira de Mello ou um psicopata, como o definiu o promotor  Rômulo Moreira, Procurador-Geral Adjunto do MP da Bahia.

Isso pode acontecer a um homem, mas não pode acontecer ao Estado ou à coletividade, embora hoje Ricardo Mello lembre que não se vê qualquer “fúria santa” de Barbosa com temas como os linchamentos, a superlotação carcerária ou os espancamento de sem-tetos.

Muito mais grave é o fato de  a sociedade estar sendo transformada em algo mau e adepta do exercício arbitrário das próprias razões, ainda que aqui não se as discuta.

Porque isso leva à histeria e, com ela, à barbárie legitimada.

O ódio político e o interesse eleitoral estão conspurcando o exercício da mais alta magistratura judicial do país sem que senão poucas vozes se levantem.

Embora à boca pequena  muitos liberais e até conservadores considerem que Joaquim Barbosa tenha se tornado um siderado pelo seu ódio, poucos têm a coragem de dizer, porque julgam que isso lhes é útil no processo político-eleitoral.

A mídia teve o condão de transformar quem pare para pensar em “cúmplice”.

E a sociedade em matilha.

Redação

3 Comentários

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  1. Foi certeiro, especialmente quando escreveu:

    “Embora à boca pequena  muitos liberais e até conservadores considerem que Joaquim Barbosa tenha se tornado um siderado pelo seu ódio, poucos têm a coragem de dizer, porque julgam que isso lhes é útil no processo político-eleitoral.”

    É isso mesmo que está acontecendo na nossa “elite jurídico-empresarial”.

  2. Nossa, muito bom! Acredito

    Nossa, muito bom! Acredito que o maior problema das autoridades em colocarem-se  entre JB e o Estado de Direito é, justamente esse ódio difuso que, enquanto dura o mensalão está concentrado nos condenados da AP 470, especialmente, José Dirceu. Mas é notório que esperam, ansiosos, por alguém que os substitua ( PT, Dilma ou Lula ) como catalisador desse ódio alimentado e acalentado pelos meio de comunicação 24h por dia. Talvez aí esteja a explicação para o silêncio dos demais ministros; quem se colocar contra JB, será transformado, automaticamente, em inimigo público nº 1 e linchado nas mesmas proporções ou talvez, maiores que José Dirceu. Acredito que Dilma, era a escolhida para catalisar esse ódio, sobretudo, em função das eleições; portanto, faz muito bem em não manifestar-se. Na verdade, esse ódio meio retardado de nossas elites é a única coisa objetiva que eles trazem ao debate e mesmo assim não sabem nem a quê ou a quem dirigir esse ódio fabricado. Por enquanto, o PT está assumindo a tarefa de servir de saco de pancadas para que nossa elite frustrada possa decarregar seus recalques, sem causar maiores prejuízos ao país. Ainda bem que é o PT, fosse qq outro partido, já teriam feito acordo com a mídia e sua milícia elitista e o país que de danasse. Valeu, PT!

  3. Eu vejo isso desde a década

    Eu vejo isso desde a década de 90.Na década de 80, enquanto o processo de democratização ainda estava em disputa, não ficou claro pra mim. Votei no Covas em 89! Mesmo antes de o Brizola propor a renúncia dele e do Lula para que fosse possível agregar uma parte do centro contra a irracionalidade ideológica que grassou na sequencia da vitória do Collor em diante!

    Em pleno governo neoliberal – do tipo “não existe essa coisa que chamam de sociedade, mas, sim, os indivíduos e suas famílias” – tudo que era feito, não feito, malfeito ou desfeito o era por causa da, então, oposição; tudo era contra o que existia de público; tudo era contra o “Estado”…

    Pra mim sempre esteve claro que se tratava de “o dono [o soberano, o povo] está chegaaaandoooo!”

    Esta é a pura essênia do ódio desse pessoal: não sabem perder eleições; acreditam sinceramente que as tolices em que acreditam são incontrastáveis; que os novos eleitos são usurpadores do poder que acreditam ser posse hereditária.

    Realmente sofrem ao imaginar que os mais antigos estariam cobrando deles o fato de terem “perdido” o poder sustentado por gerações. Como se a “aristocracia” antiga dissesse pra eles “Ó, seus fracos e degenerados! Conseguimos por gerações manter o domínio e a ‘ordem’ e vocês as desperdiçam por’ tibieza, perdedores!?'”

    Daí tanto ódio: ele é atávico! Muita gente sabe o que eles fizeram no verão passado.

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