O porre do MPF na lista tríplice da PGR, por Eugênio Aragão

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O vice-procurador-geral eleitoral Nicolao Dino, primeiro da lista tríplice. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Do blog de Marcelo Auler

A lista tríplice para PGR ou o porre do MPF

Por Eugênio Aragão

Depois de uma campanha profissional, como manda o figurino Janot na corporação, o vitorioso da eleição interna para a lista associativa, Nicolao Dino, contou com o peso do cargo de seu padrinho, o Procurador-geral da República, para tornar-se o azarão da vez.
 
Da lista, numa eleição espontânea, sequer constaria o nome de Nicolao, perdedor de duas eleições para o Conselho Superior. A perspectiva mais provável era Raquel Dodge e Mário Bonsaglia disputando os dois primeiros lugares e Ela Wiecko eleita para o terceiro. O número de votos recebidos por Nicolao surpreendeu até analistas mais experientes.
 
A pergunta que fica no ar é: o que está acontecendo com o MPF? “Flucht nach vorne” ou “escape ahead” – a fuga para frente, a saída que resta aos que se encurralaram em seus próprios erros?
 
O porre da “Lava Jato” está cobrando seu tributo. E a ressaca será pesada.

 
Não há dúvida que o timing da denúncia contra Temer – oferecida a  toque de caixa à véspera do pleito, cheia de erros típicos da falta de revisão – favoreceu muito o ganhador.
 

Depois ainda veio aquela mensagem patética do Procurador-geral da República, pedindo união de todas e todos no Ministério Público Federal, naquilo que hiperbolicamente qualifica de “a maior investigação sobre corrupção do planeta” e chamando de “reacionários e patrimonialistas” os que ousam criticar a postura redentorista de sua gestão. Mui democrático! Tudo calculado para dar o máximo de efeito na eleição da lista tríplice associativa. A pieguice convenceu e a categoria embriagada pediu bis.

O discurso moralista pequeno de Janot fez mais estragos do que reparos à combalida paisagem política do país. E os que hoje o aplaudem porque, num “grand finale”, resolveu enfrentar o golpista que deixou correr solto para derrubar uma presidenta honesta eleita por 54 milhões de brasileiras e brasileiros, se esquecem que estão empoderando um monstro. Este, com métodos policialescos de combate a organizações mafiosas, está atacando a democracia, a soberania popular e o tecido institucional. Qualquer presidente eleito terá, a partir de agora, que fazer “caramuru” ao Ministério Público, se quiser sobreviver até o final de seu mandato.

O que sobrou dessa luta encarniçada, não contra a corrupção, mas a favor da alavancagem corporativa do Ministério Público, é uma economia destruída, a falta de liderança para tirar o país do buraco e o império de uma mídia tanto oportunista, quanto golpista na defesa dos interesses de uma minoria endinheirada. E a corrupção vai bem, obrigado, porque sem mexer nas causas, apenas reprimindo seus efeitos, a bactéria que alimenta a doença vai se tornando mais resistente.

Por falar em causas, diz, nesta quarta-feira (28/06), Nicolao aos jornais que brigará por uma reforma política se nomeado procurador-geral. O óbvio ululante: o país precisa de ampla reforma política. Mas não de iniciativa de um PGR! Lá vai ele pelo mesmo caminho de Janot, se metendo onde não foi chamado.

Talvez confunda seu almejado mandato logrado com apoio corporativo com um mandato parlamentar. Quem tem que resolver sobre a reforma política são os representantes da soberania popular e não um burocrata de um órgão persecutório penal. O burocrata deve se bastar em cumprir seu dever de acusar com muito cuidado e discrição, preocupado em garantir o devido processo legal e um julgamento justo àqueles que estão em sua mira. Nada mais. E isso já é muito, pois Janot e seus acólitos não o têm conseguido.

Se numa futura gestão do PGR tivermos mais do mesmo, será, em verdade, o Ministério Público que deverá ser reformado, pois democracia nenhuma no mundo aguenta suas instituições viverem sob o porrete do direito penal.

Esse é o alto preço que os procuradores irão pagar por conta de suas etílicas andanças trôpegas. Sobreviverá na sociedade apenas o consenso de que os malfeitores – corruptos, corruptores, autoridades abusivas e arbitrárias – devem ser acusados sem exceção e o golpista Temer julgado para pagar por seu ataque à Constituição.

Mas, que tudo se faça com a dignidade própria das civilizações. E que se deixe incólume a soberania popular que pertence a nós todas e todos e não é monopólio dos acusadores.

(*) Eugênio José Guilherme de Aragão é ex-Ministro da Justiça, Subprocurador-geral da República aposentado, Professor da Universidade de Brasília e Advogado.

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Redação

10 Comentários

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  1. Eugênio, você é muito bom. Eu sou seu semi-fã

    Na minha próxima encarnação eu vou querer ser assim.

    Já vi que os nossos juristas conhecem o alemão como os Coxinhas sabem o inglês.

    Flucht nach vorne

    Qual é o infinitivo desse verbo e qual o seu significado?

    Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa Corporation também sabem, ou sabiam, o alemão.

    Deutschland über alles!

    Heil mein Führer! Fux off!

      1. Ei, o Cara falou comigo. Eu nem acredito. Valeu, Obrigado

        Ei, Cara, você falou comigo. Eu tava só de brinca com você, Autoridade. Não era prá você levar meu comentário a sério, não, Senhor. De qialquer forma, muito obrigado, Dr. Eugênio.

        Eu queria escrever como você e, não somente isso, mas ter o seu conhecimento e a sua sabedoria. Você engrandece o Brasil. Eu não sou seu semi-fã, eu sou seu fã.

        Basta, a grnadeza do cara independe dos seus elogios. Você se acha, né?

        Mas ele falou, sim, comigo. E se for um fake?

        Meus 15 minutos de fama inexistiram.

      2. O infinitivo do verbo (fliehen) corresponde ao flee, verbo inglê

        que significa fugir (de) um lugar

         

        Lack of faith in government and violence have led many Mexicans to flee Nuevo Laredo and move to Texas.

        A falta de fé em Temer nos fará fugir para o Mexico.

        Lack of faith in government and violence have led manyMexicans to flee Nuevo Laredo and move to Texas.

  2. Muitas verdades irrefutáveis

    Muitas verdades irrefutáveis no texto, mas uma contradição sempre presente em textos análogos. O que acontece no Brasil, desde o ano de 2013 é um arrombamento do regime democrático e do estado de direito. Aqueles que rasgaram a consituição e se apossaram do Estado para uso particular não desejam e não vão restaurá-los. E restaurar para valer siginfica colocar na cadeia todos os que participaram e foram cúmplices do golpe. Sabemos que isso não vai acontecer, como os torturadores e golpistas de 64 estão aí para provar. Portanto, não vejo como acreditar que os traidores do povo serão condenados e a democracia e o estado de direito restabelecidos. Haverá sim, um grande acordo,para o qual  Lula e o PT não serão convidados e a sociedade brasileira fará de conta que nada aconteceu. O projeto de nação morreu com o golpe e a farsa a jato continuará sob outros disfarces. A não ser que o povo se liberte da hipnose secular e parta para o quebra-quebra.  

     

     

     

  3. Nicolao será o escolhido?

    Ótimo post de Aragão, como sempre. Mas Dino será o escolhido? Pelos antecedentes de Temer e pela lógica do golpe, não, não será. E é necessária a sabatina no Senado e Temer não cai logo, se cair.

  4. Janot prometeu até as cuecas…

    Prezado Aragão, qual a surpresa que o candidato do atual Procurador-Geral da Republica tenha sido eleito entre os três candidatos para a proxima PGR? Desde que o samba é samba que quem tem poder, tem o que prometer! 

    Noves fora, eu quero ver o Temer, que balança mas não cai, levar Nicolao Dino à Procurador-geral da Republica.

  5. Atuação de Janot e seus acólitos a favor das elite:

    “O que sobrou dessa luta encarniçada, não contra a corrupção, mas a favor da alavancagem corporativa do Ministério Público, é uma economia destruída, a falta de liderança para tirar o país do buraco e o império de uma mídia tanto oportunista, quanto golpista na defesa dos interesses de uma minoria endinheirada. E a corrupção vai bem, obrigado, porque sem mexer nas causas, apenas reprimindo seus efeitos, a bactéria que alimenta a doença vai se tornando mais resistente.”

    Disse tudo o verdadeiro Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, e é bom se repetir

  6. Perfeito Aragão. O “monstro”

    Perfeito Aragão. O “monstro” está solto…

    Nota:

    Sepulveda Pertence ao se aposentar como Procurador da Replúca e deixar o cargo de PRG para assumir uma vaga no STF disse ao Presidente José Sarney: “Não sou o Golbery, mas criei um monstro !”

  7. MPF e a lista tríplice
    O Procurador-Geral é um dos cargos mais poderosos da República, desde 2003, quando o ex-presidente Lula decidiu abrir mão de uma atribuição constitucional, a de nomear o chefe do Ministério Público da União, e decidiu nomear o procurador mais votado na lista tríplice da ANPR, a eleição da lista por membros do MPF, tornou-se se uma disputa de poder por grupos ligados a interesses obscuros.

    Antônio Fernando de Souza, Roberto Gurgel e Rodrigo Janot são exemplos de que o poder não transforma e sim revela.

    Lula e Dilma não aprenderam mesmo estando no poder, como Presidentes da República, que firmeza de caráter, ética, lealdade aos princípios constitucionais e coragem são atributos raros aos agentes políticos.

    Temer decidiu escolher a segunda mais votada na lista tríplice, a subprocuradora Raquel Dodge, a primeira mulher nomeada a Procuradora-Geral da República.

    É esperar para ver, Janot denunciou Temer ao STF, por corrupção passiva,o entendimento do ministro Celso de Melo “O Supremo Tribunal Federal, em dois precedentes, entendeu que a imunidade constitucional dada ao presidente da República, protegendo-o contra a responsabilização, em razão de atos estranhos ao exercício de mandato, não há de impedir a instauração de investigação criminal. É preciso fazê-la, porque as provas se dissipam, as testemunhas morrem e os documentos desaparecem”.

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