A última capa da Veja – Edição 2272

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Não li a reportagem completa, por que é claro, não sou assinante da Veja, e não tenho ido ao dentista, que parece ser o único lugar onde você ainda encontra a revista, então vou analisar somente o que foi divulgado aqui.

De cara me chamou a atenção o fato de ser alegadamente um documento do PT, mas tem o brasão da Presidência da República, e o texto indica ser da CPI. Considerando que existem parlamentares da oposição na CPI, como ela poderia criar documentos “sigilosos” para pautar as ações sem que eles tomassem conhecimento disso?

Mas vamos analisar agora o texto em si:

“Reportagem de VEJA desta semana revela a existência de um documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira. Consta do roteiro uma lista de alvos preferenciais do PT, entre eles Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e Roberto Gurgel, procurador-geral da República.”

O ministro Gilmar Mendes não foi escolhido pelo PT como alvo. Ele só entrou na mira por que o nome dele começou a aparecer nas gravações da PF, e por ter um relacionamento aparentemente estreito com o Senador Demóstenes e outros protagonistas, a ponto de encontrar-se com ele na Alemanha, e ser paraninfo da formatura do governador Marconi Perillo, com a presença do próprio Cachoeira, além das duas assumidas caronas no jatinho de alguém que não tem jatinho. Então foi ele mesmo que se envolveu. Quanto ao procurador Gurgel, quem o acusou indiretamente de prevaricação não foi a CPI, foi a Polícia Federal.

“O guia de ação produzido pela liderança petista, ao qual VEJA teve acesso, não deixa dúvida sobre as reais intenções do grupo mais umbilicalmente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os alvos são os oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira – e, sem dúvida, o maior da República.”

Sinceramente, assumindo que o documento seja verdadeiro, não consegui depreender isso do texto. Mas vamos avaliar os outros parágrafos e ver ser chegamos a essa conclusão. Até o momento, os únicos alvos são os indicados pela PF, e não consigo ver nada de estranho nisso. Parece que a única coisa que falta para o “mensalão” ser oficializado como maior escândalo de corrupção da história é ocorrer o julgamento, pois a Veja já decidiu a condenação. Que me conste não fiquei sabendo que ela tinha sido indicada como ministra do STF. E depois eles acusam o Lula de fazer pressão sobre os ministros. Então o que eles estão fazendo é o que? Informar?

“O documento foca em especial Gilmar Mendes, que Lula tentou constranger, sem sucesso, em sua cruzada para adiar o julgamento do mensalão, conforme mostrou reportagem de VEJA da semana passada. São dedicados a Mendes quatro tópicos: ‘O processo da Celg no STF’, ‘Satiagraha, Fundos de Pensão, Protógenes’, ‘Filha de Gilmar Mendes’ e ‘Viagem a Berlim’. São todas questões já levantadas pelos mensaleiros e seus defensores e que, uma vez esclarecidas, se mostraram fruto apenas do desejo de desqualificar um integrante do STF que os petistas consideram um possível voto contra os réus do mensalão.”

Ficam as perguntas: o processo da Celg foi regular? A atuação dele na Satiagraha foi regular, dando um habeas corpus depois da própria Globo veicular um vídeo com um representante do réu tentando subornar um delegado da PF? A filha do ministro Gilmar Mendes não trabalhou para o senador Demóstenes? O ministro Gilmar Mendes não viajou para Berlim e encontrou-se com o senador Demóstenes lá? Concordo com eles que uma vez esclarecidas, estas questões estariam superadas. Mas elas foram realmente esclarecidas, ou para isso a simples palavra do ministro Gilmar Mendes já basta? A forma de esclarecê-las não é investigar? Então por que a surpresa em aparecerem listados os pontos a serem investigados?

“Descontentes – Alguns petistas discordaram, à boca pequena, da atuação de Lula. Lembraram que é errado dar como certo o voto de Gilmar Mendes na condenação dos mensaleiros, uma vez que o ministro, por exemplo, foi contrário à inclusão de Luiz Gushiken, ex-ministro de Lula, na lista de réus do mensalão.

Sob anonimato, é mais fácil hoje do que há algumas semanas encontrar petistas fortemente críticos da estratégia de atacar a imprensa e envolver o procurador Roberto Gurgel na CPI do Cachoeira. No documento feito pelos petistas empregados na liderança do partido no Congresso, Gurgel é falsamente acusado de engavetar o caso conhecido como Operação Vegas, em que a Polícia Federal investigou o jogo ilegal no Brasil. O documento do PT dá como fatos as mais absurdas invencionices contra a imprensa, marteladas por blogs sustentados por verbas públicas de instituições dominadas por petistas. A avaliação de deputados e senadores do PT, confirmada por pesquisas de opinião, é que o partido, até agora, é o maior perdedor na CPI do Cachoeira.”

Imagino que deva existir um monte de petistas descontentes e doidos para dar depoimentos para a Veja. Só que eles são iguais a cabeça de bacalhau, pois ninguém nunca viu, só a Veja. Os depoimentos são sempre sigilosos, e as fontes nunca são encontradas. Chama a minha atenção a quantidade de relatos de encontros de políticos a portas fechadas, mas que a Veja acaba transcrevendo como se estivesse onipresente.

O próprio procurador Gurgel não se defendeu alegando que engavetou o caso como uma estratégia para permitir outras investigações? Então agora ele foi falsamente acusado de ter feito isso. E as mais de 200 ligações da Veja para o Cachoeira e seus asseclas? Foram inventados pelos blogs?

Pelo menos o discurso deles está alinhadinho e consistente, contra os blogs sustentados com verbas públicas. Daqui a pouco o ministro Gilmar Mendes vai pedir uma investigação ao MPF baseado na denúncia da Veja, que vai gerar uma nova matéria sobre o assunto, que vai ser repercutida na Globo, Folha e Estadão, e utilizadas pelos deputados da oposição para justificar um projeto de lei que proíba as empresas públicas de anunciar em sites que não repercutam positivamente os assuntos que eles geraram. E a Abril vai continuar vendendo milhões sem licitação para o governo de São Paulo. Liberdade de imprensa é isso.

Não sei se o documento da Veja é verdadeiro ou não. O fato de os textos terem sido colados da Internet não significa que tenha sido produzido pela própria Veja. Porém, depois de ler com cuidado os trechos que foram apresentados, não consegui realmente ver nada de muito estranho neles, a ponto de serem um guia para atacar oposicionistas, a imprensa e o judiciário. Pode ser que seja mesmo um documento da CPI, simplesmente listando alguns pontos importantes que precisam ser esclarecidos, e concordo que eles precisam mesmo.

A opção a isso é a Veja ter produzido o documento, e prefiro acreditar que isso não aconteceu, pois nesse caso estaremos inaugurando uma nova fase ainda mais grave do que as anteriores. Obter escutas clandestinas apara atacar seus adversários, feitas por delinquentes, ou divulgar informações não confirmadas como sendo verdadeiras são ações inadequadas para o bom jornalismo, mas fabricar documentos com o brasão da Presidência e imputá-lo ao governo é crime, passível de prisão.

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