Após PP, Lava Jato mira PMDB em maior inquérito da Petrobras

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Prisão de ex-assessor do PP no mesmo dia do vazamento de líder do PMDB não é coincidência
 
Jornal GGN – A prisão do ex-tesoureiro do PP, João Cláudio Genu, é a primeira concretização do avanço sobre a estrutura-mãe do esquema de corrupção da Petrobras. Apesar de decretada a prisão preventiva pelo juiz da primeira instância, Sergio Moro, o interlocutor do PP sofreu busca e apreensão do Supremo Tribunal Federal (STF) em julho do ano passado, no inquérito que envolve também o senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), e outros 38 nomes, incluindo caciques do partido de Michel Temer.
 
A conversa entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, é um dos trechos desses autos de 16 volumes, a maior das investigações do esquema. No mesmo dia, o vazamento do diálogo e a deflagração da 29ª fase da Lava Jato, prendendo Genu e incindindo sobre a parte do esquema que correspondia ao PP, revelam que não existem coincidências nas ações da Lava Jato. Depois do PP, a sigla que se voltará para a mira dos investigadores é o PMDB. 
 
E o aviso foi dado pelos delegados da Polícia Federal em Curitiba: “não basta intenções ou declarações de qualquer governo que possa frear as investigações quando a gente está com a razão”, disse Luciano Flores de Lima, em clara resposta ao conteúdo das declarações de Jucá. “A Polícia Federal não trabalha para qualquer partido”, seguiu o delegado.
 
Ainda que o mecanismo de prisão preventiva fazer parte de fase de coleta de provas, o delegado também adiantou a investigação que gerou a detenção do ex-assessor do PP está “próxima de sua conclusão com provas cabais”.
 
Se, por um lado, o processo contra Genu tramita na Vara Federal de Curitiba por não deter foro privilegiado, o conteúdo da investigação é o mesmo do inquérito 3989, que o STF já está em posse dos últimos volumes, conforme o GGN revelou.
 
Condenado no caso do Mensalão por saque de mais de R$ 1 milhão das empresas de Marcos Valério, João Claudio Genu agora é suspeito de receber, pelo menos, R$ 2 milhões no esquema da Petrobras. A fase denominada “Repescagem” desdobra o caso antigo, indicando novas operações de lavagem de dinheiro, com contas no exterior, tanto para o mensalão, quanto para o esquema da Petrobras.
 
Assim como ocorre no inquérito mãe no STF, em Curitiba, o articulador é apontado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa. Genu foi assessor do ex-deputado federal José Janene e tesoureiro informal do PP.
 
Após mirar incisivamente sobre o PT, a presidente afastada Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, além dos ministros que integraram os respectivos governos, a nova fase indica que a equipe da Lava Jato retomou as investigações contra a maior estrutura do esquema montado na estatal: contratos da Diretoria de Abastecimento e Internacional, que eram controladas pelo PP e pelo PMDB.
 
Genu seria o principal interlocutor do esquema na pasta de Abastecimento, recebendo valores em espécie e repassando-os ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, além de receber até 5% de propina sobre os contratos firmados com a Diretoria. Até o momento, delações de Alberto Youssef, Carlos Rocha e Fernando Baiano narram as acusações, com provas de registros de entrada no escritório do doleiro, anotações apreendidas de propinas e mensagens interceptadas de celular.
 
De Sergio Moro para o STF
 
A nível do Supremo, o ex-tesoureiro do PP tem seus registros no volume 11 do inquérito 3989, que era, até o dia 6 de julho de 2015, o último volume produzido pelos investigadores. 
 
Naquela época, o nome de Genu apareceu, pela primeira vez, na delação do doleiro Alberto Youssef. A acusação é que Genu ajudou o então deputado do PP, José Janene, apontado como quem iniciou o esquema de corrupção com a “cartelização e comissionamento” da Petrobras. 
 
Janene, João Claudio Genu, Paulo Roberto Costa e representantes de empreiteiras cartelizadas “participavam de reuniões periódicas” para definir a lista de empresas favorecidas nos contratos com a estatal.
 
“Perguntado como era feito o controle do dinheiro que estava entrando e o que repassava aos parlamentares que realizavam a distribuição interna para os integrantes do PP, [Youssef] afirma que não existia um controle sobre isso, pois tão logo recebia esses valores, o declarante [Youssef] repassava as comissões de Paulo Roberto e Genu e retirava a sua parte, entregando em seguida os recursos pertencentes ao partido”, dizem os autos da denúncia da PGR enviada ao STF.
 
Conexões Genu (PP) e Jucá (PMDB)
 
A diluição do poder do PP na estatal, abrindo espaço para o PMDB ser o novo receptor de propinas na Diretoria de Abastecimento, ocorreu quando Paulo Roberto Costa adoeceu, “oportunidade em que tentaram ‘tomar’ a Diretoria”, afirmou Youssef.
 
Mas por meio de Fernando Soares, Costa “obteve apoio do PMDB do Senado para se manter no cargo e quem deu apoio foi Romero Jucá, Renan Calheiros, Valdir Raupp e Edson Lobão”, disse o doleiro, em fevereiro de 2015.
 
Posteriormente, com os autos já no STF e diversas oitivas envolvendo os 39 nomes de políticos no esquema de quadrilha, Youssef também revelou que Valdir Raupp “era um dos parlamentares do PMDB que atuou na sustentação política de Paulo Roberto Costa na Petrobras”, além de “Edson Lobão, Renan Calheiros e Romero Jucá”. 
 
Segundo o doleiro, “o PMDB, através de suas Lideranças, não prestou apoio politico e sim se utilizou da possibilidade de retirar Paulo Roberto do cargo para cobrar dele percentuais nos contratos celebrados pela Diretoria de Abastecimento”.
 
As informações foram, ainda, detalhadas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa e confirmadas por Fernando Baiano e Carlos Rocha, em delação premiada com aos investigadores da Procuradoria-Geral da República. 
 
 
Acompanhe o pedido da PGR contra os 39 investigados e o volume 11 do inquérito que trata de João Cláudio Genu e de caciques do PMDB:
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. ELES FIZERAM…

    O MP, O PGR, FEZ TANTA PROPAGANDA CONTRA O PT E PRINCIPALMENTE CONTRA O LULA, QUE AGORA BATERARÁ COBRANÇAS  E PRESSÃO EM SUAS CARAS. FIZERAM FAMA COM O PT, RECEBERAM PRÊMIOS E HOMENAGENAS FERRANDO O PT E HOJE A DESMORALIZAÇÃO DA JUSTIÇA BATE EM SUA PORTA… ESQUECERAM OU NÃO QUISERAM  REVELAR O QUE TINHA SER REVELADO AO POVO, PORQUE O MAIS INTERESSANTE SERIA ACABAR COM PT. ESSE BLÁ, BLA, BLÁ DO  MP NÃO REFRESCA O SEU LADO E NEM REFRESCA O LADO DO STF E MUITO MENOS DO PGR. TODOS MUNDO ESTÁ DE OLHO… E ELES CONTINUAM ACHANDO QUE O POVO É IDIOTA.

  2. A lava jato atira em todo

    A lava jato atira em todo mundo, menos nos tucanos, e não faltariam motivos para eles serem alvos preferenciais na fuzilaria. Conclusão: algo muito suspeito ocorre na lava jato e já passou da hora do supremo dar um basta nesta farsa.

  3. Enquanto Isto, na Justiça… – 2ª edição

    Nassif: essa dos demais partidos serem incluídos nesse rolo é piada de mal gosto. Podem até ser denunciados. Pode, aqui e ali, um parlamentar ser preso, como “boi de piranha” (como disse o senador e ministro Romero Juca). Mas vai ficar por isto mesmo, tanto no Verdugo de Curitiba como no STF. O objetivo é um e um só —prender Lula e depor a Presidenta Dilma. O resto, “não vem ao caso”

    PS.: Essa de que a PF não trabalha para Partidos, isto é verdade. Ela toda, não. Só a maioria dos delegados da cúpula.

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