Após ser solto, Dirceu é alvo de acusações infundadas sobre offshores

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Sem provas ou conexões, o ex-ministro foi associado a nome ligado a offshore no Panamá: uma antiga barrigada do Jornal Nacional
 

Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
 
Jornal GGN – Imediatamente após ser solto pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), José Dirceu voltou para a mira das acusações na Operação Lava Jato e na imprensa. Neste domingo (07), o ex-ministro foi associado a um dos nomes ligados a offshores no Panamá, no caso das empresas de fachada ligadas ao escritório Morgan & Morgan.
 
Com o intuito de indicar que o petista estaria ligado às empresas de fachada, o Estadão recuperou a barrigada que o Jornal Nacional cometeu há quatro anos, quando Dirceu havia sido contratado para trabalhar no hotel de Brasília St. Peter.
 
À época, o telejornal da Rede Globo publicou, em tom de denúncia, uma reportagem contra os proprietários do empreendimento, por terem oferecido emprego ao então condenado na Ação Penal 470, o chamado mensalão, por um salário de R$ 20 mil. 
 
Com o intuito de tentar desvendar irregularidades, o jornal se deparou com informações inconsistentes, mas ao contrário do esperado, sem nenhuma relação direta com o petista. Ao buscar sobre os proprietários do hotel, no Panamá, descobriram que o empreendimento era controlado por uma offshore no paraíso fiscal, e tinha como registro o nome de um suposto laranja, Jose Eugenio Silva Ritter.
 
Em tom de denúncia, o Jornal Nacional anunciava que o suposta laranja estaria ligado a Dirceu, ainda que sem nenhum indício a respeito. Novamente cometendo a mesma falta de apurações, o Estadão publicou a notícia neste domingo: “‘Laranja’ no Panamá é elo entre Dirceu e outros alvos da Lava Jato”.
 
A matéria novamente insiste que o tal laranja, José Eugênio da Silva Ritter, era a ponte entre todos os supostos criminosos da Operação Lava Jato: José Dirceu, Pedro Barusco e o ex-gerente da Petrobras, Edison Krummenauer. “[Eles] têm em comum suspeitas sobre a utilização do mesmo esquema para a abertura de empresas em paraísos fiscais”.
 
Com o mesmo erro, o jornal omite o fato de que o tal laranja, o cidadão panamenho José Eugenio Silva Ritter, que foi usado como a ponte para os “criminosos” da Lava Jato, aparece ligado a nada menos do que mais de mil empresas relacionadas ao escritório Morgan & Morgan, conhecido como um grande lavador de dinheiro.
 
A notícia do Estadão seria que documentos entregues para a equipe de investigadores da Lava Jato “dão conta de que ambos os agentes da estatal utilizaram o mesmo ‘laranja’ indicado pelo escritório Morgan & Morgan”.
 
O uso das empresas laranjas no Panamá foi alvo de indícios uma vez que o próprio ex-executivo da estatal Edison Krumennauer em acordo de colaboração premiada admitiu ser representante de uma das empresas abertas no país para a lavagem de dinheiro e remessa de propinas. Neste caso, ele foi obrigado a pagar mais de R$ 4,5 milhões em multas e a devolução de US$ 3,4 milhões depositados na Suíça.
 
Da mesma forma, Barusco também foi acusado de recebimento de recursos por empresas offshores no Panamá. Uma das empresas teria recebido US$ 11,2 milhões de propinas e outra US$ 7,2 milhões. Já Dirceu não teria nenhuma conexão com tais empresas, e o Estadão deixou a informação em aberto, conseguindo mencionar apenas que “uma das filiais da JD Assessoria, apontada como empresa utilizada para receber propinas a José Dirceu, chegou a ser registrada no Panamá no mesmo endereço do escritório Morgan & Morgan”.
 
Assim, de forma completamente genérica e sem indícios, o Estadão afirma que o panamenho José Ritter “é a ligação entre os alvos da Lava Jato”. Nesse meio inconclusivo, o único dado concreto é a de que offshores teriam sido usadas pelos investigados da Lava Jato, o que não é notícia, uma vez que a informação já era de conhecimento público desde o início das apurações.
 
Assine
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Impressionante a fixação da

    Impressionante a fixação da imprensa CCC-Conservadora-Compromissada-Corporativa para com o José Dirceu. Já de há muito transcende a dimensão da Política para se apresentar como uma patologia a ser ainda categorizada pela Ciência. 

    Esse exagero no nível da obsessão paradoxalmente produz efeito contrário a que se propôs, ou seja, transforma seu alvo em vítima e alimenta ainda mais o mito em torna do mesmo.

    .

     

  2. Já deu né?
    Evito de entrar em ondas de ódio em minha vida. Prefiro antes tentar compreender o que move as pessoas e as instituições, mas vejo que é uma pegada fácil para o ódio.
    Repudioo essa perseguição ao José Dirceu e adquiri desprezo completo por essa mídia bandida e escrota.

  3. O PIG e a Lavajato são iguais aos Brucutus da Internet

    Num artigo intitulado ‘Os Brucutus da Internet’, Luiz Gonzaga Belluzo asseverou:

    “Escrevi em outra ocasião que os bárbaros do teclado manejam com desembaraço a técnica das oposições binárias, método dominante nas modernas ações e interações entre os participantes das redes.  Nos comentários da internet, vai “de vento em popa” o que Herbert Marcuse chamou de “automatização psíquica” dos indivíduos. Os processos conscientes são substituídos por reações imediatas, simplificadoras e simplistas, quase sempre grosseiras, corpóreas. Nesses soluços de presunção opinativa, a consciência inteligente, o pensamento e os próprios sentimentos desempenham um papel modesto.  Convencidos da universalidade do seu particularismo, os internautas comentaristas distribuem bordoadas nos que estão no mundo exatamente como eles, só que do lado contrário.

    Os indivíduos mutilados executam os processos descritos por Franz Neumann em Behemoth, seu livro clássico sobre o nazismo: “Aquilo contra o que os indivíduos nada podem e que os nega é aquilo em que se convertem”.  O que aparece sob  a forma farsista de um conflito entre  o bem e o mal está objetivado em estruturas  que enclausuram e deformam as subjetividades exaltadas. A indignação individualista e os arroubos moralistas são expressões da impotência que, não raro, se metamorfoseia em violência ilegítima.”

     

    Tal qual os Brucutus da Internet, dos quais são os heróis, o PIG e a Lavabosta substituíram os processos conscientes por reações imediatas, simplificadoras e simplistas, quase sempre grosseiras e corpóreas, dando bordoadas naqueles que não rezam pelas suas cartilhas.

    Tristes trópicos

  4. Vejo que José Dirceu vem

    Vejo que José Dirceu vem servindo à mídia, desde o malfadado mensalão, como massa de manobra, visto que Lula saiu-se ileso daquela inquirição demoníaca. Seria preciso meter o malho em alguém muito próximo a Lula, e ninguém melhor que Dirceu. Aí, se a cada dia vai haver mais e mais ilações contra o ex-ministro petistas, fica assim: falando em Dirceu a gente lembra de Lula, e tá feito o negócio.

    Tal como Lula, segundo ele próprio tem dscrito, é possível que Dirceu já tenha tido sua vida virada, revirada, e revirada mais e mais vezes, daí a impossibilidade de existir algo além do já colocado. 

    Isso é o mal maior da nossa imprensa, ávida em destruir, de vez, um político. Fará qualquer negócio, sujo ou imundo, mas há de fazer sempre, sempre, sempre, até quando, meu Deus?!

  5. É impressionante a falta de honra

    de dignidade, o mau-caratismo de Jornalistas da grande mídia. Os Jornalistas do Estadão, Rede Globo perderam a vergonha na cara de vez. 

    Já teve alguém que lembrou a tragédia envolvendo Sylvia Serafim Thibau que matou o Jornalista Roberto Rodrigues. 

  6. Saiu para dar uma voltinha e

    Saiu para dar uma voltinha e uma pincelada de “justiça e civilidade” ao arbítrio. Vai voltar rapidinho…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador