As disputas pela Procuradoria Geral da República, por Luis Nassif

E, finalmente, o carnaval que está sendo montado em torno de Deltan Dallagnoll, contando com a sobrevida de Sérgio Moro e de sua (inexistente) influência sobre Jair Bolsonaro.

Desde que foram instituídas as listas tríplices, para escolha do Procurador Geral da República, as eleições do Ministério Público Federal se tornaram bastante similares às do sistema político que pretende erradicar.

Não pelo financiamento de campanha, posto que o eleitorado é restrito e localizado. A única tentativa, aliás, foi a fundação que administraria R$ 2,5 bilhões, mas aí permitindo à Lava Jato o financiamento de uma estrutura nacional de poder, não mais restrita  aos limites do MPF. Mas pelas alianças e promessas para agradar os eleitores e pelo fato de surgirem candidatos não programáticos, focado exclusivamente em demandas corporativas, ou na conquista pura e simples da simpatia dos eleitores – tratando-os pelo primeiro nome, em exercícios de memória a altura de Paulo Maluf.

Em geral são candidatos que passaram pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), uma excrescência corporativa porque, de clube social, incumbido de administrar seguros de vida dos associados e organizar a reunião anual da classe, tornou-se também responsável pelas eleições para a lista tríplice da PGR. Esse modelo de eleição, acatado pelo republicanismo ingênuo do PT, garantiu a candidatura de procuradores inexpressivos, como Roberto Gurgel e Rodrigo Janot.

É por aí que se entende a deterioração dos valores do MPF. A mediocridade de sucessivos PGRs, em uma fase crítica de expansão dos concursos, fez com que a missão e os princípios do MPF não fossem assimilados pelas novas gerações, a dos concurseiros, encantados pelos altos salários, com o poder arbitrário emanado da Lava Jato e fortemente influenciados pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pela exposição das redes sociais.

As últimas eleições, paradoxalmente, giraram em torno de nomes com peso na instituição e não apenas meros burocratas: Nicolao Dino do lado penal, Raquel Dodge mesclando lado penal e de direitos humanos; e Mário Bonsaglia, um bom representante do MPF junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP); correndo por fora, Ella Wiecko, nome referencial na área de direitos humanos.

Dos nomes aventados para o próximo mandato, há representantes de peso para cada uma das linhas programáticas do MPF. Do lado penal, o procurador Vladimir Aras, nome respeitável na cooperação internacional, espécie de representante discreto e profissional da Lava Jato,  longe do exibicionismo e da irresponsabilidade dos procuradores da Lava Jato do Paraná. Do lado dos direitos humanos, o vice-procurador Luciano Maia. E a própria Raquel Dodge, que não está fora do jogo. São procuradores com biografia, competência comprovada no trabalho (não junto à imprensa leiga e às redes sociais), e responsáveis em relação à imagem do MPF. Pode-se concordar ou discordar de suas posições, mas as divergências se dão dentro do plano racional e nenhum deles procurou se aproveitar do poder do MPF para atos personalistas irresponsáveis e comprometedores da imagem da instituição.

Ao lado deles, surgem nomes vazios, como o presidente da ANPR José Robalinho Cavalcanti, legítimo representante do mais deslavado espírito beija-mão da capital federal. Outro nome aventado é de Guilherme Schelb, denuncista dos anos 90, que depois se transformou em fundamentalista religioso. Mas seu nome estava empinado pela convergência de ideias com os fundamentalistas religiosos bolsonarianos. Com os Bolsonaro fora do jogo, seu nome desaparece. Um terceiro nome é o de José Bonifácio Andrada, estreitamente ligado a Aécio Neves e representante do conservadorismo político mais entranhado do MPF.

E, finalmente, o carnaval que está sendo montado em torno de Deltan Dallagnoll, contando com a sobrevida de Sérgio Moro e de sua (inexistente) influência sobre Jair Bolsonaro.

O clima eleitoral se acirrará nos próximos meses e coincidirá com o suspiro final de Jair Bolsonaro – que não deverá ter muito tempo de vida política – e da própria Lava Jato.

Há em andamento uma aliança entre STF, Congresso, PGR, Alto Comando das Forças Armadas e setores empresariais, visando livrar o país do desastre Bolsonaro. O movimento pela frente irá questionar também a acumulação indevida de poderes ocorrida nos últimos anos, alimentada pelo anti-comunismo mais vulgar.

É pequena a probabilidade de sair um MPF revigorado, recuperando os valores e missão. Mas, pelo menos, que haja um mínimo de consciência da corporação, não em relação ao Brasil – destruído institucional e economicamente pelos desmandos da Lava Jato e de Janot-, mas pelo menos pela sobrevivência das prerrogativas do MPF.

Luis Nassif

14 Comentários

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  1. Isso se o plano do capetao pateta não for desgastar o congresso e o stf ainda mais com vistas a fecha-los com apoio popular, o auto golpe levantado por Mourao durante a campanha. Talvez por isso tão pouco empenho na reforma da previdência?

  2. Caro Nassif, muita ingenuidade sua “crer” no desbolsonarismo por parte dos elencados. Enquanto não se completar 2 anos de mandato, com a posse do vice, seguirão as baboseiras da família “neoimperial” imperialista a tuítar adoidadas mensagens sem pé nem cabeça. Portanto, caberá o “missias” a tarefa de “coroar” o novo pgr (homi ou muié): e o dalanholdosdoisbi é o candidato “expectorante” do bolsonado, com o aval do desMoronado que, sabem as antas, não pode renunciar (e nem será renunciado). Tempos piores virão.

  3. Essa galerinha se reunir pra se livrar do coiso não significa que seja para o bem estar do povo…….

    O Brasil não é um.pais desigual e perverso, com seu líder mais popular preso à toa…..

    Todos esses citados tem grande parcela pelo país ser esse inferno para a maioria da população…..

    Isso de concertação de instituições não engana mais ninguém…. são capazes de chegarem a velha solução do parlamentarismo pra alijar o povo do processo eleitoral….. é o velho sonho da elite carcomida de uma democracia sem povo…….

    Aliás, onde essa turma se intromete nunca sai boa coisa…..

  4. Alguém precisa avisar a certos procuradores – e não são poucos – que Ministério Público e autoritarismo são como água e óleo. O que era o MPF nos tempos da ditadura militar? Um nada absoluto. É para onde ruma.

  5. Não sei de onde saíram esses elogios para Dodge. Não vi diferença dos anteriores, já que é movida contra o PT também. Quanto à lista, me agradaria se Bozo apenas rasgasse e fizesse como FHC: cagasse na cabeça desse monstro. O MP tem que voltar para seu lugar

  6. O Ministério Publico saiu dos trilhos e ameaça o sistema democratico. O tal monstro reveleu-se. Se vier um tipo dalagnol pela frente ai que a casa cai de vez. Essa gente é despreparada, megalomana, intolerante, sem cultura. São os jovens turcos desses tempos fundamentalistas com tendência fascista. E o que choca são os ataques ao proprio aparelho judicial desde que este defenda as garantias e a Constituição. Atacam o STF para que este fique refem de suas ilegalidades cometidas em suas operações. Enfim, Dallagnol como PGR é a declaração de guerra aberta ao STF.

  7. Eu não estaria tão seguro, antes de se derreter o Bolsonarismo ainda vai causar danos imensos ao país.
    Como dizia meu pai não existe limite ao pior, então não excluiria o Dallagnol na PGR a priores, infelizmente.

  8. O mais assustador de se observar nessas milícias corporativas, é que elas exercitam e materializam, na sua essência, a supremacia daquele princípio abjeto, atribuído pelo capitalismo a Lenin: Acuse seus inimigos de fazer o que vc faz!

    As milícias corporativas, junto com seus comparsas midiáticos, mantém uma campanha sistemática permanente contra as organizações sindicais legítimas representantes dos trabalhadores. Mas, oras, o que é e de que tratam as associações dos milicianos corporativos, como a ANPR, a AMB, a AJUFE e outras tantas ma$$onaria$$ corporativas?

    Os milicianos corporativos proclamam sua abominação ao “modo antigo de fazer política”, por meio de acordos celebrados na base do TOMA LÁ, DÁ CÁ!! Ora, qual é a base de sustentação do acordo político celebrado entre as milícias e as lavanderias empresarias sonegadoras integrantes do cartel das comunicações? É justamente o TOMA LÁ, DÁ CÁ!! A bandidagem empresarial da publicidade às milícias e as milícias retribuem com garantia de imunidade penal para essas grandes empresas. Exemplo, o caso GLOBO/Mossack-Fonseca, é apenas um.

    E a que servem e onde atuam os principais representantes dessas milícias corporativas? São todos fiéis e estão todos integrados à grande loja Instituto Innovare. É só dar uma olhada na página da tal loja e ver que estão todos lá felizes e prestativos, em campanha política permanente. Inclusive o Robalinho, rendendo homenagens ao Capo.
    https://www.premioinnovare.com.br/conselho-superior

  9. Bom dia, alguns problemas de navegação no site continuam.

    Ao entrar na página de um usuário, é impossível navegar pelos posts mais antigos já publicados.

    Por exemplo, ao entrar no endereço “https://jornalggn.com.br/usuario/luis-nassif/” vejo as 10 últimas postagens desse usuário e, ao fim da tela, o botão de “carregar mais publicações”.
    Ao clicar nesse botão, no entanto, aparecem os posts mais recentes publicados em todo o site, e não os post mais antigos do usuário em questão.

    Grato pela atenção.

  10. Entenda-se que o Brasil é o país da diversidade onde convivem, ora pacificamente, ora em guerras sangrentas, as ovelhas, lobos, leões, hienas, corvos, parasitas, sanguessugas, mosquitos, ratos, antas, veados, burros, pavões e outros bichos.

  11. nada a ver com o assunto, mas é bom ficarmos de olho nas mentiras inventadas pela grande mídia e por esses representantes do conluio com ela, esses representantes que fazemxparte de setores do mpf e do judiciário…
    de olho então na origem das notícias, se é da grande mídia – estadão, etc – pode ser inventada, mentirosa…
    até sites progressistas podem ser engnados por essas mentiras.

  12. nenhum deles procurou se aproveitar do poder do MPF para atos personalistas irresponsáveis e comprometedores da imagem da instituição.

    kkkkkk basta assumir que as garras aparecem

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