Bresser-Pereira: “Mujica tem pena; eu, vergonha”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Reprodução/Youtube
 
Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
 
Pena e vergonha
 
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O ex-presidentedo Uruguai, Pepe Mujica, declarou ontem à BBC Brasil que tem pena pelo Brasil. Eis sua frase inteira: “Me dá pena. Pena pelo Brasil por ver o que aconteceu com uma comissão que estava estudando as eventuais acusações, em que tiveram que mudar a composição dessa comissão. E tudo indica que houve muita influência para poder colocar gente que não decepcionasse o governo”.
 
Mujica tem pena; eu, com os mesmos 82 anos, tenho vergonha. Não por Temer e seus amigos, que deveriam estar na cadeia; não pelo Brasil e seu povo, que é a vítima de tudo isso – da ganância e da corrupção dos ricos e seus fâmulos. Tenho vergonha pelas elites econômicas e burocráticas que continuam a sustentar no poder um governo desmoralizado, que atende a todos os seus interesses imediatos.
 
Essas elites apoiam o governo porque ele realiza as “reformas” que salvarão o Brasil – na verdade, que colocam todo o peso do ajuste econômico de que necessita a economia brasileira em cima dos trabalhadores e dos pobres. E poupam a si próprias, continuando a cobrar juros de usura do Estado brasileiro. Sempre com o apoio de economistas liberais, com a justificativa que os juros extorsivos “são necessários para combater a inflação”.
 
Sim, o Brasil precisa de ajuste. Mas o ajuste necessário não é só fiscal, e não deve ficar apenas por conta dos trabalhadores. Deve também ser monetário e cambial. Deve reduzir a taxa de juros básica e os spreads bancários, e, através de um câmbio competitivo, deve reduzir o consumo não apenas dos trabalhadores (como hoje faz), mas também dos financistas e rentistas. Só dessa maneira, colocando os juros e o câmbio no lugar certo, mesmo que isto reduza um pouco os rendimentos de todos – trabalhadores e rentistas – e a riqueza dos rentistas, as empresas industriais brasileiras poderão voltar a ser competitivas, e o Brasil poderá voltar a crescer.
 
Muitos líderes dos trabalhadores sabem disto, e por isso defendem um acordo com os empresários industriais. Mas estes estão enfraquecidos e não têm confiança nas lideranças sindicais. Permanecem, assim subordinados aos rentistas e aos financistas. Que, associados aos interesses estrangeiros, não têm pena do Brasil, nem vergonha de si mesmos. Eles são donos da “verdade” – de uma “racionalidade econômica” que serve a seus interesses – e continuam a se enriquecer, e, na medida em que o ajuste que promovem nunca é completo, continua a vender os ativos brasileiros ao exterior.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1.  
    Será que o Bresser não tem

     

    Será que o Bresser não tem vergonha de apoiar o governo venezuelano?

    O que tem de acontecer para descongelar o coração siberiano de um esquerdista brasileiro?

    1. será…

      Caro ou cara Orihime, não tenho simpatia alguma por este fundamentalismo esquerdopata (por fundamentalismo algum, na realidade), mas é preciso entender como funcionam os fatos e reações das sociedades. A Venezuela é um extraordinário produtor de petróleo, único membro da Opep fora da Ásia. Mas mesmo assim sua população viveu em extrema miséria por mais de 1 século, com o petróleo explorado por Cias. Americanas. Toda sua Elite mora nos EUA há décadas. Chavez foi o tansbordamento da situação. E quando há um transbordamento, ninguém segura.  Água morro abaixo é destruição. Destruição de velhos nepotismos, de velhas oligarquias, de velhas elites, de velha escravidão. A Casa Grande deles, ou ruiu ou já estava há muito em Miami. É a história venezuelana. Que nosso vizinhos consigam trilhar caminhos democráticos. Mas que tenham conseguido extinguir velhas politicas, que nãio voltem nunca mais, não apenas esta revolta bolivariana.  

    2. Ou cara! O Bresser, pela que

      Ou cara! O Bresser, pela que me consta é de nacionalidade brasileira e, era filiado ao PSDB. E tú, ao que parece, é norte-americano? Ou apenas copias esse hábito doentio de interferir na vida dos outros povos?

      Lá na Venezuela, os capachos de Washington estão na oposição. Enquanto os vira-latas locais, assaltaram o Estado brasileiro e, o estão transformando na República da Bananolândia tucano-demo-pmdb, aliados aos golpistas do judiciário, mp, pf  et caterva. Logo logo, o receptador Tio Sam, vem buscar a mercadoria roubada.

      Orlando

    3. Tem muito coração congelado

      Tem muito coração congelado aqui em baixo que não se importa em entregar um país a um canalha, desde que ele seja um canalha de esquerda.

      E mais, se não me engano o plebiscito feito deu 98% contra a manobra do Maduro para se perpetuar no poder.

      Será que 98% da população contra um governo não é suficiente para descongelar corações esquerdistas?

      Ou então 100 pessoas mortas nas manifestações contra o governo, mortas a bala tambám não descongela corações esquerdistas?

      O Povo nas ruas não são o suficiente para descongelar um coração esquerdista?

      E os milhares de índios venezuelanos que estão migrando para o Brasil também não descongelam o coração esquerdista?

      E as crianças com sinais graves de desnutrição.

      Corações gelados como um iceberg. 

      1. Pesquisa melhor, vai!

        Pesquisa direitim…

        98% dos que foram votar.

        Mas esses que foram votar, em um plebiscito convocado por eles mesmos, não são um terço da população venezuelana!

        Você entende o que é maioria, né?

        1. Os que não foram estão satisfeitos?

          Você quer dizer que os que não foram estão satisfeitos?

          Ou será que tinham medo de virar o 101, 102, 103…

  2. Itaú e Globo: parceiros no ódio

    Penso que no vértice do comando de destruição do Brasil, duas instituições têm destaque: Itaú e Globo.

    Moro, Temer, Aécio etc. são criminosos traidores do Brasil. Porém, são apenas servos do poder econômico e dos interesses estrangeiros. São descartáveis como Eduardo Cunha.

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