Caso do suicídio do reitor: pequena ópera sobre a banalidade do mal, por Luis Nassif

Em algum momento haverá uma justiça de transição que penetrará fundo nos crimes cometidos nesses anos de libações sangrentas. Mas, até lá, ainda haverá o estupro rotineiro da Justiça

Ato 1 – a banalidade do mal

Em 1950, Walt Disney produziu um desenho memorável, sintetizando exemplarmente as mudanças de comportamento de uma pessoa quando exposta ao trânsito caótico da era do automóvel.

O ator principal era Pateta, o mais bonachão dos seus personagens. Sai de casa leve, entra no carro e, ali, se processa a transformação. Vale a pena assistir porque é uma síntese perfeita da psicologia de massa do fascismo, da banalidade do mal descrita por Hanna Arendt, em um período em que a mancha do nazismo e do holocausto obrigara a humanidade a parar, pensar e analisar seus atos, no breve momento que antecedeu a volta da barbárie.

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Ato 2 – o caso do reitor Cancellier

No episódio que resultou no suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a delegada da Polícia Federal Erika Melena, com síndrome de abstinência, decidiu promover um belo espetáculo de remake dos shows inesquecíveis da Lava Jato de Curitiba, convocando centenas de policiais de todo país a Florianópolis para prender professores universitários, com cobertura total da mídia, pela suspeita de desvios de verbas de cursos de extensão. Foi um dos episódios mais dantescos de um tempo de infâmia e de truculência, que acabou levando à morte, por suicídio, do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

A corregedoria da Polícia Federal considerou normal o trabalho da delegada Erika, o Conselho Nacional do Ministério Público não viu nada demais na denúncia do procurador André Bertuol, o Conselho Nacional de Justiça nem analisou a sentença da juíza Janaina Machado. E a violência foi naturalizada pela mídia para não atrapalhar a parceria com a Lava Jato.  Aquilo, deu nisso, mas o Brasil institucional é por demasiado primário, descompromissado com valores, apegado ao imediatismo mais tosco, para imaginar as consequências dessa flexibilização dos direitos.

Ato 3 – o cidadão do bem

Este senhor é o procurador André Estefani Bertuol em seu ambiente de trabalho. Atrás dele, três retratos de familiares em lugar de destaque na estante, denotando um pai amoroso, um homem família do bem. O sorriso descreve um sujeito pacífico, afável, algo tímido. Os cabelos bem assentados, a gravata no lugar, a barba escanhoada, o terno discretamente elegante demonstram sua preocupação em não destoar do seu ambiente, do formalismo jurídico, sem ostentação.

A foto é tão reveladora do homem-família que pode-se imaginar que, no dia 2 de outubro de 2017, ele chegou em casa, deu um beijo nas crianças, afagou o cachorro. Depois tirou o terno e a gravata, provavelmente colocou um roupão, para ficar mais à vontade, jantou e foi com a família assistir no Jornal Nacional o coroamento de sua carreira: o suicídio do reitor Cancellier.

Graças a esse feito, o homem comum saiu da obscuridade do trabalho profissional e ganhou o reconhecimento dos seus pares.

Em um evento meigo, porque mesclado com a entrega de prêmios do 10º Concurso de Desenho e Redação do CGU, o convescote dos homens bons homenageou Bertuol por sua incessante luta contra a corrupção. A homenagem foi preparada pelo Ministério de Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) nas comemorações do Dia Nacional contra a Corrupção, sintomaticamente no auditório da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) dos bravos ruralistas.

Ato 4 – como o cérebro se amolda ao ambiente

Respeitando a diferença de dimensão, esse sentimento do dever cumprido, e dos estímulos do reconhecimento social, também era comum nos principais carrascos do nazismo, como era comum nos delegados do DOI-CODI que matavam as pessoas de dia e à noite iam encontrar amigos no Bar do Leo para conversas amenas de pessoas normais, garantidores da paz e da ordem.

Significa que, antes desses tempos turbulentos, eram pessoas com instintos assassinos? Provavelmente não. Significa que os tempos moldam o seu caráter, induzindo-os a serem o que a sociedade da época esperava deles. Hoje em dia, a sociedade promove não mais os bravos defensores dos direitos humanos, mas os inquisidores cruéis, que usam o poder como instrumento de tortura, com a vantagem do sangue das vítimas não respingar em seus ternos bem cortados.

Sugiro assistir (mais tarde, para não interromper a leitura) esse belíssimo depoimento no neurocientista Miguel Nicolelis.

Nele Nicolelis mostra como o cérebro humano vai se amoldando a cada situação, aos estímulos recebidos. Estímulos da religião, do respeito humano, ou os estímulos do dinheiro, neste que é o século do dinheiro, a tudo isso o cérebro vai se amoldando, se tornando mais claro, mais cinzento, mais generoso ou assassino.

Ato 5 – a guerra permanente

O homem bom recebeu estímulos variados, da mídia tratando a Lava Jato como operação heroica, de Ministros do Supremo avalizando o direito penal do inimigo, do clima de salvacionismo emanado de um jovem procurador, um tonto acreditando ser Jesus redivivo para salvar a humanidade dos cruéis inimigos venezuelanos, um clima tão feérico, orgiástico, cruel que, após assistir a morte do reitor Cancellier pelo Jornal Nacional, o procurador Bertuol provavelmente foi para a cama, tomou o chá quente e dormiu o sono dos justos. Não sem antes se despedir dos filhos com um beijo na testa. Acordou e prosseguiu em sua cruzada profilática.

Na ditadura, crianças foram mortas porque provindas de pais comunistas. Nos casos menos selvagens, eram tiradas dos pais e entregues clandestinamente a boas famílias, para se salvar do pecado. Na Inconfidência, salgou-se a terra por onde passou Tiradentes para que não nascesse nem grama. No nazismo, a mera menção ao sangue judeu era sentença de morte.

E o bravo Bertuol, envolvido pelo mesmo sentimento dos bravos oficiais da SS, sabendo que o preço da liberdade é a eterna vigilância, e que todos os frutos da árvore podre precisam ser extirpados, prosseguiu em sua cruzada para uma punição post mortem do reitor Cancellier, por sua atitude inominável de se imolar apenas para conspurcar uma operação tão linda quanto a Ouvidos Moucos, caprichosamente planejada até na escolha do nome.

E o homem bom prosseguiu obedecendo aos estímulos vingadores do seu meio, denunciando, agora, o filho do reitor. O motivo foi ter identificado um empréstimo de R$ 7 mil (atenção, sete mil reais) de um professor a ele, em três vezes. Ou seja, R$ 2.333,33 por mês, quase o custo de uma empregada doméstica. O professor havia dado aulas no curso de extensão que se tornou alvo da operação.

Como explicam os repórteres Guilherme Seto e Wálter Nunes, na Folha (aqui)

O professor da UFSC Gilberto Moritz, amigo de Luiz Carlos Cancellier, fez as transferências para a conta de Mikhail naqueles meses. Cancellier não era reitor na ocasião, mas coordenava alguns projetos acadêmicos e Moritz era bolsista em pelo menos um deles. O delegado, então, associou uma coisa à outra.

“Comenta-se que os recursos transferidos para Gilberto Moritz foram oriundos do projeto Especialização Gestão Organizacional e Administração em RH (TJ), coordenado por Luiz Carlos Cancellier, sendo este o ordenador de despesa do referido projeto. Após o recebimento dos recursos, Gilberto Moritz transferiu para Mikhail Vieira de Lorenzi Cancellier filho do ex-reitor Cancellier) o valor de R$ 7.102”, diz o relatório final da Polícia Federal.

O procurador André Bertuol não apresentou novas provas que incriminassem Mikhail, mas chegou à mesma conclusão do delegado de que ele teria se beneficiado de um suposto esquema.

Procurador é uma função derivada do “promotor de Justiça”. Segundo conceitos que se perderam pelos tempos, pelos desvãos da violência e da selvageria. Não são promotores de punição, mas de justiça. Analisam o inquérito. Se houver fundamento, denunciam; se não houver, arquivam. Por R$ 7 mil, em cima de meras ilações, abre-se o inquérito e se investe contra o filho do mal.

No suicídio do reitor, a mídia fez ouvidos moucos. Agora, expressa alguma indignação, pouca.

Ato 6 – a justiça de transição

Coube ao bravo Ministério Público Federal, em seus tempos de defensor das práticas civilizatórias, chamar a atenção para a importância da justiça de transição, de lições aprendidas desde os julgamentos de Nuremberg.

Se não se punirem os crimes do período de exceção, eles tenderão a se repetir indefinidamente. Foi esse argumento que levou o próprio Rodrigo Janot, antes dele, Roberto Gurgel, a encampar a tese, contra a opinião dos Ministros do STF que reconheceram a lei da anistia protegendo autores de crimes contra a humanidade. Gurgel foi convencido quando exposto ao drama de vítimas das torturas.

Um dos grandes sinais do nível de avanço de uma sociedade é sua empatia, sua capacidade de entender o sofrimento causado em terceiros, especialmente por práticas injustas.

Esse sentimento foi embotado na sociedade brasileira, após anos e anos de discurso de ódio penetrando em todos os poros da nação e sendo avalizados por Ministros da Suprema Corte, aí não mais agindo como soldados inebriados por reconhecimento, mas como o oficial nazista incumbido do endosso à selvageria. Quando os tempos demandavam juízes sensíveis, se comportaram como humanistas como escada para o topo. Quando os tempos demandaram vingança, se tornaram anjos vingadores. Quando a guerra se ampliou e o país necessitava de homens públicos referenciais para chamar ao bom senso, já tinham esgotado sua cota de caráter.

Em algum momento haverá uma justiça de transição que penetrará fundo nos crimes cometidos nesses anos de libações sangrentas. Mas, até lá, ainda haverá o estupro rotineiro da Justiça.

Luis Nassif

26 Comentários

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  1. Francamente… não consigo entender esses filhos da puta do MPF, da Polícia Federal e da Justiça Federal curitibana. Em 1987 trabalhei como servidor do Judiciário paulista por 6 meses, tempo suficiente para me convencer de que era melhor pedir exoneração. Eu trabalhava no Cartório da 1a. Vara Criminal da Comarca de Osasco e certa feita cometi um erro. Eu coloquei um processo de um réu preso no local errado. O advogado conseguiu um Habeas Corpus no TJSP, mas o alvará de soltura não podia ser expedido porque os autos haviam desaparecido. Durante uma semana fiquei vasculhando o Cartório inteiro até encontrar o processo e cumprir a ordem de soltura do réu. Eu não consegui dormir direito até encontrar o processo. A noite eu imaginando o que aquele pobre cidadão estava sofrendo na prisão mesmo tendo direito à liberdade. Até hoje me sinto mal quando lembro daquele episódio. Mesmo não tendo agido de maneira intencional eu prejudiquei o réu e não haveria uma maneira de compensa-lo, pois os dias que ele ficou preso não poderiam ser repostos na vida dele. Entretanto, esses filhos da puta causaram um homicídio e andam por aí como se fossem heróis e agora estão perseguindo ferozmente o filho do morto, provavelmente para convencê-lo a esquecer o que ocorreu. Não acredito que estamos diante de um mal banal. Esse mal é intencional mesmo, fruto de uma perversão cultivada: nós somos melhores, somos federais, podemos matar sem sentir culpa e sem ser incriminados. Entende o meu ponto?

    1. A Dilma não exonerou o cidadão que praticava tiro ao alvo com uma caricatura dela…….essa turma entende os recados dados pelos superiores……
      Duvido que fizesse o mesmo com qualquer demotucano, seria demitido sumariamente e que fosse reclamar no judiciario….o mais importante…o recado estaria dado…..

  2. Democracia absoluta
    Todo caos que vemos na politica, nacional e mundial, é por que tem pouca participação popular. Precisamos de uma reforma politica. O poder é corruptivo, quanto maior o poder maior a corrupção. Por isso que a politica tem que ter um controle maior do povo.
    Legislativo
    A primeira mudança seria no legislativo em seus vários níveis, onde os seus integrantes não seriam mais eleitos e sim sorteados entre os eleitores. Poderíamos começar com 50% do legislativo sendo nomeado desta maneira. A cada 2 anos haveria um novo sorteio para renovação do legislativo.
    Acredito que assim poderia aumentar o interesse do povo pela política.
    Por sorteio, este grupo de parlamentares seria bem heterogêneo, bem representativo da população brasileira.
    Com certeza, 50% destes parlamentares seriam de mulheres.
    Executivo
    Poderíamos eliminar as coligações partidárias. Cada partido apresentaria seu próprio candidato a Presidente, governador, prefeito e seus vices.
    50% do legislativo, o 50% não sorteado, seria eleito proporcionalmente aos votos dados aos candidatos do executivo.
    Para dar mais controle do executivo pelo povo, a cada dois anos haveria um plebiscito para confirmar ou não a permanência do mandatário no cargo. Caso o “não” vencesse seria feita uma nova eleição para aquele cargo.

  3. Parabéns, Nassif.
    Em algum momento, a expressão “banalidade do Mal” será substituída, para fins de explicação do novo “normal da civilização”, pela expressão “banalidade do Bem”.
    E tanto o velho quanto o novo “normal da civilização” serão desmascarados, e voltarão a ser o que sempre foram, antes do verniz iluminista (o de Diderot, não o do Barroso): a banalidade da Humanidade.
    Bem e Mal não existem, são apenas os nomes que se dão às consequências da ação humana, a depender do ponto de vista.
    Existe é homem humano.
    Travessia.

  4. “… a delegada da Polícia Federal Erika Melena…”

    Muito obrigado, Nassif, pela maior risada da semana, só tome cuidado pra não levar um processo da proba delegada Marena, já que melena são aquelas fezes escurecidas (cor de borra-de-café) evacuadas por doentes com hemorragia digestiva alta rsrsrs

  5. A Dona Mariza, o Cancelier, o PHA, os jornalistas do jornal a Gazeta de Curitiba (denunciaram as falcatruas que “juízes” faziam para turbinar seus salários), o Presidente Lula, o José Dirceu e o jornalista mineiro que denunciou o quanto o Aécio Neves é criminoso e todos os atingidos por esse Judiciário e MP brasileiro, provavelmente agradecem ou agradeceriam (se pudessem) por este artigo. Não é a banalidade do mal, mas sim o prazer de fazer o mal.

  6. “haverá uma justiça de transição que penetrará
    fundo nos crimes cometidos nesses anos
    de libações sangrentas”.
    enquanto houver artigos como esse,
    haverá esperanças….

  7. A inépcia da acusação pode ficar demonstrada, pois o filho de Cancellier foi acusado de peculato. Pelas normas jurídicas, peculato se refere a desvio para si ou para outrem de dinheiro e ou vantagens realizado por um funcionário publico. Na época dos fatos citados na denuncia, o filho de Cancellier era estudante portanto não poderia cometer peculato. E so posso pensar que o seu nome esta no processo apenas como uma tentativa de justificar a barbarie de prender um reitor leva-lo a penitenciária, humilhá-lo com uma revista íntima e posteriormente proibi-lo de pisar na universidade. Uma especie de banimento que foi estendido a outros professores.

  8. Esqueceu de mencionar que quem primeiramente fez as denúncias contra Cancilier foi o Rodolfo Hickel, um fascista ordinário que na época era corregedor da UFSC.

  9. São caçadores de recompensa mal e pouco amados…
    como conhecem os defeitos e as fraquezas das pessoas da turma sulista, pode ser que pratiquem estas barbaridades com a intenção de serem melhor e mais amados(as)

    bandidos de classe também só reconhecem glamour na malvadeza

  10. Faço votos para que cheguemos, um dia, a algo como um mini Nuremberg…….não digo isso por desejo de vingança(talvez un tiquinho, minusculo e quase insignificante..) e nem comparo a situação atual do Brasil ao pós-(segunda)guerra, mas se o Brasil quer ser “alguém,algum dia” num futuro +ou- próximo, vai ter que confrontar seu passado recente e menos recente, e vamos ter que por na cadeira uns tantos “Adolf Eichmann”…..e os milicos, que saíram sem grandes problemas da ultima ditadura, vão ter muito coisa para explicar…….e a turma do judiciário, está a muito tempo, merecendo “degustar” estar na posição contraria…..acho que o Brasil não suporta mais, um novo acordo por cima/elites…

    Exemplo,da barbárie generalizada …a morte “banal”……o novo normal……

    Entregador do Rappi passa mal, é ignorado por empresa, Uber e Samu e morre em SP

    https://outline.com/UVB6mt

  11. Engraçado, eu sou honesto, trabalhador; não saboto meu pais, nunca aceitei ser corrompido, nem corromper. Comigo, esse facismo apregoado nunca aconteceu de me perseguir. E tenho certeza, jamais, jamais vai me perseguir. Muito menos me levar ao suicídio. O medo de vcs; é ver um Brasil no primeiro mundo, com decência e dignidade. Vcs pregam venezuela, cuba…… mas curtem Europa e América do Norte. Vai trabalhar pela nação tal de nassif.

    1. Nivio, o tosco…. Revela um pensamento inerente ao atual fascismo vigente no Brasil…. E se vangloria de seus pares não persegui-lo. É patético!

  12. “Esse sentimento foi embotado na sociedade brasileira, após ‘anos e anos de discurso de ódio’ penetrando em todos os poros da nação…”
    O ódio sempre existiu numa sociedade, pois é alimentado por desigualdades sociais, preconceitos , hipocrisia dos poderosos, etc. e assim independem de diferenças ideológicas.

  13. …da banalidade do mal e sua necessidade de álibis morais que mantenham a farsa…
    .
    Nassif, a expressão consagrada por Hannah Arendt, (“A banalidade do mal”) absolutamente apropriada em seu artigo, traz de modo subliminar um outro conceito, que Lula, de modo brilhante intuiu, no dia em que disse a Sérgio Moro:
    “Doutor, o senhor tem que me condenar de qualquer jeito, o senhor não tem saída… Porque o senhor CRIOU UM ENREDO DO QUAL NÃO PODE FUGIR! O senhor começou contando uma mentira, que precisa sempre de mais mentiras para tornar coerente o seu script”…
    .
    Mais ou menos essas foram as palavras de Lula ditas ao seu carrasco. Lula já sabia àquela altura, que não lidava com um juiz em seu estado normal, que as leis, a Constituição, as provas (ou sua ausência…) de nada valiam! Uma vez criado o enredo, totalmente endossado pela mídia, que outro final, de fato, Moro poderia dar à sua novela, mesmo que não fosse o ser psicótico que se revelou ao longo dos anos? Nem um outro fim seria aceito pela sociedade, causaria perplexidade e até revolta contra o ex-juiz, tornado herói JUSTAMENTE POR INFLIGIR AO “SATANÁS BRASILEIRO”, todo o massacre que, a essa altura, boa parte da sociedade (bestializada em último grau!) ansiava que acontecesse…
    .
    A banalidade do mal (e confesso que não sei se Hannah Arendt estudou esse aspecto ou não…) traz em si essa NECESSIDADE de se JUSTIFICAR PELA “COERÊNCIA”, ou seja, pela repetição das maldades, pelos “elos da novela criada” pelos agentes inventores e causadores daquele processo social pervertido, transmutado em “coisa boa” para ser aceito e digerido pela sociedade manipulada.
    NÃO SE INVENTA UMA LAVA JATO, para absolver Lula, “o chefe da quadrilha”, ao final.
    .
    De que vale esse exemplo para o caso INACREDITÁVEL do reitor Cancellier e agora, o seu filho, do mesmo modo canalha, covarde, acusado sem provas…? A mesma necessidade perversa da tal “coerência do mal” – não basta ter se tornado BANAL, odioso, farsesco: há de se criar outras pantomimas, visando especificamente, “dar uma aura de justiça” à toda a selvageria e barbárie cometidas contra o reitor. Que o filho pague pela ousadia do pai em confrontar com seu suicídio, a “pureza de intenções” do procurador André Bertuol, da delegada Érika Marena, enfim, de todos esses “homens e mulheres de bem” que, afinal, “combatem o flagelo da corrupção”…
    .
    A Lava Jato apenas começou a ser desmantelada, desnudada, envergonhada em todas as suas obscenidades imundas. Ainda é forte o suficiente para PRECISAR dessa coerência sórdida que o mal tornado banal necessita como ÁLIBI MORAL.
    .
    Como os nazistas, depois de matarem as primeiras centenas de judeus, se interrompessem ali o processo (o mal…) teriam que se olhar no espelho e enxergarem ali os assassinos que eram.
    .
    O mal jamais buscará o espelho da verdade. A ele interessa a banalidade, esse “tornar-se normal, natural…”.
    Daí a sua necessidade de se retroalimentar continuamente.
    .
    Lula intuiu todas essas coisas, por isso se sabia de antemão, condenado.
    É exatamente o que acontece agora, com o Mikhail Cancellier. Ele é o álibi da vez, dos néo-nazistas da Lava Jato.

    1. Eduardo, sinceramente chorei lendo seu comentário, parabéns pela sensibilidade e lucidez.
      Nunca votei no Lula, mas lamento profundamente o que lhe aconteceu, nunca o considerei um ‘santo’ ou um ‘monstro’; nunca disse nada sobre sua prisão, pq não tenho embasamento, mas me lembro do Ciro, mesmo criticando-o, sempre reiterou que sua prisão era ilegal.
      Nunca saberemos qual o nível de responsabilidade dessa farsa pela morte de dona Marisa e de PHA. Mas a morte do Cancellier foi causada por essa sociedade doente, que adora vilões e espetáculos de caça às bruxas. Eu entendo esse homem ter se matado, o nome dele nunca seria limpo, hj, talvez. Vivemos uma época em que verdade e mentira, certo e errado, legal e ilegal são conceitos abstratos.

  14. A QUEM RECORRER SE A JUSTIÇA EH CRIMINOSA
    ?
    Moro cada ver mais parecido com o terrível Filinto Müller…..
    .
    ……Cancelier foi atacado em meu direito de ir e vir e agora, preso e humilhado de forma arbitraria, optou pelo suicidio
    .
    ….a quem ele deve recorrer se a polícia e a Justića, assim como meus agressores, são também fascistas : horrivel
    .
    …era uma vez um pais republicano que se tornou cada vez mais parecido com Honduras pós golpe….

  15. Fazer da própria morte um ato político, escolhendo um ponto comercial movimentado (um shopping), é uma distorção do senso das proporções.

    1. Ele poderia ter optado por matar-se na frente de um ministro do governo golpista fascistoide e entreguista, como ocorreu dias atrás….é cada comentário que dá licença viu

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