Com julgamento de Lula em vista, delação da Odebrecht começa a ser questionada

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Um dia após noticiar que o julgamento de Lula em segunda instância foi marcado para janeiro de 2018, a Folha de S. Paulo decidiu publicar uma reportagem que diz estar apurando há 3 meses, sobre crimes que a Odebrecht omitiu em seu acordo de delação premiada.
 
O texto mostra que os executivos da empreiteira ocultaram fatos sobre superfaturamento em dezenas de obras – incluindo a do Rodoanel, em São Paulo – fazendo o leitor imaginar quais outros relatos embutidos no acordo e espalhados pela imprensa foram comprometidos pelos interesses da empresa.
 
E por que mostrar que os delatores disseram o que era conveniente – para a empresa e para a Lava Jato – só agora?
 
A princípio, parece que Folha iniciou um movimento tímido para desqualificar a delação da Odebrecht justamente quando a condenação de Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região promete sair no próximo mês. Não se conta nos dedos de uma mão as investigações que foram iniciadas contra o petista por causa da Odebrecht.
 
Ainda maior é a lista de políticos com foro atingidos, o que torna mais intrigante uma reportagem que tenta expôr os defeitos da delação.
 
Mas a ideia, aparentemente, não é a de criar problemas graves para a Lava Jato, já que os questionamentos da Folha sobre a delação não abrangem relatos escandalosos – como os que foram feitos por Rodrigo Tacla Duran, sobre o modus operandi dos procuradores de Curitiba. 
 
Não. A reportagem de Folha questiona o fato de que, pelo menos, 15 perícias oficiais indicam que a Odebrecht superfaturou, sim, obras que foram inseridas em seu acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, embora os executivos tenham negado. Eles só admitiram à Lava Jato pagamento de propina a terceiros e formação de cartel. O jornal publicou declaração de especialista dizendo que formação de cartel sem superfaturamento é como acreditar em Papai Noel.
 
Com a mentira ou omissão, Odebrecht teria evitado pagar uma multa ainda maior do que a que foi negociada, de R$ 6,8 bilhões – sendo que a soma das irregularidades levantadas nas perícias supera os R$ 10 bilhões.
 
O interessante na reportagem de Folha vem do meio do texto para o final, quando o procurador de Curitiba Carlos Fernando dos Santos Lima admite que o MP decidiu deliberadamente deixar as acusações por superfaturamento de fora do acordo de colaboração. A justificativa? As perícias feitas por tribunais de contas da União e dos Estados “ficam paradas por anos e nada se comprova efetivamente. O que nós fizemos foi evitar essa discussão.”
 
Foi, ao que tudo indica, um acordo win-win, onde todo mundo ganha: a força-tarefa ouviu tudo que pretendia ouvir da Odebrecht e, em troca, deixou que a empreiteira definisse o valor da multa que iria pagar, porque estava muito preocupada em garantir que a construtora não fosse “quebrar” por causa disso. 
 
“Usamos o método americano de capacidade de pagamento. Aqui no Brasil, moralisticamente, achamos que basta condenar a pagar R$ 20 bilhões e nunca executar. Nós [da força-tarefa], não. Preferimos entregar algum valor certo às vítimas”, afirmou Lima. “Se eu tivesse um acordo em que eu fosse obrigado a dizer qual é o dano efetivo e obrigasse a empresa a pagar tudo, eu não fechava o acordo”, acrescentou.
 
De outro lado, a Odebrecht segue negando as suspeitas. Diz que o “aumento do preço de obras em comparação com o valor inicial não se deve a superfaturamento, mas a aditivos contratuais previstos em lei, ou a mudanças de projetos”, publicou a Folha.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Isto me parece…

    A fala do procurador cara-de-ovo pareceu-me abobrinha. Na Itália, onde a operação mani pulite inspirou a brasileiríssima operação veritá manipolata, “abobrinha” é… zucchini. Quase um zucolotto, se me entendem…

  2. com….

    Para quem já precisou de Justiça no Brasil, sabe muito bem onde existe justiça funcionando no mês de janeiro. E não somente após o Carnaval. Só na Vara que julgará o Lula. Mas não é pra tentar tirar o Lula das eleições. É que nossa Justiça é rápida e eficiente. Vejam o dinheiro levado em Planos Econômicos? Só levou 30 anos. E a Febraran, seu dinheiro. O Brasil se explica.  

  3. Rombos e mais rombos, e esse

    Rombos e mais rombos, e esse procurador se contenta com migalhas? Quis mostrar serviço, e o que fez foi um deserviço á nação!

  4. Pode-se conjecturar a vontade

    Pode-se conjecturar a vontade acerca dos aspectos nebulosos nos processos de delações premiadas. Ao final a tendência é que tudo se confirme. A própria imprensa, instância que em tese deveria ter agido com neutralidade, exercido seu mister sem ânimos se não o jornalístico, engoliu muita coisa. Só agora, depois que “Inês é morta”, começam os questionamentos. 

    O que houve realmente foi um conluio envolvendo os orgãos de repressão,em especial o Ministério Público, delatores e a mídia compromissada. Entre os primeiros de forma expressa, já com a segunda de forma tácita. Naqueles momentos o ponto em comum, a tangência da curva, a síntese que importava era destruir o sistema político do país, e de forma especialíssima o PT e seu líder maior, Lula. 

    Lembro que em comentário feito aqui, à época, achei estranho nas delações dos executivos da Petrobras, especialmente na primeira e mais vistosa, a do Paulo Roberto Costa, as mesmas se restringirem ao uso de cartel e nunca a eventuais super faturamentos nos orçamentos/planilhas de custos. Ou seja, todas as propostas se enquadrarem no que ele denominava de “range”, uma espécie de limite, de teto, interposto pela Petrobras. 

    Nada de estranheza, portanto, se começarem a tirar desse armário muitos esqueletos. 

  5. Se não me engano…
    …”A justificativa? As perícias feitas por tribunais de contas da União e dos Estados “ficam paradas por anos e nada se comprova efetivamente. O que nós fizemos foi evitar essa discussão.” Não foi estas perícias a base do processo que derrubaram a Presidenta??????????????? Quando querem são bem ligeiros.  

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