Da arte de procurar pelo em ovo

A Folha continua firme em sua linha editorial de esquecer todos os crimes de Daniel Dantas, passar ao largo sobre as suspeitas que pesam contra jornais e jornalistas e procurar desacreditar a Satiagraha.

Confira na entrevista de Lilian Christofoletti e Mário César Carvalho com o procurador Rodrigo De Grandis.
O título é “Erro de Protógenes não invalida provas que PF reuniu contra Dantas” (clique aqui).

Compare as sucessivas tentativas de jogar casca de banana, de arrancar declarações que comprometam a investigação, com a entrevista recente com Gilmar Mendes, em que sequer é tangenciada a questão do grampo.

FOLHA – Como o sr. avalia os desdobramentos da Satiagraha, em que o delegado virou investigado e o juiz Fausto De Sanctis foi representado?
RODRIGO DE GRANDIS – Minha avaliação é específica da investigação sobre crimes financeiros, lavagem de dinheiro e corrupção. O único motivo que posso atribuir a essa movimentação, que não diz respeito propriamente ao processo, é o fato de termos atingido um conjunto de pessoas relativamente populares, como o ex-prefeito Celso Pitta, o empresário Naji Nahas e o banqueiro Daniel Dantas. E, evidentemente, o interesse cresceu por conta de algumas manifestações sobre os procedimentos adotados na Satiagraha, em especial do presidente do Supremo Tribunal Federal [Gilmar Mendes].

Sugestão de título: “Gilmar Mendes foi responsável por investigadores se tornarem investigados”.

FOLHA – Mendes disse que o juiz, a Procuradoria e a PF atuaram como milícia. O sr. concorda?
DE GRANDIS – O que existe é um trabalho institucional, como a lei determina. O inquérito policial ou qualquer outra investigação policial é feita com uma única finalidade: dar provas para que o Ministério Público ofereça uma ação penal. (…) Na Satiagraha não foi diferente. (…)

Sugestão de título: “Satiagraha foi uma operação técnica de colaboração entre instituições”.

FOLHA – Quais os erros da investigação, a ponto de ter sido tão criticada pelo presidente do STF?
DE GRANDIS – Não detectei erros. Acho que existiram algumas imperfeições. Por exemplo, achei indevida a superexposição da prisão do ex-prefeito Celso Pitta [filmada por uma equipe de TV]. Isso deve ser objeto de crítica. Agora, no que diz respeito à investigação, entendo que todos os instrumentos foram usados adequadamente. Eu me refiro especialmente às interceptações telefônicas e de meios eletrônicos e ao procedimento de ação controlada [com autorização judicial, a PF simulou negociação de suborno].

Sugestão de título: ” A Satiagraha foi uma operação que correu dentro da legalidade”.

FOLHA – A participação de membros da Abin sem a anuência da chefia da PF compromete o caso?
DE GRANDIS – Eu tenho a plena convicção de que a participação da Abin está fundamentada. Existe uma base jurídica sólida para sustentar isso. É bom que se diga que faz parte do dia-a-dia da Justiça Federal e dos processos que envolvem crimes econômicos a colaboração de outros órgãos que possuem uma característica técnica, que não pertencem à PF.

Sugestão de título: “A participação da ABIN na Satiagraha seguiu a lei”.

(…) FOLHA – Ele havia informado o sr. sobre a colaboração da Abin?
DE GRANDIS – Não.

FOLHA – Houve omissão do delegado ou do Ministério Público, que não descobriu essa participação?
DE GRANDIS – Não considero que houve omissão do Ministério Público. Eu confio no trabalho da polícia. E me manifesto sobre aquilo que chega formalmente ao processo. Nos informes que recebi, nunca foi mencionada a participação da Abin. Eu acompanhava o procedimento de interceptação telefônica e de e-mail, ambos autorizados judicialmente. Segundo os relatórios, esses procedimentos eram realizados por pessoas da própria PF.

FOLHA – Houve uma omissão proposital?
DE GRANDIS – Se o delegado omitiu do Ministério Público, omitiu também da Justiça. Acho que o único erro foi esse, foi o delegado não ter comunicado a participação da Abin. Bastaria um mero ofício ao Ministério Público e ao juiz. Teríamos evitado toda essa discussão.

FOLHA – Se tivesse sido informado, o sr. proibiria a participação da Abin?
DE GRANDIS – Não, apenas pediria ao delegado para que explicasse o motivo de ter chamado agentes e informaria o juízo com um mero ofício. Isso teria evitado toda essa discussão, que entendo ser infundada. (…)

Sugestão de título: “Um mero ofício de Protógenes teria evitado a discussão infundada sobre o papel da ABIN”

(…) FOLHA – Condenado a dez anos de prisão, Dantas recorrerá em liberdade. Esse fato serviu para a “Economist” dizer que a Justiça no Brasil não é efetiva. O sr. concorda?
DE GRANDIS – Hoje, no Brasil, qualquer investigado ou réu que tenha um mínimo de condição financeira pode contratar bons advogados que usam todos os recursos legais para evitar a prisão. É necessária uma mudança da concepção jurisprudencial ou de lei para que a sentença de primeira instância tenha eficácia imediata. A jurisprudência do STF dá uma interpretação ampla ao princípio da presunção de inocência. Isso tem de ser reduzido. Hoje temos de esperar o trânsito de todos os recursos para que alguém cumpra a prisão, o que dá a impressão de impunidade.

Sugestão de título: “Jurisprudência do STF protege criminoso rico”.

Luis Nassif

22 Comentários

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  1. Editorial da Folha de hoje
    Editorial da Folha de hoje intitulado “Corte em Reforma”,é uma bajulação só com o STF. Não que não se reconheça avanços que são naturais,sobretudos após a pequena reforma do judiciário.
    O que estarrece é o alinhamento do jornal com o STF e a arrogância em atribuir a desejos de toda a sociedade este tipo de ação.
    A sociedade não quer,ela tem direito a justiça.Não é mais possível escolher o que é importante para a sociedade. Para quem,como a Folha e o presidente do STF,defende com unhas e dentes os direitos individuais,é no mínimo estranha a posição de “escolher” matérias relevantes para toda a sociedade para serem julgadas.
    Parece que os direitos individuais são matéria para julgamento somente para uns.

  2. Mas isso não é, também, um
    Mas isso não é, também, um caso de polícia?
    Um orgão da imprensa não tem, também, responsabilidade legal pelo que publica? Não pode, também, ser responsabilizado quando produz matérias claramente tendenciosas?
    Ou também vale a presunção de inocência?

  3. “Erro de Protógenes não
    “Erro de Protógenes não invalida provas que PF reuniu contra Dantas” Agora eu te pergunto, onde ele disse isso???? Que decadência da folha!!!!

  4. Nassif,

    A folha de São Paulo
    Nassif,

    A folha de São Paulo definitivamente faz parte da quadrilha do Dantas.

    A manifestação do ombusdman, no posto anterior, poderia bem incluir o desejo de não serem presos em 2009.

  5. Considerando que:

    1) GM foi
    Considerando que:

    1) GM foi leviano ao acusar sem provas uma instituição que pertence ao arcabouço das instituições democráticas, a Abin;

    2) GM fez acusações veementes, truculentas e infundadas contra De Sanctis e Protógenes visando minar a credibilidade da Satiagraha alegando um estado policialesco inexistente, inclusive abrindo uma sindicância contra o juiz no CNJ;

    3) GM era o AGU na época das privatizações das teles cujo foco era Dantas;

    o Senado Federal deve pelo menos abrir uma sindicância para apurar tudo isso, ou o STF, uma das poucas instituições que possui ainda alguma credibilidade, vai entrar no amplo roll dos desacreditados. E aí, definitivamente, as garantias fundamentais, o direito ao contraditório, o amplo direito à defesa no devido processo legal, serão instrumentos para garantir a roubalheira e a impunidade. E não mais estaremos livres disso. A imprensa vai poder bater à vontade que ninguém mais vai acreditar.

  6. Lendo a entrevista eu fico
    Lendo a entrevista eu fico com a impressão que, para a Folha, a Abin é um grande monstro composto por répteis dos mais furibundos, a escória da sociedade e que por isso não poderiam participar de uma investigação policial mesmo que já mais do que sabidamente amparada por lei essa participação. Afinal de contas foram SEIS perguntas relacionadas diretamente à Abin/Protógenes e uma indiretamente, o que consumiu mais de um terço da entrevista.

  7. A Lilian Christofoletti pelo
    A Lilian Christofoletti pelo que fui informado no blog do Azenha e do Paulo henrique Amrim esteve naquela armação das fotos da pilha de dinheiro que foram fornecidas pelo delegado Bruno. Daí já se pode tirar o caráter profissional dessa jornalista.

  8. Nassif, tenho acompanhado com
    Nassif, tenho acompanhado com atenção essa discussão aqui e em outros Blogs. Sinceramente, não coaduno com a maioria dos comentaristas que vê Protógenes Queiroz, por exemplo, como um delegado infalível e um ser humano próximo da santidade, embora honesto e dedicado. No caso da entrevista no roda viva, por exemplo, ao contrário da maioria dos comentários no blog do jornalista Fernando Rodrigues, entendo que as perguntas foram pertinentes, e que Protógenes deixou a desejar em algumas respostas. O jornalista alí exerceu seu papel da maneira como deve ser exercido. O mesmo em relação a esta entrevista do procurador. O problema ( aí é que a coisa pega de verdade) é que esse exercício de jornalismo sério é realizado seletivamente. Não se vê essa desenvoltura e esse tipo de questionamentos em relação aos desmandos do GM, aos aDEvogados de Daniel Dantas, à perseguição de Márcia Cunha, às inúmeras outras possibilidades do grampo da veja, etc…aí fica cristalina a conivência com o mal feito. Não imagino Fernando Rodrigues apontando um recorte de Jornal dizendo “Ministro, o Sr. chamou o MPF, a PF e o Juízo de primeira Instãncia de milícias. A quem o Sr. se referia? Não acha que tem que dar nomes? Não acha que esse tipo de atitude desrespeitosa e afronta as instituições?” , nem o Noblat dizendo “Ministro, não foi isso que perguntei. O Diretor da ABIN foi afastado, e o Sr. chamou o presidente às falas por um grampo que não se sabe a autoria. Quais as provas o Sr. tem que foi a ABIN/?Se a Veja dizer que foi minha mãe que grampeou o Sr. vai pedir minha demissão e me chamar às falas?”, ou ainda ” O Sr. não se julga suspeito para participar de julgamento do Raul Jungman, depois de praticamente inocentá-lo fora dos autos, em julgamento de outro processo?”.

    Enfim, o problema não é este tipo de entevista, mas o tratamento desigual às partes, negando-se a realizá-las da mesma forma em entrevistados “selecionados”.

  9. Exagero seu, Nassif. O erro
    Exagero seu, Nassif. O erro foi não terem sido feitas as perguntas pertinentes ao Gilmar Mentes. Pode ter sido por medo do STF ou por alinhamento com o Daniel Dantas. O primeiro caso é o pior, pois mostra que as pessoas têm medo das autoridades que deveriam defendê-las. A “truculência” do entrevistador tirou respostas sensatas e esclarecedoras do entrevistado. O final é muito interessante.

    FOLHA – Por que hoje há mais inquéritos contra os que investigaram Dantas do que contra o banqueiro?
    DE GRANDIS – Não sei. Também gostaria de saber.

  10. A Folha de São Paulo (como
    A Folha de São Paulo (como toda a mídia) tem um só objetivo, indevidamente enrustido:

    Eleger Serra em 2010, custe o que custar, como prêmio de consolação por não terem conseguido desqualificar e apear Lula do poder.

    E isso custará a credibilidade que resta, de todos eles, por manipularem e sonegarem fatos em benefício do objetivo enrustido.

  11. Os últimos dias nos
    Os últimos dias nos reservaram sendas entrevistas com o Delegado Protógenes, o Juiz De Sanctis e o Procurador De Grandis.
    Quanto denodo em busca da verdade, dos meios de comunicação, “como nunca antes neste País”.
    E os caras anotando tudo pra ver se acham alguma brecha.
    A água deve estar batendo no pescoço…

  12. Eu sei que estou sendo
    Eu sei que estou sendo repetitivo: mas a folha é este lixo há muito tempo, apenas enganava as pessoas com sua máscara moderna e democrática.

  13. A manchete da FOLHA é mal
    A manchete da FOLHA é mal intencionada, e o De Grandis foi ingênuo ao não perceber a intenção do jornal. O Protógenes não errou coisa nenhuma. Ele não tem que ficar dizendo para o MPF e o juiz aonde ele aloca os recursos ou a equipe dele.

    O mais importante da entrevista entretanto a FOLHA deixou passar. De Grandis AFIRMA que as autorindades dos EUA, Suiça e Inglaterra (e ainda tem a Itália!), estão avaliando processos penais contra Dantas nos respectivos países. Ou seja, se os donos da FOLHA ou alguns editores não tivessem compromisso com o bandido, a manchete da FOLHA seria:

    “DANTAS PODE SER PRESO FORA DO BRASIL, DIZ DE GRANDIS”

    Não é uma bomba? E lá não tem Gilmar Dantas para dar um HCzinho.

  14. Mauro, sua opinião é
    Mauro, sua opinião é pertinente, mas permita-me discordar.

    Este tipo de entrevista é um problema, sim. Se o jornalismo tem como objetivo a constatação da verdade factual, é extremamente grave haver entrevistas em que o objetivo é desfocar o que realmente interessa.

    O caso Mensalão foi taxado como a maior corrupção da História deste país, porém este caso do DD poderia revelar as entranhas dos donos do poder e , aí sim, viria à tona o que foi e é a grande fonte de corrupção.

    O que foi deflagrado neste caso, o que ficou muito mais elucidado, foi o anti-jornalismo, que antes não era tão percebido assim.

  15. Eu faria algumas perguntas
    Eu faria algumas perguntas aos perguntadores da Folha. Os senhores não tem interesse em saber o que o procurador tem a dizer sobre os crimes do Dantas? Só se interessam pelas fofocas envolvendo a PF, a Abin e o Mendes? Os senhores consideram que os leitores precisam saber dessas fofocas, e não dos crimes financeiros que envolvem as mais importantes instituições da República? E para terminar, os senhores acham que a gente tem cara de palhaço?

  16. Me surpreende a entrada em
    Me surpreende a entrada em cena do jornalista Mário César Carvalho nessa história. Ele já tinha escrito um artigo de opinião questionável (já citado por você aqui neste blog) e agora participa dessa entrevista.

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