Defesa de Dilma diz que delatores mentiram para viabilizar cassação

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Jornal GGN – Além de denunciar a desigualdade no tratamento dado à defesa e à acusação de Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral, o advogado Flávio Caetano apresentou, nesta quinta (1), uma série de contradições que colocam em xeque as delações de Mônica Moura, João Santana e Marcelo Odebrecht. As colaborações dos delatores da Lava Jato pavimentam a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, cujo julgamento deve retornar na próxima terça (6).

Segundo Caetano, há “diferenças graves” entre o que foi dito à Justiça Eleitoral e o que foi dito nos depoimentos de delação prestados à força-tarefa da Lava Jato.

O defensor explicou que no caso de Marcelo Odebrecht, por exemplo, sequer há lógica no que foi relatado. O empresário disse à Lava Jato que criou uma conta virtual para o PT, administrada por Guido Mantega, onde chegou a acumular 50 milhões de reais por conta de uma negociação feita com o ex-ministro entre 2008 e 2009. Segundo Odebrecht, Mantega teria começado a usar esses recursos em 2011 e, quando chegou a eleição de 2014, não havia mais dinheiro na conta. 

Segundo Caetano, Marcelo Odebrecht afirmou na Justiça Eleitoral que a campanha de 2014 recebeu R$ 50 milhões em propina negociada entre 2008 e 2009 com o então ministro Guido Mantega, contrapartida para o chamado Refis da Crise, que beneficiou a Braskem, controlada pelo grupo. O valor teria sido então depositado na conta corrente de propina do PT.

Na Justiça Eleitoral, para ajudar na cassação, Odebrecht deu outra versão: disse que a campanha de 2014 foi abastecida com os 50 milhões de reais. Para o advogado de Dilma, se o PT, que saiu da campanha de 2010 com dívida de 17 milhões de reais, tivesse esse dinheiro na conta, com certeza ele teria sido usado antes da campanha de reeleição de Dilma. “O acordo deve ser questionado e Marcelo Odebrecht deve responder por falso testemunho”, disse.

Já João Santana teria mentido ao afirmar que discutiu com Dilma, pessoalmente, atrasos de pagamentos, alegando que os depósitos eram feitos rigorosamente em dia. “Não é verdade. A campanha [oficial] nunca pagou em dia e era natural que reclamassem. O atraso foi oficial. No primeiro turno, os pagamentos deveriam ter sido feito até 25 de setembro e a campanha só pagou em 3 de outubro. No segundo turno, houve um gasto de R$ 20 milhões e metade deste valor só foi pago em novembro.”

Monica Moura, por sua vez, mudou suas delações ao sabor dos ventos, apontou a defesa de Dilma. Primeiro, ela disse ao juiz Sergio Moro que 10 milhões de dólares recebidos da Odebrecht em 2014 diziam respeito a uma eleição no Panamá. Depois de fechar acordo de colaboração com a Lava Jato, passou a afirmar que esse montante era fruto da campanha de Dilma.

“A campanha do Panamá acabou em maio. Ela disse ao juiz Sergio Moro que recebeu o valor no Panamá. No extrato da conta Shellbill não há pagamentos feitos pela Odebrecht em 2014. O evento 14, relacionado na planilha, não é a eleição no Brasil, mas no Panamá”, defendeu Caetano.

A Justiça Eleitoral não aceitou inserir no julgamento da ação de cassação o depoimento de Mônica a Sergio Moro, para que a contradição ficasse evidente. A defesa da presidente afastada pelo impeachment promete entrar com ação para anular as três delações.

Além disso, Caetano reafirmou que não há possibilidade de separar as contas de Dilma e Temer, pois o peemedebista colaborou com menos de R$ 3 milhões para o caixa que bancou as despesas da chapa presidencial. Ou seja, se reeleição de Dilma ocorreu com financiamento ilícito, foi esse mesmo dinheiro que pagous as contas de Temer.

Em março, Caetano já havia denunciado outras disparidades entre defesa e acusação no processo de cassação. Ele apontou que o relator Herman Benjamim não concedeu tratamento igual para as partes durante, privilegiando as acusações contra a petista com mais de 18 horas de depoimentos, ante apenas 1h27 de explicações das testemunhas de defesa. Leia mais aqui.

Assine

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. No judiciário não há Justiça

    Eu aqui em baixo observo que o Judiciário utiliza todo o seu poder para destruir políticos ligados às classes dominadas.

    Na concepção dos “juízes”, “desembargadores”, “ministros”, “promotores”, etc. o povão tem que se conformar em apenas produzir para servir às elites. 

    Toda essa demonstração do advogado de Dilma servirá apenas como documento histórico… No limite, os “juízes” condenarão porque a literatura jurídica permite.  Não foi assim com Zé Dirceu ?

  2. A defesa deve tornar públicas essas provas

    Mais do que uma breve nota, o que a defesa da Predidenta Dilma precisa fazer para desmascarar essas quadrilhas lavajateira e e judiciária é tornar públicos os documentos que comprovam o falso testemunho de Marcelo Odebrecht e do casal de publicitários, João Santana e Mônica Moura.

    Para desmascarar a Fraude a Jato e todos os golpistas é preciso fazer como se fez contra Otávio de Azevedo, que mentiu em depoimento, sob juramento de dizer a verdade. É tão evidente e vergonhosa a atuação quadrilheira da Fraude a Jato e da burocracia golpista que Otávio de Azevedo, que deveria não só perder o direito ao acordo de delação premiada, mas ser preso por cometer crime de falso testemunho, teve a oportunidade de retificar o falso depoimento que prestara ao TSE e à Fraude a Jato.

    Para quem observa o caráter golpista e criminoso de toda operação midiático-policial-judicial-parlamentar que destituiu a Presidenta Dilma e quer proscrever o PT e a Esquerda do cenário político não há qualquer dúvida de que que Marcelo Odebrecht, João Santana e Mônica Moura foram coagidos, intimidados, ameaçados, torturados psicològicamente até forjarem depoimentos incriminadores contra a Presidenta Dilma, contra o PT e outras lideranças da Esquerda.

    Como a última semana foi extremamente negativa para o núcleo curitibano da Fraude a Jato e para os filhotes dessa ORCRIM institucional – sendo o queridinho da PF aecista, Aécio cunha – jogado às feras, eis que nesta quinta-feira a mesma PF aecista, sob autorização de juízes golpistas e tucanos como sérgio moro, investe contra Fernando Haddad e Marta Suplicy, que foi prefeita de São Paulo, eleita pelo PT, entre 2001 e 2004. A mesma arbitrariedade cometida contra Lula, Guido Mantega e outros – ou seja, o seqüestro judicial, tucana e eufemìsticamente chamado de ‘condução coercitiva’ – foi pedida pela PF aecista contra Fernando Haddad, exemplo de probidade e competência administrativa.

    Essas jogadas do Estado midiático-policial-judicial, persecutor, autoritário, punitivista, golpista e anti-nacional tentam transparecer sutileza e sofisticação, mas tem se mostrado previsíveis. O script está manjado e a Esquerda Esclarecida já está vacinada contra essas manipulações. Tanto assim que a morte política de Aécio e o linchamento dele e da irmã só foram ‘omemorados’ pela turma das redes sociais que não tem uma visão mais aprofundada sobre os atores do golpe, suas táticas e estratégias.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador