Desmontando a “matemática” da Lava Jato que força propina a Lula a marretadas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O Estadão publicou nesta terça (3) uma reportagem sobre a “fórmula matemática que ajudou a Lava Jato a identificar a propina em apartamento usado por Lula”, com direito à reprodução de um diagrama construído pelos investigadores, que ressuscita o espírito do PowePoint apresentado pela turma de Deltan Dallagnol no caso triplex.

O diagrama mostra de maneira clara que a única conexão direta com o que a Lava Jato chama de propina da Odebrecht e Lula é o apartamento 121 do edifícil Hill House, alugado para a família do ex-presidente por Glaucos da Costamaques.

O ponto central para começar a descontruir esse diagrama é que, não fosse por um(a) vizinho(a) que deu com as linguas nos dentes no dia da busca e apreensão na casa de Lula, em março de 2016, o ex-presidente não teria seu nome inserido na arte.

A “fórmula matemática” que a Lava Jato vende como o caminho do dinheiro até Lula não tem, originalmente, o valor usado na compra do apartamento por Glaucos, os R$ 504 mil.

Ou seja, todo o trecho circulado de vermelho, abaixo, só está no diagrama porque algum morador do mesmo prédio onde Lula reside há anos informou aos investigadores que o ex-presidente também alugava uma unidade contígua.

No dia da busca e apreensão na casa de Lula, a Lava Jato sequer tinha mandato para entrar na unidade de Glaucos. Conseguiu autorização na hora, dada por Marisa Letícia, que é a responsável por assinar o contrato de aluguel.

Para entender o diagrama:

Vamos entender o caso:

1 – A FÓRMULA

Diz a Lava Jato que encontrou nos arquivos do setor de pagamentos de propina da Odebrecht a versão integral do documento associado à “planilha italiano”. A fórmula ((3* 1057)+ 8217 + 1034) = 12.422 foi isolada em 3 partes pelos investigadores no diagrama, na tentativa de desenhar um elo entre a Odebrecht e os dois objetos da ação penal contra Lula: a compra de um imóvel em São Paulo, que serviria de sede para o Instituto Lula, e a compra do apartamento em São Bernardo do campo.

Como se vê na fórmula e no diagrama, os R$ 504 mil que Glaucos usou para comprar o apartamento não existe. Esse trecho, a Lava Jato martelou na denúncia.

O que está na fórmula é explicado pela Polícia Federal da seguinte maneira:

1 – “(3* 1057) = 3.171” diz respeito ao valor de R$ 3,1 milhões, que seria um saque em espécie feito a partir das contas da Odebrecht. Na visão dos procuradores de Curitiba, os recursos foram usados para pagar “despesas por fora” das operações que beneficiaram Lula. Estadão não aprofunda que despesas foram essa e não há no diagrama, portanto, uma ligação direta com Lula.

2 – O “8217” seria os R$ 8,2 milhões gastos pela DAG Construtora, do amigo de Marcelo Odebrecht, para comprar um prédio que foi ofertado ao Instituto Lula, mas nunca utilizado pela instituição.

A DAG, na prática, comprou os direitos de propriedade do imóvel de Glaucos da Costamarques. Este havia adquirido o bem no papel, por cerca de R$ 6 milhões. Depois, vendeu os direitos para a DAG por valor superior. Com isso, recebeu cerca de R$ 800 mil. O advogado Roberto Teixeira, que assessorou Glaucos na compra e revenda, recebeu cerca e R$ 234 mil em honorários.

3 – A soma do lucro de Glaucos com a compra e revenda (R$ 800 mil) e a comissão de Teixeira representa o “1.034” na planilha em posse da Lava Jato.

Somente após tomar conhecimento do apartamento 121 do Hill House é que a Lava Jato passou a explorar as “coincidências”: Glaucos, a pedido de seu primo José Carlos Bumlai, teria feito a compra do imóvel nunca usado pelo Instituto Lula. E, mais ou menos na mesma época, teria feito a compra do apartamento vizinho ao de Lula, que vinha sendo alugado para a família do petista desde 2003.

No diagrama e no relatório da PF, é possível notar que a despeito da teoria criada pelo procuradores, Glaucos comprou o apartamento em agosto de 2010. O lucro que teve na transação do imóvel do Instituto Lula só caiu em sua conta quatro meses depois. Mas a Lava Jato afirma que os R$ 800 mil que recebeu da DAG “cobriu” as despesas do 121 Hill House.

Em seu depoimento, Glaucos não disse em nenhum momento que os negócios tinham conexão. Ao contrário disso, explicou os detalhes da compra do imóvel que depois foi ofertado ao IL, passando a ideia de que a operação ocorreu totalmente dentro da lei.

O que Glaucos entregou de brinde para a Lava Jato foi a versão de que não recebeu aluguel de Lula entre fevereiro de 2011 e novembro de 2015. Mas os comprovantes de pagamento apresentados pela defesa de Lula contrariou essa narrativa.

Fica nítido, pelo diagrama, que os procuradores contam com esse suposto elo irregular entre Lula e o apartamento de Glaucos para sustentar a denúncia.

O problema é que, na visão da defesa de Lula, nada disso justifica a ação penal, já que a Lava Jato não tem provas de que dinheiro sujo da relação entre Odebrecht e Petrobras financiou, de fato, os “presentes” que a empreiteira teria destinado a Lula.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

17 Comentários

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  1. Pelo amor de Deus, chega!

    O Gedel deixou mais de 51 milhões em um apartamento, deve ter havido muito mais!

    Para o Temer as cifras passam de centenas de milhões de reais!

    Quantos outros bunkers não devem haver por ai?

    Diretores da Petrobrás embolsaram milhões na Suíça!

    Fazem caminhada em suas mansões com tornozeleiras!

    Falam milhões do Serra!

    O FHC intocado passeia num AP na Avenue Foch…

    Receber acima do teto  num pais cheio de miseráveis – também é corrupção!

    Agora, O MAIOR PRESIDENTE DA HISTÓRIA DESTE PAIS, UM DOS MAIORES LÍDERES MUNDIAIS iria se corromper por aluguéis de menos de R$ 4.000,00 por mês?

    E que precisam ser forjados na calada da noite como nos filmes de Tom Cruise ou de 007!

    E o pior é que eles mostram que a empreiteira tentou “cercar” o LULA de todos os jeitos, mas que na prática o LULA não aceitou…

    E tudo isso para não dar um atestado de idoneidade ao LULA!

    Por que é isso que vejo!

    Tentaram “agradar”, “corromper” ou que valha!

    Mas o LULA não aceitou…

    Por isso, pelo amor de Deus, lavajateiros – chega!

     

  2. Ridículos
    Ridículos, ineptos e caríssimos.
    Isso que esses analfabetos funcionais e picaretas chamam “matemática” tem outro nome: ‘matemágica’

  3. Gostaria de saber –  num

    Gostaria de saber –  num powerpoint bem arrumadinho – o detalhamento de quanto o tal ministério público federal gastou para chegar a essas conclusões de merda. Mais, se o dito conselho nacional do ministério público cobrará dos procuradores esmerdeados esse dinheiro que sujaram buscando o inexistente. De palhaçadas, chega!

  4. O fato de Glaucos ter

    O fato de Glaucos ter recebido aluguel da Presidencia da República entre o meio de 2010 e o final do ano já prova que o apartamento era dele, de direito e de fato e não de Lula.

    Mesmo que Lula não tivessa pago aluguel a ele, posteriormente, nada significa, eram dois particulares. Nâo seria crime algum.

    Ademais, como disse a reportagem, não há nenhuma fato ligando Lula a “desvios da odebrescht” na Petrobrás.

    Ou seja, no mérito, não há motivo para a condenação.

    E, ademais, Moro não tem competência para julgar a ação, visto que nada nela, diz respeito a Curitiba ou algo que se conecte com a cidade.

  5. E eu que pensava que Serra

    E eu que pensava que Serra era o ‘Cerébro” , o frio ratinho que queria dominar o mundo….Lava jato cada vez mais lava caca.

  6. Agora é MATEMÀTICA

    Em geral a palavra matemática quer dizer precisão irretorquível. No caso encobre uma soma arbitrária de valores sem conexão com coisa alguma. De lei definitivamente não entendem, agora temos a matemática do absurdo como a nova jurisprudência. Show das  convicções, como sempre.

  7. O Glaucos falou que pagou o
    O Glaucos falou que pagou o imposto dos R$ 800 mil que recebeu e depois teve que devolver ao Bumlai o resto do montante em espécie. Aqui está o mistério.

  8. N.Piskounov

    Foi dele o livro de Cálculo Diferencial e Integral que nos foi indicado na USP. Os livros soviéticos eram muito mais baratos e quase sempre, melhores. Na primeira aula sobre derivadas, Piskounov avisa que é impossívewl a divisão por zero. Logo, 1/x não existe para x=0. A função é descontínua nesse ponto. Como Deltan  e moro talvez nem saibam a tabuada direito, é o que parece pelas incursões de ambos nos mistérios da Estatística (“90% dos acusados são culpados, Lula é acusado em 3 processos, logo, ele é 100% culpado”) Agressão às leis e ao Direito é corriqueira na Lava Jato, mas agredir Dona M<atemática, agora vocês foram longe demais. Foram ao infinito, aliás, menos infinito….

  9. Cheguei a outras conclusões matemáticas impressionantes!

    O número de dedos do juiz imparcial de piso escorregadio é simplesmente… a base do sistema de numeração decimal, usado em quase todo o mundo!

    A quantidade de ouvidos (moucos) do juiz de orelhas de roedor é simplesmente… a inspiração para os aparelhos de som estereofônicos!

    A quantidade de membros do juiz universal do multiverso de todos os multiversos remete ao algarismo correspondente à dezena, e a quantidade de artelhos em cada pé do dito magistrado remete ao algarismo correspondente à unidade do número atribuído pela Justiça Eleitoral brasileira ao partido do coração do dito magistrado…

     

  10. #

    Gostaria muito de saber por que não há matemática, nem power poin, nem condução coercitiva, nem vazamentos midiáticos e tantas outras artimanhas, para acusar os tucanos…

    Vai ver o juiz de Curitiba acha que os milhões doados pelas empreiteiras corruptoras aos tucanos foi apenas por simpatia ideológica.

    Um juiz que se preza não deveria ter cor partidária. Afinal não é pra isso que ele e as suas mordomias são pagos pela sociedade.

  11. contra-insurgência

    1. A eleição de partidos com ideais que possam merecer o enquadramento de vermelhos para a Presidência da República do Brasil é interpretada pelo |auto comando| das Forças Armadas, tanto do Brasil como dos Estados Unidos, como derrota militar para insurgência vermelha.

    2. O Brasil é para os Estados Unidos uma “host nation” em matéria de contra-insurgência. Isso ontem, hoje e sempre. Capturada a Presidência da República pela insurgência vermelha, as Forças Armadas brasileiras passam a operar em modo COIN (COUNTERINSURGENCY). Isso não é automático, pode demorar alguns segundos. Nos termos do Manual 3-24 de Contra-Insurgência do Exército dos Estados Unidos, COIN involves all political, economic, military, paramilitary, psychological, and civic actions that can be taken by a government to defeat an insurgency. COIN operations include supporting a Host Nation’s military, paramilitary, political, economic, psychological, and civic actions taken to defeat an insurgency.

    3. Confirmada a tomada da Presidência da República pelas forças sinistras vermelhas numa segunda eleição, isso significa que a insurgência prosperou nos corações da brava gente, avança nas instituições e consolida posições, modo COIN total, portanto, Support to Host Nation Security Forces ativo, com direito a tudo que for aplicável.

    4. Resultado: apesar de duro na queda, governo insurgente finalmente derrubado, forças políticas neutralizadas, moral das Forças Armadas positivo crescente, vermelhos derrotados, insurgência deprimida, lideranças torturadas, amaldiçoadas, perseguidas e destruídas, policiais, promotores e juízes agindo estranhamente, com o olhar de cavalo de regimento depois do clarim, a liquidar carreiras e biografias, políticos se esgueirando pelos corredores ou correndo abraçados a malas de dinheiro, com o olhar de cavalo que ouviu a dez passos um tiro de canhão, população calma e desorientada, oouca baixa… Show de competência, nem sinal de resistência, festa interagência, missão cumprida.

    5. Decerto que se o MST adotasse uma bandeira do alaranjado para o amarelo e passasse a se chamar Agência Aceleradora de Startup Rural Douglas MacArthur ajudaria um pouco, porque ele é visto como insurgência em si. Uma PEC mudando a designação de República Federativa para República Contra-Insurgente do Brasil igualmente valeria muitos pontos, mas também não resolveria, porque o que a eleição presidencial no Brasil decide mesmo é o status de nação, hostage ou host.

    6. Óbvio que as forças políticas no Brasil podem e devem querer enfrentar esta questão. O que se precisa é de um movimento internacional articulado e caudaloso, que possa sensibilizar o auto comando militar dos Estados Unidos a ouvir os clamores por reformas no manual de campo de contra-insurgência que nos é outorgado, a verdadeira constituição. Roma locuta, causa infinita.

    @

    This doctrine of COIN began to take shape shortly after World War II in manuals such as FM 31-20, Operations against Guerrilla Forces (1951) and later in FM 31-15, Operations against Irregular Forces (1961). The Army refined its counterinsurgency doctrine during Vietnam in FM 31-22, US Counterinsurgency Force, FM 31-16, Counterguerrilla Operations (both published in 1963) and in FM 31-23, Stability and Support Operations (1972). After Vietnam, the Army split COIN doctrine off from conventional “high intensity” operations in FM 100-20, Military Operations in Low Intensity Conflict (1990) in which the “light” forces owned counterinsurgency, and FM 90-8, Counterguerrilla Operations (1986), where the focus remained on defeating the guerrilla force. This manual is the historical successor to FM 90-8. In addition, parts of FM 100-20 have been integrated into this FM, as have the Army’s concept of full-spectrum operations and all elements of COIN operations.

    … fas.org/irp/doddir/army/fmi3-24-2.pdf

  12. Lula

    Eu me lembro muito bem, quando da 1ª eleição dele. Ele contou s/ a invasão que se deu na casa do irmão dele (parece Vavá), de pessoas querendo auxílio, propondo negócios, projetos, etc. etc. Ele teve de ir lá e expulsar todo mundo.

  13. O que é o que é

    Quanto mais apanha mais cresce?

    Essa mídia toda não anda mais convencendo ninguém, muito pelo contrário.

    A solidariedade ao injustiçado já forma um exército de milhões.

     

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