Empresário que doou dinheiro para caminhoneiros é investigado por desvio de impostos

Apresentando-se como um empresário ético, Alba já foi investigado por desvio de R$ 277 milhões e, em 2018, assediou seus funcionários a votarem em Bolsonaro

Momento em que investigadores chegam à empresa de Gilmar Alba, durante a Operação Fumo de Papel, em 2018 – Foto: Divulgação

Jornal GGN – O empresário Gilmar João Alba, proprietário da Tabacos D’Itália, protagonizou na última semana uma polêmica cena, na qual doa dinheiro a caminhoneiros, diz que a crise atual é culpa do PT e os estimula a continuar trabalhando mesmo com as recomendações sanitárias internacional de quarentena e isolamento social. Apresentando-se como um empresário ético, Alba já foi investigado por desvio de R$ 277 milhões e, em 2018, assediou seus funcionários a votarem em Jair Bolsonaro.

Na cena gravada em vídeo por um dos caminhoneiros que recebe a doação, Alba aparece no local dirigindo um carro esportivo Porsche Panamera e fazendo um discurso em defesa de Bolsonaro, que segundo ele salvou o país dos “comunistas”, dizendo aos caminhoneiros que “continuem a trabalhar” e, depois de contar 50 notas de 100 reais em dinheiro vivo diante das câmaras, exclama: “Tamo junto Bolsonaro! Tamo junto!”.

Ao estimular que não cumpram a quarentena, o dono da Tabacos D’Itália pede “para todas as fumageiras que tome essa atitude, de fazer o que eu vou fazer agora, porque ninguém sabe o que são os caminhoneiros, ninguém sabe o que é que o povo está passando por essas dificuldades que o PT está fazendo nós cometer. Desculpa falar a palavra, porque graças ao Bolsonaro nós estamos vivos ainda, senão já estaria o comunismo”, introduz.

“Então, eu vou doar 5 mil real [sic] agora, para comprar comida para todos os caminhoneiros, entendeu, e que todos fazer o que eu to fazendo. Meu apelido é Gringo Louco, dono da Tabacos D’Itália, 100% em dia com todos seus impostos. E fico feliz em poder estar ajudando vocês. 5 mil reais vou doar em dinheiro agora, pode botar pra onde vocês quiser esse vídeo, inclusive manda pra mim depois, tá bom?”, continua.

Em contradição ao discurso feito na gravação, Gilmar João Alba já foi alvo da Justiça, em 2018, por suposta participação no desvio de R$ 277 milhões em impostos, junto à Tabacos D’Itália, de Cerro Grande do do Sul (RS), por uma fraude com a criação de créditos fantasma, que depois eram usados para declarar na Receita e obter o ressarcimento.

Os auditores da Receita Federal não divulgaram à imprensa, na época, quais foram as empresas alvos da Operação Fumo de Papel, como foi denominada. Mas jornais locais informaram que a Tabacos D’Itália foi uma das que recebeu visitas dos auditores no dia 15 de agosto de 2018. A empresa de Gilmar Alba é uma das principais fumageiras do Rio Grande do Sul, com atuação na região Centro Sul e Vale do Rio Pardo do estado.

Na ocasião, foram um total de 14 municípios que foram investigados nos mandados da Receita, incluindo Cerro Grande do Sul, Camaquã, Amaral Ferrador, Dom Feliciano, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Boqueirão do Leão, Sobradinho, Arroio do Tigre, Candelária, Vale do Sol, Agudo, Vera Cruz e Porto Alegre.

Em vídeo “não listado” no Youtube da Receita Federal, quando somente aqueles que têm o link conseguem ter acesso, é possível confirmar que em agosto de 2018, a empresa Tabacos D’Itália recebeu os investigadores na Operação. Confira a partir do minuto 0’28”

A investigação chegou a fechar 11 empresas fantasmas do setor do tabaco, em dezembro 2018, que teriam sido criadas para maquiar as compras de fumo de produtores rurais, emitindo notas fiscais de venda que totalizaram R$ 706 milhões, dos quais mais de R$ 100 milhões deixaram de ser recolhidos aos cofres públicos.

O esquema também envolvia esses atacadistas e exportadores do setor para obter empréstimos usando créditos do PIS e Confins. As empresas que movimentaram acima de R$ 500 milhões nos cinco anos anteriores, intermediavam a compra e venda de fumo entre os produtores e as empresas reais, geravam os créditos indevidos do PIS e Confins e burlavam a contribuição previdenciária com uma operação falsa, que geraram um estimado de R$ 277 milhões [leia aqui].

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Infográfico da Receita Federal sobre o esquema investigado na Operação Fumo Papel

Já no início de janeiro, na continuidade da investigação [aqui], a empresa de Alba, Tabacos D’Itália, ficou fora dos mandados e não voltou a ser divulgada como uma das miras da Receita Federal. A cidade aonde se concentrou as investigações, Venâncio Aires, detém ampla influência de Gilmar Alba.

Em agosto do ano passado, por exemplo, Gilmar Alba foi quem solicitou a liberação de uma emenda de R$ 721 mil para a cidade gaúcha, diretamente pelo deputado federal Bibo Nunes, do PSL. Em jornais locais, à época, as remessas foram justificadas como uma “solicitação de apoiadores, através de lideranças do Partido Social Liberal e Bancada Gaúcha”.

Em coluna para o jornal “Folha do Mate“, após a informação da emenda, que foi uma solicitação do empresário ao deputado, o autor também mencionou sobre a liberação do governo de Jair Bolsonaro de emendas aos que aprovarem a Reforma da Previdência em segundo turno. “É imoral? Até pode ser. É ilegal? Não. Até porque as emendas parlamentares são impositivas e todas, de todos os deputados, devem ser pagas, dentro do ano”, escreveu.

A relação de Gilmar João Alba com o PSL não é só visível na emenda liberada pelo deputado para a pequena cidade do Rio Grande do Sul e no vídeo em que o empresário defende o governo de Jair Bolsonaro. Em 2018, Alba chegou a assediar seus funcionários para que votassem no atual mandatário.

Em vídeo divulgado nas redes à época, é possível ver a coação eleitoral:

A atuação de Gilmar Alba gerou à empresa um termo de ajuste de conduta (TAC) pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que o obrigou a se retratar junto aos seus funcionários. “A interferência do empregador sobre os trabalhadores acerca da escolha dos candidatos constitui grave coação no campo das relações de trabalho, caracterizando o abuso do poder empregatício, além de comprometer o legítimo exercício da democracia”, havia determinado a procuradora.

Redação

2 Comentários

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  1. Parece um padrão, se dizem honestos e cristãos mas se revelam picaretas.

    Por falar em picatetagem, dinheiro público emprestado aos bancos privados com juros de 0,6% ao ano será utilizado para “fomentar” (palavra cheia de novos sinônimos) a economia, à partir de novos empréstimos às empresas e às famílias.
    Talvez esteja em algum lugar, mas não li nada sobre os juros que os bancos aplicarão nos empréstimos. Também não li nada sobre uma moratória concedida pelos bancos privados nos empréstimos já existentes, inclusive com suspensão temporária dos consignados porventura existentes.
    E alguem acha que irão retirar de Brasília este desgoverno infame?

    https://www.jb.com.br/economia/2020/04/1023176-bc-regulamenta-emprestimos-a-instituicoes-financeiras.html

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