Inversão da Lava Jato: Por que Janot decide segredo de algumas delações?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em precaução antes não adotada, agora procuradores da Lava Jato mantêm, e imprensa defende, cuidados nas investigações que recaem e ameaçam governo Temer
 
 
Jornal GGN – No início de janeiro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pressionava pela urgência na homologação das delações do 77 executivos e ex-funcionários da Odebrecht e defendia, até dezembro do ano passado, a quebra do sigilo. Mas nas últimas semanas, uma inversão de cenários se deu nos posicionamentos de investigadores da Operação Lava Jato e a imprensa.
 
Ainda em dezembro, Janot solicitava a Teori Zavascki, então relator dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF) que validasse os conteúdos do que vem a ser o maior dos acordos já fechados pela Operação, e que trazia temores a partidos da antiga oposição e hoje base do governo de Michel Temer, sobretudo o PMDB e o PSDB.
 
A pressão da Procuradoria Geral da República se manteve no início do ano, ainda após o acidente que levou à morte o ministro Teori. Rodrigo Janot pedia à Cármen Lúcia, presidente da Corte e responsável pelo plantão judicial e medidas de urgências durante as férias forenses, para que liberasse de imediato os depoimentos.
 
Assim o fez. Cármen Lúcia homologou as delações, em continuidade ao trabalho que avançava Teori, com a intermediação de o juiz auxiliar do gabinete de Teori, Márcio Schiefler Fontes, concluindo e comprovando pelos autos a urgência de tais delações. Á época, jornais diversos divulgaram que Cármen Lúcia era a responsável por não liberar o sigilo dos acordos. Entretanto, apesar de decidir pela homologação, o GGN mostrou que não cabia à ministra a decisão sem que, antes, o procurador-geral solicitasse. 
 
Análises de diversos meios mostravam que Janot iria, a qualquer momento, pedir a abertura do sigilo. A lógica se sustentava no posicionamento defendido pelo procurador-geral e pela equipe completa do Ministério Público Federal na Lava Jato, na tese então rigorosamente velada de que a liberação é princípio da transparência e a sua divulgação pelos meios noticiosos fazia parte da democracia e da garantia pública na fiscalização dos poderes.
 
O discurso foi defendido em boa parte dos despachos assinados pelo juiz Sérgio Moro, desde o início da Lava Jato, o que sustentou arbitrariedades como, por exemplo, o vazamento da interceptação telefônica entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em 2016. A tese também foi amplamente sustentada pelo procurador que coordena a equipe do Paraná, Deltan Dallagnol e seu colega, Carlos Fernando dos Santos Lima, em coletivas de imprensa e entrevistas cedidas ao longo desses tempos.
 
Surpreendentemente, a tese começou a apresentar modificações nos últimos dias. Desde a remessa dos autos da Lava Jato ao novo relator, Edson Fachin, e a nomeação de Alexandre de Moraes para ocupar a cadeira vaga no Supremo – vista como clara tentativa do presidente Michel Temer de proteger seus pares em decisões da última instância -, tanto os mesmos procuradores, quanto a imprensa endossaram a possibilidade de viabilidade do sigilo.
 
Gilmar Mendes foi o propulsor dessa mudança dentro da Corte. Foi ele que se manifestou contra supostos abusos cometidos por Sérgio Moro na Lava Jato, como o tempo de prisão determinado pelo magistrado de Curitiba, imediatamente após as delações da Odebrecht darem conta de acusações contra peemedebistas e a base do governo. Também foi Gilmar que conversou com Temer e deu a ele amplo apoio à indicação de Alexandre de Moraes.
 
Em seguida, um dos coordenadores da equipe de procuradores de Curitiba, que como porta-voz da Lava Jato mostrava salvaguarda das teses de Sérgio Moro, em sua última entrevista mostrou uma inversão de defesas. Carlos Fernando disse que tirar o sigilo das delações premiadas “não é o ideal”. Ciente de que a posição é contrária a todas já defendidas até o momento pela Lava Jato, preferiu deixar a palavra os ministros do STF, afirmando que a decisão, seja ela qual for, não é dele, e sim da Suprema Corte. 
 
Mas destacou que a abertura das informações dos acordos “não é o ideal para as investigações, porque possibilitam a destruição de provas”. Neste caso da Odebrecht, fez a ressalva: de que “talvez” seja “até melhor” levantar o sigilo, justificando que os próprios políticos estão dando tiros no pé, porque “não sabem se estão na lista e estão reagindo excessivamente, e pode ser que eles não estejam lá”.
 
Ainda em dezembro, quando defendia a urgências das homologações, Janot também havia se encontrado com parlamentares governistas, senadores do PSDB, PMDB e PR, e, após pressão, manifestado a eles o desejo de retirada do segredo. Dois meses depois, novamente pressionado, mas desta vez por parlamentares da oposição, Janot disse que pedirá a abertura “parcial” do sigilo.
 
 
Foi na última terça-feira (07) que o procurador-geral da República foi questionado pelos senadores João Capiberibe (PSB-AP), Lídice da Mata (PSB-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Respondeu que irá solicitar o levantamento de “parte” das delações.
 
Em precaução antes não adotada pelos investigadores da Lava Jato, a justificativa da PGR foi de que os conteúdo liberados serão aqueles em que a publicidade das denúncias não atrapalharem o andamento das investigações. Citou como exemplo hipotético o de que se contiver dados bancários, a acusação do delator não será divulgada.
 
Enquanto isso, para endossar a lealdade aos posicionamentos da Lava Jato, os jornais não cobram a abertura total dos depoimentos à opinião pública, e dedicam espaços e manchetes a requentar acusações já antigas, como a do triplex do Guarujá, relacionada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e contra o já condenado Marcelo Odebrecht.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. Janot é um dos conspiradores
    Janot é um dos conspiradores do golpe, logo porquê ele abriria os sigilos? Com o sigilo ele fica livre para inventar acusações contra Lula que não poderão ter a veracidade checada.

  2. Foi pra isso que deram sumiço
    Foi pra isso que deram sumiço no inocente Teori, melhor se o bom velhinho tivesse ficado de 4 pra turma do filme PF – A Lei ė Para Todos.

    Sö rindo…

  3. Simples

    Como já foi denunciado por Eduardo Guimarães, a Rede Globo prepara-se para fazer o estardalhaço de sempre, se surgirem os nomes de Lula ou Dilma em qualquer delação. Estas não serão sigilosas. Se não houver acusação grave, haverá as costumeiras manipulações para adaptá-las ao gosto dos midiotas.. Só  serão rigorosamente sigilosas, com o apoio obediente e interessado da mídia, as que citarem  certas pessoas dos partidos golpistas, a começar das do PSDB. Veremos.

    1. Se houvesse alguma delação

      Se houvesse alguma delação contra Lula ou contra o PT ela já teria “vazado”. Estão usando o sigilo e o tempo para inventar delações contra os dois que a rede Globo irá apresentar como se fosse uma verdade absoluta e aonde quem quiser verificar a autenticidade da denúncia irá ser impedido pelo sigilo. Diabos, o Brasil virou um circo tão absurdo que se Janot decidisse rasgar as aparências e inventasse as denúncias diante de todos ainda assim os brasileiros iriam acreditar nele. É um absurdo que vocês “progressistas” ainda acreditem que devem jogar limpo em um jogo aonde os conspiradores fizeram todas as regras e aonde eles sentem-se à vontade para mudá-las ao menor sinal de que elas possam favorecer os “comunistas”.

  4. Mais uma prova cabal de que a LJ é um ORCRIM institucional.

    Prezados leitores,

    Há quase dois anos não me canso de afirmar nos comentários que posto aqui no GGN: a chamada operação “Lava a Jato” é, na verdade, uma Fraude a Jato, uma Organização Criminosa Institucional, composta sobretudo por policiais federais, procuradores do ministério público, juízes federais (com destaque para sérgio moro), PGR, STF, PIG/PPV, quadrilhas políticas da direita golpista (sobretudo as do PSDB, PMDB, DEM, PPS e quejandos), todos eles a serviço do alto comando internacional do golpe, que fica nos EEUU.

    Alguns analistas chegaram a classificar de ‘sofisticada’ a trama golpista. Desde o início discordei deles (não só eu mas muitos leitores dos blogs progressistas), pois antes mesmo da consumação do golpe de Estado naquela primeira fase parlamentar formal (em abril de 2016) a trama e seus atores já haviam sido decifrados. Desmascarados, desnudados, os golpistas perderam todo o pudor, toda a vergonha e cometem seus crimes à luz do dia, escarnecendo de todos os coxinhas e INCLAMEs que foram às ruas com camisas da CBF e outras, com as cores da bandeira, pedindo intervenção militar, enaltecendo Eduardo Cunha e outros da mesma laia. O caráter mafioso e de ORCRIM da Fraude a Jato está escancarado. Rodrigo Janot e os 14 patetas do MPF que integram essa ORCRIM institucional não enganam mais nem as velhinhas de Taubaté. A PF aecista e sediciosa não tem credibilidade alguma, como mostra Armando Coelho Neto, ex-DPF que se põe a exumar o cadáver dessa ‘polícia judiciária’, expondo ao sol as entranhas fétidas do mesmo; antes dele o repórter Marcelo Auler já havia demolido todo o castelo de areia sobre o qual a PF por meio o do aparato de força, espionagem, chantagem e ameaças havia se imposto em criminosa parceria com o PIG/PPV.

    Cúmplice, conivente e partícipe do golpe de Estado e de outros crimes a ele relacionados, o STF, em sua totalidade, está na lama e na fossa; o PJ não tem um centavo a mais de credibilidade que o Legislativo ou o Executivo, hoje tomados pelas oligarquias plutocráticas, escravocratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas da pior, mais corrupta e criminosa política brasileira.

    As FFAA, por omissão, cumplicidade e conivência com o golpe de Estado e demais crimes a ele relacinados se encontram na mesma lama e fossa que o PJ, o PL e o PE. 

    Não é por acaso que muitas pessoas que foram cegadas pelo ódio nazifascista e manipuladas pelo PIG/PPV começam a ‘sentir saudades’ do Ex-Presidente Lula e do período em que ele e o PT chefiaram o governo brasileiro.

  5. Dados bancários???

    Então nao é disto que se trata toda a lista de propinas?

    Quer dizer então que Janot vai manter em sigilo coisas do tipo cheques nominais ao presidente e seus ministros?

    Por que? Para que possam ser arquivadas no supremo sem que o conhecimento da população?

  6. Cadê a previsão constitucional de publicidade, Roedor Moro?

    “Como tenho decidido em todos os casos semelhantes da assim denominada Operação Lavajato, tratando o processo de apuração de possíveis crimes contra a Administração Pública, o interesse público e a previsão constitucional de publicidade dos processos (art. 5º, LX, e art. 93, IX, da Constituição Federal) impedem a imposição da continuidade de sigilo sobre autos. O levantamento propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal. A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras.” Sérgio Moro

    O que aconteceu com o interesse público e com a previsão constitucional de publicidade dos processos, Bando de Roedores?

  7. A manipulação grosseira do sigilo das delações

    Porque tanta tergiversação com abertura do sigilo da Odebrecht? Em qualquer Pais onde as instituinções funcionam plenamente, essa delação ou é aberta integralmente ou em caso de possibilidade de obstrução das investigações, continua valendo o sigilo por mais tempo. Mas abertura parcial das delações fica estranho. Serve a quem ? A Temer, por exemplo. E José Serra, Alckmin e mais todo o PSDB, PMDB, DEM etc. E assim abre-se as delações que possam incriminar PT, PT, PT e o resto fica para depois. Bem depois, né.

  8. Houvesse judiciário neste

    Houvesse judiciário neste país de merrecas… Aqui, o bandidão ganha sempre: medalhas honoríficas, doutorados em 1 aninho, blindagem midiática, merda no pescoço dos outros. Esse janot(a) é o supra-sumo da cretinice. E todos, pelo visto, associados à tentativa de “matar” o PT e deixar a corrupção continuar correndo solta pelos pmdb e psdb da vida.

    Como o desMoronado iria “atentar” contra o temerista-GOLPISTA se o moraeseano, há tempos passou por curitiba levando o “voto” GOLPISTA para que ele – também – vire ministreco?

    Aliás, como pode o cara raquear a dona Marcela e ir em cana se o raqueador-mor do país, o dr. Moro, raqueou a própria PresidentA da República e ficou por isso mesmo? Afinal, raquear é ou não é crime?

  9. Alguma dúvida ainda?

    Difamado, caluniado, perseguido, acusado, humilhado, desonrado, injuriado e caçado por anos e anos, o cabra, o jararaca, o molusco, o calango, o nordestino, o nine, o LULA, sai limpo.

    Se nada vazou sobre o Lula até agora, é porque não existe nada contra ele.

    A globo estava esperando e a bomba não veio.

    Um tapa de luva nos quadrilheiros e nos justiceiros, na classe média metida a besta e nos doutos.

    Os inimigos e adversários ¨cumpriram¨ a sua função, não se esperava o contrário, mas muitos devem desculpas ao presidente.

     Resultado de imagem para Lula bandeira PT

  10. O melhor da esquerda

    A resposta está nos próprios noticiários, que são veiculados diariamente pelo país: Porque a grande mídia, o judiciário e a PF protegem os ladrões da direita e levam para os tribunais, junto com os ladrões da esquerda, todos os esquerdistas que são mais competentes, mais inteligentes e mais consagrados pela população nacional e internacional.

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