“Era com Odebrecht que eu determinava o pagamento em caixa 2”, diz Mônica Moura

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Jornal GGN – João Santana e Mônica Moura, casal que cuidou das últimas campanhas eleitorais do PT, disseram ao juiz Sergio Moro que o ex-ministro Antonio Palocci era o “interlocutor” do partido para “negociar” os valores, mas quem determinava como seria feito o pagamento, na maioria das vezes em caixa 2, era a Odebrecht.

“Palocci me indicava quem eu tinha que procurar para recebr no caixa 2. No caixa oficial, eu procurava o tesoureiro oficial. (…) Era com Odebrecht que eu determinava o pagamento em caixa 2”, disse Mônica Moura, em depoimento registrado na terça (18). 

Mônica era a gestora financeira da Polis, a agência de marketing político e eleitoral de Santana. O casal decidiu, após ser preso pela Lava Jato, fechar um acordo de delação premiada e admitir os pagamentos de caixa 2 em campanhas do PT, e em outras feitas no exterior, com doações da Odebrecht. 

Em seu depoimento a Moro, Mônica disse que não há marqueteiro no País que faça campanha eleitoral sem receber caixa 2. Santana também reforçou o depoimento afirmando que o expediente é adotado na maior parte dos países, não só no Brasil.

A delatora contou que, depois da crise provocada pelo Mensalão, Santana havia avisado a Palocci que não iria mais fazer campanha com pagamentos não contabilizados, para evitar um futuro parecido com o do publicitário Duda Mendonça. Mas, segundo Mônica, Palocci insistiu no caixa 2, porque o volume de doações a ser recebido de empresas como a Odebrecht era muito superior ao que a Justiça Eleitoral permite.

A Moro, João Santana e Mônica Moura revelaram o que disseram à Lava Jato sobre Lula para fechar o acordo de delação premiada. Eles informaram às autoridades que fizeram uma campanha em El Salvador, em 2009, ao custo de R$ 5,3 milhões, a “pedido de Lula”.

“Essa campanha foi um pedido do ex-presidente Lula, para que o João fizesse essa campanha. Eles [PT] tinham interesse que um partido de esquerda ganhasse essa eleição. Vinte anos de democracia nesse pais, até então, a direita ganhava a eleição. Essa foi a primeira vez que a esquerda ganhou uma eleição em El Salvador. Foi um pedido do ex-presidente Lula, através de Gilberto Carvalho, que o João fizesse essa campanha. E depois ficou acordado que o PT arcaria com uma parte das despesas. Depois me foi informado que quem pagaria era a Odebrecht.”

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O valor da campanha em El Salvador consta em uma campanha que a Lava Jato apreendeu com executivos da Odebrecht, chamada de Programa Especial Italiano. Nela também estão registrado outros valores comentados pelo casal, como R$ 18 milhões, pagos em 2008, que dizem respeito às campanha municipais de Gleise Hoffmann e Marta Suplicy. Outros R$ 10 milhões, em 2011, serviram para pagar dívida da primeira eleição de Dilma Rousseff, custear parte da campanha de Fernando Haddad e Patrus Ananias e, ainda, ajudar Hugo Chavez na Venezuela.

Segundo os delatores, Palocci sempre soube do caixa 2. Mônica Moura ainda disse que Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, conversou com ela sobre pagamentos em atraso. Além disso, após a saída de Palocci do governo, quem assumiu a interlocução entre os marqueteiros e a Odebrecht foi Guido Mantega.
 
Moro quis saber de ambos os delatores o motivo da mudança de postura diante da Justiça. Isso porque, nos primeiros depoimentos cedidos logo após a prisão, o casal havia negado que parte dos recursos recebidos no exterior pela Odebrecht estariam ligados a campanhas do PT. Santana voltou a pedir desculpas por ter “mentido” no início, e voltou a apontar que estava preocupado com a chance de seu depoimento ser usado para acelerar o impeachment de Dilma.
 
[video:https://www.youtube.com/watch?v=Cm518ZoXmDA
 
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Para Moro, tucano depositando
    Para Moro, tucano depositando na Suiça grana do caixa 2 tudo bem.
    Para Moro crime ė o PT usar o suposto caixa 2 para eleger seus candidatos
    Quer dizer o PSDB pode usarbo caixa 2 para eleger seus candidatos e depositar na Suica

  2. Nas torturas toda carne se trai

    Depoimentos de pessoas que foram presas antes de serem processadas e muito menos julgadas, que foram mantidas sob coação, ameaça e tortura psicológica podem ter valor para o torquemada paranaense tentar encontrar razões para fundamentar a condenação de petistas e principalmente do Ex-Presidente Lula. 

    O depoimento do casal de publicitários, obtido a fórceps, após a prisão, coação, ameaças e torturas psicológicas e assassianto de reputação tem valor jurídico nulo. Mas para o torquemada da Fraude a Jato e com parsas dle a Lei não importa. Bas ta manter presos, sob coação, ameaças e torturas que os investigados/acusados acabam aceitando dizer o que os procuradores e juiz da Fraude a Jato querem que digam.

    Esse depoimento de Mônica Moura e João Santana tem tanto valor jurídico quanto aquelas confissões que os torturadores obtinham dos presos políticos na época da ditadura empresarial-militar.

  3. Lula foi um herói. Fez o que

    Lula foi um herói. Fez o que todo mundo deve fazer quando há governos corruptos que não provêem a população de tudo o que ela mais precisa. Mônica Moura estava visivelmente constrangida ao delatar, ou melhor, ao ser obrigada a falar. Estivessem sob a lei que ora está sob a responsabilidade de Requião, esta ilegalidade de tortura não teria  acontecido. João Santana e Mônica Moura são bons profissionais e ajudaram a colocar no poder a gente de esquerda cansada de ser oprimida.

  4. Dois pesos

    O pessoal do PSDB usou dinheiro de caixa dois para comprar apartamento para a amante de FHC na Espanha e também para pagar mesadas, isto é usou para benefício próprio, o que é roubo, e nada da Lava a Jato se pronunciar ou mesmo investigar, sabemos porque os delatores confessaram e mostraram os recibos.

    Se o processo estivesse nas mão de Gilmar Mendes não haveria crime, segundo ele diz. Esperamos que  o julgamento se restrinja a uso de caixa 2.

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