Globo pagou US$ 10 mi a offshore por direitos de transmissão

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A relação entre a Mossack Fonseca, especialista em criação de empresas em paraísos fiscais, com as Organizações Globo vai, aos poucos, ganhando novas provas de indícios de crimes. A nova leva de documentos intitulada Panama Papers trouxe, por exemplo, a comprovação de que a TV Globo negociou aportes milionários com offshores para obter contratos de direitos de transmissão de jogos, entre 2004 e 2019.

Todos os dados da Mossack Fonseca e suas offshores, reunidos na investigação Panama Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), estão nas mãos de jornalistas do Uol, do Estado de S. Paulo e da RedeTV!. Mas nenhuma informação sobre documentos da TV Globo foi publicada, até agora, pelos veículos brasileiros.

O La Nación, da Argentina, foi quem detalhou o passo-a-passo do esquema montado na offshore T&T para esconder o caminho do dinheiro usado pelo argentino Alejandro Burzaco, executivo da Torneios SA para obter os direitos televisivos da Copa Libertadores durante 14 anos. A empresa T&T tornou-se uma grande intermediadora de venda de direitos, tema que já é investigado pela Justiça norte-americana com o escândalo da Fifa.

Os contratos da Globo com a T&T também foram disponibilizados:

Abaixo, a reportagem completa do jornal argentino, traduzido pelo GGN:

Do La Nación

Burzaco movimentou 370 milhões de dólares em paraísos fiscais para a Copa Libertadores

As transações, realizadas por uma offshore nas Ilhas Cayman, levaram o executivo a obter os direitos para o torneio

Por Iván Ruiz, Maia Jastreblansky e Hugo Alconada Mon

O alto executivo da Torneios SA, Alejandro Burzaco, movimentou 370 milhões de dólares por meio de um grupo de empresas criadas em diversos paraísos fiscais para obter os direitos televisivos da Copa Libertadores durante 14 anos. A metodologia utilizada, que agora vem à público, reproduz a que levou a Justiça norte-americana a prendê-lo como um dos protagonistas decisivos do escândalo da FIFA.

Burzaco fixou suas operações para obter os direitos para a Libertadores em uma sociedade identificada como Torneios & Traffic Sports Marketing LTD (T&T), com base nas Ilhas Cayman, embora tenha incluído paradas em Chipre, no Uruguai e na Holanda, de acordo com centenas de documentos e extensas trocas de e-mails obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas investigativos (ICIJ), e pelo jornal alemão Sueddeutsche Zeitung, da qual teve acesso o La Nación e El Trece.

O então poderoso CEO da Torneios SA e outros empresários argentinos desenvolveram essas manobras com a ajuda da Mossack Fonseca, uma agência especializada em administrar empresas em paraísos fiscais. A T&T cedeu os direitos televisivos para a sociedade Torneios & Traffic Sports Marketing BV, sediada na Holanda, para operar como intermediária nas negociações com os canais de TV. E por trás dessa empresa holandesa, o escritório panamenho montou redes via Chipre e Uruguai com o objetivo de blindar o vazamento de quem seria o verdadeiro dono.

Mas esta metodologia, que agora vem à luz nos documentos do Panamá, é a que estava investigando a justiça norte-americana, que prendeu no ano passado Burzaco, acusado de obter contratos de televisão da Copa América, mediante o pagamento de propinas. Também, neste caso, os intermediários e offshores envolvidos são os mesmos da investigação da Fifa.

O complexo da rede societária parte em Buenos Aires. Torneios e Competições SA (T&C) detém 25% da offshore T&T, a empresa que concluiu o pagamento de 370 milhões de dólares para a Conmebol, quando Burzaco era o CEO da T&C.

O primeiro grupo foi montado para criar a T&T nas Ilhas Cayman, com vários intermediários. O vínculo entre a T&T e a CONMEBOL seguiu três etapas: o primeiro contrato foi assinado em 22 de agosto de 2003, na edição da Taça Libertadores em 2004-2010. O acordo foi mais tarde estendido para 2014 e, depois, mais uma vez renovado para 2018. Esse último contrato, assinado em 06 de março de 2008 – sim, dez anos antes – expõe a natureza secreta da operação: exige confidencialidade da relação de negócio, mesmo após a conclusão. Quem assinou? O argentino Julio Humberto Grondona e Eduardo Deluca, ambos do Comitê Executivo da CONMEBOL, e o presidente da entidade, Nicolás Leoz.

A afinidade entre a T&T e a Confederação também ficou evidente quando a empresa obteve a prioridade em uma das renovações. Inclusive, no último contrato, a empresa pagou um prêmio de 4 milhões de dólares extras.

O contrato permitia a T&T impor condições, inclusive, no aspecto esportivo da Copa Libertadores. A CONMEBOL deu a empresa o poder de exigir que as equipes tivessem um mínimo de sete jogadores titulares com, pelo menos, 15 partidas em primeiro lugar. Além disso, a empresa devia dar a sua aprovação sobre os locais, datas e horários das partidas.

Redes

Por razões fiscais, em 2012, a T&T transferiu os seus direitos à empresa Torneios&Traffic Sports Marketing BV, com sede nos Países Baixos. Por trás dessa offshore holandesa, a Mossack Fonseca criou a Medak Holding Ltd., registrada em Chipre, que, por sua vez, era controlada pela uruguaia Henlets Grupo.

O beneficiário final do Grupo Henlets era o uruguaio Escardó Barbe, até sua morte, em 2014. Após a sua morte, tornou-se acionista e diretora da Medak Marina Kantarovsky uma moradora de Córdoba, de 32 anos, que vive com o marido, o holandês Maarten Van Genutchen, que passou a ser o diretor da T&T Holanda, mas renunciou quando o esquema de corrupção da FIFA foi deflagrado. Os jornais El Trece e La Nacion tentaram se comunicar com o casal, mas não obtiveram resposta.

A empresa holandesa, com licença de televisão concedida pela T&T, intermediava a venda dos direitos. Por exemplo, a offshore negociou aportes milionários com a TV Globo do Brasil, que eram depositados no ING Bank, em Amsterdã. A empresa holandesa e a TV Globo tiveram contratos negociados de 2004 a 2019, a uma quantia estimada de 10 milhões de dólares.

Enquanto comercializavam direitos já adquiridos, a empresa holandesa executou curiosos subcontratos, algumas vezes, com José Margulies. Este empresário argentino naturalizado brasileiro é acusado pelos EUA de ser o facilitador de propinas para os dirigentes da Conmebol. As contratações eram realizadas por duas de suas empresas – também investigados pela justiça – a Somerton Ltd., registrada em Turks e Caicos, e Valente Corp., no Panamá.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. Pq só o Fernando Rodrigues????

    Alguém sabe por que diabos esses documentos vão parar nas mãos justo do Fernando Rodrigues????? É mesmo que nada, Pior, ainda encobre os rolos desses pilantras (criminosos).

      1. Seria burrice?

        Seria o FR burro, ou seria mais justo atribuir-lhe suas reais qualificações de dócil e submisso, convenientemente confiável, para os interesses patronais?

  2. Impressionante, nem uma linha

    Impressionante, nem uma linha na “grande” mídia brasileira. São um bando de vagabudos cafajestes mesmo!

  3. Alguém espera do OESP ou da

    Alguém espera do OESP ou da Folha que denunciem a Globo?

    É mais uma oportunidade de passar o Brasil a limpo que perdemos, mais uma vez o poder econômico pautando a imprensa.

     

    1. As lavanderias e o OCULTISMO.

      Essa farra de dinheiro público desviado e hospedado em paraísos fiscais é uma aberração que só faz crescer no planeta nas últimas décadas e cada vez se paga mais caro para equipar e estruturar serviços de controle e cada vez mais esses serviços voltam-se contra o interesse público que deu origem e motivação da cração desses órgãos. E são esses, órgãos, pelo menos no Brasil, que primeiro entram na folha de pagamento dos praticantes das lavanderias em troca de lhes oferecer “segurança operacional”. Agora deram de, além de abandonar a sua missão de defesa do patrimônio público, abraçar a luta político partidária em favor dos mesmos segmentos seletíssimos da população que já servem protegendo as suas operações financeiras ilegais. Eu acho que quem tem que dar um fim nisso somos nós que pagamos salarios para essa gente nos fazer de palhaços enquanto posam de bacanas nas páginas da midia corrupta onde são tratados como herois da luta contra a “corrupção” (???) !!

      Uma primeira medida para abaixar a crista dessa garotada seria localizar a sede dessa tal entidade internacional ministerial e mandar para lá algumas informações que o nosso MP não nos esclarece aqui na nossa terrinha, como a parcialidade, a flagrante atuação política e citar algumas operações de abafamento mais escandalosas como o caso da “pasta errada”. 

      Porque, se não forem detidos na escalada que seguem, essa garotada vai acabar destruindo o nosso país. Já estão até lançando CAMPANHA ELEITORAL pela Intenret sem respeitar a regra do TSE para propaganda partidária. Olha só a página de propaganda política o PMP – Partido do Miistério Público, cujo tema de campanha, como não poderia deixar de ser, é a velha marca e surrada marca utilizada pelos ladrões há décadas, desde a velha UDN, do Lacerda: “O COMBATE À CORRUPÇÃO”. Eu penso que pra nós já basta de hipocrisia e cinismo baratos. Denúncia neles!!

       

      https://drive.google.com/file/d/0B1D2QoXeJgXwZUpqRlN4Sk1VdkU/view

  4. Gilmar Mendes e Sérgio Moro
    Gilmar Mendes e Sérgio Moro favor se pronunciarem agora!
    É ESSA EMPRESA QUE QUERIA ACABAR COM A CORRUPÇÃO!??
    ANUNCIANTES DA GLOBO NÃO SE ASSOCIEM MAIS A
    ESSA EMPRESA CORRUPTA E GOLPISTA!!!

  5. Procuradores globais

    Para FERRAR COM PETROBRÁS, os procuradores vão aos EUA.

    Para PEGAR A REDE GLOBO é um silêncio…

    Como é que era mesmo aquela história de chicos e franciscos?

  6. parece que no próprio termo

    parece que no próprio termo cobertura – jornalística,,no caso –

    está  implicita a ideia de encobrimento, ocultação dos fatos, como

    faz fernando rodrigues agora, ao omitir-se quanto a essas ionfomações…

    tudo ´pélo bem dos patrões e dos interesses ´geopolíticos do império,

    que quer afundar a copa na rússia, como bem disse  o cassio

  7. Paraísos fiscais

    O objetivo central da ONG estadunidense, sediada em Washington e financiada por George Soros e cúmplices é amedrontar os “donos” do dinheiro em paraísos fiscais do Panamá e outros países para que transfiram suas fortunas para um paraíso fiscal “seguro”, ou seja, aqueles localizados em alguns países dos EUA para socorrer a combalida economia do Grande Satã. Não é à-toa que não tem personalidades ou grandes corporações norte-americanas na lista de milhões de nomes, porquê eles já estão nos paraísos fiscais do próprio EUA.

    A propósito, vejam a quantas anda a concentração de riqueza no mundo:

    http://www.esquerda.net/artigo/10-empresas-que-controlam-40-mil-outras/42115

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