Grampo de caciques do PMDB foi usado em denúncias por Janot e agora é arquivado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A conversa entre peemedebistas que se tornou um dos marcos dos grampos na Lava Jato foi usada pelo ex-PGR em diversas peças acusatórias. Quando deixou de ser necessária, tornou-se insuficiente para uma denúncia
 

Foto: José Cruz/Agência Brasil
 
Jornal GGN – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, atendeu ao pedido do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e arquivou o inquérito contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), José Sarney (PMDB-AP) o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, por obstrução à Operação Lava Jato.
 
Conforme o GGN divulgou, outras peças do ex-procurador-geral da República usavam trechos do diálogo grampeado entre Machado e os caciques peemedebistas para indicar que o impeachment de Dilma Rousseff foi parte das negociações de obstrução dos políticos aos avanços das investigações.
 
Foi o caso das denúncias contra Michel Temer, enviada à Câmara, e a denúncia contra Aécio Neves, enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nas peças, Janot recorreu da chamada “estancar a sangria” para descrever ações de parlamentares e da cúpula do governo Temer para impedir as investigações da Operação, ocasionando o impeachment de Dilma.
 
No inquérito contra Aécio [leia aqui], Janot sustentava que o diálogo do senador com Jucá, mencionando que era preciso tomar alguma medida, porque seria “agora ou nunca”, era continuidade da conversa do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, de articulação dos parlamentares de ex-oposição para o impeachment e obstruir a Justiça. 
 
Em seguida, nas peças contra o atual presidente da República [leia aqui], Janot também enfatizava a conexão da mesma conversa com as intenções de Temer de impedir os avanços da Lava Jato. Sem mencionar diretamente a frase de Jucá que se tornou célebre, o ex-PGR usou a lógica:
 
“Em diálogo captado, Romero Jucá e Sérgio Machado aduzem essa solução: ‘SERGIO – Saiu na imprensa e… mais inteligente ela sair de licença. Passar o poder para o MICHEL. Ela tinha que garantir o que? Tinha que garantir que ela ficaria protegida. ROMERO – É, também acho… SERGIO – e se pode ser protegido pelo MICHEL. Então você tem a saída da renúncia que é melhor.., mas ela deixaria… acho que a licença… ROMERO – A licença é a mais suave, né? SERGIO – É má suave e ela continua presidente. – ROMERO – Negocia proteção ao Lula. SERGIO – Ela, ela sairia e continuaria presidente…(..) SERGIO – Tem que ter um… ROMERO – Eu acho que tem um, um pacto – SERGIO – Um pacto (..) o que for melhor pra segurança dela. Pede licença. Continua presidente. ROMERO – Num perde o forum.”
 
Depois de citar parte do diálogo, Janot admitiu que o processo de afastamento da ex-presidente foi parte da estratégia de obstrução dos opositores: “Como não lograram êxito em suas tratativas, em 29.03.2016, o PMDB decidiu deixar formalmente a base do governo e, em 17.04.2016, o pedido de abertura de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados.”
 
Entretanto, contrariando todas as acusações contra Aécio e Temer, Janot pediu o arquivamento do inquérito que investigava a cúpula peemedebista. O motivo foi a recomendação da Polícia Federal. A delegada responsável pelo pedido foi Graziela Machado da Costa e Silva que, conforme o GGN revelou em outra reportagem, cometeu uma série de erros que favoreceram peemedebistas na Operação Lava Jato [leia aqui].
 
A delegada colocou em risco toda a apuração após constatar que a delação de Sérgio Machado apresentava irregularidades. “Tem-se no caso presente que as conversas estabelecidas entre Sérgio Machado e seus interlocutores, limitaram-se à esfera pré-executória, ou seja, não passaram de meras cogitações (…) É preciso mais. Concluo que, no que concerne ao objeto deste inquérito, a colaboração que embasou o presente pedido de instrução mostrou-se ineficaz”, havia entendido.
 
O documento assinado pela delegada Graziela foi remetido a Janot, que também não quis dar sequência às investigações, ainda que tenha usado o grampo em outros inquéritos e denúncias. Assim, o ex-procurador-geral da República pediu o arquivamento, autorizado por Fachin nesta semana.
 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Os homens que querem limpar o país, deixam livres os limpadores

    do erário público. E nesta história dos irmãos Batista, não tinha uma gravação onde o PRESOidente DANAÇÃO tinha dado informações privilegiadas? Ou foi o ex funcionário deles, hoje funcionário de Temer que faz INserviço ao país?

    1. Eu sempre disse o mesmo

      Rodrigo Janot, ao contrário do que diz Luís Nassif, é, e sempren foi, um rematado canalha, além de incompetente. E não sou eu apenas quem diz isso. Eugênio Aragão deixou isso claro; até mesmo  opusilânime Teori Zavascki chamou a atenção para o despreparo jurídico desse golpista que ocupou a PGR por 4 anos.

      A armação com a cúpula peeemedebista (envolvendo Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney) é comparaável a essa outra, feita em consórcio com a Globo, com a JBS e com o DoJ. Para mim sempre foi claro que Janot fez esse monte de merdas exatamente para que as quadrilhas que ele, PGR, a ORCRIM lavajateira, o PIG/PPV e alto comando golpista colocaram no GF não receba quaqluer punição. 

       

    1. o….

      “Jorgina de Freitas” finalmente foi presa. E o Estado Brasileiro posto dentro da Constituição e das Leis. Tudo mudou para tudo continuar como estava. A Economia, Empresários e Sociedade Brasileiros presos, destruídos e intimidados e a Casa Grande, agora com cômodos em vários tons de vermelho, mantendo sua Nababesca Corte. o STF e Procuradoria, agora “do lado certo”, descobre que a Economia Nacional extorquia Executivo, Legislativo e Judiciário. E não o contrário, como mostra nosso Republicanismo Redemocrata dos últimos 40 anos.  Aberração na Terra. Realmente, as Instituições Brasileiras continuam funcionando normalmente. 

  2. Que circo mambembe é esse judiciário, pagar os milionários

    salários dessa trupe mambembe a serviço da corrupção me deixa doente, me faz pensar em guilhotina e pelotão de fuzilamento!

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