Fim do monopólio do urânio fazia parte da fatura da Lava Jato

Desde a visita do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ao Departamento de Justiça dos EUA, o tema nuclear já estava na agenda da parceria DoJ-Lava Jato. Alertamos, na época, dando a Janot e à Lava Jato o benefício da dúvida: podia ser que fosse movido pela ignorância, não pela estratégia anti-nacional.

Com a intenção de se abrir a exploração do urânio ao setor privado, vai se confirmando cada vez mais a tese da conspiração antinacional da Lava Jato

Artigo publicado em 01/08/2015

Com o devido cuidado para não embarcar em teorias conspiratórias, vamos a alguma coincidências ligadas ao suposto escândalo na Eletronuclear envolvendo o Almirante Othon Luiz Pereira da Silva.

Ao longo de sua carreira, Othon acumulou um conhecimento único sobre um mercado que, no comércio mundial, equivale a US$ 100 bilhões/ano. Como consultor, teria condições de levantar valores dezenas de vezes superiores aos R$ 4,5 milhões – que teria recebido ao longo de seis ano, conforme despacho do juiz Sérgio Moro, acolhendo denúncia dos procuradores do Ministério Público Federal.

É possível que seja culpado, é possível que não.  O fato objetivo é que sua detenção afeta profundamente o programa nuclear brasileiro, um dos maiores feitos tecnológicos do país.

A gravidade do fato chama mais a atenção sobre a maneira como a força tarefa da Lava Jato chegou a ele.

Seu nome surgiu em uma segunda delação do presidente da Andrade Gutierrez Dalton Avancini. Procuradores exigiram que Dalton apresentasse fatos novos, já que seu depoimento não acrescentava muito ao que já se sabia sobre a Petrobras. A partir da reformulação de sua delação, deflagrou-se a Operação Radioatividade, para investigar suspeitas na área nuclear.

Segundo o repórter Fausto Macedo, do Estadão, “Avancini disse que “ouviu dizer” que havia uma promessa de propina para o militar” (http://migre.me/qZRVL). Segundo o Jornal Nacional, Avancini disse “não saber de efetivamente houve algum repasse de propina a alguém” (http://migre.me/qZSdt).

No seu despacho, o juiz Moro relaciona uma série de pagamentos a empresas de propriedades das filhas de Othon.

Há enorme desproporção entre as supostas propinas e os contratos que teriam beneficiado as empreiteiras. Para contratos que ascendem a mais de um bilhão de reais, o inquérito apura R$ 109 mil pagos pela Camargo Corrêa, R$ 371 mil pela Techint, e R$ 504 mil pela OAS a um escritório de propriedade das filhas de Othon. E constata que a OAS não fez nenhum dos negócios apontados nas investigações (http://migre.me/qZSox).

Uma dos supostos benefícios teria sido a retomada das obras de Angra 3 – uma decisão exclusiva da Presidência da República, do Ministério da Defesa e do Estado Maior das Forças Armadas.

Moro reconhece que os pagamentos podem ter causa lícita, “pela prestação de serviços reais de assessoria ou consultoria ou por eventuais direitos de patentes, pelo menos considerando as conhecidas qualificações técnicas de Othon Luiz”.

Procuradores atestaram que o escritório presta serviços de tradução. Traduções técnicas, ainda mais em áreas da complexidade da nuclear, custam caro.

No entanto, alega “um possível conflito de interesses que coloca em suspeita esses pagamentos.” (http://migre.me/qZS64) Por conta desse possível conflito de interesses, coloca na cadeia o mais relevante cientista militar brasileiro, desde o Almirante Álvaro Alberto e compromete uma tecnologia crítica para o país.

Os caminhos que levaram a Othon

Como se chegou a Othon?

Há uma disputa histórica de autoridades norte-americanas contra o programa nuclear brasileiro. A tecnologia de enriquecimento de urânio foi uma conquista histórica, que envolveu muito sigilo, inclusive a existência de fundos secretos, para possibilitar adquirir equipamentos e peças passando ao pargo do controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Nos primeiros dias de fevereiro passado, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot seguiu para os Estados Unidos acompanhando procuradores da Lava Jato.

A ida de Janot e da força tarefa da Lava Jato causou estranheza, expressa por nosso articulista André Araújo, um profundo conhecedor do jogo político internacional e dos mecanismos internos da real politik norte-americana

“O que vai fazer nos EUA a Procuradoria-Geral da República do Brasil? Vai ajudar os americanos na acusação contra a Petrobras? Mas a Petrobras é parte do Estado que lhes paga os salários, está sendo atacada no estrangeiro, eles vão lá ajudar os autores das ações?

Quem deveria ir para os EUA é a Advocacia-Geral da União, orgão que funciona como defensora dos interesses do Estado brasileiro. A AGU poderia ir aos EUA para ser auxiliar da defesa dos advogados da Petrobras porque, salvo melhor juizo, um Estado não vai ao estrangeiro acusar a si mesmo ou ajudar outro Estado a lhe fazer acusações. Quem processa a Petrobras indiretamente está processando o Estado brasileiro.

Fora do Brasil só há um ente que representa o Brasil, o Estado brasileiro, representado pelo Poder Executivo (art.84 da Constituição). Só o Poder Executivo representa o Brasil no exterior, a PGR não é um Estado separado do Brasil.

Quem representa o Brasil em Washington é a Embaixada do Brasil, a quem cabe os contatos com o Governo americano e suas dependências, a Embaixada deveria estar atenta para proteger a Petrobras nos EUA” (http://migre.me/qZSB1).

Em resposta, a Secretaria de Comunicação Social da PGR informou que “o PGR Rodrigo Janot tem agenda separada, não relacionada a esse processo, e manterá encontros no FBI, no Banco Mundial e na OEA” (http://migre.me/qZSEG)

Apesar da nota da Secom, uma das pessoas visitadas foi Leslie Caldwell, procuradora-adjunta encarregada da Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (http://migre.me/qZSvO).

Leslie tem ampla experiência em apurações criminais, tendo participado dos trabalhos que terminaram na denúncia da Enron e da Arthur Andersen. Debita-se a ela a destruição de 85 mil empregos por seu estilo implacável, de não saber punir pessoas preservando empresas.

Obama a indicou para o cargo no dia 15  de maio de 2014.

Ocorre que desde 2004 ela era sócia do escritório Morgan Lewis de Nova York, atuando na área de contenciosos (http://migre.me/qZT2S).

Uma das especialidades do escritório é justamente o setor de energia (http://migre.me/qZT62), especificamente nas relações entre setor privado e governo. O sócio Brad Fagg é apresentado como advogado principal para a maioria das instalações comerciais norte-americanas. Sob a liderança de Brad – diz o site do escritório – os clientes ganharam mais de US$ 2 bilhões em decisões na área pública.

O mercado nuclear experimentou um renascimento, a ponto do escritório ter aberto uma filial em Londres para orientar os investidores interessados no setor, depois da desregulamentação do setor de energia no Reino Unido em 2004 (http://migre.me/qZU4M).

O escritório se apresentava como representante de um grade número de empresas que ocupam praticamente todos os segmentos de combustível nuclear, desde a mineração de urânio e enriquecimento para a fabricação de combustíveis.

Não é crível supor que Janot tenha participado de uma conspiração internacional. É mais certo que o açodamento e a desinformação tenham feito Janot tornar-se inadvertidamente um instrumento de um jogo geopolítico internacional, no qual o interesse do país foi jogado para terceiro plano.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Isto é grave e desde de 2016 a perseguição a Othon está em pauta. Mas a perseguição a Othon tem uma origem anterior. Quem quiser saber nas palavras de Othon, leiam https://jornalggn.com.br/noticia/as-inspecoes-nucleares-no-brasil-e-o-mictorio-publico-frances/. Othon foi uma das primeiras vítimas e a sua condenação com uma dosimetria absurda foi uma das primeiras da Lava Jato. E usaram a filha de Othon como chantagem. Curiosamente foi feita sem muito alarde e a midia jamais tratou de forma digna Othon, Praticamente esconderam o seu curriculo, e na egide da lava Jato carimbaram com a estampa de corrupto. Quando prenderam Othon, e fizeram o que fizeram, não apenas afastaram um gerente de uma empresa. Afastaram um homem que era o esteio de um projeto de desenvolvimento tecnológico de grande amplitude e gandes implicações geopolíticas. Mas a Lava Jato avançou em tudo que tinha alguma importancia geopolítica. Othon não apenas esteve a frente do desenvolvimento das centrífugas e do submarino nuclear, como estava a frente do proximo passo, que seria a construção de uma industria nacional de refinamento de urânio. Aliás o urânio que estão querendo entregar. O Brasil é uma das maiores fontes de urânio. O Brasil com tecnologia própria de refinamento de urânio, se tornaria provavelmente o lider deste mercado. Desde o episódio das centrifugas relatados pelo proprio Othon no artigo citado no link acima, as pressões estrangeiras, estavam bem mais preocupadas com o bolso, do que com um possível progama bélico. Othon desde esta época era um alvo de interesses estrangeiros. Fizeram a coisa de tal forma a malbaratar tudo o que foi feito. E não acredito que a ação destes procuradores, tenha sido ingênua. Acho que foi sim dirigida, pois cometeram um dos maiores crimes contra o país desrespeitando uma das grandes figuras deste país. Eu sequer vou falar sobre as acusações, pois não creio nelas. Afinal esta é a mesma operação que prende um presidente por um triplex que jamais foi dele, ou um terreno que jamais foi comprado. Uma operação que mente desbragadamente criando o enredo de uma reforma de luxo, de uma tal cozinha kitchens, que se resumia a um fogão Daco, é especialista em criar enredos. Eles são capazes de inventar qualquer enredo, para chegar a seus objetivos. (Quem sabe políticos como o Ministro, ou pecuniários, como os pretendentes a gestores do fundo bilionário). E com certeza tudo isto teve a cumplicidade da imprensa. Quando a imprensa passou todo o tempo falando de corrupção sistêmica, foi apenas uma forma de criar um fosso virtual contra a realidade. Foi uma forma de garantir que todos os alvos fossem atingidos e que a opinião publica desinformada não questionasse nada. E agora toda esta turba vai realizar os lucros. Naquela época, por definição todos os alvos eram corruptos e assim podiam ser escolhidos conforme os interesses. Até os jornalistas de boa fé, diziam, eu não ponho a mão no fogo. E todos sempre começavam pela frase, de que eram a favor da luta contra a corrupção. E o resultado disto é um ministro e sua conge, querendo ditar regras, procuradores querendo controlar fundos bilionários, e todos os delatores em suas casas comendo o ganhado. Enquanto Serras, Aecios e outros, só aparecerão na foto quando for conveniente, mas claro que sem consequências. Afinal Serra é o homem que aprisionou o Estado com tal PEC do orçamento. E pertence ao partido da privataria. Mas o pior mesmo é ver a entrega total do país, por uma figura que usou a imagem nacionalista e moral do Exército, para entregar o país. Como ele disse em vídeo: a amazônia não é nossa.
    O uso exaustivo de Cabral ( este sim um corrupto) é apenas para reforçar o enredo e a narrativa. Junta-se ainda o bombardeio da violência, que quer colocar o povo contra si mesmo. Não basta transformar todas as lideranças políticas em suspeitos ou criminosos, agora os noticiários se resumem a esconder um presidente, e apelando para as cenas de violência transforma todos os brasileiros em criminosos. Pelos noticiários no Brasil só existe crime. Isto facilita o discurso, que ninguém merece qualquer benesse social, e cada um por si. Assim fica mais fácil entregar o país. Fica mais fácil entregar a Educação do pais a Velez e weintraub. E a economia a um Guedes. E no pais das finanças querem entregar as aposentadorias aos bancos. Isto é o dinheiro suado para alguns, numa defesa absurdo do cada um por si e Deus por todos.

  2. Pobre país rico. 40 anos de Redemocracia serviram para isto? Como é fácil lidar com inocentes, ignorantes, desinformados. Nós Somos. Sobre a EMBRAER (se me permitirem) : ” Uma guerra comercial entre a Boeing e a Airbus só vai jogar tudo nas mãos da COMAC”, acrescentou ele, referindo-se à chinesa Commercial Aircraft Corp of China Ltd. Le Maire disse que a Europa tem os meios para retaliar qualquer sanção dos EUA aos produtos da UE, mas acrescentou: “É infinitamente preferível que, junto com nossos aliados dos EUA, encontremos o caminho para um compromisso”. ..Lidar com a China, com Russos e sua Indústria Aeronáutica não é nada fácil. A concorrência será pesada num Mercado Bilionário a ser desenvolvido neste século. Já lidar com o Brasil?! Adeus Petrobrás. Adeus EMBRAER. Adeus Urânio e Gigantesca Tecnologia Indústria Atômica. Bem Vinda Miséria, Analfabetismo, Atraso. Eis aqui a vossa casa. País de muito fácil explicação.

  3. Quando se lava a jato o monopólio estatal de certas áreas…
    a única coisa que fica é a responsabilidade por qualquer tipo de dano independente da existência de culpa, como vimos acontecer com a Petrobras

    adeus pesquisas, adeus certeza da industrialização e uso para fins pacíficos

  4. Eu acredito que o Lula nao se livra no STJ da mesma maneira como foi condenado no TR4.
    A CIA deve ter todos os juizes do Brasil no bolso com dossies pronto caso decidam o contrario.
    Só isso explica a decisao unica do TR4.

  5. Eu ainda amo meu país.
    Nunca pensei que fosse dizer que, por ter/manter meu sentimento, passei a odiar essa maldita bandeira verde.
    Quanto aos militares: são corruptos e nojentos. Othon é a exceção que valida a regra.
    Quanto aos militares: aquilo que plantaram em 1964 finalmente deu fruto: este país perdeu a capacidade de se consertar pelo simples fato de que a corrupção e imbecilidade dos milicos se espalhou ao poder público todo.
    A nação é deles.
    Não nos restou outro destino que não a escravidão…tentamos fugir dela. Mas a criatividade, a falta de escrúpulos, nossa! como é tão forte: lava-jato, bolsonabo, o que mais?
    O que fazer?
    O que nos restará?

    1. Concordo.
      Acho que com o golpe de 2016 o Brasil perdeu a última oportunidade de ser uma nação democrática e soberana, e quem sabe, dentro de uns 50 anos, desenvolvida.
      Agora só nos resta a escuridão ou revolução.

    2. Idem.
      Fico “puto” de ver um apartamento ou caminhão com uma bandeira brasileira à mostra, pois já sei que já se trata de um fascista.
      Me causa um sentimento de tristeza e raiva o fato da bandeira da nação ter sido apropriada por fascistas.
      Creio que jamais voltarei a vestir a maldita camiseta “amarelinha”.
      Desde 2014 me recuso terminantemente a comprar e vestir a mim e meus filhos com esse trapo coxinha.

  6. Conflitos de interesse deveriam ser investigados em relação à mulher de Moro e sua empresa de palestras com Zucholotto como sócio, e se haveria relação com a fundação que queriam criar ou os acordos de leniência que dariam bilhões ao MP do Paraná. Conflito de interesses deveriam ser investigados com Zucholotto como advogado de delatores da Lava-Jato e amigo pessoal e padrinho do casamento de Moro. Queria muito que Tacla Durán contasse tudo o que sabe…

  7. As forças armadas são ou não são lesa pátria, nem se preocuparam em proteger um dos seus e o pior a soberania nacional.

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