Janio de Freitas: estardalhaços das denúncias e silêncio sobre Robson Marinho

Da Folha

Às claras e às escuras

Janio de Freitas

Robson Marinho continua sem se dispor (e sem pre-cisar) à mais simples defesa da inocência que afirma

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, agora com seu afastamento pedido pelo Ministério Público paulista, Robson Marinho é investigado há seis anos. Se não exatamente isso no Brasil, onde tal investigação foi mais impedida do que ativada, investigado pelos promotores da Suíça que descobriram a corrupção entre a multinacional Alstom e governos de São Paulo. Apesar disso, no Brasil, Robson Marinho continua sem se dispor (e sem precisar) à mais simples defesa da inocência que afirma.

Até hoje, Robson Marinho não apresentou um histórico das origens e desenvolvimentos do seu patrimônio empresarial e imobiliário. Não se trata só de atender a curiosidades sobre a posse, por exemplo, de uma ilha hollywoodiana nas águas de Paraty por quem, desde moço, permanece como servidor público. A evolução patrimonial é, isto sim, uma informação preliminar e essencial, para a investigação ou, eventualmente, para a defesa. E sempre para a opinião pública, incentivando ou refreando os impulsos dos meios de comunicação e os reflexos políticos do caso.

Não é essa, porém, uma preocupação permanente no estardalhaço brasileiro a cada caso de algum modo suspeito. Aí está a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. A maior parte da onda vem de exploração político-eleitoral, mas há investigações policiais, acusações parlamentares e apurações na própria Petrobras. E os indícios pessoais, dos vários citados por presumida responsabilidade nas exorbitâncias financeiras? Não interessaram nem para efeito de conhecimento maior do negócio, quanto mais para não distribuir suspeições que vagam por aí, nem justificadas nem apagadas.

A fiscalização do movimento patrimonial de servidores públicos é, a um só tempo, necessária e perigosa. Servidores de determinadas áreas e de níveis mais altos, como a Receita e os postos influentes em estatais e ministérios, conviria que tivessem o patrimônio familiar, a partir de certo nível, conhecido por um setor específico como a Controladoria-Geral da União. A moralidade administrativa e o estágio da corrupção precisam de algo assim.

Um grande porém: o risco de que esse controle, apenas burocrático na intenção, descambe para uma forma de policialismo é, mesmo apenas como risco, incompatível com o regime democrático. Nada por aqui, no dispositivo do Estado, é bastante confiável para merecer tamanho crédito. Com os governos dependentes da entrega de cargos em troca de apoio parlamentar, a administração pública não tem estabilidade e constância. Cada atividade depende de quem está de passagem pela direção. Um pequeno risco torna-se então um perigo real.

Mas tudo indica que já estamos em situação duplamente arriscada. Delegados da Polícia Federal informam, em advertência mal velada aos destinatários de suas reivindicações, que há 600 operações em curso ou em perspectiva. Todos os dias conhecem-se gravações de telefonemas e conversas cujos interlocutores nem sequer faziam ideia de que pudessem estar assim expostos. Disso, o que sabemos são, em princípio, as gravações e buscas domésticas que dão resultado, mas não se sabe se há, o que há e quanto há que não chega ao conhecimento público, em escutas e buscas feitas sem êxito.

De outra parte, o repassado ao noticiário demonstra a amplitude e a penetração assombrosas da corrupção. E aí as 600 operações até parecem poucas.

Mas que bobagem minha, de falar nisso. Quem fala de assuntos importantes é o Felipão e é o Ronaldo. Desculpe o desvio, leitor. Foi desvio, mas não de dinheiro.

Redação

8 Comentários

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  1. Política em vez de jornalismo

    É , Jânio , se em vez de política o seu jornal e a chamada grande imprensa fizessem jornalismo esse seu texto seria levado um pouco mais a sério.

    Mas como vocês deixaram o jornalismo de lado há um bom tempo e perderam toda a credibilidade , não adianta mais espernear tentando mostrar alguma preocupação fazendo esse joguinho de assuntos importantes.

    1. Não confundam Jânio com Folha, por favor.

      Carlo B, não da gostei da forma como você trata mestre Jânio de Freitas. O jornal não é dele, ele é apenas um dos raros jornalistas  intelectualmente honestos que sobraram na Folha. Não o culpe pela draga que o jornal virou. Isso foi decisão dos Frias, donos do jornal, donos do capital.

      1. Pera lá, Alvaro. O Jânio é

        Pera lá, Alvaro. O Jânio é talvez o mais antigo colaborador da Falha atualmente, e faz parte do seu Conselho Editorial. Ou seja, ele joga o jogo.

        Alguns anos atrás, na época do Mentirão, ele destilou seus instintos investigativos na onda do denuncismo farsesco que tomou conta da grande mídia.

        Por outro lado, não vimos seu jornalismo combativo nesta história assombrosa do Metrô paulista, que já se arrasta por mais de 12 anos desde a primeira denúncia. Também não vimos sua força de argumentos no caso Perillo-Cachoeira-Veja, onde o Demóstenes foi o boi de piranha.

        No caso da AP 470 ele vem se redimindo com bons textos (alguns meio desavergonhados), ok, mas ele faz parte do time, tem patrão e obedece. Intelectualmente honesto não sei, perdi a confiança lá atrás, mas eticamente honesto, não é mesmo. Vide tantos jornalistas que perderam a cabeça nos últimos 10 anos por conta de suas opiniões e temas abordados, começando pelo próprio Nassif.

  2. Procurar o que deve, como

    Procurar o que deve, como nesse caso, os procuradores não procuram. Reforma do judiciário tem que ser uma prioridade. Eles estão ultrapassando todos os limites. Esses TCs, então – o cabideiro mais bem remunerado do planeta.

  3. Mais uma vez…

    Exatamente, AlvaroTadeu. Já cansei de escrever a mesma coisa aqui, mas parece que alguns participantes simplesmente não conseguem separar alhos de bugalhos, além de desconhecerem a trajetória do Janio de Freitas e o que ele representa. 

  4. É do pSDb?

    É do PSDB?

    Não vai acontecer nada.

    Vamos para a próxima notícia.

    Não vamos perde tempo.

    Qualquer coisa, chama o Zanchetta e o Anarquista para comentar.

  5. Pois é, infelizmente nas

    Pois é, infelizmente nas águas e ilhas da minha Paraty tem muito mais do que peixes coloridos e paisagens deslumbrantes.

    Nos anos 70 os amigos dos militares fizeram a festa na ocupação das terras caiçaras, indígenas e quilombolas, por conta da construção deste ramal da BR 101, a Rio-Santos.

    Um dos Marinhos da vênus platinada e seus bilhões vem fazendo a festa na aquisição de propriedades, ele que já tem uma mansão e praia particular (??) e um condomínio privê na beira da nova Paraty-Cunha.

    Bolsonaro é outro que desfila por aqui, geralmente invadindo áreas de proteção.

    O Robson, pelo jeito que a coisa vai, pode virar um Crusoé. Ilha paradisíaca já tem. Falta o ostracismo.

  6. Valeu, Janio de Freitas, mas

    Valeu, Janio de Freitas, mas com essa imprensa, esse mp e esse judiciário de sp, esquece.

    Esse fato a mais só serve para mostrar a cara de pau e o moralismo seletivo dessa oposição e de uns e outros cidadãos “bem informados”.

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