Janot dá tom de campanha: seis anos na PGR ou Executivo?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas
 
Jornal GGN – Com os dias contados para o fim de seus quatro anos de mandato, Rodrigo Janot estuda uma possível recandidatura ao cargo maior da Procuradoria-Geral da República, epicentro da Operação Lava Jato envolvendo os políticos. O prazo para apresentar o nome à disputa interna termina hoje, 24 de maio, e a disputa oficial começa amanhã.
 
Ainda em janeiro deste ano, quando aventou o desejo de cumprir um terceiro mandato de dois anos, uma grande resistência se formou entre procuradores da República. Um de seus principais opositores, o subprocurador Carlos Frederico, que novamente este ano tenta a lista tríplice, criticou fortemente o intento de Janot.
 
Á época, chegou a publicar em um fórum fechado de discussões virtuais dos membros do MPF que Rodrigo Janot estava tentando “brindeirar”, em referência ao procurador Geraldo Brindeiro, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, que ocupou o posto por oito anos e foi considerado o “engavetador geral da República”.
 
“Com surpresa, vejo agora Janot ‘brindeirar’… Por mais quanto tempo? Às custas de quê? Se o futuro a Deus pertence, o passado tem suas linhas escritas na história, e não há como distorcer fatos, principalmente onde não há ambiguidade”, havia dito Carlos Frederico em duro tom.
 
Até agora, cinco procuradores anunciaram o interesse à disputa interna para levar os nomes da lista tríplice: além de Frederico; o vice-procurador-geral Eleitoral Nicolao Dino; Mario Bonsaglia, que concorreu na última disputa e ficou em segundo lugar com 462 votos; o subprocurador Franklin Rodrigues da Costa, e Eitel Santiago, que já foi corregedor geral do Ministério Público Federal, entre 2005 e 2006.
 
Em entrevista ao colunista do G1, Matheus Leitão, o presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), José Robalinho Cavalcanti, evidenciou o apoio a atual procurador para uma recandidatura: “Janot tem toda a legitimidade para decidir e ele tem todo o direito de decidir até o último momento”, disse.
 
Além de Robalinho, fieis defensores da Operação Lava Jato também apoiam o nome de Rodrigo Janot para ocupar mais dois anos, em um total que somariam 6 na Procuradoria-Geral da República. Neste contexto, a recente grande briga comprada por Janot com o atual presidente, Michel Temer, traz um peso a mais para a decisão do procurador. 
 
Foi a fala de Temer, em abril deste ano, que deu início à guerra. O peemedebista afirmou que não é obrigatoriedade da Constituição a chamada lista tríplice, resultado de uma eleição interna entre membros do MPF para recomendar três nomes ao presidente da República, responsável por definir o procurador-geral. Temer disse: a lista “tem sido respeitada nos últimos anos, mas não há nenhuma previsão constitucional que me obrigue a segui-la”.
 
Naquele momento, o desejo de Temer de ver Janot longe do comando da Procuradoria-Geral da República foi o mesmo de Janot ver Temer fora do comando do Executivo. 
 
Se as dúvidas ainda permeiam o próprio meio jurídico, onde Janot recebe, por um lado, o apoio para se reconduzir à cadeira de setores mais conservadores do MPF, como o presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, por outro, a falta de respostas abre suspeitas de que o procurador-geral esteja interessado em liderar outro Poder.
 
O vazamento da conversa entre o ex-colunista da Veja, Reinaldo Azevedo, e Andrea Neves, irmã e a operadora do senador tucano Aécio Neves, trouxe uma outra expectativa que corre nos bastidores da política e do Judiciário. 
 
Ainda que as publicações de Azevedo na revista e seus comentários na rádio Jovem Pan tratavam de carregar menos em apurações efetivas e mais no teor opinativo, o jornalista tem ampla passagem pelo meio político, sobretudo com fontes e nomes do PSDB e PMDB. 
 
Não à toa que foi na conversa com Andrea Neves que o ex-colunista declarou haver suspeitas fortes de que Rodrigo Janot estaria de olho em uma candidatura para o ano de 2018: 
 
Reinaldo Azevedo – A gente precisa ter elementos objetivos de um certo senhor mineiro aí, cuidando da candidatura dele ou à presidência ou ao governo do Estado.
Andrea Neves – Como assim?
Reinaldo Azevedo – O nosso procurador-geral.
Andrea Neves – Você está achando?
Reinaldo Azevedo – Ôxi.. fiquei sabendo que está tendo conversas. Eu só preciso ter gente que endosse isso de algum jeito. Ter um pouco mais de elementos concretos. Que ele está, está. Presidência talvez não, mas o governo de Minas, sim.
 
A conversa de Reinaldo Azevedo foi publicada pelo site Buzzfeed, após integrar os autos retirados do sigilo, da investigação contra Aécio Neves e sua irmão, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.
 
Em recente nota, a PGR esclareceu que não foi a Procuradoria a responsável por “anexar”, “divulgar” ou “transcrever” a conversa envolvendo o jornalista, responsabilizando a Polícia Federal (PF) por incluir na ação cautelar as mídias com os grampos de Aécio.
 
Neste contexto de um possível desejo de disputar eleições: seja na recondução à liderança da Procuradoria, seja no âmbito do Executivo, como governador de Minas Gerais ou até mesmo presidente da República, Janot deu o tom de que está preparado para uma campanha.
 
A demonstração ficou clara com a publicação de um artigo, nesta terça-feira (23), no Uol, criticando o mandatário Michel Temer, criticando os governos petistas de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, enaltecendo os avanços da Operação Lava Jato, e tirando uma carta mais para queimar em uma nova construção de imagem “imparcial”: críticas ao senador Aécio Neves (PSDB).
 
Em determinado trecho do artigo, Rodrigo Janot evidenciou seu interesse: o de atender “o juízo da sociedade”. “Que juízo faria a sociedade do MPF se os demais fatos delituosos apresentados, como a conta-corrente no exterior que atendia a dois ex-presidentes, fossem simplesmente ignorados? Foram as perguntas que precisei responder na solidão do meu cargo”, escreveu.
 
Leia mais: Com fim de mandato, Janot admite custos da Lava Jato e entrega Aécio como isca
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Somente um maluco -e tambem

    Somente um maluco -e tambem desequilibrado- “colunista” como esse pensaria que Janot eh, digamos, farto material para o executivo.

    Pior ainda:  o “jornalista” esta “servindo de fonte” para a oposicao a Janot!

    Que merda eh essa agora?!  Nao eh mais facil encarar uma fofoca frente a frente?

    Eh assassinato de reputacao suicidada por outra reputacao suicidada, gente.

    Ignorem.

  2. As táticas …

    …   Essas táticas deste nefasto são tão evidentes, as mesmas intenções que Joaquim Barbosa tentou, Morco começou e agora está todo o mundo da toga fascista com suas táticas para, angariar o poder do executivo com 2 finalidades, tentar se esquivar da prisão que irá sofrer ou mesmo continuar a implatação do estado da toga fascista, este crápula e todos os demais agentes da lava jato deveriam ir para a cadeia, pois eles sabem que estão cometendo crimes de corrupção, lobby, obstrução a justiça, tráfico de influência devido ao fato de parentes deles estarem defendendo quem eles estão acusando, esta gente tem que ir para a cadeia.

  3. Interesse

    Olha, é algo para analisar, pois ele está exaltando seu nome, “lista do Janot”,  e assim ele está criando seu nome, não duvido e nem acredito firmimente. 

  4. Interesse

    Olha, é algo para analisar, pois ele está exaltando seu nome, “lista do Janot”,  e assim ele está criando seu nome, não duvido e nem acredito firmimente. 

  5. Palavras de Janot, soltas ao vento, repletas de veneno.aecista!

    Em sua peroração de candidato, seja à recondução à PGR, com vistas à Presidência da República 2018 como se uma lista tríplice lhe bastasse para preparar tão alto vôo, ou ainda para suceder Pimentel na falta absoluta de tucanos politicamente vivos, Janot cita “…a conta corrente que atendia dois presidentes…”, amparando-se na delação combinada de Joesley & cia.

    Avulta ainda mais esta citação do atual PGR, provavelmente precipitada na falta de homologação pelo STF, a exemplo da gravação do colóquio Joesley-Temer, agora alvo de perícia enquanto fluem explicações TEMERárias, cada vez mais inconsistentes e destemperadas a tentar justificar uma espécie de “batom na cueca” na calada da noite, no subsolo do  Jaburu.

    Cientes da posição que ele ocupa junto aos 3 poderes, entendemos poder exigir que demonstre as provas ou evidências, com fatos concretos, palpáveis e inegáveis que demonstrem não se tratar apenas de falação eleitoreira, que não reeditem o cínico uso da conhecida e distorcida (vide AP 470) “teoria do domínio do fato”, que venha a cruzada evangélico-vingativa consolidada no ridículo PowerPoint dalanhólico.

    Vinganças políticas mesquinhas de um senador de fala chula, tipo “…vou fazer só pra encher o saco de quem me derrotou!”, amparada na ação parlamentar deletéria (pautas bomba de 2015/2016) de um deslavado corrupto, hoje condenado e preso nas masmorras de Curitiba, resultaram na posse de notório conspirador que hoje se revela um marionete em busca desesperada de uma saída que signifique “deixar o cargo que ocupou sem qualquer mérito, sem dignidade, sem base política”, porém que desfrute de um indulto a lhe garantir uma não-prisão ao fim de sua desastrada aventura no Planalto.

    O usurpador não contente com o fiasco resultante de uma ação política desastrada e de uma trajetória corrupta que se desnuda pior a cada dia que passa, a cada falação destemperada onde se enrola na teia de desenfreada prática corrupta, curva-se vergonhosamente diante de um chefe militar linha duríssima, vingativo e insolente diante de Verdades reveladas, que lhe impóe a submissão vergonhosa de afrontar as leis e a CF88, “decretando” um estado de exceção de 7 dias.

    1. A impunidade do Joesley deveria ser proporcional às provas

      A impunidade do Joel deveria ser proporcional às delações comprovadas. Se ele delata cem pessoas e só comprova o crime de duas delas, como ele pode ficar não só 100% impune mais praticar mais crimes impunemente por conta de sua delação?

       

  6. Desceram para o Play-Ground.

    Os caras desceram definitivamente, sem nenhum pudor, para o Play-Ground da política partidária mais rasteira e fisiológica, de forma criminosa, fazendo uso ilegal das atribuições das atribuições do cargo que ocupam, como arma de ação e propaganda. 

    Já que desceram, tem que ser chamados pra dançar nas tribunas da Câmara e do Senado. Onde estão os representantes do povo, eleitos, que ainda restam, se é que resta algum?

    Só o Lula que tem peito para enfrentar essas imundícies, sem cargo e sem nenhuma proteção legal?

     

  7. Desencadeada nova fase da Lava Jato (Carwash para os Bestas)

    Na fase superada da Lava Jato, a coisa funcionava assim: Os Jateiros prendiam um tubarão do sub-mundo do crime, o condenavam a 70 anos de prisão além de multas  e lhe lhe davam a seguinte possibilidade: Nós garantimos a impunidade de teus crimes se tu delatares alguns bagres e Petistas, mormente Lula. Nós não podemos condená-los apenas com base na tua delação mas podemos absolver-ter apenas com base nessa delação. Daí tu ficas livre, leve e solto e se tu praticares crimes durante dez anos, tu perdes tua liberdade e voltas a cumprir tua pena. Se tu passares dez anos sem praticar crimes, tu ficas impune para sempre. O sujeito delatava, era solto, o produto do seu crime era lavado pela justiça e ele ia curtir a vida. Então os Jateiros en conluio com a imprensa, através de vazamentos seletivos, dariam um jeito de perseguir Lula e acioná-lo na Justiça, buscando alguma materialdiade que demonstrasse que Lula era o autor dos crimes a si imputados, valendo até fotos ao lado de criminosos como prova dos crimes.

    Agora o Janot/$TF desencadearam uma nova fase: eles garantem não só a impunidade dos crimes pretéritos do delator mas também que ele pratique crimes impunemente, claro, desde que delate o Lula, não importando sem consigam ou não comprovar suas alegações. Joesley aproveitou sua delação não só para garantir a impunidade de seus crimes pretéritos, mas para praticar mais crimes contra a ordem econômica impunemente. Comprar dólares na baixa, por o mercado em polvorosa e vendê-los na alta, enriquecendo sem enfiar um prego numa barra de sabão.

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