João Arcanjo é condenado a 19 anos de prisão por assassinato de empresário

Do G1

Arcanjo é condenado a 19 anos pela morte de empresário em Cuiabá
 
Julgamento durou pouco mais de 10 horas nesta quinta em Cuiabá. Sávio Brandão foi assassinado a tiros em setembro de 2002.
 
Kelly Martins
 
O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro foi condenado a 19 anos de prisão em regime fechado pelo Tribunal do Júri, na Comarca de Cuiabá, por ser o mandante da morte do empresário Domingos Sávio Brandão de Lima Júnior, dono de um jornal na capital. O julgamento ocorreu nesta quinta-feira (24) e durou mais de 10 horas. Arcanjo era o único dos cinco indiciados pelo Ministério Público Estadual (MPE) por envolvimento no crime que ainda não tinha sido condenado. A defesa disse que deve recorrer da decisão.

O juiz Marcos Faleiros, da Primeira Vara Criminal da Comarca da capital, que presidiu a audiência, negou que o réu recorra da sentença em liberdade. Arcanjo cumpre pena por outros crimes na Penitenciária Federal de Rondônia e deverá deixar a capital mato-grossense nesta sexta-feira (25).

O desfecho do julgamento sobre o caso ocorre 11 anos depois do assassinado de Sávio Brandão. Arcanjo recebeu quatro votos favoráveis pela sua condenação e três pela absolvição. O advogado Zaid Arbid, que atua na defesa do ex-bicheiro, declarou que a condenação do réu já era prevista, mas destacou o fato de ele não ter sido enquadrado em crime hediondo.

“Vamos recorrer da decisão e vale destacar que o Arcanjo já cumpre pena há 10 anos. Vamos tentar pedir o relaxamento da prisão”, enfatizou o advogado. Durante a leitura da sentença, o juiz disse que o júri reconheceu a qualificação do crime de mando e também de que não houve chance da vítima se defender.

Para o promotor João Augusto Veras Gadelha, a pena contra Arcanjo deveria ser maior. “Estava esperando ao menos que ele fosse condenado a 20 anos de prisão”, ressaltou. Gadelha, que desde 2002 – data do crime – vem atuando no caso, avalia que o julgamento abriu “portas” para futuras sentenças em outras ações que Arcanjo responde por homicídio e avalia que a atual condenação  foi satisfatória.

Arcanjo, por outro lado, disse durante o julgamento que não teve qualquer envolvimento com a morte de Sávio Brandão. Mas reconheceu que atuou como contraventor, com cassinos e jogo do bicho. “Não sou santo, mas esse crime [do assassinato] eu não cometi. Não tenho as mãos sujas de sangue”, concluiu o ex-bicheiro.

Logo após anunciada a sentença, a emoção tomou conta da família de Sávio Brandão, que acompanhou todo o julgamento. A mãe de Sávio Brandão, Josefina Paes de Barros Lima, de 83 anos, não conteve as lágrimas e frisou que a Justiça foi feita. “Não terei meu filho de volta e nem vou poder ter ele em meu colo. Desde o início, a única coisa que eu fiz foi entregar tudo pra Deus. E ele [Deus] sabe o que faz”, desabafou.

Josefina e a filha, Luíza Marília de Barros Lima, moram no Rio de Janeiro e foram até Cuiabá somente para o júri. Luíza foi arrolada pelo MPE como testemunha de acusação, na condição de informante, por ser irmã da vítima. “Meu coração está aliviado. Pelo menos isso”, pontuou, emocionada.

O crime
Foi às 15h15 do dia 30 de setembro de 2002 que dois homens em uma moto se aproximaram do empresário Sávio Brandão, que estava acompanhado de um amigo em frente à obra da futura sede do jornal Folha do Estado, no Bairro Consil, em Cuiabá. Um deles, na garupa, sacou uma pistola e disparou os tiros à queima roupa. A polícia aponta que a execução do empresário ocorreu devido às reportagens veiculadas no jornal de Sávio sobre negócios fraudulentos, irregularidades e jogatina ilegal que envolvia o então bicheiro João Arcanjo Ribeiro.

Na edição de 14 de maio de 2001, a Folha chamou o réu de “Al Capone de Mato Grosso”, por exemplo, conforme consta da denúncia do MPE. O inquérito que apurou o caso concluiu que a morte de Sávio foi executada em etapas e envolveu pelo menos cinco pessoas: João Arcanjo Ribeiro, Hércules Araújo Agostinho, Célio Alves, João Leite e Fernando Barbosa. Ainda segundo a investigação, João Leite teria contratado o ex-policial militar Célio Alves que, por sua vez, chamou o ex-cabo Hércules e Fernando Belo para cometer o crime. Os autos do processo apontam que os dois últimos estavam na moto que se aproximou de Sávio no momento do assassinato e que Hércules foi o autor dos disparos. O ex-cabo em depoimento confessou a autoria do crime.

Prisões e condenações
Hércules e Célio foram presos e, dois meses depois do crime, foi decretada a prisão de João Arcanjo Ribeiro. Em seguida, foi decretada a prisão de Fernando Belo Barbosa, preso na Itália, pela Interpol, no dia 7 de outubro de 2003 e extraditado para Mato Grosso. Em 2004, o ex-segurança João Leite foi preso em Mato Grosso do Sul. Todos, com exceção de Arcanjo, já foram julgados e condenados pelo crime.

Célio foi condenado a 17 anos de prisão pelo crime e, Hércules, a 18 anos. João Leite foi condenado a 15 anos de prisão pelo homicídio. Fernando Belo, também foi condenado a 13 anos de reclusão, mas conseguiu na Justiça a liberdade condicional. Fora da prisão, Fernando Belo acabou assassinado a tiros em 2010, no bairro Doutor Fábio, em Cuiabá.

Prisão no Uruguai e extradição
João Arcanjo Ribeiro foi preso em 2003 em Montevidéu, no Uruguai, depois que foi deflagrada em Mato Grosso a operação Arca de Noé, para desarticular o crime organizado no estado. Ele foi extraditado para o Brasil por determinação do juiz Julier Sebastião da Silva, em 2006, e atualmente está preso na penitenciária federal de Porto Velho (RO).

Arcanjo cumpre, atualmente, pena por sonegação fiscal, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro, cujos processos são decorrentes da Justiça Federal. Ele foi sentenciado a 19 anos e quatro meses de reclusão pelos crimes.

Arcanjo é acusado ainda pelo Ministério Público de ter mandado matar os empresários Rivelino Brunini, Fauze Rachid Jaudy e Mauro Manhoso, o cabo da PM Valdir Pereira, e Leandro dos Santos, Celso Borges e Mauro Moraes, que teriam assaltado uma das bancas de jogos de bicho da Colibri.

Redação

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