Lava Jato não remete bilhete que cita Dilma ao STF, por Marcelo Auler

 
Jornal GGN – Responsáveis pela Lava Jato deixam transparecer mais uma irregularidade da operação deflagrada há dois anos, pela Polícia Federal. O fato foi identificado pelo jornalista Marcelo Auler. Há poucas semanas a revista Isto É divulgou numa reportagem um bilhete escrito por Meire Poza, que trabalhou com o doleiro Alberto Youssef que continha o nome da presidente Dilma. O material, apreendido pela PF não diz nada que possa comprometê-la, porém o simples fato de levantar indícios para a investigação da chefe de estado obriga os operadores da Lava Jato a remeterem o material para o Supremo Tribunal Federal. O que não foi feito. 
 
Do blog Marcelo Auler 
 
Lava Jato não mandou ao STF bilhete que cita Dilma
 
Por Marcelo Auler
 
Um bilhete divulgado no último dia a 11 de março pela revista Isto É na reportagem O bilhete que liga o doleiro a Dilma, pode demonstrar mais uma estrategia dos Operadores da Lava Jato: esconder do Supremo fatos que deveriam levar o caso para aquela corte. Embora o bilhete, aparentemente, não comprometa a presidente, o simples fato de se seu nome ser citado ali obrigaria a que o caso fosse mandado para o STF. Mas isto não aconteceu.
 
O papelucho, entregue ao delegado Marcio Anselmo Adriano, que chefia a equipe da Polícia Federal em Curitiba responsável pela investigação, em abril de 2014, jamais foi anexado a qualquer processo, como informou a própria revista. Mas ele foi usado como forma de pressão junto ao ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), pela Associação dos Delegados Da Polícia Federal (ADPF), segundo narrou Luis Nassif, na reportagem postada no JornalGGN: O xadrez da polícia Federal na era das corporações
 
Estas irregularidades, que há muito nós denunciamos aqui no blog, podem sim comprometer a Operação Lava Jato. Isto foi dito com todas as letras pelo relator dos recursos deste caso no STF, ministro Teori Zavaski,  que parecia estar com os olhos vendados ao que vem ocorrendo Em sua manifestação, deixou claro que é preciso punir todos os responsáveis por crimes, independentemente do cargo ocupado. Mas, avançou:
 
“Para o Judiciário, e sobretudo para o STF, é importante que tudo isso seja feito com estrita observância da Constituição Federal, porque eventuais excessos que se possam cometer com a melhor das intenções de apressar o desfecho das investigações, nós já conhecemos essa história e já vimos esse filme, isso pode se reverter num resultado contrário. Não será a primeira vez que, por ilegalidades no curso de uma apuração penal, o STF e o STJ anularam procedimentos penais nessas situações”.
 
Usando uma expressão de Nassif, “o fim da fase Pôncio Pilatos do STF” – veja em – espera-se que tenha se iniciado um novo período em torno da Operação Lava Jato com a posse do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, e com a sessão de quinta-feira (31/03) do Supremo Tribunal Federal. Aragão promete controlar a Polícia Federal. Não a investigação, mas a legalidade da mesma.
Precisa agir rápido, antes que a máquina o absorva ou comece a lhe dar bola nas costas. Infelizmente, ele não pode confiar na equipe que está à frente do Departamento de Polícia Federal (DPF), a começar por Leandro Coimbra Daiello, seu diretor-geral. Ali, quase ninguém escapa, no mínimo, da omissão ao longo deste 24 meses de Lava Jato, quando a superintendência do DPF no Paraná cometeu inúmeras ilegalidades e/ou irregularidades.
 
Não é de hoje que se denuncia isto, sem que nada tenha sido feito pela direção-geral do DPF. Antes pelo contrário, tentaram abafar tudo e jogar para debaixo do tapete. Basta ver sindicâncias que não terminam ou as que foram arquivadas sorrateiramente, beneficiando quem cometeu irregularidades. Aragão sabe disso e tem prometido agir. Da mesma forma que ele é crítico a alguns de seus colegas do Ministério Público Federal.
 
Só que, na condição de ministro, não é sua intenção passar como um trator no DPF fazendo a política de terra arrasada. Vai comer pelas bordas, até para não comprometer projetos maiores, como o da segurança nos Jogos Olímpicos. Mas, há quem ache que ele já deveria estar sinalizando com gestos concretos e não apenas com discursos. É confiar e esperar para ver.
 
Mas, se o ministro é novo e ainda passa pela fase de reconhecimento do terreno onde pisa, não se pode falar o mesmo dos ministros do STF. Sabe-se que eles não gostaram do comentário de Lula, em um dos telefonemas grampeados a mando de Moro, de que estariam sendo omissos. Mas, no fundo, se omitiram – ou lavaram as mãos como Pilatos, na expressão de Nassif – em muitas situações.
 
Na sessão de quinta-feira (31/03), porém, parecem ter iniciado uma mudança de posição. Nela, além da maioria ter concordado com a cautelar do ministro Teori Zavascki avocando as investigações contra o ex-presidente Lula para aquela corte, alguns verbalizaram algo que este blog vem alertando desde 20 de agosto: as irregularidades cometidas nas investigações da Lava Jato poderão comprometer toda a operação ou, pelo menos, parte dela. Zavascki deu o alerta postado acima.
 
Já o ministro Marco Aurélio Mello há algum tempo vem apontando ilegalidades. O fez quando levaram coercitivamente Lula para depor, no dia 4 de março. Na época, foi sarcástico:
 
“Condução coercitiva? O que é isso? Eu não compreendi. Só se conduz coercitivamente, ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão de resiste e não comparece para depor”. 
 
Em seguida, acrescentou “é preciso colocar os pingos nos ‘is’. Vamos consertar o Brasil. Mas não vamos atropelar. O atropelamento não conduz a coisa alguma. Só gera incerteza jurídica para todos os cidadãos. Amanhã constroem um paredão na praça dos Três Poderes”, afirmou.
 
Até o momento, porém, nenhuma autoridade a quem caberia tomar as rédeas das investigações destas irregularidades, fez qualquer gesto neste sentido. Antes pelo contrário, estão deixando correr solto em sindicâncias que não acabam ou outras feitas sorrateiramente sem alarde. Enquanto isso, os Operadores da Lava Jato continuam tentando tampar o sol com a peneira escondendo fatos do passado, bem como insistindo em erros anteriores. Na sexta-feira, por exemplo, durante a Operação Carbono 14, voltaram a levar coercitivamente o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o jornalista Breno Altman, como descrito na reportagem Operação “Carbono14″: mandados ficaram um mês na gaveta. Por quê?
 
Dois outros  exemplos claros foram divulgados recentemente e não geraram qualquer espécie de reação, nem mesmo do ministro Aragão. Ambos, porém, salvo melhor juízo – como gostam de dizer os operadores do Direito -, deveriam preocupar. O primeiro deles é o caso do bilhete, narrado pela Isto É
 
Lei mais…
 
 
 
Redação

5 Comentários

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  1. JABUTICABA

    A cada dia a lembrança de De Sanctis vem à tona. A cada dia antevejo o impensável:os empreiteiros inocentados imputando culpa ao Estado por perda e danos materiais e morais. A cada dia o processo abre a uma trilha diferente cujo destino é o famoso: E daí? Daí, nada.

  2. Dilma sendo monitorada e a

    Dilma sendo monitorada e a ABIN nada diz.

    Putz

    Esta Meire tem a turma do Cunha lhe defendendo. 

    Peguem a íntegra do vídeo da sessão em comissão na Cam F , no dia do acidente do ECamps.

    O bate bola do seu adv com o representante  

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