Léo Pinheiro sai da prisão em Curitiba após STF homologar delação onde incrimina Lula, Bachelet e Evo Morales

Acusação contra Bachelet ressurge num momento em que alta comissária da ONU recebe denúncias da falta de compromisso do governo Bolsonaro com os direitos humanos

Ex-presidente do Chile Michelle Bachelet

Jornal GGN – Em abril de 2017, uma comitiva com membros do Ministério Público chileno chegou ao Brasil, em uma ação colaborativa com a Lava Jato, para interrogar representantes de empreiteiras que teriam investido na campanha eleitoral da então presidente do Chile Michelle Bachelet e do candidato derrotado Enríquez-Ominami.

No Chile é proibido que candidatos recebam doações de empresas estrangeiras. Na ocasião, o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, que já estava preso em Curitiba desde setembro de 2016, foi perguntado sobre como conheceu Ominami e se teve contato com pessoas ligadas a Bachelet, mas durante todo o interrogatório o executivo ficou em silêncio.

O suposto financiamento de campanhas eleitorais no país vizinho apareceu em uma versão da delação premiada de Léo Pinheiro de junho de 2017, a mesma que aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como dono do triplex no Guarujá.

Nesta semana, finalmente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, homologou o acordo de delação do ex-diretor da OAS, levando a uma progressão de pena de Léo Pinheiro para o regime domiciliar, a partir desta terça-feira (17).

Um dia antes de o STF aceitar a delação de Pinheiro, a Folha de S.Paulo em parceria com o Intercept Brasil, divulgou uma matéria sobre um relato compartilhado entre procuradores da Lava Jato no aplicativo Telegram da delação de Léo Pinheiro, onde o ex-diretor da empreiteira, entre várias acusações, dizia que a OAS, na tentativa de se fixar no Chile, teria teria contribuído com a campanha de Bachelet.

Acontece que Pinheiro se referiu a uma obra contratada naquele país ainda em 2013, no primeiro mandato de Sebastián Piñera, atual presidente chileno. Bachelet assumiu o poder naquele país em 2014 e submeteu o projeto a uma revisão da Controladoria Geral, que aprovou a obra, assim como havia feito na gestão anterior.

Em artigo de análise na Carta Maior, Victor Farinelli aponta que a matéria Folha-Intercept reacendeu os debates e a acusação na imprensa chilena contra Bachelet.

Em entrevista ao canal público TVN (Television Nacional do Chile) nesta semana, para responder às acusações, a ex-presidente chilena afirmou que “é estranho ele [Pinheiro] ter tido a oportunidade de falar com a promotora Chong [em referência a Ximena Chong, que o interrogou em 2017, na colaboração entre a Lava Jato e o Ministério Público chileno] sobre esse caso, e não apresentou nenhum indício (…) e que essa informação apareça agora, e em tom bastante especulativo, sem detalhar que a obra em questão foi entregue durante um governo que não foi o meu – o que me faz pensar se não há alguma estratégia por trás disso”.

“Quase nada dessas informações mais precisas passou pelos noticiários da grande mídia [chilena], que prefere os comentários de líderes políticos da direita, sejam os ligados ao atual governo (que aproveita para atacar um ícone da esquerda e da oposição e assim desvia a atenção dos questionamentos à gestão de Piñera, que vem enfrentando uma popularidade em queda, pelos maus resultados econômicos) ou os da extrema-direita, como José Antonio Kast, um saudosista da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) que fala abertamente em reproduzir o sucesso de Bolsonaro do lado de lá da Cordilheira dos Andes”, pontua Farinelli.

Na mira de Bolsonaro

Nesta quinta-feira (19), Bachelet, que também é alta comissária da ONU para os direitos humanos, recebeu de parlamentares brasileiros da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) um documento apontando de forma detalhada uma série de exemplos que mostram a falta de compromisso do governo Bolsonaro com os direitos humanos.

O relatório foi entregue após uma semana de várias reuniões em Genebra entre os representantes da comissão de parlamentares brasileiros e autoridades do Alto Comissariado onde foram discutidos temas como o aumento da desigualdade no Brasil, cortes e ideologização da educação, redução das políticas relacionadas ao HIV/Aids, genocídio da juventude negra e letalidade policial, execuções sumárias, tortura, memória, verdade e justiça.

“Apresentamos o relatório da Comissão sobre as violações de direitos Humanos no Brasil. Ela [Michelle Bachelet] ouviu com muita atenção e anotou os pontos relatados. A alta comissária demonstrou preocupação com a situação do nosso país”, disse o presidente da CDHM, Helder Salomão (PT/ES).

Um fator comum em todas as declarações do ex-diretor da OAS, feitas em delação, é a carência de documentos comprobatórios, indica a defesa do ex-presidente Lula ao responder os jornais Folha-Intercept na matéria publicada no dia 16 de setembro, um dia antes de o STF conceder prisão domiciliar a Pinheiro.

“A versão de Léo Pinheiro é desmentida por manifestação apresentada em 07/02/2017 pela empresa do próprio executivo —a OAS— no processo, afirmando que ‘não foram localizadas contratações ou doações para ex-presidentes da República, tampouco para institutos ou fundações a eles relacionadas'”, disse em nota o advogado Cristiano Zanin.

“Diálogos já revelados pela própria Folha envolvendo procuradores da Lava Jato mostram que Léo Pinheiro foi preso porque não havia apresentado uma versão incriminatória contra Lula. Da prisão, o empresário fabricou uma versão contra Lula para obter os benefícios que lhe foram prometidos, alterando o comportamento por ele adotado durante a fase de investigação”, completou.

A acusação que ressurge sobre Bachelet acontece semanas depois de o presidente Jair Bolsonaro ter atacado a ex-presidente e o pai dela, militar que se opôs ao golpe de Augusto Pinochet no Chile, em 1973, que derrubou o presidente Salvador Allende. Alberto Bachelet chegou a ser preso e torturado na ditadura.

Ainda segundo a reportagem Folha-Intercept, o relato de Léo Pinheiro fazia também referência ao presidente da Bolívia Evo Morales, atualmente em campanha para a reeleição.

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Redação

8 Comentários

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  1. Cadê o Aécio Neves? Cadê o Queiroz?

    Já parou prá pensar se as pessoas que acertaram o sorteio da Mega Sena fossem Assessores do Flávio Bolsonaro, e não do PT?

    Rachid Geral

  2. A lava jato continua o mesmo traçado do audio JUCA e MACHADO, sem um pingo de decência,com desfaçatez e sordidez de sempre. Ainda se acham protegidos e ungidos de DEUS, não há limites para esta corja. Só justiça Divina? Que venha.

  3. Seus tormentos, suas culpas e seus fardos, mesmo em casa, jamais o deixarão em paz. Mesmo que lhe seja concedido um perdão, por parte de Lula, só a sua confissão e o anúncio sincero do seu arrependimento por toda sua deplorável covardia o livrará do sofrimento. Enquanto isso não acontece, a tornozeleira o manterá preso, feito um escravo, e te lembrará constantemente da sua covardia, da sua covardia, da sua covardia, …

  4. Mas todo mundo sabe; basta citar Lula que vai pra casa e com dinheiro no bolso.
    Agora incluiram a Bachelet por conta do aceite das denúncias dos desmandos ambientais e humanos dos neofascistas brasileiros.
    Quanto a bandidagem presa basta que digam qq coisa sobre Lula. Ai coloca uma tornozeleira e vá pra casa no leblon, ou ipanema, ou algum bairro “nobre” seja rj ou sp ou cu.
    Mais mole, impossivel…

  5. Nassif: em termos de tática política-judicial o ministro TogaSuja é um gênio. Tivesso Hitler o Ôme desse e nunca perderia a guerra. Os americanos souberam muito bem escolher. Veja a jogada (que não é nova) —prende alguém até que ele, ou algum amigo ou parente, “cante” o nome sorteado pelos Gogoboys, a mando do ditocujo. Nem carece detalhes ou provas reais. Só o nome, em frente às câmeras do pessoal do JardimBotânico ou do TemploDoBras, e o borogodó começa. Tão achando que esse da OAS, em cada “dedação” ganha 30mi, como Judas. Quando a poeira baixar vai às Cahimãs e recebe o dindim, limpinho, do “FundoTelefonica”, pago pelo PrincipeDeParis. E nesse caso, como tem nomes de estranjas, deve ficar um pouco mais caro, uns 40%. Mais vale a pena, segundo avaliam alguns do braço armado do grupo.

  6. A delação torturada de Leo Pinheiro dirigida a Bachelet e Evo mostram que a Lava Jato é um instrumento geopolítico. Não sei como não citara Kirchner. São muitos os interesses que estes grupos defendem. Esta delação estridente se junta ao silêncio mortal quanto a qualquer investigação sobre as privatizações.

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