Mário Peixoto: as relações do esquema além de Wilson Witzel

Em reportagem no dia 28 de agosto, mostramos como o esquema ia além de Witzel, envolvendo o empresariado do Rio. Relembre

Jornal GGN – Esta semana, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi preso por operação que deflagrou um esquema de pagamentos de propinas em licitações na prefeitura fluminense. Este ano, o governador Wilson Witzel também foi alvo de investigações. Em reportagem no dia 28 de agosto, mostramos como o esquema ia além de Witzel, envolvendo o empresariado do Rio. Relembre:

Mário Peixoto: as relações do esquema além de Wilson Witzel

Por Patricia Faermann

Os esquemas de corrupção deflagrados nesta sexta (28) contra o atual governador do Rio, Wilson Witzel, afastado do cargo, o Pastor Everaldo e Lucas Tristão, presos na Operação de hoje, e o empresário Mário Peixoto, preso em operação anterior, vão além dos contratos na área da saúde ligadas à pandemia do coronavírus. Carregam um emaranhado de relações de contratos públicos do Rio de Janeiro com empresas, também em anos anteriores.

A investigação que denunciou o governador e outros oito pessoas, incluindo a primeira-dama Helena Witzel, teve como uma das figuras centrais o empresário Mário Peixoto, que detém diversas empresas que teriam se beneficiado dos contratos públicos e, em contrapartida, realizava pagamentos ao escritório de advocacia da primeira-dama.

Chamada de Tris in Idem, é um desdobramento de outras duas Operações deflagradas em maio e em junho deste ano, a Favorito e a Placebo, que já miravam o governador. Mas contou com as informações concedidas por Edmar Santos, ex-secretário da Saúde do Rio, no governo Witzel, que prestou delação premiada.

Como o GGN já havia mostrado em maio, nas reportagens do Caso Witzel, o esquema envolvia o direcionamento de licitações a organizações sociais (OSs), entre elas a OS Iabas, apontada pelos investigadores como ligada a Peixoto, que ganhou os contratos para administrar os hospitais de campanha criados para pacientes Covid-19.

Em outras duas pontas da investigação, o esquema corrupto contaria com a participação de um desembargador do Trabalho, que beneficiava as organizações sociais com o pagamento de dívidas trabalhistas levadas à Justiça, e parlamentares da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), que também receberiam parte dos repasses.

Na denúncia contra Mário Peixoto, protocolada em junho, os procuradores fizeram um mapa das relações do empresário com as Organizações Sociais – Institutto DataRio, o INPCOS (Instituto Nacional para o Progresso do Conhecimento e Saúde), Instituto Unir Saúde, e outros suspeitos de participar do esquema.

Como se verifica na imagem, duas outras figuras foram centrais para fazer as pontos dos ilícitos: Alessandro Duarte e Cassiano Luiz da Silva, apontados como operadores de Peixoto.

Mario Peixoto - Favorito
(Mapa gráfico das relações de Mário Peixoto, denunciado na Operação Favorito – Amplie a imagem para visualizar os nomes)

Na denúncia protocolada em junho, o Ministério Público Federal do Rio (MPF) escreveu que “a circunstância em comum entre todas essas empresas é a existência de algum membro da família PEIXOTO (RPAs nºs. 3413, 3415, 3416 e 3417), como sócio, diretamente ou por meio de outra empresa. Família que possui várias empresas com contratos milionários com o governo do estado do Rio de Janeiro”.

A acusação contra Peixoto sustentava que os crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa teria como figura central o empresário, com pagamentos de vantagens indevidas a deputados estaduais da Alerj “e outros agentes públicos”, obtendo vantagens em contratos com o governo do Rio, utilizando, para isso, “complexa rede de empresas constituídas com familiares e pessoas de confiança”.

Além de Witzel

Os investigadores sustentam que o esquema corrupto não era restrito ao governo atual, de Wilson Witzel, mas teriam ocorrido desde junho de 2015 até hoje.

“Como é de conhecimento deste Juízo, o complexo de investigações que se desencadeou a partir da deflagração da Operação Calicute, demonstrou que esses três personagens (os empresários Mário Peixoto e Arthur Soares e o ex-deputado estadual Paulo Melo) integraram ao longo dos anos a mesma organização criminosa que se instalou no Governo do Estado do Rio de Janeiro.”

Arthur Soares, por exemplo, ficou conhecido por dominar o setor de serviços terceirizados no estado, contando com contratos públicos durante a gestão de Sérgio Cabral, com pagamentos que, segundo as apurações, envolveram offshores.

No caso de Cabral, o MPF apontou que “foi possível descobrir posteriormente que SÉRGIO CABRAL recebeu vantagens indevidas associadas não apenas a contratos para realização de obras públicas, como também a contratos firmados pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro em outras áreas, como, por exemplo, a de prestação de serviços terceirizados (vigilância, limpeza, portaria etc)”.

Apesar de Alessandro Duarte e Cassiano Luiz já terem sido presos em maio, durante a primeira deflagração da Favorito, eles voltam a aparecer no esquema restrito ao governador Wilson Witzel. Eles representam diversas empresas que seriam de Peixoto, além de serem responsáveis diretamente pela gestão financeira de seus negócios, pelo menos desde 2012, segundo os investigadores.

Sócios de diversas empresas interligadas, Cassiano, por exemplo, aparece como o representante de conta bancária da Atrio Rio Service, uma das suspeitas de terem sido usadas no esquema. Alessandro também aparece como intermediário das empresas junto a agentes públicos do governo Witzel.

E, apesar de não aparecer no mapa gráfico criado pelo MPF-RJ, o advogado Lucas Tristão, que além de ex-secretário e aluno de Witzel, também chegou a atuar diretamente na defesa de Mário Peixoto.

 


As denúncias contra Mário Peixoto podem ser lidas abaixo:

pedido-mp-novo-140520200457 Denuncia 2 - Favorito - FINAL-Ocultado

 

Redação

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