Militar no comando da pasta da Defesa é retrocesso institucional, diz Kennedy Alencar

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – O jornalista Kennedy Alencar avaliou como retrocesso institucional a escolha de um militar da reserva para comandar o Ministério da Defesa do governo Bolsonaro. Fernando Azevedo e Silva foi indicado pelo general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, para ser assessor do gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, e acabou de ser alçado à Defesa, confirmando o rompimento do ciclo iniciado no governo FHC, de subordinar a pasta a um civil.
 
“Pela lei brasileira, militares não podem ter atuação política. Nenhuma república madura permite esse comportamento, mas ele se naturalizou no Brasil com o enfraquecimento do governo Dilma e seus desdobramentos políticos, econômicos e sociais”, apontou Kennedy.
 
“A nomeação de civis para o cargo de ministro da Defesa tem, entre outros objetivos, o de deixar o titular livre para manifestações políticas. Ministro não é cargo técnico, mas político. Não há problema em um militar da reserva ocupar uma função noutra pasta, com exceção do Ministério da Defesa. O Brasil viveu sob ditadura militar entre 1964 e 1985”, acrescentou.
 
Por Kennedy Alencar
 
Militar no comando da pasta da Defesa é retrocesso institucional
 
A indicação de um militar para ministro da Defesa é um retrocesso institucional. Quando a pasta foi criada no governo FHC, a titularidade coube a um civil por uma questão fundamental: subordinar o poder militar a uma autoridade civil.
 
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, decidiu hoje que o futuro ministro da Defesa será o general da reserva Fernando Azevedo e Silva _atual assessor do presidente do STF, Dias Toffoli.
 
A primeira mensagem é clara. O Exército tem um peso nas Forças Armadas muito superior ao da Aeronáutica e Marinha. É uma situação de fato. Os principais quadros militares do novo governo são do Exército. Ponto final.
 
Outra mensagem. A indicação é uma forma de Bolsonaro fazer uma política de boa vizinhança com Dias Toffoli. É uma tentativa de ter canais num poder que pode ter o papel de servir de freio e contrapeso a eventuais excessos da nova administração em relação aos direitos e garantias individuais, sobretudo das minorias. É bom que os poderes sejam harmônicos, mas também independentes.
 
Bolsonaro também prestigiou o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas. O futuro ministro da Defesa foi indicado por ele para ser assessor do presidente do STF. Villas Bôas tem sido uma espécie de avalista do ativismo político militar, que é ilegal.
 
Pela lei brasileira, militares não podem ter atuação política. Nenhuma república madura permite esse comportamento, mas ele se naturalizou no Brasil com o enfraquecimento do governo Dilma e seus desdobramentos políticos, econômicos e sociais.
 
A nomeação de civis para o cargo de ministro da Defesa tem, entre outros objetivos, o de deixar o titular livre para manifestações políticas. Ministro não é cargo técnico, mas político. Não há problema em um militar da reserva ocupar uma função noutra pasta, com exceção do Ministério da Defesa. O Brasil viveu sob ditadura militar entre 1964 e 1985.
 
Um civil na Defesa tem peso simbólico, mas, sem força por causa da delação da JBS, o presidente Michel Temer cedeu o posto a um militar quando Raul Jungmann deixou a pasta. Abriu um precedente. Bolsonaro confirma o retrocesso institucional.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. O general da reserva Fernando

    O general da reserva Fernando Azevedo serviu de “cão de guarda” no

    gabinete do ministro Tófolli que é o primeiro guardião da Constituição. 

    Tófolli o aceitou e o general se serviu a este papel mopralmente desconfortável.

  2. FFAA com participação política.

    Torna-se indisfarçável . Que seja pelo menos tutela de governo sem  projeto, sem noção, que nos condena ao obscurantimo e retrocesso.

  3. Ataques cibernéticos…

    O Capitão passou pito no filho, quando este disse que para fechar o STF bastava um jipe, um soldado e um cabo…

    O filho apenas prestou atenção ao que fez o general do exercito vilas boas que com apenas dois twites mudou a votação do supremo contra LULA!

    Então o filho do capitão estava certíssimo!

    Nesse ritmo o general fecharia o STF com apenas duas mensagens de whatsapp…

  4. O Brasil virou uma piada de

    O Brasil virou uma piada de mau gosto. O milico entra no governo dando entrevista dizendo que os milicos estão “longe da política’. 

    Só mesmo lembrando o grande filósofo Tim Maia que em entrevista ao Jô onze e meia declarou: Dos meus vícios, parei de beber, cheirar e jogar, o unico que ainda não consegui largar foi o de mentir

  5. O jornalista Kennedy Alencar

    O jornalista não entendeu nada Luis Nassif. Doravante esse nóia do Exército vai para o Ministério com um único propósito: defender os aumentos salários e os penduricalhos dos “generais da banda” que fazem segurança do petróleo estrangeiro no nosso litoral.

    1. Eita cabra macho!

      Vc sabe escrever comentários e posts bastante razoáveis e não precisa ser desrespeitoso com uma pessoa que não conhece e que provavelmente tem um curriculum pessoal e profissional superior ao seu. Qualifica o General de “NÓIA” sem mais nem menos. Poderia ser mais inteligente, argumentar com fundamentos e vender o seu peixe com classe. Essa valentia no teclado, frente a um monitor, com o gluteo adiposo e mole na giroflex, não leva a nada e fica parecendo molecagem.

  6. Em 1999 (gestão FHC) foi

    Em 1999 (gestão FHC) foi criado o Ministerio da Defesa em substituição aos cabides de emprego antes reservados ao Exército, Marinha e Aeronáutica. O MD é apenas uma repartição burocrática que não apita coisa alguma e só serve para encaminhar reinvidicações das FFAA. É general reclamando tinta pra pintar tanque para desfile da Independência, é brigadeiro pedindo combustível pra esquadrilha da fumaça e almirante pedindo pra reformar casco podre de navio. Fora isso, essa turma não produz um parafuso. E tanto faz se o escritorio é chefiado por um civil ou militar.

    Já tivemos os seguintes Ministros da Defesa (que não fizeram coisa alguma naturalmente): Elcio Alvares, Geraldo Magela, Viegas Filho, Jose de Alencar (o vice do Lula), Waldir Pires, Nelson Jobim, Celso Amorim, Jacques Wagner, Aldo Rebelo, Raul Jungmann e Joaquim da Silva Luna (unico militar).

    Seria muito interessante alguem estabelecer politicas sociais  de segurança. Por exemplo, vender todas as areas do exercito para empresas imobiliarias (o QG do II Exercito no Ibirapuera, quarteis de Quitauna, etc devem valer zilhões) e mandar todos esses desocupados para quarteis menores em toda fronteira (distantes de 50 em 50 km) do oeste brasileiro e areas de portos fluviais ou marítimos do litoral. Não para nos proteger de vizinhos, mas impedir o tráfico de drogas e armas. Unidades militares poderiam se transformar em escolas de profissionalização. O tempo de serviço militar poderia ser maior (4 anos por ex) com exigência de 8 série para formação complementar no 2 grau. Temos 13 milhões de desempregados.

    Haja dinheiro para isso. Mas, em uma geração esse processo de completa. É só começar. O que não dá é para sustentar FFAA batendo continência pra bandeira e Ministro da Defesa fingindo de faz alguma coisa.

     

    1. Cada uma…..!

      Entendi como ironia o primeiro parágrafo. É claro que os militares são maiores que as simplificações jocosas. A ideia central me pareceu maluca, mas ponderável. Aí o Ministerio da Defesa precisaria de um civil de altíssima competência na arte de planejar, convencer e executar. As FFAA seriam mais produtivas. Treinamento tradicional para guerra não faz sentido.

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