Moro usa estratégia para desqualificar Gil na defesa de Lula

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O magistrado de Curitiba fugiu de perguntas sobre sítio de Atibaia para provocar a conclusão de que Gil não sabia de nada
 
Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – Como ex-ministro da Cultura entre 2003 e 2008, durante o governo Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro como defesa do ex-presidente, na manhã desta quinta-feira (09). Apesar de o processo ter relação com o sítio em Atibaia, o magistrado usou uma estratégia constrangedora para retirar a importância do depoimento de Gil.
 
É que a defesa de Lula, representada na audiência pelo advogado Cristiano Zanin, emitiu diversas perguntas ao músico sobre o conhecimento dele acerca das acusações sustentadas hoje pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Lula, que seriam supostas práticas criminosas enquanto Gil ocupava o cargo no Ministério, e obteve a negativa para todas as questões.
 
“É fato notório que o senhor participou do governo do ex-presidente Lula participava de reuniões, audiências, despachos. Nesta função ou ao participar destas reuniões, alguma vez o senhor presenciou ou teve notícia de algum ato do ex-presidente Lula que pudesse sugerir que ele havia solicitado ou recebido alguma vantagem indevida em troca de atos que ele teria praticado como presidente da República?”, questionou Zanin.
 
“Não, nunca”, respondeu Gilberto Gil.
 
“Alguma vez o senhor presenciou ou teve conhecimento de alguma situação em que o ex-presidente Lula tivesse concedido benefícios às empresas Obrecht e OAS em troca de supostas reformas em um sítio em Atibaia?”, continuou o advogado, com a resposta do compositor: “Não, de maneira nenhuma”.
 
Após diversas perguntas na mesma linha, e a negativa para todas, Moro resolveu adotar uma estratégia com a testemunha de defesa de Lula. Quis sustentar que o fato de Gilberto Gil não ter tido conhecimento dos crimes não significa que eles não ocorreram. 
 
Por isso, o magistrado de primeira instância tomou a liberdade de fazer perguntas que fogem do processo central sobre o sítio de Atibaia e fez o músico passar por um tipo de constrangimento, tentando desmerecer a confiança da testemunha.
 
Após o próprio MPF não querer fazer nenhuma pergunta a Gil, o diálogo introduzido por Moro teve como base perguntar se o compositor conheceu, enquanto foi ministro da Cultura de Lula, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci e o marqueteiro João Santana. 
 
E com a confirmação positiva de Gilberto Gil, Sergio Moro então perguntou se ele sabia que os ex-ministros e o ex-marqueteiro cometiam ilícitos. Gil respondeu que não. O juiz de Curitiba então concluiu: “O senhor teve conhecimento que tanto o senhor Antonio Palocci quanto o senhor João Santana são confessos em relação à prática de corrupção e lavagem de dinheiro?”
 
“Tenho ouvido notícias a respeito dessa possibilidade”, respondeu Gil. “Mas na época o senhor não tinha conhecimento?”, insistiu Moro, desqualificando a testemunha. “Não”, completou o ex-ministro.
 
Abaixo, a reprodução do diálogo travado por Moro com o músico:
 
O senhor conheceu o ex-ministro José Dirceu?
– Sim, claro. 
 
Ele foi ministro ao mesmo tempo que o senhor?
– Sim.
 
O senhor teve conhecimento de quando ocupava o Ministério do senhor Dirceu em algum esquema de corrupção?
– Não.
 
O senhor conheceu durante o seu cargo no Ministério o senhor Antonio Palocci?
– Sim.
 
O senhor teve conhecimento durante o exercício do seu cargo como ministro do envolvimento do senhor ministro Antonio Palocci em algum esquema de corrupção?
– Não.
 
O senhor chegou a conhecer o senhor João Santana?
– Sim.
 
O senhor teve contato com ele durante o período que o senhor ocupou esse cargo como ministro da Cultura.
– Sim.
 
O senhor teve conhecimento de envolvimento dele em algum esquema de corrupção ou de lavagem de dinheiro? Na época que o senhor ocupava esse cargo de ministro.
– Não. Não tive conhecimento de nada desse tipo. 
 
(Moro repete a pergunta por corte de sinal)
– Não, não tive conhecimento nenhum. 
 
O senhor teve conhecimento que tanto o senhor Antonio Palocci quanto o senhor João Santana são confessos em relação à prática de corrupção e lavagem de dinheiro?
– Tenho ouvido notícias a respeito dessa possibilidade. 
 
Mas na época o senhor não tinha conhecimento?
– Não.
 
Assista ao depoimento:
 
https://www.youtube.com/watch?v=CTF030YKu6w
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

28 Comentários

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  1. cadeia para os vagabundos

    Um sujeitinho insolente, cheio de malícia, se achando o bom, aparece num julgamento para isso? Deveria ter mais compromisso com o fim da corrupção com o combate contra o comunismo ateu e na defesa da família cristã!

    Onde já se viu, um jeca que só porque passeou pelas europas, pensar que está “podendo” e fazer um papelão destes. Desde quando ter aparecido na globo é currículo para afrontar um cidadão de bem, aclamado pelo povo?

    Viva Gilberto Gil! Lula Presidente!

    Por essas e outras eu exijo: Sejumoro preso! (Por largo tempo para refletir demoradamente sobre o mal que tem feito ao Brasil.)

     

  2. Ninguém que tenha o mínimo de

    Ninguém que tenha o mínimo de inteligência aguenta mais esse juiz canastrão. Só o Àlvaro Botox, aquele mesmo que o juizeco preservou após um delator ter dito que Sérgio Guerra recebeu 10 milhões para abandonar uma CPI da Petrobrás em 2009, sendo que Guerra e Botox eram os únicos dois representantes tucanos naquela CPI e saíram no mesmo dia, com coletiva e tudo mais explicando os (falsos) motivos, com aquelas caras lambidas que só os bicudos têm.

     

    https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/oposicao-abandona-a-cpi-da-petrobras-bzf92598pc2b9w95a6na50nda

  3. Pura falácia. Procura induzir

    Pura falácia. Procura induzir os incautos com seu raciocínio desprovido de reflexão ética. Sua razão é instrumental e simplória, não tem apreço pela verdade, nem pelo rigor. Pretende comparar situações abstratamente, compara réus confessos com réu que afirma a própria inocência.  Esse juiz torna-se ridículo cada vez mais.

  4. As pergunta do $. Moro não desqualificam o depoimento do Gil

    Na verdade, nem mesmo uma eventual confissão do Lula desqualificaria o depoimento do Gilberto Gil, já que esse Bahiano de Alma Suprema não disse que Lula não praticou crime, ele disse apenas que não tem conhecimento de que o Lula praticou os crimes a ele imputados. No que se refere ao Palloci e ao João Santana, réus confessos, o Gilberto Gil disse que, na época em que era Ministro, não sabia que eles praticavam ou praticaram crimes.

    Simples assim.

  5. Quando posou ao lado do Aécio, o Moro sabia que ele era ladrão?

    Não. O Aécio Neves não confessou seus crimes mas foi flagrado praticando-os. Lula não foi flagrado praticando crimes, não provaram que ele praticou crimes nem houve confissão.

    Bingo

  6. Só a confissão ou uma prova irrefutável desqualificaria o Gil

    O depoimento do Gil só seria desqualificado por uma prova irrefutável dos crimes atribuídos ao Lula ou por uma eventual confissão. O Gil não disse nem que o Lula, nem que o Dirceu, nem que o Palloci nem que o João Santana não praticaram crimes, ele apenas disse que não tem conhecimento que eles praticaram crimes. Se alguém diz que não tem conhecimento de que existe um monstro no Lago Ness ou que não tem conhecimento de que o Zucolotto tira proveito da indústria das delações, essas afirmações não equivalem a dizer que o Monstro de Loch Ness não exista nem que o Zucolotto não tire casquinhas financeiras das delações premiadas.

    Moro Burraldo.

  7. quando as respotas das testemunhas não são impertinentes…

    qualquer interferência do juiz, de qualquer juiz, pode ser vista como corrupção da função da testemunha

    1. é o truque para casos de fatos não provados…

      corrompem a função da testemunha com outros que, independente de provados ou não, levaram à condenação

      mesmo esquema que usaram no mensalão: condenando um, acreditam que podem condenar todos

  8. Ontem, fiquei perplexo ao

    Ontem, fiquei perplexo ao verificar que nem o Gil, nem o Zanin foram capazes de atalhar o desMoronado e o mandar calar a boca, já que as perguntas não tinham a ver com o processo. Não entendi a razão para ficarem ou calados ou respondendo a inquisição-arbitrária-autoritária.

    Ainda, se responder pudesse dar asas à impugnar essas calhordices desMoronadas em tribunais superiores, mas, sabem os javalis, não serão os gravatinhas-com-lencinhos e muito menos o “peixinho” de sempre, ajoelado em acompanhares e, nem pensar nos faquinhas-deixe-que-voto-no-botox ou a carmencita-do-cnjofétido que farão uso dessas malversações desMorodemoníacas.

    Pobre Gilberto Gil, passar pelo constrangimento criminoso desse pulha.

  9. Faltou orientação à testemunha e intervenção dos advogados

    Esse criminoso de toga não faz jus a que eu assista esse interrogatório. Mas fica patente que os advogados que fazem a defesa do Ex-Presidente Lula não orientaram ou orientaram mal a testemunha. Fosse eu no lugar de Gilberto Gil, quando o sérgio moro me perguntasse alguma coisa sobre José Dirceu ou qualquer outra pessoa que não conste na Ação Penal para a qual foi convocado a testemunhar, eu redargüiria:

    _ Sr.  juiz, fui convocado a prestar testemunho em favor do Ex-Presidente Lula numa ação penal que nada tem a ver com a atuação de José Dirceu como Ministro da Casa Civil, de Antônio Palocci como Ministro da Fazenda ou de João Santana, por serviços publicitários em campanha eleitoral. Portanto são impertinentes as perguntas que o Sr me faz a respeito da atuação dessas pessoas.

    Os advogados parecem que estão apenas “fingindo! defender o Ex-Presidente Lula. Não fosse assim, deveriam advertir o “juiz” sérgio moro, acerca da impertinência das perguntas, que NADA têm a ver com as investigações e ação penal sobre o sítio em Atibaia.

  10. Ah, mas se é para baixar o

    Ah, mas se é para baixar o nível, e Moro sabia dos Zucolotto, pai, filho, mãe, irmão? Sabia de Youssef? De Rosângela? De Aécio? De Temer? De Serra, pai e filha? De Alckmin? Sabia de si mesmo?

    Juiz acusador como esse, só sob golpe, mesmo…

  11. A globo definindo a narrativa. Se Gil fez show LulaLivre, detone

    Só que quem é Sergio nunca vai chegar a ser Gil. Já se pode notar o caminho a ser trilhado pelos detratores de Lula também neste processo do sítio que também não é de Lula. Que fazer, se moro num país onde a justiça é um nojo?

  12. a realidade da intimidação…

    é o juiz se colocar cada vez mais distante do seu papel para que as pessoas envolvidas no processo fiquem sem saber o tempo certo para atuar, nem onde e nem como e quando

    O alvo da intimidação é o acréscimo de dificuldades.

    Superproteção de causa já fechada diante de “ameaças”

  13. Não se trata de um juiz e sim
    Não se trata de um juiz e sim de um delegado calça curta com poder de condenar, o que ele faz do alto da ilusào do seu obeso ego e abanando o rabinho de cachorro vira lata do Tio Sam e das empresas imperialistas como a “honesta” Shell…

  14. Moro morde a Isca que sequer foi jogada

    Parece que a necessidade de se autoafirmar de Moro trouxe mais um presente para a defesa de Lula: ao buscar desqualificar a estratégia da defesa, o que Moro não se deu conta (ou talvez pouco se lixe pra isso) é que a cada dia fica mais patente sua falta de imparcialidade. Isso pode não ser muito aqui no Brasil, onde nosso próprio judiciário já perdeu o pudor de fazer dos princípios do direito algo de pouca importância. Mas para a estratégia de comprovação internacional destes vícios a barberagem de Moro (mais uma) certamente será levada em conta. 

  15. Quando o Poeta diz meta, pode estar querendo dizer o indizível

    Uma meta existe para ser um alvo mas quando o poeta dizemos ele pode estar querendo dizer o indizível.

    Gilberto Gil, Metáfora

  16. Generalização Precipitada

    Gil nao sabia nem presenciou Palloci praticando crimes

    Pallocci confessou que praticou crimes

    gil diz que nao tem conhecimento nem presenciou Lula cometendo crimes, logo, Lula êh réu confesso

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