“Não está fora de cogitação um novo golpe”, diz Comparato

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Julia Leite

Por Deborah Melo

Na CartaCapital

O jurista Fábio Konder Comparato não nutre esperança em relação à crise política. A instrução dos processos a partir da lista de Luiz Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), vai demorar.

O governo, de pouca legitimidade, e o Congresso desmoralizado continuarão a aprovar reformas “inconstitucionais”, salvo uma intervenção do Ministério Público ou da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Os políticos buscarão formas de escapar das acusações. E mais: Comparato não descarta um novo golpe de Estado.

CartaCapital: A divulgação da lista do ministro Luiz Fachin tira, de alguma forma, a legitimidade do governo para fazer reformas como a trabalhista e a da Previdência?

Fábio Konder Comparato: Este governo nunca teve legitimidade. Vivemos, no mundo todo, uma situação de total falta de rumo da política. Do lado da direita, a fachada democrática do sistema capitalista rui e todos percebem que não têm nenhum poder, nem mesmo de livre eleição de representantes.

Do lado da esquerda, a ideia fundamental de que haveria uma luta de classe entre a burguesia e o proletariado torna-se inaplicável, uma vez que o proletariado em si praticamente não existe como força política.

CC: O senhor disse que o governo nunca teve legitimidade. E o Congresso, que será o responsável pela aprovação dessas reformas? Há 71 parlamentares na lista.

FKC: Grande parte dessas reformas é inconstitucional. Eles não querem de maneira nenhuma enfrentar esse problema e, se enfrentarem, terão o Judiciário a favor.

CC: Os projetos continuam a tramitar…

FKC: Exato. Trata-se, porém, de saber se haverá ou não uma reação por parte do Ministério Público ou da OAB, por exemplo.

CC: E no Congresso? A discussão e a aprovação dessas reformas pode perder força com a divulgação da lista?

FKC: Os parlamentares vão empurrar com a barriga e fazer o possível para a Lava Jato não avançar em relação a eles. Agora será feita a instrução desses inquéritos. Vai levar um tempo considerável. É bem possível outra intervenção extralegal para impedir a continuação disso tudo. Não está fora de cogitação um novo golpe de Estado.

CC: De onde viria esse golpe?

FKC: Da oligarquia, basicamente. A oligarquia no Brasil é composta de dois grupos intimamente associados: os empresários e os proprietários, de um lado, e os principais agentes do Estado, do outro. Evidentemente a Lava Jato desmoraliza ambos os grupos.

CC: Qual seria uma solução possível para a crise política?

FKC: A solução não é rápida. Trata-se de lutar contra dois fatores fundamentais de organização da sociedade: de um lado, o que eu chamo de poder oligárquico, ou seja, o poder da minoria rica, estreitamente ligada às instituições do Estado.

De outro, a mentalidade coletiva, que não é favorável à democracia. Ela nunca existiu no Brasil, pois o povo se considera inepto, incapaz de tomar grandes decisões. Tivemos quase quatro séculos de escravidão, o que criou na mentalidade popular aquela ideia fundamental de que quem pode, manda, obedece quem tem juízo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. um golpe apoiado em quê ?

    Houve um golpe contra Dilma apoiado em um vice presidente e um congresso nacional que , embora ambos sem legitimidade , ainda não estavam desnudados pelas delações. 

    Agora , com todo o espectro político esvaziado , um golpe apoiado em quê ? Nas forças armadas ? 

  2. Nao tera um momento de mea

    Nao tera um momento de mea culpa?

    A pp Carta Capital q recebeu $ da Odebrecht a pedido do Mantega – nao vai dizer nada?

    Da direita nunca esperamos nada – mas a esquerda sempre se diz diferente

    Nao havera o momento de pedir desculpas e reconhecer q ultrapassou limites eticos? 

  3. Liquido e certo!

    Não há como perdoar os golpistas!

    Se forem perdoados, teremos golpes a cada 3 anos!

    Terão que ser punidos, foram irresponsáveis!

    Milhões estão na aflição!

    Terá que haver expurgo no judiciário, PF e MP!

    Eles sabem disto!

    Eles vão esperar isso ou dar um novo golpe?

  4. Reformas Inconstitucionais

    Reformas Inconstitucionais sendo aprovadas pelo congresso e com o judiciário a favor, significa que os mesmos são ilegitimos, não são nem congresso e nem judiciário.

    Os ilegítimos: ministério público e oab também estão totalmente atolados no golpe, é uma sociedade só.

    Ainda bem que aquela idéia antiga de que quem pode, manda, obedece quem tem juízo, não é monolítica nem consensual, e é nessas brechas que a Democracia ganha força, avança e sobrevive.

     

     

  5. Entrevista esquizofrênica. O

    Entrevista esquizofrênica. O golpe nos direitos sociais e trabalhistas é obra dos empresários. produtivos e improdutivos. A lava jato é tocada por agentes do estado, inclusive a polícia federal e não vemos nenhuma casta do estado se contrapondo a ela. O rentismo se apoderou do banco central. Existe alguma outra oligarquia fora do golpe ? 

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