Negando obstruir Lava Jato, governo corta recursos da PF e não nega mudar comando

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Beto Barata/PR
 
Jornal GGN – A nomeação de Torquato Jardim para o Ministério da Justiça, no dia 28 de maio deste ano, pleno ápice da maior crise do governo de Michel Temer, foi considerada pelos próprios investigadores uma tentativa de respostas e até freios à Operação Lava Jato. Exatos dois meses depois, o ministro anuncia que a “falta de dinheiro” poderá afetar Operações da Polícia Federal, órgão de investigação subordinado à pasta.
 
Assim que assumiu, Torquato Jardim mostrava a intenção de modificar o comando da Polícia Federal, com a retirada do diretor. Ele admitiu, no final de junho, o objetivo, mas mudou de ideia com as especulações sobre a interferência do Executivo na PF. Decidiu manter o delegado Leandro Daiello na direção.
 
“O Ministério da Justiça e a Polícia Federal fazem questão de expressar à sociedade brasileira a sua absoluta harmonia na condução das duas instituições. O noticiário que está aí é, para usar um termo moderno, a pós-verdade. Não corresponde à realidade, não constrói afabilidade e não ajuda a boa condução dos interesses públicos”, disse o ministro, em coletiva, após as informações.
 
Mas a substituição de Osmar Serraglio, ex-ministro de Temer na Justiça, foi motivada por pressões de diversos aliados políticos e o próprio presidente Michel Temer da suposta falta de controle do então ministro junto à PF. 
 
O gesto foi interpretado pelo próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como tentativa de influência. Na denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foi também alvo das acusações da JBS e dos executivos delatores e, inicialmente, a investigação caminhava em conjunto com a peça contra Temer, Janot mencionou a troca de comando do Ministério da Justiça como forma de obstruir a Operação Lava Jato.
 
Isso porque a saída de Serraglio e a substituição por Torquato ocorre em pleno domingo, materializando a sequência de uma estratégia já deflagrada nos grampos envolvendo Temer: a intenção de substituir o diretor-geral da Polícia Federal, gesto claro de guerra aberta do governo contra as investigações.
 
“Após a deflagração da ‘Operação Patmos’ em 18 de maio de 2017 e a revelação do envolvimento do próprio presidente da República, Michel Temer, em supostos atos criminosos, a pressão do senador Aécio Neves e outros investigados intensificou-se, e Osmar Serraglio foi efetivamente substituído no Ministério da Justiça por Torquato Jardim”, disse Janot, em trecho da peça contra Aécio.
 
O procurador também mencionou na denúncia o relato das gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com caciques do PMDB, em que negociavam a chamada “solução Temer”, como forma de barrar a Operação Lava Jato. Machado conversou com os parlamentares no último ano, articulando “estancar a sangria” da Lava Jato, gravou os diálogos e, em seguida, após entrar para a mira dos investigadores, entregou as mídias como provas.
 
Dois meses após Torquato comandar o Ministério da Justiça e, após o noticiário dar conta da estratégia já desenhada e mostrada nos grampos do governo Temer, não trocar o comando da PF, o ministro anuncia mais um corte de recursos para o órgão de investigação e assume, de forma generalizada, que Operações podem não ser concluídas pela falta de dinheiro.
 
“Tenho que ser honesto, sincero e transparente. Poderá implicar em processos seletivos de ações, não realizar todas as operações ou não realizar em suas extensões totais, mas apenas parcialmente”, afirmou nesta semana, anunciando um contingenciamento de R$ 400 milhões. 
 
A própria PF já havia informado que os cortes e contingenciamentos provocados pelo presidente impactaria nas atividades e investigações deste ano. Tentando não transparecer que tal medida guarda algum tipo de relação com tentativas de influir nas apurações que recaem contra Temer e aliados, Torquato disse que há uma previsão de descontingenciamento de R$ 70 milhões por mês até o fim do ano, para que possa realizar algumas operações.
 
Questionado sobre as medidas serem tentativas de obstrução à Lava Jato, Torquato Jardim respondeu que as críticas são “infundadas” e que apoia a Operação. Mas deu sinais de que as mudanças na Polícia Federal irão seguir: “Estamos trabalhando para uma nova Polícia Federal, novo sistema, o engajamento institucional, irrelevante quem vai continuar, se é ele lá e eu aqui”.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Faz muito bem. A Policia

    Faz muito bem. A Policia Política Federal trabalhou para derrubar o governo Dilma portanto não tem mais corrupção a combater. Seus políticos aliados estão no poder. 

     

  2. PF está colhendo o que plantou.

    A PF está reclamando do quê? Combateram uma Presidente honesta e colocaram “gangsters” no lugar dela. Os honestos se acovardaram quando deveriam ter agido. Agora, agüentem a festa da canalha.

  3. Ué tirar o Daiello por que? É

    Ué tirar o Daiello por que? É só ele (Daiello), “conversar” com os delegados da lava-jato, como se viu, através daquele da famigerada operação “carne fraca” (mais de mil policiais para ferrar com a importação de carne do país) e, tudo fica bem.E assim, caminha a “groriosa” pf.

  4. MUITOS COBRAVAM A MESMA COISA DA DILMA. O REPUBLICANISMO TRAVOU.

    Havemos de convir, todos queriam isso. O que causa estranheza é o silêncio sepulcral da grande mídia e da própria PF. É certo que havia muita coisa errada, seletividade, estrelismo, e até em determinadas horas descontrole, mas também é inegável que algo haveria de ser feito, corrupção é terrível para povo comum como eu. O problema maior foi a partidarização da instituição, isso causou desconforto e desconfiança em que o combate a corrupção era só uma fachada para uma polícia política e em certos momentos isso aconteceu e ainda acontece. Não poderia ser dessa forma para livrar amigos do Temer e o próprio, mas já é alguma coisa. Eu sempre defendi que a própria PF por dentro iria hora ou outra corrigir o rumo, da forma como estava funcionando o país continuaria sendo uma fábrica de crises, é muito poder para uma PF em relação aos cidadãos, é um verdadeiro massacre, não pela ação da polícia, mas sim pela ação e intenções de quem os comanda. A lava jato foi extremamente educativa de como uma polícia não pode ser, apesar que ela só obedecia às ordens do juiz maluco, porém tinha poder e muito na força tarefa. Acho que não podemos reclamar agora pois foi terrível ver os empregos derretendo e o país se destroçando e muito disso foi legado da Lava jato, aliás parte considerável do ponto de vista matemático, perdeu muito mais que ganhou, espero que pelo menos didaticamente traga algo educacional para nós todos.

  5. Nunca teve qualquer sentido.

    Criou-se justiça de exceção Em qualquer balanço que se possa fazer ficará claro que esta operação trouxe mais prejuizo ao país e descrédito para a justiça do que qualquer acerto. Agora vemos nosso sistema político totalmente corrompido e nossa economia destruida. 

  6. Está certo o Temer e

    Está certo o Temer e golpistas.

    Estão vendo o lado deles.

    É assim que se usa o poder.

    Quero ver agora a PF cantar de galo, tirar onda de marrento com os golpistas. Como faziam com o PT

    Quero ver delegado fazer tiro ao alvo com a foto do Temer.

    Bem feito, a PF está infestada de coxinha. 

    Essa classe tem que sifu, para aprender  respeitar à Democracia.

    Estou adorando vê essa turma se ferrar.

    E não adiata fazer beicinho e nem bater o pezinho.

    Manda que podem e obedece quem tem fiofó, senão a trolha entra sem pena e sem dó.

    Babacas !!

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