Nome na planilha de Tacla Durán é de empresário de El Salvador, onde João Santana fez campanha

Na décima postagem da série sobre a indústria da delação premiada da Lava Jato, feita em conjunto pelo Jornal GGN e o DCM, João Santana e Mônica Moura aparecem mais uma vez, agora ligados a pagamentos feitos por eles a candidato a presidente em El Salvador. O nome aparece na planilha e é levantado por leitor da série. As outras matérias da série podem ser vistas aqui.

Pesquisa realizada por um leitor da série do DCM e GGN, Rodrigo Luchiari, reforça a credibilidade das planilhas apresentadas por Rodrigo Tacla Durán. A pesquisa confirma a identidade de Nicolás Sawne Barake, que recebeu recursos da Odebrecht por meio de contas de João Santana e Mônica Moura, conforme registro das planilhas. 

Confirmadas essas transações, emerge um João Santana não apenas responsável pelo marketing das campanhas de interesse da empreiteira. Ele era um operador do grupo, fazia o que a lei define como lavagem de dinheiro, serve de veículo para esquentar ou esfriar recursos. Segue o e-mail do colaborador:

“Ao me deparar com o trecho “Tacla Durán soube disso quando analisou as planilhas do My Web Day. Pelas contas de Santana e de Mônica passaram pagamentos a terceiros, até agora não identificados, como um tal Nicolás Sawne Barake” na reportagem sobre as planilhas apresentadas por Tacla Durán não me contive e fui exercitar meu hobby predileto: pesquisar.

Tudo leva ao senhor Nicolás Salume Barake, de El Salvador. A relação é a campanha do Maurício Funes. O Salume Barake foi um empresário milionário de origem libanesa. Foi o maior financiador da campanha de Funes, que quando assumiu a presidência o nomeou “o primeiro designado a presidência”, aquele que assume a presidência da República quando da ausência do presidente e do vice, fato que ocorreu algumas vezes durante a governo Funes.

Segundo consta na tabela apresentada por Tacla Durán, as transferências a “Nicolás Sawne Barake” ocorreram entre 27 de janeiro de 2009 e 12 de março de 2009. Funes foi eleito em 15 de março de 2009.

Nas delações de Monica Moura e Joao Santana há a informação de que Palocci cuidou de enviar U$ 3 milhões a campanha Funes. Um dos filhos de Barake, Nicolás Salume Babún,  foi questionado se seu pai seria a pessoa responsável por receber esses valores, mas não respondeu. Nicolás Salume Barake faleceu em 12 de Dezembro de 2014, aos 87 anos. 

Trecho de matéria que me guiou (publicada no jornal El Faro).

El Faro consultó por correo electrónico a dos empresarios cercanos a Funes si fueron ellos quienes recibieron el aporte de Odebrecht. Miguel Menéndez (conocido como “Mecafé”) fue uno de los mecenas de la candidatura de Funes, y negó que él hubiera sido el puente. “En ningún momento he recibido donativo por parte del Sr. Emilio Odebrecht para realizar compra de pauta publicitaria en televisión para la campaña de Mauricio Funes”, contestó Menéndez. El empresario Nicolás Salume Babún no respondió si él o su padre, Nicolás Salume Barake (quien aparte de dar un aporte de 3 millones de dólares en la etapa final de la campaña fue nombrado primer designado a la presidencia por Funes), tuvieron algo que ver.”

.x.x.x.

Esse nome nunca viria à tona não fossem as planilhas do advogado Rodrigo Tacla Durán, que rastreou as contas de João Santana a serviço da Odebrecht. Nos processos sob a jurisdição de Sergio Moro, essas movimentações foram tarjadas. Mas ainda faltam respostas: por que um financiador de campanha, no caso Nicolás Salume Barake (e não Nicolás Sawne Barake, como aparece na planilha) recebe e não doa recursos? 

Como Nicolás já faleceu, o filho talvez pudesse dar esclarecimentos sobre essa transação, mas, como se viu na reportagem do El Faro, ele não quis responder nem se o pai recebeu recursos. O indício é o de que ele também se colocou na condição de intermediário, a exemplo de João Santana. O dinheiro que colocou na campanha presidencial de El Salvador tinha, na verdade, origem no caixa da Odebrecht, naturalmente interessada nos contratos de obras públicas do governo de Funes.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • Como acontece com o caso

    Como acontece com o caso Fifa, o esquema de corrupção da Odebretch só poderá ser descoberto em sua verdade factual, com investigação no exterior. E claro através dos blogs independentes sem rabo preso, como GGN e DCM

    O que mostra, Nassif, que nosso judiciário é uma fraude completa. Em primeira, segunda, e quantas instâncias forem necessárias. 

    Tenho vergonha de nosso sistema jurídico. É como naquela época da piada em que um presidente militar brasileiro em visita a um país sem litoral foi apresentado ao ministro da marinha. Ao perguntar como isso era possível, a resposta veio na lata: Ué, voces não tem um ministro da justiça? Acho que todos conhecem essa, infelizmente

  • A ORCRIM lavajateira com as entranhas reviradas e expostas

    Esta série histórica de reportagens tem mostrado - de forma cabal, irrefutável -  que a Fraude a Jato é uma ORCRIM institucional. Embora a Construtora Norberto Odebrecht - assim como outras empreiteiras -  tenha atuado como corruptora, depois que os diretores e executivos dessa e de outras empresas perceberam que estavam tratatando com ORCRIMs intitucionais enquistadas e encasteladas no sistema judiciário brasileiro - todo ele cooptado e submisso ao alto comando internacional do golpe, que fica nos EEUU - eles passaram a rezar na mesma 'conta' dessas máfias institucionais, fazendo o jogo delas. Essa é a mais grave constatação feita pelo jornalismo independente, hoje prtaicado por blogs e portais como o GGN e o DCM.

    O sistema capitalista é, por excelência, corrupto; esse sistema políctco-econômico tem a corrupção em seu DNA e sobrevive graças a ela. Empresas como as construtoras brasileiras têm interesses comerciais e sempre buscam ampliar os mercados em que atuam, assim como as margens de lucro. As empresas européias, estadunidenses e asiáticas usam os mesmos expedientes, corrompendo politicos e autoridades dos sistemas judiciários nos países em que têm interesses. As empreiteiras brasileiras não são piores que a desses países nem fazem coisas diferentes dio que essa "impolutas" e "imaculadas virgens" de bordel sempre praticaram e agora passam apraticar em nosso país, a elas entregue por 30 dinheiros pelas quadrilhas hoje no poder.

    Se são remotas as perspectivas de que as quadrilhas e ORCRIM institucionais  - sobretudo a Fraude a Jato e as quadrilhas oligárquicas, fincanceiras e políticas, além do PIG/PPV - sofram algum revés no curto prazo, a brava atuação do jornalismo independente, ao transformar em cadáver insepulto com as entranhas pútridas e fétidas essas ORCRIMs, torna o golpe insustentável no médio e longo prazo, pois desmoralizado histórica, ética, sociológica, jurídica e polìticamente.

    • Excelente visão, corrobora os
      Excelente visão, corrobora os mal feitos e desvios das instituições envolvidas, reitero 100% suas palavras

  • Deve haver muito mais

    Sergio Moro é juiz que desperta curiosidade pela sua atuação ortodoxa. Ele e os procuradores envolvidos na Lava Jato têm operado de todas as formas para que se chegue a Lula e à cupula petista, mas todos os tubarões que pescam pelo caminho, vão jogando de volta ao mar. So prendem e por longo tempo os que recusam a colaborar com o instituto da delação premiada forjada pela Lava Jato. E assim tem os que, como Leandro Karnal, continuam acreditando que "Curitiba" tem feito um grande trabalho de combate à corrupção, como nunca antes neste Pais de presépios!

  • .. salgar carne podre..

    .. nosso judiciário é uma fraude completa, é atualmente o poder mais nocivo para a nação.. então como é que pode haver eleição, se quem chancela o processo é o judiciário? Com que credibilidade qualquer candidato(a) sairá das urnas em 2018?

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