Delcídio agiu em interesse próprio e acusou Lula depois, aponta novo depoimento

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O novo depoimento de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, na ação que corre no Distrito Federal contra Lula e outros réus por suposta tentativa de obstrução da Lava Jato, reforça o que o GGN publicou em setembro passado: que há a desconfiança de que o ex-senador Delcídio do Amaral agiu por interesse próprio tentando comprar o silêncio de Cerveró e, após ser pego em flagrante pela força-tarefa, aceitou fazer um acordo de delação premiada em que jogou toda a culpa em Lula. Com isso, se livrou do regime fechado, entre outros benefícios. (Leia mais aqui)

Cerveró já havia admitido que nunca soube da suposta participação direta de Lula na tentativa de evitar que ele fizesse uma delação citando Delcídio, em vídeo publicado pelo Estadão há dois meses. Na gravação, feita diante de um membro da força-tarefa da Lava Jato, Cerveró dá elementos suficientes para levantar a hipótese de que o ex-senador estava pagando seu advogado para evitar o acordo de cooperação.

O interesse de Delcídio em manter-se o mais longe possível das investigações é inegável. Em seus depoimentos, Cerveró sempre fez questão de contar que só chegou à Petrobras por indicação do ex-senador, quando este ainda estava no PSDB, na época de Fernando Henrique Cardoso como presidente. Ambos atuaram em negociatas que desviaram recursos da estatal muito antes de Lula ser eleito pela primeira vez, em 2002. Ao longo de 1990, o setor energético era o ramo dos acusados.

Nesta terça-feira (8), Cerveró participou de uma vídeoconferência com a equipe do DF para instruir o processo. Os jornais noticiaram que ele “reiterou as acusações contra Dilma e Lula”, mas a defesa do ex-presidente destacou as falas que a mídia fez questão de deixar de fora.

A advogada de Cerveró, Alessi Brandão, por exemplo, relatou os bastidores da sua relação com seu cliente, sobre a condução das negociações para que ele obtivesse uma delação premiada com os procuradores da Lava Jato. Ela acusou o advogado Edson Ribeiro, que representava Cerveró e tinha proximidade com Delcídio, de dificultar o acordo de delação, junto com o ex-senador. Ela disse ainda que só ouviu sobre a suposta participação de Lula na tentativa de obstruir a operação quando Delcídio firmou o acordo de delação premiada. 

Cerveró também reiterou que não houve nenhuma outra pressão, a não ser a de Delcídio do Amaral, para que ele não fizesse delação. “Delcídio, ao acusar Lula sem provas, conseguiu fechar ele próprio um acordo de delação que permitiu que o ex-senador saísse da cadeia e ficasse em liberdade.  Ou seja, após atuar para impedir uma delação, bastou Delcídio acusar Lula sem provas para ele mesmo obter um acordo de delação premiada, ao atribuir a outro uma ação do próprio Delcídio”, escreveu a assessoria do ex-presidente.

“(…) a audiência de hoje deixou claro que nosso cliente não praticou qualquer ato ilícito antes, durante ou depois do cargo de Presidente da República”, comentaram Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, em nota à imprensa.

O Estadão, contudo, preferiu destacar que “Cerveró reiterou acusações contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.” Contra Lula, o jornal apontou que ele foi o responsável por garantir um cargo na BR Distribuidora a Cerveró após sua saída da Petrobras por pressão da bancada do PMDB. Michel Temer, que foi citado em delações como uma das lideranças procuradas para manter Cerveró na estatal de petróleo, não ganha menção do Estadão.

Contra Dilma, o jornal publicou que Cerveró afirmou que “uma das informações que me foi dita pelo Edson [Ribeiro] é que o Delcídio teria mandado um recado dizendo que a presidente Dilma estava preocupada com os meninos e que precisava soltar os meninos. Os meninos, no caso, eram meu colega Renato Duque (ex-diretor de Serviços) e eu.”

À Lava Jato, Delcídio desenvolveu um roteiro que inclui a família Bumlai. Disse ter sido convocado por Lula para achar um meio de evitar que José Carlos Bumlai, o homem que avalizou um empréstimo do banco Schahin ao PT, fosse delatado por Cerveró. Para isso, Delcídio teria buscado ajuda de custo com o filho de Bumlai, Maurício, e com André Esteves, do BTG Pactual – que também acompanhava o desenrolar dos acordos de cooperação. Não há confirmações de que os últimos dois tenham, de fato, contribuído com a empreitada de Delcídio.

A defesa de Lula destaca, ainda, que Delcídio só aceitou fazer o acordo porque sofreu um tipo de tortura na prisão: era condicionado a ficar numa sala sem ventilação e luz. O relato é feito pelo próprio ex-senador à revista Piauí e é usado para invalidar sua delação.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Nunca tive a menor dúvida

    Nunca tive a menor dúvida sobre a natureza dessa delação do ex-senador Delcídio. Juntou-se, no caso, a fome com a vontade de comer: o então senador alucinado para sair da cadeia e pegar uma pena simbólica e o aparato repressivo mais alucinado ainda para “pegar” o ex-presidente Lula.

    O Brasil se tornou tão previsível que é super entendiante desvendar e entender os diversos cenários que se apresentam como novidades, mas que na realidade se originam da mesma matriz farsesca.  

  2. Tava na cara desde sempre!

    O que impressiona qualquer um é a descarada simplicidade dos fatos. Qualquer imbecil consegue ver que o ex-senador foi “torturado” e em troca resolvel delatar algo jogando a culpa num terceiro. Se o testemunho de Cerveró não serve para desfazer a tese contra Lula, então é melhor entregar este país aos americanos e tchau!!!

  3. Seria ridiculo se não fosse trágico

    Em qualquer instância judicial, todo este parlatório de Delcidio  não seria sequer levado para os autos, a não ser para incriminá-lo mais ainda. Após ser flagrado junto com um banqueiro numa conversa para lá de comprometedora, sua delação foir premiada porque após uma falta de ar, lembrou de Lula. Mas o pior  não é o rídiculo da delação, mas sim a tragédia da aceitação da mesma por: Janot, Procurador Geral da Republica, Teori Zavascki, membro do supremo, e finalmente Moro , juiz da primeira instância e mais  trágico ainda é ver uma farsa destas vir a publico pela imprensa.

    Agora Cunha  quer  Lula como testemunha de defesa e o Juiz Moro aceita, aceita até o Temer, afinal Cunha mandou    Isto é  mais uma armadilha explicita,  mais uma farsa ridicula que nos leva ao traǵico.

    1. Juiz não vai perder essa chance
      É óbvio que Moro não vai perder essa chance oferecida por Cunha para ouvir Lula e Temer. Pra mostrar que com ele não tem esse negócio de ser presidente. Óbvio tb que Temer vsu dizer que o Cunha é gente da melhor qualidade.Lula deve dizer que tudo que sabe sobre Cunha é que ele é um golpista. Aí Moro mrende Lula

  4. Novidade


    Qualquer pessoa atenta já teria percebido isso há tempo. É necessário ter muita prevenção contra Lula (e como há gente assim) para acreditar nas acusações de Delcídio que, de tão frágeis e desprovidas de provas, teriam sido de pronto rejeitadas, se o MPF e a Justiça estivessem querendo mesmo fazer JUSTIÇA. 

  5. Lula, ninguém vai te premiar, o teu crime não compensa

    Ninguém vai premiar o Lula, ao contrário, vão condená-lo à revelia de provas, pois o crime dele – ter sido eleito duas vezes, ter reduzido as desigualdades sociais e, pior, estar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para Presidente em 2018 – não compensa.

  6. Poliana

    Delação não tem que ser investigada antes de virar prova?

    ***

    Putz, a que ponto chagamos… Esse negócio de golpe de estado, como toda mentira, faz muito mais mal do que a gente imagina. Que porcaria esse tal de “Estadão”…

  7. Cerveró cometeu delcídio no seu depoimento

    Cerveró não é homicida, é delcida. Qual é a pena para o crime de delcídio, cometido por Ceveró?

    Falar o que se ouve dizer, sem conferir a veracidade dos fatos, só vitimiza o Lula, contribuindo para a sua ascenção, em vez de contribuir para sua queda. Assim, aqueles que querem condenar Lula a todo custo acabam dando um tiro no próprio pé.

  8. O Delcídio, decíduo por

    O Delcídio, decíduo por natureza, é do time dos “doutores” invejosos, da turma do diplomismo, que morrem de inveja em ver “o analfabeto” ter sido presidente da República, e ainda mais “ter tido a sorte” (essa coisa inventada pelos que não têm argumentos) de ser “o cara”; uma liderança mundial.

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