O catador morto pelo Exército: cenas de um herói nacional

Luciano Macedo salvou criança de 7 anos que estava no carro alvejado com mais de 80 tiros pelo Exército em Guadalupe. Era morador de rua e estava construindo um barraco com a esposa grávida de cinco meses

Jornal GGN – Na madrugada da última quarta-feira (17) o Hospital Estadual Carlos Chagas confirmou a segunda morte do atentado praticado pelo Exército em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, e que culminou na morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, alvejado com 80 tiros. A segunda vítima é Luciano Macedo, ferido com 3 tiros nas costas enquanto socorria a família de Evaldo.

Os detalhes a seguir, registrados pelo jornal Extra, revelam as características de um verdadeiro herói brasileiro. Luciano tinha 27 anos, era catador de material reciclável e morava na rua com mulher, Daiana Horrara.

No momento em que o carro de Evaldo estava sendo atacado pelo Exército, o jovem passava com a esposa cantando pelo caminho pedaços de madeira. Com o material eles iriam improvisar um barraco na favela do Muquiço para a família que estava crescendo. Daiane está grávida de cinco meses.

No meio do tiroteio, Luciano abriu uma das portas traseiras do carro e salvou o filho do músico de 7 anos. Depois de colocar a criança em local seguro, voltou para o carro na tentativa de tirar Evaldo.

Quando foi socorrê-lo, a esposa gritou para ele não ir. “Fica aí, ele está morto!”. “Aí ele falou ‘mas ele olhou pra mim'”, relembrou a mulher.

“Meu irmão era atencioso, carinhoso. Só tínhamos nós dois de irmãos e minha mãe”, contou Lucimara Macedo, irmã mais velha. Os dois perderam o pai cedo, ainda crianças, em um acidente doméstico e foram criados pela mãe, auxiliar de serviços gerais Aparecida Macedo.

Ao jornal Extra, Lucimara conta que o irmão estudou até a 5ª série e aos 18 anos saiu de casa para viver sozinho. Como na história do filho pródigo e de milhões de brasileiros em situação econômica de risco, não foi bem sucedido e acabou indo morar nas ruas. Há dois anos, reencontrou uma antiga paixão, Daiana, e começaram um relacionamento. Pessoas próximas contam que o casal vivia um momento feliz com a espera do filho.

“Se meu irmão errou muitas vezes na vida, ele acertou ali naquele momento. Deus levou ele. Ele foi salvar uma vida e deu a dele”, registrou Lucimara.

“Luciano morreu no seguinte contexto: estava com a esposa Daiana numa rua de Guadalupe catando madeira para construir um barraco a fim de poder oferecer um lar para o filho deles. Vale a pena frisar ele foi um herói naquele momento. Porque, segundo relatos da esposa, ele viu o drama da família de Evaldo, especialmente da esposa, que gritava muito por ajuda. Ele percebeu o filho do casal dentro do carro”, pontuou Antônio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz.

“Segundo a esposa, ele tem muito carinho por crianças. E foi na direção do carro e tirou o menino lá de dentro”, completou. A organização criou uma vaquinha online para ajudar a família a enterrar Luciano.

“A família está muito cansada, se sente abandonada, ignorada pelo poder público. Ninguém do Exército, do governo federal a procurou. Entendemos que o Exército errou em três ocasiões distintas: ao atirar em Luciano, ao não prestar socorro imediato, pois viu ele agonizando no chão, pedindo ajuda, e, por fim, ignoraram o drama da família durante esse período de internação. Se não é a mobilização da sociedade civil, a família, muito pobre por sinal, estaria só. Permita-me falar: só deram esse tratamento para a família porque ela é pobre”, desabafou Costa.

*Clique aqui para ler a matéria do Extra.

Redação

8 Comentários

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  1. A Socidade, opinião Publica tem que cobrar do Exército. Estão varrendo para debaixo do tapete de novo. Eu assisti Deputadas cobrarem via TV do dia 10 abr 19 o Ministro ou Big Boss das Forças Armadas…e aquela resposta…Um minutinho liga o gravador…”..que fatalidade, estamos investigando… bla bla bla…”
    Não vamos dar uma de Boris Casoy…uam vergonha mas temos que apertar eles, como que eles querem manter seus soldos altos. Me recuso a pagar salario fora da realidade a assassinos que debocham do povo , dos contribuintes. Chega de ser vaquinha de presépio….

  2. Nassif: os miliquinhos estavam apenas cumprindo as ordens dos donos do sauveiro. A Querência de CruzAlta, como orquestradora do ser-e-estar dos VerdeSauvas, já decretou a “limpeza étnica” da classe baixa. Os de classe média estes ficarão por conta do Ministro-da-Fazenda. Dizem que é preciso limpar a eira, que Natanyahu pretende criar uma colônia Transpalestina e não vai querer gentalha no pedaço. Como fazem na Faixa de Gaza. O escritório de Jerusalem ja dispõe da normas. Com um catador de rua e um negro a tarefa já começou,,, Inclusive, essa de chantagear o Çupremu faz parte do plano. A ForçaTarefa destaca para acompanhar a comemoração do Dia do Indio tinha ordens expressa de passar o serol nos gentios. Estes são outros que estão atrapalhando o progresso da Nação, especialmente o AgroNegócio. Os designos, aos poucos, vão se cumprindo. É do Tipo completo, “cabelo e barba”.

  3. Tem que fazer uma homenagem ao catador, nome de rua, praça, escola… Herói mesmo. Bolsonaro abriu a porta dos infernos e instalou um estado de exceção. Voltamos a 3 de dezembro de 1968. Uma única voz no governo militar se levanta contra o Ato Institucional n. 5, AI-5, Pedro Aleixo, vice-presidente civil do general Costa e Silva. Antes da votação no conselho de ministros, ele alerta: “Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país; o problema é o guarda da esquina”.

  4. Luciano foi a única pessoa de bem que foi socorrer o Evaldo e sua família…
    Depois de saber que aquelas pessoas atingidas não foram socorridas imediatamente e, que zombaram e debocharam da esposa do Evaldo, chego à conclusão de que estamos com falta de pessoas de bem.
    Tempos de Bozomania influenciados por uma Witzelmania.
    Pobre Luciano, pobre Evaldo, pobres famílias de bem.

  5. essa matéria fez com que ele entrasse para história
    como herói mas há muitos semelhantes a ele
    que morrem todo dia assim…

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