Foto Públicas: Ramazan SUNA
Por Leonardo Isaac Yarochewsky
Eu devia ter dois ou três anos, no máximo, de formado – hoje tenho 30 – quando fui procurado para defender um jovem, negro e pobre – como a grande maioria da população carcerária – que se encontrava preso sob a acusação de tráfico de drogas, ainda sob a vigência da já revogada Lei 6368/76.
Quando fui visita-lo na prisão, a Delegada me disse: “Doutor, o melhor que o senhor tem a fazer é conseguir a transferência do seu cliente”.
Após conversar com o cliente – um jovem assustado – e ele me narrar as terríveis condições da cadeia entendi perfeitamente o que a Delegada queria dizer.
Certo é que acabei conseguindo a transferência do jovem para uma prisão, menos ruim e não tão lotada, o que já era razoável.
Contudo, o melhor estava por vir. O Juiz acabou desclassificando o crime de tráfico para porte de drogas. Logo então, o MM. Juiz mandou expedir o tão desejado alvará de soltura.
Avisei a mãe do jovem – mãe jamais abandona o filho, mesmo a dos presos – e marquei com ela para nos encontrarmos em frente à prisão.
Tomada às devidas providências ficamos aguardando a saída do rapaz. Ao sair, o jovem foi correndo como um menino para os braços da sofrida, mas feliz mãe.
Logo nos abraçamos e nos despedimos. Dali segui para uma confeitaria , sentei e pedi, com a consciência do dever cumprido, um quindim. Adoro quindim.
Minha mãe que acabou de completar 80 anos faz o melhor quindim do mundo. Mas o quindim que eu degustava e saboreava naquela tarde, depois de cumprir o alvará de soltura, tinha um gosto especial, tinha gosto de liberdade.
Operou-se naquele dia um milagre, o milagre da liberdade.
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