Os mensalões e a hipocrisia, por Lula Miranda

Sugerido por Jairo

Do Brasil 247

A inadiável alvorada de uma quarta-feira de cinzas

LULA MIRANDA
 
Nem tucano nem petista.
 
Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas, jornalistas e juízes que, desgraçada e despudoradamente, assumiram inconfessáveis preferências partidárias; abandonaram os fatos e os autos para macular a toga, a magistratura e o jornalismo. Para, assim procedendo, estuprar a verdade e a Justiça.
 
Tá certo que, no salve geral do “jornobanditismo” organizado brasileiro, o caixa dois do PT tornou-se o “mensalão” petista”. Isso todos sabemos. Já o tucano foi eufemisticamente batizado de “mensalão mineiro”. Notou a “sutil” e conveniente distinção? Um é “petista”; o outro é “mineiro”. Sei…
 
Mais: o do PT foi “compra” de deputados; o do PSDB foi “financiamento de campanha”. Simples assim.
 
Somos todos incautos?! Ou somos todos hipócritas?
 
Ora! Sejamos honestos! Basta de parcialismo e/ou hipocrisia! Ambos são clássicos casos de caixa dois para financiamento centralizado de campanhas de partidos aliados!

 
É um absurdo condenar Eduardo Azeredo a vinte e poucos anos de prisão? Concordo. Mas não se preocupe, pois este dificilmente será julgado ou condenado – muito menos sofrerá achincalhes e linchamentos públicos diuturnos, cotidianos no horário nobre das TVs ou nas capas e nas manchetes dos jornais e revistas.
 
Porém, este importante político tucano de Minas terá que ser julgado pelo Supremo. Da mesma forma como foram julgados os petistas. Mas com direito à TV, teatral indignação e espalhafato? Convém duvidar.
 
O Supremo, na primeira e interminável etapa do julgamento da AP 470, desgraçadamente, fez “chacrinha”, mas não fez justiça. Transformou suas herméticas e áridas sessões num triste e esdrúxulo espetáculo de auditório, para uma classe média conservadora, de duvidoso senso (e gosto) e cultura mediana, refestelar-se, inculta e bela, nas suas macias poltronas e cômodos sofás. “Tão somente” para condenar “exemplarmente” os líderes petistas.
 
Deplorável exemplo e “espetáculo” deu o STF na ocasião. Nobres e provectos juristas escandalizaram-se.
 
É um absurdo condenar Azeredo à prisão?! Assim como foi um absurdo condenar José Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, cada qual com seu crime e castigo, por peculato, lavagem de dinheiro e… FORMAÇÃO DE QUADRILHA!!! Esta última condenação então é o absurdo dos absurdos! Chega a ser inacreditável. Inaceitável! Remete-nos à obra de Franz Kafka, mas sem o aviso prévio e tranquilizador de que estamos diante de uma obra de ficção do gênio humano.
 
Absurdo! Reitero, com necessária e indignada ênfase. ABSURDO!
 
Condenar históricos líderes e referências do petismo e da política brasileira por peculato e lavagem de dinheiro pode até ser considerado, com muito boa vontade, vá lá, um viés de interpretação do magistrado, para uns; ou um suposto erro de avaliação/julgamento, para outros. Ou – por que não? – até mesmo um excesso de rigor dos ministros da Corte que, na condição de juízes, viram crime onde delito havia.
 
Mas, cá entre nós, condenar por formação de quadrilha, repito, é ABSURDO, e, mais que isso, é gritante e aviltante injustiça, visto que, além de corromper os autos e os fatos, foge à lógica elementar e ao bom senso.
 
Quadrilha?! Faça-me um favor!!!
 
Vivemos num mudo de rábulas e verdugos?
 
A classe média, despolitizada, gorda e burra, bela e inculta terá conhecido finalmente o seu paraíso?
 
Vivemos num reinado de hipócritas?
 
Cabe-nos perguntar.
 
Cabe-nos perguntar ainda e por último: o que é afinal o Supremo?!
 
O Supremo é uma “muralha inexpugnável” que serve para zelar pela interpretação e aplicação dos ditames da Carta Magna; que serve para proteger os direitos dos indivíduos do arbítrio e desmandos do Estado e do poder econômico? Ou é apenas uma canhestra cidadela do establishment, com suas masmorras inacessíveis e ar lúgubre, infecto, inacessível, incompreensível, cheio de sombras, onde se escondem vilezas, torpezas, hipocrisias e dosimetrias que utilizam pesos e medidas de flagrante incongruência, ao gosto do freguês da ocasião?
 
O Supremo terá, na próxima semana, portanto bem antes da tão esperada “folia momesca”, a oportunidade de se redimir de fragoroso e ignominioso erro histórico; de fragorosa e ignominiosa injustiça e, por que não dizer, maldade.
 
E assim, quem sabe, mostrar, para a sociedade brasileira, não somente para os correligionários do partido “x” ou “y”, que seus ministros, ao menos os mais honrados, virtuosos e humanos, não devem servir como heróis caricatos, como “Chacrinhas” e ou “chacretes” para desfrute e entretenimento de uma sociedade hipócrita, ou, tampouco, como meras máscaras a serem utilizadas pelos falsos virtuosos, os hipócritas, que pululam por aí, em eternos carnavais, nessa nossa sociedade farsesca, de duas faces e pouca moral. Para que estes “heróis” de um triste e catártico espetáculo não mais se esbaldem em sua débil e fugaz alegria, que não mais se assumam e celebrem a sua mediocridade foliã apenas no carnaval – de qualquer maneira, a qualquer tempo.
 
Quem sabe um ou outro ministro, de preferência um dos mais novos, imune aos vícios e pretensas virtudes dos velhos, traga um pouco de luz àquela Corte de sombras?
 
Quem sabe um destes não diga para a sociedade toda ouvir, agora, para valer, em caráter definitivo, em alto e bom, a verdade que já não pode calar: que o país necessita de uma reforma política URGENTE; que o financiamento privado de campanhas manieta e criminaliza a política – pois as instituições, os políticos, a mídia, os jornalistas, os promotores, o Judiciário inclusive, são, muitas vezes, tratados como meros títeres do poder econômico.
 
Pois a realidade, a verdade tarda, mas chega. Algum dia. Por vezes, logo depois de breve “desconforto”, ou mesmo ressaca de um “porre” de civismo, como nas Diretas Já. Mas vem acompanhada/seguida de irrefreável e libertadora alegria.
 
Pode até tardar, demorar aos olhos e expectativas dos mais impacientes, mas sempre há de vir o sol, por mais longa e tenebrosa que tenha sido a noite.
 
E, com ele, sempre chega a luz, que a tudo ilumina, esclarece, redime.
 
Como a inadiável, inconveniente e inexorável alvorada de uma quarta-feira de cinzas.

 

Redação

14 Comentários

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  1. Pertinente texto. Disse tudo. Só será difícil – para não dizer, desde já, impossível – reverter o posicionamento político-assustado-midiático dos ministros. Ínclicos e nobres na maioria das vezes em que seus votos “empatam” com os de sempre. Lamentável dizer que o Brasil precisa passar por isso. Mas, de outro lado, vê-se (Ucrânia e Venezuela), por exemplo, que os ínclitos e nobres capitalistas estão presentes desde sempre a repetirem seus “recursos metodológicos” (vide Alejo Carpentier) para desestabilizar governos populares em sua globalização (aqui, em sua “globOlização”). Preocupante.

  2. Os ministros podem e devem

    Os ministros podem e devem rever suas decisões acerca do crime de formação de quadrilha. Não existe isso de já decidi, está decidido. Isso equivale a dizer que as defesas não tem ou não tiveram peso na última sessão. Nada do que foi dito alterará minha convicção. Ora, juiz não pode estar convicto de nada sem ouvir as duas teses. Isso é um absurdo. Aquela proposta de MAM de, só ouvirem os votos de Teori e Barosso já que os demais já haviam votado é o fim da linha e eu não esperava isso do segundo ministro mais antigo da Corte. Parece que a ordem é esticar a corda; tanto assim que o plenário manobrou para manter o suspense por mais uma semana, como se a vida/liberdade das pessoas significasse NADA. Todo mundo poderia ter recusado a proposta de Fux, mas acataram. A tentativa de dar um clima de improviso a proposta, morreu na aceitação imediata dela. Eu continuo perguntando, o que querem, afinal, os ministros do STF com essa AP 470? É inacreditável que nossa elite não tenha capacidade, sequer, para se inventar. Tudo é copiado da matriz. São incapazes de ousar um passo que, minimanente faça o golpismo yankee ter um astral latino. Nossa elite é isso aí. É tão incompetente que até para fazer m…. precisa de ajuda.

  3. peralá

    “Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista.”

    eeeeeeepa! alto lá!

    Mensalão petista NÂO houve. Eu assisti na tv justiça.

    Os juizes condenaram os petistas, é óbivio, MAS sem provas:

    “Não tenho prova cabal contra Dirceu mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite, afirmou a ministra Rosa Weber.” 

    (- isso é que é ju-ris-pru-dên-cia, afirmo eu)

    o mensalão peessedebista ainda não foi julgado. Quem sabe, nesse julgamento apareçam as tais ….provas?

  4. Concordo com autor do texto,

    Concordo com autor do texto, devemos deixar de hipocrisia, um mensalão não vive sem o outro.

    Agora, resta convencer os 11 supremos do supremo, para agir com imparcialidade.

    É aí que mora a hipocrisia.

  5. Não ao pré-carnaval

    “O Supremo terá, na próxima semana, portanto bem antes da tão esperada “folia momesca”, a oportunidade de se redimir de fragoroso e ignominioso erro histórico; de fragorosa e ignominiosa injustiça e, por que não dizer, maldade.”

    Que o carnaval não seja antecipado.

     

     

  6. Concordo e Discordo de Lula, o Miranda.

    Os MENSALÕES realmente não existiram. Foram caixas dois de campanha eleitoral.

    Pronto, concordei. Agora a discordancia:

    Não se deve jogar os ditos mensalões na mesma vala porque no caso petista não houve dinheiro público envolvido, mas no caso tucano o uso de dinheiro público é evidente.

    Em outras palavras.

    O STF não precisará lançar mão do domínio do fato, tornar a verdade uma quimera ou condenar baseado apenas na literatura jurídica, para condenar Eduardo Azeredo, basta ater-se aos fatos.

  7. com a 470 ficamos sabendo que a lei pode ser substituída…

    ora pelo desejo de quem julga, ora com ódio, ora com humor, ora com desconhecimento

    ora por uma soneca, por preferência política, ora por dinheiro, ora para atender a Globo, ora para livrar a cara do FHC, ora para arrumar emprego, ora para impedir o pleno conhecimento da Constituição, enfim…

     

    é por isto que sigo a perguntar: que oração? stf oficial ou partidário? ou os dois?

    1. Prá alguma coisa serve!

      Prezado peregrino,

      aproveito sua pergunta para dizer o que pensor: a lei e a justiça, nos dias de hoje, servem, também,  para arrumar emprego para filho.

  8. — Os acordos financeiros do

    — Os acordos financeiros do PT com os partidos da base aliada têm o respaldo da legislação eleitoral. Há uma resolução do TSE, nº 20.987/02- art.10, inciso IV, que autoriza, como fonte de doação, recursos financeiros provenientes de partidos políticos – http://www.tse.jus.br/legislacao/pesquisa-a-legislacao-eleitoral ).

     

    TSE – RESOLUÇÃO Nº 20.987

    Seção II

    Da Arrecadação

    Art. 10. São fontes de arrecadação, respeitados os limites previstos nesta instrução:

    I – recursos próprios;

    II – doações de pessoas físicas;

    III – doações de pessoas jurídicas;

    IV – doações de outros candidatos/as, comitês financeiros ou partidos;

    V – repasse de recursos provenientes do Fundo Partidário;

    VI – receita decorrente da comercialização de bens ou serviços, substituída, neste caso, a emissão de recibo eleitoral pelo demonstrativo de -comercialização previsto no Anexo VIII.

    —–

    E como é do conhecimento geral, os juízes do STF também erraram quando afirmaram que teria havido desvio de dinheiro público, pois, nem o dinheiro citado foi desviado (já que auditorias comprovaram que foi efetivamente empregado em campanhas publicitárias), nem era público, já que pertencia à Visanet. Quanto à abstrata e muitíssimo mal formulada acusação de compra de deputados (e nenhum senador ?! ), o próprio Roberto Jefferson, a única testemunha e, ao mesmo tempo, réu no mesmo processo ( ! ), há tempos já admitiu que a acusação de pagamento de mensalão era mentira ( http://www.horadopovo.com.br/2011/setembro/2994-21-09-2011/P3/pag3g.htm ), o que desmonta na raiz a acusação, já desmentida pelas inúmeras investigações realizadas, pois além de Jefferson, nenhuma outra testemunha confirmou jamais a existência do “mensalão” petista e nunca houve sequer uma prova para ser anexada ao processo ( ! ). Ao contrário do mensalão do PSDB, o caso envolvendo o PT foi exclusivamente de caixa 2. E os contratos assinados por Genoíno, nem caixa 2, pois foram registrados e quitados, e a prestação de contas foi aprovada posteriormente pelo TSE.

  9. Esta é a coerência da PGR e

    Esta é a coerência da PGR e do STF: não há provas: culpado; há provas: inocente!

    No caso do PT: processo sem provas, não é desmembrado, acusa-se e condena-se os réus. 

    Já no caso do PSDB:  processo com provas fartas de desvio de dinheiro público de estatais, livra-se os peixes grandes (Aécio, FHC, Gilmar Mendes), que nem mesmo foram processados (exceto Azeredo).

     

  10. O ponto fora da curva

    Por que o jogo de cena?

    Que jogo de cena é esse? Por que ministros dos quais se espera o mínimo de coragem e dignidade fazem esse jogo? 

    De imediato e por razões óbvias, deixemos de lado Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Luiz Fux e quem sabe Marco Aurélio, sobre quem tenho dúvidas. 

    Por que ministros como Lewandowski, Teori Zavascki, Luis Roberto Barroso, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Dias Toffoli e Celso de Mello participam tão docilmente de algo como permitir o adiamento da votação da última quinta-feira?

    Qual a real intenção, ou devo perguntar quais as intenções, daquele trinca, quem sabe quarteto? Tempo mais dilatado para maior pressão sobre os votos dos ministros Barroso e Zavascki e/ou mais tempo de tortura psicológica sobre os réus quanto à sentença final?

    Que corte suprema, aqui com letra minúscula mesmo, é essa que se submete a todos os caprichos, desejos, deslizes, maldades, atropelos dos princípios elementares da justiça (também minúscula) cometidas por três ministros, que até numericamente representam minoria. Como se explica isso? Pela pretensa isenção e neutralidade da corte suprema?

    Onde fica a dignidade para olhar nos olhos dos seus filhos por tamanha covardia de se submeter a homens desequilibrados não só no seu comportamento pessoal como, sobretudo, no jurídico? Como podem esses ministros querer o respeito se existe um inquérito conhecido como 2474, onde dizem estar provas que podem inocentar os réus, e ninguém, em nenhum momento, fez ou faz a menor referência a ele. 

    Como pode o homem comum acreditar em ministros que não têm coragem de pelo menos se reportar a provas que todos sabem existentes, mas que foram simplesmente descartadas do processo por um ministro já identificado como um fora da lei? 

    Terá tido algum impacto a defesa/depoimento do advogado de Genoíno, o Dr. Luiz Fernando Pacheco, quando, num gesto de grande ousadia, olhou nos olhos dos ministros e lhes disse o merecido, mas certamente inesperado?

    Não me move a curiosidade pelo eventual impacto sobre Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Luiz Fux. Não. Não seria tão inocente a ponto de imaginar que isso poderia ocorrer com homens tão sem qualquer possibilidade de gestos, atitudes ou reações nobres, pelo inteiro desconhecimento do que isso significa.

    O meu desespero vem justamente do impacto que parece não existir nos outros ministros diante de manifestação tão vibrante e contundente. E que não se argumente com a frieza e isenção que dizem necessárias ao bom julgamento. Essas estiveram absolutamente ausentes nesse julgamento, reconhecido como “um ponto fora da curva” por um dos ministros.

    Um ponto fora da curva que exigiu coragem em todas as curvas.

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