Pai de jovem morto no metrô de SP contesta versão oficial

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Luís Adorno

Do Ponte Jornalismo

Testemunhas afirmam que Isaac, 17 anos, levou um soco no peito e um estrangulamento de dois seguranças do Metrô. Família diz que menor não tinha problemas de saúde, motivação utilizada pela companhia para explicar o caso

“Meu filho entrou com vida na estação do Metrô e, depois de agressões de seguranças, presenciadas por outros jovens que estavam com ele, saiu morto de lá”, afirma o azulejista pernambucano Gilberto Severo do Nascimento, de 47 anos. Na manhã da terça-feira (1), ele perdeu seu filho Isaac Tomé do Nascimento, de 17 anos, que tentava entrar embarcar no transporte coletivo sem pagar a tarifa de R$ 3,50. “Ele passou mal às 8h10, após as agressões dos seguranças, e só foi socorrido às 9h13 e veio a óbito às 9h30”, diz.

A versão policial, que gerou a revolta de Nascimento, é de que seu filho tinha problemas de saúde. Na data do ocorrido, o Metrô divulgou uma nota afirmando que “agentes de segurança do Metrô atenderam um jovem com mal súbito na estação Sé”. E que “o jovem foi levado ao pronto-socorro da Santa Casa, onde veio a falecer”. A família afirma que desconhecia qualquer doença de Izaque, inclusive cardíaca. “Estão tentando justificar a morte do meu filho”, diz Gilberto.

Dois adolescentes que estavam com Isaac no momento em que ele morreu afirmaram em depoimento à Polícia Civil que o rapaz foi agredido pelos seguranças do Metrô. Uma das testemunhas chegou a afirmar que o jovem levou um soco no peito. Também foi dito que um dos agentes públicos estrangulou o menor.

A ocorrência foi registrada pelo Metrô apenas 8 horas depois do acontecimento. Para o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo e membro do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente), a demora no registro “é um indicativo de que o Metrô tentou acobertar os fatos”.

De acordo com a versão oficial, os agentes Renato Teixeira Souza Coelho e Eudes Souza Santos estavam na estação Anhangabaú, da linha 3-Vermelha, quando viram Isaac e outras quatro mulheres e um rapaz pulando a catraca. Os seguranças teriam orientado a todos que voltassem a pagassem a tarifa. Três teriam pagado. Os outros três se recusaram.

“Segundo o agente de segurança Renato, num primeiro momento, o adolescente Izaque – escrito desta maneira – teria sido impedido de adentrar no metrô devido estar aparentemente alterado e provavelmente sob efeito de substância entorpecente e/ou álcool. Após algum tempo, parecia ter melhorado seu ‘estado’ e foi autorizada sua entrada, que se deu mediante pagamento do valor”, descreve o histórico do Boletim de Ocorrência.

“Porém, o mesmo, ao entrar, começou a chutar a escada rolante e causar tumulto no interior das dependências do metrô, colocando em risco a segurança de si mesmo e de outros usuários. A vítima e seus amigos ainda proferiram palavras de baixo calão em altos brados, perturbando a tranquilidade dos demais usuários”, diz a versão oficial.

“Neste momento, [os agentes] decidiram abordar o adolescente Izaque, momento em que referida pessoa teria falado que estaria passando mal, vindo a desfalecer. Iniciou-se, então, procedimento para imediato socorro”, justifica.

Ainda de acordo com o Boletim de Ocorrência, a família de Isaac foi à delegacia e relatou que soube que o garoto de 17 anos morreu depois de levar um soco no peito de um dos seguranças do Metrô. “[O pai] foi até a Santa Casa e falou com o médico que atendeu o seu filho. O mesmo disse que Izaque teria chegado em parada cardíaca e teria sido reanimado. Teria tido uma segunda parada e veio a óbito”.

Outro lado

Questionado pela reportagem da Ponte Jornalismo, o Metrô não se pronunciou até o momento.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Processo o metrô, seu

    Processo o metrô, seu Gilberto, eles mataram seu filho, sim. Essa violência com que sempre trataram pobres que precisam de uma passagem ou de um litro de leite.

    1. Discordo Maria Luisa…

      … está bem afixado no fundo da cabine da bilheteria do metrô:

      “Art.1331: Não pagar passagem do metrô é crime.  Pena de um a 500 anos de morte.”

      Tem que pegar aquelas placas de “Risco de Morte” que tem nas linhas do metrô e colocar nas catracas.

      Mas é isso… um imprensa vil e corrupta dá nisso… um governador que pode mandar executar o povo sem problema algum… porque sabe que a imprensa vai encobrir o caso…

      Por isso eu solto fogos quando ouço falar de passaralho nas redações.

  2. Independentemente do rapaz

    Independentemente do rapaz ter pulado a catraca, se negado a pagar o bilhete ou proferido palavrões e chutado instalações do metrô, NÃO há qualquer justificativa para a truculência que ceifou a vida dele. A família deve processar os responsáveis, o estado de SP, a direção do metrô, até mesmo o governador paulista. Ah, mas SP não é governado pelo PT… E agora, judiciário? E agora, mídia amiga? E Agora, MP? Vão ficar quietinhos, esperando que caia no esquecimento!?

  3. Era só pagar a passagem …

    Era só pagar a passagem que nada disso teria acontecido.

    Se ele não tinha dinheiro bastaria pedir ajuda às pessoas perto das catracas, em poucos minutos resolveria o problema. Já dei passagem para muitas pessoas nessa situação, alias prefiro ver a pessoa embarcar do que dar dinheiro

    Uma morte trágica, como todas aliás, porém facilmente evitável…

    1. Só nesse país…

      … a pena por não pagar metrô é a morte…

      Depois dizem que a lei é branda… Que bandido não é condenado nesse país…

       

       

  4. A cada dia que passa SP vem

    A cada dia que passa SP vem se tornando a capital brasileira do nazismo em ascenção em pleno século XXI. Isso tem que parar!

  5. Tudo em sp é uma mentira.

    Tudo em sp é uma mentira. Governo, imprensa, elite, juistiça, nada está baseado, sustentado na verdade. Os poucos que ainda oxigenam sp, estão correndo riscos.

  6. Vítima do medo

    Pulou a catraca. Foi vítima do medo, imagina se outros imitam o gesto!  SP US$ 0,91 vs  Beijing US$ 0,30!

    fonte: jornalggn.com.br/noticia/metro-de-sp-tem-uma-das-menores-malhas-do-mundo

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