Passos fora do painel, por Janio de Freitas

Da Folha

Passos fora do Painel

Por Janio de Freitas

O Painel do Leitor não foi visto como apropriado a uma nota para defesa do ministro Joaquim Barbosa

O Painel do Leitor, localização nobre que a Folha destina às contestações, críticas e outras considerações sobre o que publicou, não foi visto pelo secretário de comunicação do Supremo Tribunal Federal, Wellington Geraldo Silva, como apropriado a uma nota sua para desejada defesa do ministro Joaquim Barbosa. Em exaltada cobrança telefônica há uma semana, no domingo passado, indagou “que espaço temos para responder?”. Por mim, todo o de que eu possa dispor, sem com isto diminuir meu apreço pelo sentido democrático do Painel do Leitor.

A nota é a propósito do artigo “Nos passos de Obama”, do domingo, 13.abr.14, sobre o uso ardiloso de coordenadas geográficas pela promotora Márcia Milhomens Sirotheau Corrêa para pedir quebra de sigilos telefônicos que, a pretexto de verificar alegado telefonema de José Dirceu na Papuda, violaria também as comunicações de todos os celulares do Planalto. Soube-se, no decorrer da semana, que também os sigilos de celulares do Senado, da Câmara e do próprio Supremo Tribunal Federal cairiam, na violação pretendida.

Passados cinco dias do artigo, na sexta, 18, diz a nota: “Na coluna de 13.4.2014, que trata de pedido formulado ao Supremo Tribunal Federal pelo Ministério Público do DF à Vara de Execuções Penais de Brasília, o ministro Joaquim Barbosa é acusado de participação em um ato criminoso, qual seja a quebra ilegal de sigilo telefônico. Sem que o ministro tenha sido ouvido, são feitas afirmações sobre a conduta dele, tais como: É interessante que o juiz da Vara de Execuções Penais e o ministro Joaquim Barbosa não dessem sinal algum de estranheza…’ (…) A alternativa a essa indiferença seria o conhecimento prévio, por ambos, da artimanha…’. São acusações graves, desprovidas, porém, de amparo na realidade dos fatos”.

Segue: “Uma simples consulta ao andamento do processo –que é público, diga-se– permitiria ao senhor e a qualquer pessoa interessada verificar todos os procedimentos adotados pelo presidente do STF. Nessa consulta, seria possível concluir que a primeira providência adotada foi o envio do pedido para manifestação da Procuradoria-Geral da República. Só após esse parecer é que o ministro estará habilitado a analisar todos os aspectos envolvidos no pedido, e então tomar uma decisão. Isso é o que manda a lei. Todos esses procedimentos também teriam sido informados caso o presidente do STF tivesse a oportunidade de ser ouvido antes da publicação da sua coluna. O fato é que ainda não houve nenhuma manifestação do ministro Joaquim Barbosa sobre o pedido formulado pelo Ministério Público do Distrito Federal”.

Por fim: “Esclarecemos ainda que o Supremo Tribunal Federal atua dentro dos parâmetros da Constituição Brasileira [sic] na AP 470 e em todas as [sic] milhares de Ações que julga. Portanto, refutamos qualquer insinuação sobre a legalidade dos procedimentos adotados pelo tribunal”.

Transcrevo o parágrafo de onde a nota pinçou dois pedaços de frases, e deu-lhes reticências sugestivas, mas inexistentes no artigo:

“É também interessante que o juiz da Vara de Execuções Penais e o ministro Joaquim Barbosa não dessem sinal algum de estranheza –sem falarmos nas providências legais necessárias– ao deparar-se com coordenadas geográficas de latitude e longitude para pedir quebra de sigilo telefônico de números, endereços e portadores de celulares não citados. A alternativa a essa indiferença seria o conhecimento prévio, por ambos, da artimanha e do alcance da alegada identificação de telefonema no presídio da Papuda.”

O juiz e o ministro deram algum “sinal de estranheza” ante o ofício com anormal uso de coordenadas, em vez de números telefônicos e nomes, sem qualquer explicação para isso? Não. Logo, a frase não contém acusação, referindo-se a um fato real e não negado. Fato que a mim, e a outros de semelhante reação, nada proíbe de achar interessante.

A outra “acusação grave”. O artigo diz que a alternativa SERIA, condicional, não diz que foi, nem o insinua. Para quem a lê sem presunção, o que a frase diz é que o juiz e o ministro só não estariam faltando com a atenção merecida pelo ato anormal do ofício, e razão bastante de estranheza, em caso de terem conhecimento prévio da artimanha. Não os acusa de o terem.

O acusado passo a ser eu. A nota me acusa, em referência a Joaquim Barbosa, de o haver “acusado de participação em um ato criminoso”. A nota faz uma afirmação inverdadeira. E reiterada.

Quanto à afirmação de que ao ministro cabe receber e mandar ofício ao procurador-geral da República, para só depois opinar, é esquecer duas obviedades. Primeira: o ministro tem a autoridade e o dever de examinar cada ofício recebido e lhe dar o encaminhamento adequado, sendo um deles a rejeição por impropriedade. Segunda: o oposto disso é reduzir ministro do Supremo a tarefas de estafeta, entregador de papéis de um lado para outro, como sugere a nota.

Aproveito a ocasião para um acréscimo nesse caso das coordenadas. O pedido de quebra dos sigilos foi encaminhado ao presidente do Supremo em 28 de março, quando o juiz que o encaminhou já se dissera impedido de atuar no processo, por “motivos de foro íntimo”, e sua transferência já estava determinada pelo Tribunal de Justiça.

Redação

12 Comentários

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  1. Parabéns ao Janio de Freitas!

    Combater o bom combate. Oxalá outros colunistas de jornais e blogs de todos os tamanhos o acompanhem nessa áspera e árdua jornada.

  2.  
    Esclarecemos  ainda que o

     

    Esclarecemos  ainda que o STF atua dentro dos Parâmetros da Constituição Brasileira na AP 470 e em todas as milhares de ações que julga. hahahahahahahahaha, então cadê o Azeredo, o dantas, cachoeira e os juizes que receberam propinas que não foram julgados e não serão?

  3.  
    Esclarecemos  ainda que o

     

    Esclarecemos  ainda que o STF atua dentro dos Parâmetros da Constituição Brasileira na AP 470 e em todas as milhares de ações que julga. hahahahahahahahaha, então cadê o Azeredo, o dantas, cachoeira e os juizes que receberam propinas que não foram julgados e não serão?

  4. .

    Como fez com o juiz Bruno, que ficou com a batata quente nas mãos, agora, com relação à promotora, Joaquim Barbosa sai de fininho, procurando livrar a própria pele e, pior, admtindo o “ato criminoso”.  Jogar seus subalternos sozinhos aos leões, independente dos motivos, não é uma questão de analisar culpas e responsabilidades, nem de procedimentos burocráticos ou erros propositais. É uma questão de caráter.

  5. Curiosidade…DIREITO DE

    Curiosidade…DIREITO DE RESPOSTA não caiu? Foi só para os MORTAIS? Ahã…”tendí” !

    Mesmo assim…NÃO CONVENCERAM as respostas…

  6. “que espaço temos para

    “que espaço temos para responder?” O mesmo espaço que nós temos para perguntar o que o STF quer, afinal, da sociedade brasileira? Seu Wellington, podia gastar menos tempo fazendo drama e mais procurando uma explicação convincente acerca da participação ou não do STF no episódio criminoso da tentativa de arapongagem da República. Então, Seu Wellington, que o JB tá atolado até o pescoço na falcatrua, o planeta já sabe; agora dá para o sr. esclarecer o que o STF está querendo e quem está no controle?

  7. Jânio Quadros piorado quer é enquadrar Jânio

    Jânio de Freitas passa  a ser mais um que poderá ser enquadrado por essa versão piorada de Jânio Quadros,  assim o ditadorzinho de meia tijela avança cada vez mais em seus acessos de fúria e loucura, quanto ao mérito da questão(espionar outros Podere da República) ele se esquiva de dar uma explicação plausível, como aliás o fez no caso da compra do apartamento de Miami. Só quero saber quando é mesmo que o Senado vai juntar esse rol de malfeitos, de abuso de poder de Barbosa para entrar com um pedido de impeachment

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