O que a mídia esconde sobre a denúncia envolvendo Paulo Preto, o operador do PSDB

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Lava Jato em SP teve acesso a “notícias” de que “lideranças do tráfico de drogas” chegaram a invadir locais de obras viárias do Estado e “só eram atendidos” por Paulo Preto. Ex-funcionária que operava no esquema denunciou existência de um cofre na Dersa, onde ficavam recursos desviados 
 
 
Jornal GGN – Não é à toa que setores da grande mídia iniciaram um movimento para descolar do tucanato paulista a figura de Paulo Preto – que nem é mais chamado assim nas manchetes, virou “Vieira de Souza”, pelo sobrenome.
 
A íntegra da denúncia que a Lava Jato em São Paulo apresentou na quinta (22) contra o ex-presidente da Dersa – no mesmo dia em que todas as atenções estavam voltadas para o julgamento do HC de Lula no Supremo – revela um esquema sórdido de desvio de recursos públicos. Recursos que deveriam ajudar famílias desalojadas em função das obras viárias no Estado.
 
O escândalo de mais de R$ 7 milhões envolve o sistema de cadastro de entrega de unidades habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e pagamento de verba de indenizações e outros benefícios ligados à moradia, corrompido por Paulo Preto e subordinados, bem debaixo dos narizes de José Serra e Geraldo Alckmin, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República.
 
“As fraudes ocorreram em lapso temporal elástico e duradouro (de 2009 a 2012), só sendo interrompidas porque um funcionário subordinado a exfuncionária da Dersa, Alexander Gomes Franco, relatou o esquema ao Ministério Público no Estado de São Paulo”, diz a denúncia.
 
Famílias em situação de vulnerabilidade social e retiradas à força de locais afetados pelas obras ficaram desamparadas, pois os recursos foram parar no bolso de conhecidos e parentes da quadrilha, de favorecidos que não reuniam as condições exigidas pelo programa de assentamentos ou simplesmente no caixa de propina supostamente mantido nas dependências da Dersa.
 
SOB PRESSÃO 
 
Na página 17, a denúncia afirma que “valores em espécie transitavam dentro da Dersa, sendo que somas altas de dinheiro ficavam na sala de Geraldo [Villela, ex-chefe do Departamento da Área de Assentamentos] (…) e no cofre da Dersa.” Geraldo e Paulo Preto “mandavam entregar os valores para quem se apresentasse como indicado por eles.” 
 
Sem explorar o potencial escandaloso de uma evidência, como é de praxe na Lava Jato em Curitiba, os procuradores de SP anotaram, ainda, que “há notícias de que lideranças do tráfico de drogas invadiam as áreas dos empreendimentos e muitos desses líderes só seriam atendidos por Paulo Vieira.”
 
 
 
 
 
 
OPERACIONAL
 
Para representar contra Paulo Preto, sua filha Tatiana, o chefe do Departamento da Área de Assentamento da Dersa, Geraldo Villela, e mais duas mulheres cujos nomes foram mantidos em sigilo por “questão de segurança”, o Ministério Público Federal usou principalmente um relatório de auditoria interna – que indicou quase 2 mil fraudes que somam mais de R$ 7 milhões (valores desatualizados) – depoimentos colhidos no MPF e na Polícia Federal e a contribuição da ex-funcionária da Dersa (XXX) e sua irmã (YYY), que forneceram documentos e relatos sobre a parte operacional do esquema. 
 
Em síntese, atendendo aos interesses de Paulo Preto, Geraldo orientava XXX a forjar cadastros que permitissem que laranjas fossem autorizados a receber recursos do programa de assentamento. Quando XXX terminava o serviço – muitas vezes, usando nomes de familias e conhecidos seus -, Geraldo liberava o crédito para esses beneficiários irregulares. Quando o valor era muito alto, Paulo Preto, em cargo superior, entrava em cena.
 
O papel de YYY era sacar o dinheiro em espécie que era desviado para pessoas vinculadas à ex-subordinada de Geraldo. Os recursos, em sua maioria, voltavam para o centro de comando, porque eram devolvidos por YYY a “funcionários” de Paulo Preto.
 
Em alguns casos, os beneficiários, de fato, receberam, indevidamente os recursos. Em outros, Paulo Preto dava ordens para incluir até “invasores” – ou seja, pessoas que não tinham imóvel regular em área a ser desapropriada – na lista de beneficiários.
 
O volume de desvios foi descoberto, em parte, graças a uma planilha entregue por XXX, com os cadastros fraudulentos. O documento foi cruzado com outros dados do programa social, para identificar quantos benefícios foram indevidos.
 
“EM BENEFÍCIO PRÓPRIO E DE TERCEIROS”
 
Nas primeiras páginas da acusação, o MPF detalha como Paulo Preto agiu para beneficiar empregadas domésticas e babás ligadas à família, com recursos referentes à obra do Rodoanel, Trecho Sul, que teve aporto federal – por isso, o caso foi parar nas mãos da Procuradoria da República.
 
“Tais pessoas, que não residiam na localidade das obras e que foram beneficiadas indevidamente com o recebimento de unidades habitacionais, eram empregadas de PAULO VIEIRA, de sua família e, em especial, de sua filha TATIANA, que as indicou para perceber a benesse indevida”, afirma a denúncia.
 
“Os beneficiários, inclusive, obtiveram a vantagem de vender as unidades habitacionais”, acrescenta.
 
Para provar o vínculo com Paulo Preto, o MPF ouviu Ruth Arana de Souza, ex-esposa de Paulo Preto, além das filhas Priscila Arana de Souza e Tatiana, denunciada, mais as empregadas beneficiadas no esquema.
 
O advogado de Tatiana passou a representar as beneficiárias durante a fase de coleta de depoimentos no MPF e na PF, tendo, inclusive, feito com que uma delas mudasse o primeiro depoimento prestado.

“As fraudes ocorreram em lapso temporal elástico e duradouro (de 2009 a 2012), só sendo interrompidas porque um funcionário subordinado a exfuncionária da Dersa, Alexander Gomes Franco, relatou o esquema ao Ministério Público no Estado de São Paulo”, diz a denúncia.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Imaginem a frustração dos

    Imaginem a frustração dos lavajateiros e da imprensa tucana: “Poxa, com tucanos aparece até ligação com tráfico, com Lula tem que usar como prova que ele é dono de um apartamento um recibo de pedágio.”

  2. O poço sem fundo do PSDB!

    É incrível o quanto o PSDB é baixo! 

    Olha o nível dessas acusações… que coisa mais ridícula… 

    Os mesmos jornalistas que escondem essas informações da população… exigem prisão de Lula sem provas!

    Os mesmos juízes que deixam impunes esses bandidos de baixo nível… condenam Lula sem nenhuma prova!

    Um país de cabeça para baixo… e cavando!

  3. A ligação do PSDB com o

    A ligação do PSDB com o tráfico de drogas só aumenta. No início, era Aécio. Depois apareceu o helicótero do Perrela. Depois o incidente mal explicado na fazenda do Aloysio Nunes.

    Agora a relação entre líderes do tráfico e o operador do PSDB, Paulo Preto. Inacreditável.

    Outro aspecto que chama a atenção é a baixeza dos golpes: ora roubo da merenda, ora desvio de recursos para famílias pobres deslocadas por obras viárias.

    PSDB: fundo do poço ético, vestindo tuxedo e tomando Veuve Clicquot.

  4. Quando cheguei em São Paulo,

    Quando cheguei em São Paulo, 1986, ouvia meus clientes paulistas remediados dizerem : “São Paulo não tem empresas federais e por isso não tem roubo”. Não foi uma nem duas vezes…Nada como o tempo…

    Esgotado de viver na conurbação paulista de 22 milhões de pessoas 15 depois vim para Florripa. E aqui é o mesmo papo.

    Aqui já gastaram mais de R$ 600 milhões para não deixar a ponte velha cair …  Rarrarar

     

      

    1. Cheguei antes de você em

      Cheguei antes de você em Floripa, ainda se passava de moto e bike na Ponte Hercílio Luz. Em seguida foi fechada para manutençao… desde então, a mesma novela… entra ano, sai ano, a obra nunca acaba. Entra governo, sai governo, a mesmoa conversa: agora vai… lá vai $$$, a ponte na mesma, parece cadeira de balanço, mexe mas não sai do lugar. Mas agora estão dizendo que vai! rsrsrsrs 

  5. É meia tonelada de pó que

    É meia tonelada de pó que some…

    É o mineiro que manda matar e some das notícias…

    É a blindagem do Careca e do Santo pela imprensa a soldo e por aqui que é formalmente conhecido como Judiciário…

    O PP é o PC Farias de penas, então? 

  6. CRIME ORGANIZADO – POLÍCIA E TRAFICANTES

    DR. HÉLIO BICUDO – PROMOTOR DE JUSTIÇ

    http://www.omartelo.com/omartelo23/materia2.html

    Fixados nos crimes contra a segurança nacional deixou-se, em segundo plano, a luta contra a corrupção, o suborno, operações financeiras ilícitas, desfalques, enfim os crimes de colarinho branco, praticados pela elite ou seus representantes frequentemente associados a membros do regime militar. Portanto, o esquadrão da morte em São Paulo, segundo denúncia do Procurador Hélio Bicudo, vendia proteção  à criminosos, a traficantes de drogas e assegurava a exploração do lenocínio. A figura do delegado Sérgio Fernandes Paranhos Fleury, com atuação destacada no esquadrão, mereceu atenção especial de Hélio Bicudo. Segundo a sua análise o objetivo de Fleury ao entrar para o esquadrão foi o de lucrar com as “(…) vantagens do tráfico de entorpecentes em São Paulo”. Após destacar‑se no esquadrão o delegado Fleury foi chamado pelos órgãos de repressão da ditadura militar para participar da luta contra o  terrorismo. E, nessa atividade, torturou e matou os opositores ao regime militar. Foi considerado um herói pelo governo e, qualquer tentativa de prendê‑lo pelos crimes praticados em nome do esquadrão tornou‑se a um ato hostil contra a luta 

    antiterrorismo praticada  pelos militares .

    __________________________________________________________________________________

    http://www.anovademocracia.com.br/no-30/473-dr-helio-bicudo-o-esquadrao-da-morte-esta-institucionalizado

    Nos últimos anos, tem sido uma das principais vozes contra a política de matança promovida por Alckmin e Saulo de Castro.

    Bicudo considera, assim, que não faz sentido tratar o PCC como “poder paralelo”, como faz usualmente o monopólio da imprensa. Para ele, o poder paralelo que existe em São Paulo e desafia a legalidade é outro: a Polícia Militar. No último dia 31, ele reuniu-se em Brasília com o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, para pedir que a Polícia Federal intervenha na investigação do que se passou em São Paulo. É o recurso legal usado para tentar impedir que mais uma vez a PM acoberte seus próprios crimes

     

     

  7. Aqui há um fato que merece

    Aqui há um fato que merece registro.

    501 H.C.foram negados .

    Até que chegou nas mãos( todo H C midiático chega não maos dele)de Gilmar Mendes.

     Suspense.

     Foi negado também.

     Se cuida,Serra.

  8. Alguém já notou que Serra está passando ao largo.

    Aécio e ALckmin,( “amicissimos” de Serra) estão  no centro das notícias. A eleição logo será colocada em cheque, Pedro Parente depois de entregar a Petrobrás se prepara para fazer o mesmo com BRF, já que a Embraer e eletro nuclear e eletro bras já estão indo também. Temer tambem no centro do ataque. E Serra passa ao largo com processos arquivados por  Dodge.

    Carmem Lucia se esmera para deixar Lula na cadeia,  A mídia (leia-se Globo )ataca agora a classe politica como um todo, e mostra um pais de paginas policiais.  Na ausência de um candidato de direita viável, parte da direita começa a achar a eleição inviável. A judiciarização pode sem dúvida levar a um impasse onde Temer cai e Carmem assume. Quem sabe ela indique Serra para primeiro ministro.

  9. No IG, a manchete fala apenas de um “suposto operador” do PSDB

    Para um “distraído”, talvez seja um cirurgião benemérito da tucanalha.

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